Light, O Amor Nunca Morre escrita por Nynna Days


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Sei que prometi só postar as quintas e domingo, mas estou empolgada para outras leitoras aparecerem e tenho tantos capítulos prontos. Espero que curtam e aproveitem mais os momentos de Nikiel. kkkkkkkkkkk.

Ah, e me digam o que estão achando dos flashes back. Cada capítulos tem um, pelo menos. Esse não tem, mas o próximo sim.



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“Somos três.”, Nicolas tomou um gole de seu cappuccino e eu mexi em minha xícara, enrolando para tomar meu chá de camomila. “Tenho um irmão mais velho, Gerard, mas ele já é casado e mora na Flórida.”

Assenti, pegando a xícara e levando-a até os meus lábios, como um motivo para evitar seus olhos. Tinha conseguido controlar essa coisa de corar á todo momento, só com um único olhar. Mas não tinha parado de encará-lo desde aquele pequeno contato na minha sala de aula. Balancei a cabeça levemente, como se tivesse sabotando o gosto doce do chá. Mas, estava tentando afugentar os pensamentos.

“E o que fez mudar para Nova Jersey?”, perguntei cruzando as mãos e pousando-as na mesa, realmente interessada.

Nicolas passou a mão pelos cabelos rebeldes e pressionou os lábios juntos, demonstrando seu desconforto. Tinha tocado em assunto delicado. Mas, alguma coisa nas semelhanças estava me incomodando. Fechei os olhos por alguns segundos, tentando imaginar como seria o irmão mais velho de Nicolas.

Talvez tivessem os mesmos cabelos escuros e os mesmos olhos azuis acinzentados. Mas a personalidade seria um mistério para mim enquanto não o conhecesse. Enquanto Mellany era o mau exemplo em forma de rebeldia, Nicolas parecia o tipo de pessoa que tentava controlar tudo, centrada e que sabia muito bem o que queria. Então, Gerard era um mistério.

“É um pouco complicado.”, o moreno disse e suspirou. Abri os olhos, alerta com a sua voz e percebendo como ela fazia minha essência acordar. Pensei em dizê-lo que não precisava me contar, mas ele me interrompeu. “Uma história um pouco trágica, para ser sincero.”, ele deu de ombros e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

“Todos temos uma história trágica, certo?”, sorri também.

Nicolas levantou uma sobrancelha enquanto se inclinava na minha direção, ainda sorrindo. Senti vontade de imitar os seus movimentos, apenas para poder olhar nos fundos daqueles olhos tão bonitos e singulares. Mas me mantive reta na cadeira, com as mãos cruzadas, para que pudesse me impedir de seguir o impulso de tirar a mecha do cabelo escuro dele de seu rosto.

“Eu adoraria escutar a sua história trágica, Caliel.”, ele provocou. Desviei o olhar, corando. Ele voltou a se sentar ereto na cadeira ficando sério. “Algum ex-namorado idiota?”

Dei de ombros.

“Algo assim.”, deixei vago.

Mas em minha mente, eu me dava bronca por reduzir Dareel á apenas um ex-namorado idiota. Se ele havia sido idiota? Óbvio. Não deveria ter me seguido e tentado me proteger, sabendo que eu era imortal. Mas, meu namorado? Não. Dareel tinha sido uma coisa a mais. Alguma coisa que valia a pena. Que me fez repensar sobre a imortalidade.

“Ele deve ter sido bastante importante.”, Nicolas percebeu enquanto punha a mecha de cabelo, desejada por meus dedos, atrás da orelha. Pendeu a cabeça para a direita, estreitando os olhos. “Você fica bem triste e incomodada quando pensa sobre isso. O que ele fez? Te traiu?”

Balancei a cabeça. A única que havia traído naquela relação havia sido eu. Trai o céu, cobiçando algo que me era proibido. E estava pagando com o meu sofrimento eterno. Obviamente não disse isso em voz alta para Nicolas. O que eu fiz, foi dar um pequeno sorriso forçado e me tentar ter um bom humor.

“Você está tentando fugir do assunto, Senhor Brown.”, salientei. Pausei por um segundo, gostando de como o nome dele saía de meus lábios. E pelo seu sorriso, sabia que ele também tinha gostado. “Se não quiser me responder, tudo bem. Mas você também não vai arrancar nenhuma palavra, sequer, dos meus lábios.”

Nicolas, entrando no jogo, se inclinou novamente na minha direção, ainda carregando aquele belo e perigoso sorriso em seus lábios cheios. Passei a língua pelos meus, sentindo-os repentinamente ressecados. Os olhos cinza dele acompanharam meu pequeno movimento e o vi engolindo a seco. Meu sorriso deixou de ser forçado e se tornou genuíno. O bom humor dele era contagiante.

“Então, se não contar a catastrófica história da minha família, não conseguirei arrancar nada de você?”

Pisquei algumas vezes diante daquela pergunta, sentindo meu estômago se virar diante do duplo sentindo de sua frase. Senti minhas bochechas queimando e sabia que estava feito um pimentão. Nervosa, pus meus dedos por entre os meus cabelos e os puxei para trás, deixando que o vento tocasse minha nuca. Mesmo que eu não suasse ou qualquer coisa do tipo.

Assenti.

“Ok, você venceu.”, ele se recostou na cadeira e cruzou os braços ficando sério. “Mas depois não diga que eu não avisei.”

Descruzei minhas mãos, pegando o chá e tomando mais um pouco. Uma parte de mim dizia que eu estava sendo bastante invasiva sobre esse assunto da família Brown. Mas a outra parte, a que sempre adorava me iludir que eu era uma anja disciplinada, dizia que era por Mellany. Mesmo que alguma coisa dentro de mim se agitasse toda vez que Nicolas fazia um pequeno movimento.

“Nós éramos de Seattle.”, ele começou descruzando os braços e também bebendo seu cappuccino. “Vivíamos felizes. Eu, Mellany, Gerard e nossos pais. Posso arriscar dizer que éramos o exemplo de família perfeita. Mel era uma filha que qualquer pai orgulharia.”, ele pausou e riu ao ver minha expressão duvidosa. “Sim, ela obedecia nossos pais e até a mim. Seguia a regras. Tudo o que mandava o roteiro.”

“E quando tudo mudou?”

Nicolas suspirou. Por uns segundos, desviou seus olhos para um canto da lanchonete. Estava quase no fim de tarde, então tinha algumas pessoas que saíam do trabalho ou da escola e bebiam suas bebidas e conversavam sobre mais um dia desgastante. Meu acompanhante voltou a me olhar e vi o quanto ele estava cansado. Perguntei-me com quem Mellany foi para casa.

“Meu pai traiu minha mãe com sua melhor amiga de infância.”, Nicolas proferiu cada palavra devagar, destacando-as. Eu arfei. “Minha família desmoronou logo em seguida. Minha mãe não aguentou respirar no mesmo lugar que meu pai e foi embora uma semana depois de descobrir sobre a traição.”

Meus olhos se arregalaram ao imaginar a reação da Senhora Brown ao descobrir que seu marido a traiu com a pessoa que ela mais confiava. Fiquei estática em meu lugar, tentando absorver cada palavra que Nicolas dizia. Enfim, as semelhanças haviam se esgotado naquela pequena conversa.

Lembro-me bem do Senhor e da Senhora Lotfor. Miriam Lotfor era uma mulher espirituosa que sempre dizia o que pensava sem hesitar. E o Senhor Lotfor a amava incondicionalmente, mesmo que lhe causasse problemas em seu círculo social. Esse amor se espelhou em Derek e Elizabeth, que ficaram juntos por muitos anos e tiveram três filhos.

“Nós ficamos perdidos sem a nossa mãe. E nosso pai se tornou dependente de bebida.”, os punhos de Nicolas se fecharam, fazendo com que os nós de seus dedos ficassem ainda mais pálidos. “Lembro-me de todas as vezes em que cheguei da faculdade e o encontrei jogado no sofá, bêbado. Mellany chorava todas as noites antes de dormir. Gerard tentava ignorar a situação, mas quando menos esperávamos ele e o pai brigavam.”

“Que horrível.”, balancei a cabeça. “Vocês desmoronaram quando menos esperavam.”

Nicolas deu um sorriso amargo.

“Na verdade, eu já esperava que nossa família fosse desmoronar.”, ele abriu a mão lentamente, observando seus próprios movimentos, como se fossem a coisa mais fascinante do mundo. “Éramos perfeitos demais, Caliel. Estávamos fadados a desmoronar.”, ele deu de ombros e continuou a história. “Gerard foi o primeiro a pular fora. Estava no último ano da faculdade e já namorava Annie há um bom tempo. Acho que ele estava desesperado e a pediu em casamento.”

“Você acha que casamento é uma questão de desespero?”, perguntei.

Passou as mãos pela calça jeans, e fungou algumas vezes. Passou a língua pelos lábios e desviou os olhos dos meus. Tudo ao mesmo tempo. Se não tivesse tanto tempo como anjo, pensaria que ele estava passando mal. Mas todas essas ações, somadas ao rastro de suor que começou a aparecer em sua testa, evidenciou seu desconforto.

“Não.”, ele admitiu, com os olhos baixos. “Acho apenas que Gerard foi apressado. Conhecia Annie o suficiente para pedi-la em casamento? Talvez. Mas nada apaga o fato que ele usou isso como válvula de escape.”

Assenti, concordando com ele.

“Continue.”, encorajei.

“Ok.”, ele limpou a garganta. “Depois que Gerard foi embora aquilo virou um inferno.”, me remexi desconfortável com a sua escolha de palavras. “Mellany só tinha 15 anos. E mesmo tendo-se passado quase 5 anos que nossa mãe foi embora, ela ainda chorava. Então tratei de me concentrar na faculdade e aceitei o primeiro emprego que apareceu fora da cidade.”

“E aqui estamos.”, concluí.

Ele deu um meio sorriso.

“Exato.”, passou uma mão pelo cabelo, ainda sorrindo. Admirava o seu bom humor mesmo depois de contar essa história sobre sua família. “Então, já que contei a minha história, será que posso arrancar alguma coisa de você?”

Tudo dentro de mim ficou gelado. E agitado. Meus pulmões queimaram, implorando ar. Abri ligeiramente a boca para que o ar entrasse o menos ruidoso possível. Mas o fato de meu coração estar quase atravessando a minha caixa torácica não estava me ajudando. Os olhos de Nicolas escureceram, deixando o azul cru. Desviei meus olhos do dele, passando a mão por minha saia longa.

“Acho melhor nós irmos.”, eu sussurrei.

“Você gosta de fugir?”, ele perguntou enquanto eu me levantava. Detive meu movimento e o encarei. Ele riu um pouco do jeito que eu parei, então levantei de vez. Ele também o fez. “Você foge bastante do assunto.”, ele esclareceu.

“É que estou atrasada com um compromisso.”, disse rapidamente.

Apressei os meus passos até a saída, aproveitando a vantagem de tempo, já que Nicolas teria que parar para pagar. Parei por um segundo, olhando para cima e vendo o sol começando a se esconder atrás de algumas nuvens e o céu se tingindo de laranja. Tinha que admitir que adorava voar em pôr do sol.

Os poucos segundos em que fiquei parada ali pensando na possibilidade de abrir as minhas asas no prédio atrás da lanchonete, foram tempo o suficiente para que Nicolas me alcançasse. Senti seus dedos se fechando em torno do meu antebraço e o calor começou a se espalhar por meu corpo desde aquele ponto. Me virei, encarando os olhos cinza. Ele estava sério. Dei um passo apara trás, me afastando – contrariada – de seu toque.

“Não precisava sair correndo.”, ele disse baixo. Balancei a cabeça. “Se não queria falar sobre esse assunto, era só dizer.”

“Me desculpe.”, limpei a garganta ao perceber que minha voz falhou. “Me desculpe.”, repeti. “Estou atrasada mesmo para um compromisso.”

Nicolas assentiu devagar, duvidando de minhas palavras. Não poderia culpa-lo. Eu estava tremendo e minha voz saía baixa e falhando. E o meu rosto corado também não estava contribuindo com a firmeza de minhas palavras. Sem que eu esperasse, senti seu dedo quente em meu queixo. Levantando-o para que eu o encarasse.

“Gosto de como seus olhos azuis brilham com o por do sol.”, ele sorriu e me soltou.

Eu fiquei estática vendo-o caminhar até o carro. Tudo dentro de mim parou de funcionar por alguns instantes. Para, logo em seguida, voltar a funcionar á todo vapor. Eu tinha que me livrar daquela raiz que me prendia há 450 anos. As palavras e as lembranças de Dareel estavam me fazendo insociável.

Nicolas parou ao lado do carro e se virou para mim, ainda sorrindo.

“Vem. Te dou uma carona até em casa.”

*************************************

“Senhorita Moore”, chamei.

Harper, percebendo que eu estava parada bem a sua frente, abaixou as pernas e se ajeitou rapidamente. Tive que esconder o sorriso de contentamento. Então o comportamento rebelde era apenas quando Mellany estava por perto? Levantei uma sobrancelha.

“Onde está a Senhorita Brown?”, perguntei. Harper abriu a boca para responder – uma mentira, certamente – mas eu a interrompi. “E eu a vi hoje mais cedo na escola. Então tenho certeza que não está doente.”

Ela arregalou os olhos azuis escuros e fechou a boca, resolvendo apenas dar de ombros. Assenti, voltando para a minha mesa e anotando em minha lista de chamada a falta de Mellany e Jeremy. Também questionei Aliel, mas ela realmente não sabia onde o seu pupilo estava, mesmo que fosse o trabalho dela saber.

Assim como era o meu saber o de Mellany.

“Turma, leiam as páginas 104 até a 112 do livro e me escrevam suas visões do mundo pós-apocalíptico.”, pedi, caminhando até a porta. Um aluno levantou a mão. “Não importa qual seja a religião. Quero o seu ponto de vista.”, o aluno abaixou a mão, assentindo. “Irei resolver um assunto e já retorno.”

Antes que qualquer um pudesse dizer alguma coisa, fechei a porta. Olhei o corredor praticamente deserto e comecei a andar sem rumo atrás de Mellany e – talvez – Jeremy. Uma parte de mim estava rezando – literalmente – para não encontrar com Nicolas. Só que meus olhos traidores sempre vagavam pelas portas das salas onde estavam havendo aula, esperando que alguma delas se abrisse e ele surgisse.

A lembrança de todas as sensações que eu senti no dia anterior e como fiquei bem conversando com ele. Por alguns momentos, eu realmente queria me abrir com ele. Queria contar da morte de Dareel e como isso havia me devastado. Em 450 anos, não me senti forçada a dizer o que realmente sentia. Sim, tinha contado á Aliel. E mais da metade da população angelical sabia da história também.

Mas o modo como Nicolas conseguiu descontrair um assunto tão sério, me deu forças para falar. Mesmo que fosse proibido. Não que o céu tivesse me proibido de falar sobre aquele assunto. Afinal, a vergonha era minha. Mas, eu me proibi. Teria me proibido de não pensar nesse assunto se não fosse uma coisa quase que impossível.

Estava tão distraída, que quase não reparei em Jeremy vindo em minha direção. Ela me viu primeiro e sorriu, mas eu vi que era forçado. Estreitei os meus olhos azuis e o vi colocando a mão no bolso, nervoso. Sem pensar duas vezes, parei na sua frente. Mesmo que ele fosse quase um e meio de mim, fiquei satisfeita com o fato dele ter se sentido intimidado.

“Não estou com drogas.”, ele disse rapidamente.

Estreitei meus olhos mais ainda.

“Eu não disse que estava.”, respondi e estendi a mão na sua direção. “O que você tem escondido aí, Jeremy Read?”

Jeremy passou a língua pelos lábios, deixando o piercing exposto. Então respirou fundo enquanto coçava o cabelo escuro. Franzi o cenho. Não sabia como um anjo tão organizado quanto Aliel poderia estar encantada por um humano que tinha o cabelo tão descoordenado quanto Jeremy. Cruzei os braços, ainda esperando a sua resposta.

E que, pelo Criador, ela fosse muito boa.

“Não adianta mentir para um anjo, certo?”, perguntou retoricamente e forçou um sorriso. “Além de ser um pecado. Já tenho quase certeza que vou arder no fogo do inferno quando morrer, só por querer Aliel para mim. Mas, assuntos pós vida a parte.”, ele suspirou enquanto retirava uma pequena caixinha de seu bolso.

Ele me estendeu e eu a abri. Ali havia um pequeno e delicado pingente prateado na forma de um semicírculo vazado e com uma asa de cada lado. Sustentando esse pingente tinha uma fina e elegante corrente. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios ao ver aquele presente. Mas, ele só se fez aumentar quando, ao devolver o colar para Jeremy, vi que ele estava corado.

“Isso é menos gay que um anel de compromisso escrito: Aliel, amor eterno”, ele disse guardando a caixa em seu bolso novamente. “Além do que, a única eterna é ela.”, ele continuou falando e ficando cada vez mais corado. “Mas é só uma lembrança para comemorar nosso primeiro mês junto sem essas loucuras angelicais e...”

“Jeremy, eu entendi.”

Ele soltou o ar e riu.

“Graças á Deus.”, ele respondeu passando as mãos pelos cabelos. Então franziu o cenho. “Hey, loira, o que você está fazendo aqui fora? Eu estava quase tendo um infarto fulminante para chegar á sua aula e você passeando pelo corredor?”

Tinha uma coisa que admirava nos humanos. A rapidez com que eles trocavam de assuntos para que o foco da atenção saísse deles. Como o motivo de seu atraso estava em seu bolso, eu não poderia cobrar nada dele.

“Estou atrás de Mellany.”, esclareci e o vi ficando sério. “Você a viu, não é?”

Ele assentiu.

“No estacionamento com Austin.”, ele disse e suspirei. Meus olhos se arregalaram e eu bufei. Jeremy levantou as mãos em sinal de rendição. “Calma, loira. Não me meti naquilo porque sabia que você chegaria e hoje é um dia feliz. Não queria ir para a secretária por socar Austin.”, ele deu um meio sorriso. “Mesmo que a ideia seja tentadora.”, balancei a cabeça. “Além disso, ela é sua missão, certo?”

“Só vá para a sala, Jeremy.”, passei a mão por meus cabelos loiros e respirei fundo. “Aliel está preocupada com você.”, dei um passo na sua direção e abaixei o tom de voz. “Sinceramente, se eu fosse ela, já teria te posto na coleira.”

Isso só o fez rir.

“Então melhor comprar uma focinheira para a sua pupila, Caliel.”, ele retorquiu, ainda sorrindo. Mesmo que seus olhos ainda estivessem sérios. “Tive meus problemas com drogas e bebidas, mas o que eu sinto por Aliel foi forte o suficiente para me fazer mudar. De fato, ela me colocou uma coleira. Mas no seu caso...”, ele balançou a cabeça. “Duvido que Mellany jogue para o outro time e se apaixone por você.”

“Read, cuidado.”, alertei, estreitando os meus olhos. “Sou mais velha do que você imagina. Eu já estava aqui quando seus ancestrais chegaram á América. Posso ser um anjo muito bom e gostar bastante de Aliel, mas nunca se esqueça de que sou uma Sub Arcanjo. E que se eu quiser reescalar Aliel para outro pupilo menos...”, olhei-o de cima a baixo e estalei a língua. “rebelde, eu posso.”

Isso o fez ficar sério.

“Está me ameaçando?”

Neguei.

“Estou apenas avisando para não mexer com um anjo com uma jurisdição maior do que a de sua anja da guarda.”, nossos olhos não se desviaram. “Ainda mais quando você está apaixonado por ela.”

“Ok, peguei o aviso.”, continuamos nos escarando sérios, até que ele suspirou e passou a mão pelos cabelos escuros. “Mas, tirando toda essa coisa de ameaça e anjo maior, você acha que ela vai gostar?”

Revirei os olhos e um sorriso involuntário apareceu em meus lábios. Ok, agora eu entendia o porquê de Aliel ter arriscado tanto por aquele humano. Ele não tinha medo de enfrentar o que fosse para que eles ficassem juntos. E eu tinha que admitir que isso me admirava. Quisera eu ter essa coragem há 450 anos.

“Sim, Jeremy.”, o vi sorrindo também. “Agora vá para sala.”

“Ok, Loira.”, ele começou a se afastar, então parou. “Eu realmente gosto de Aliel. Só não digo o que realmente sinto, porque ferraria com essa história de asas e imortalidade angelical. Mas, eu gosto que você cuide dela, Loira. É isso que me faz manter a fé nos anjos.”, ele sorriu. “Boa sorte com seu rottweiler. Au Au.”

O observei se afastando pelo corredor, até que ele entrasse na sala e voltei a me concentrar no motivo inicial de ter saído da sala. O caminho até o estacionamento era curto, mas pareceu durar horas até que eu encontrasse Mellany.

Encontrei-a atrás da van que trazia o almoço para a escola. Era incrível que ninguém tivesse escutado o riso dela e de seus acompanhantes. Ela estava sentada com mais três garotos que passavam uma garrafa com uma bebida branca. Seus olhos acinzentados estavam dilatados e os cabelos um pouco despenteados.

Tinha um garoto ao seu lado, com um dos braços ao redor de seus ombros. Deduzi que fosse Austin. Os cabelos loiros caíam nos olhos castanhos e pareciam estarem sujos. Estava com a jaqueta do time, mesmo que não houvesse treino hoje. Apenas para dizer que era do time. Aproximei-me bem no momento em que ele iria beijar Mellany.

“Senhor Parker, Senhorita Brown.”

Todos os quatro – incluindo os outros dois que eu não sabia o nome – deram um pulo de onde estavam sentados. Mas Mellany apenas deu um meio sorriso debochado quando me viu. A garrafa estava em sua mão e a fazia balançar de um lado para o outro. Eu tinha uma suspeita de que se ela não estivesse segurando Austin, já teria caído.

Não consegui pensar nela há cinco anos. Uma garota que daria orgulho em qualquer pai, Nicolas havia tido. Catherine havia sido um orgulho. Dareel adorava se gabar de sua irmã mais nova. E eu duvidava que Nicolas conversasse com os amigos sobre os projetos extracurriculares de Mellany. Por conta do estado de começo de embriaguez de Mellany, foi fácil tirar a garrafa de sua mão.

“Hey, devolva, Caliel.”, Mellany disse com a voz embolada.

“Vocês três”, apontei para Austin e seus amigos. Todos ficaram alerta. “Para sala, agora. Antes que eu chame o diretor.”

Todos me olharam como se eu estivesse blefando. Não podia, de fato, culpa-los. Estavam embriagados e eu tinha a aparência de uma estudante de 18 anos. Quem me daria ouvidos? Mas a influência angelical que irradiou de mim através de meus olhos, me auxiliou. Senti meus olhos azuis ficando mais claros, até beirarem a coloração cinza. Os três assentiram e se apressaram em sair do estacionamento.

Mellany ameaçou cair sem o apoio de Austin, mas eu fui rápida em segura-la pelo antebraço. Seu estado impedia que ela notasse que meus olhos ainda estavam mais claros que o usual. Pisquei algumas vezes e senti-os voltando á cor normal. Enquanto isso, minha pupila temporária tentava se livrar de mim.

“Me solte.”, ela disse.

O cheiro que saía de sua pele já estava me deixando tonta. A ideia de fazê-la assistir aula naquele estado passou por minha cabeça, mas a luz angelical era maior. A levei até o vestiário feminino e a sentei no granito da longa pia, de costas para o espelho. Larguei a garrafa á uma distância segura.

“Mellany, você vai me escutar, ok?”

Ela piscou algumas vezes, mas eu sabia que ela estava me escutando. Fiz um careta.

“Toda vez que resolver matar a minha aula para ir beber com seu namorado jogador de futebol e os amigos dele, eu irei fazer isso.”, eu disse firme. Isso a fez ficar séria.

“Você não é minha mãe.”, ela murmurou raivosa e tentou pular de onde estava. “Eu te odeio, sabia? Te odeio muito. Espero que sua vida seja miserável e que morra sozinha.”

Soltei um riso amargo enquanto a segurava no lugar. Minha vontade foi de dizer que eu já estava sim, fadada a ter uma vida miserável e sozinha. Mas isso não era importante naquele momento. Minhas mãos ficaram em seus ombros e meus olhos se mantiveram firmes nos seus.

“Não me importa.”, eu disse. Ela estreitou os olhos cinza e por um segundo pensei que iria dizer blasfêmias para mim. “Irei fazer isso quantas vezes forem necessárias até você aprender. E vou lhe fazer um grande favor. Não contarei ao seu irmão.”, isso fez com que seus olhos se suavizassem um pouco e a escutei suspirando, aliviada. “Ele não merece mais dor de cabeça depois de tudo o que ele fez por você.”

Meu erro foi dizer essa última frase. Mellany aproveitou que eu estava focada nas palavras, e se livrou de meu aperto, dando um salto para o chão. Pensei que ela iria embora. Mas tinha uma chama em seus olhos que me denunciou o contrário. Ela levantou o dedo indicador para mim, em forma de ameaça. Mesmo que fôssemos quase do mesmo tamanho, Mellany tentava se mostrar superior.

“Não fale do que você não sabe.”, ela rosnou entredentes. “E não se meta com o meu irmão. Na verdade, não se meta comigo. Você irá se arrepender.”

Dei um passo a frente.

“Não tenho medo de você”

Mellany deu um sorriso irônico.

“Deveria.”

Pressionei os lábios juntos.

“Vá se recompor, Mellany.”, caminhei até a porta do vestiário e a abri. “Irei passar um trabalho extra para você valendo metade da sua nota do bimestre. E não tente matar mais aula. Eu estarei de olho em você.”

Fechei a porta, mas não sem antes escutar uma audível reclamação.

“Vadia.”


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Notas finais do capítulo

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