Light, O Amor Nunca Morre escrita por Nynna Days


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oi, flores. Sei que hoje não é o dia de postar, mas aqui estou. E estou com um apelo. Comentem. Não demora nem dois minutos e deixa o autor super feliz. Se não vou achar que está ruim e vou excluir.

Sério. Tive um trabalho pra adiantar o máximo pra não atrasar nos capítulos. O máximo que vocês podem fazer é comentar, certo?

Por favor, façam. Os dias de postagem são quinta e domingo. Não se esqueçam. Ah, e o primeiro flahs back de Caliel.



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Mellany manteve seus olhos cinza fixos em mim por alguns segundos. Eu estava em choque. As fotos não revelavam a metade da agressividade que estava estampada em seu rosto. Percebi que Nicolas ficou tenso atrás de mim e eu sabia que isso não era um bom sinal. Respirei devagar, por estar sendo afetada por aquela proximidade. Mellany pousou os olhos em seu irmão, me ignorando de vez.

“A diretora está te chamando.”, ela comunicou.

Vi Nicolas passando a mão pelo cabelo escuro, aparentemente frustrado.

“O que aprontou dessa vez, Mellany?”, ele questionou parecendo cansado.

Minha atual pupila deu um meio sorriso debochado e passou as mãos pela calça rasgada. Achava incrível como ela achava a frustração de seu irmão um motivo para sorrir. Balancei a cabeça, inconsciente de estava o fazendo, e sua atenção se focou em mim. Seus olhos se estreitaram.

“Quem é ela, Nick?”, perguntou cruzando os braços pálidos.

Dei um passo à frente.

“Meu nome é...”

“Não te perguntei.”, ela me interrompeu.

Minha boca pendeu aberta com o jeito rude como ela me tratou. Fiquei em choque por alguns segundos sem saber realmente o que fazer. Agora eu entendia porque essa garota não tinha anjo da guarda. Sua falta de educação era uma coisa palpável. Mordi o lábio inferior, me impedindo de dar uma resposta á sua altura.

“Mellany, Caliel é uma amiga e será sua professora de religião.”, Nicolas disse rude. Mas isso não fez com que sua irmã abaixasse a guarda.

“Essa será minha professora?”, ela apontou para mim. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela riu. “Essa garota deve ter a minha idade. Isso é só papo para que você leve ela para a cama, Nick.”

Meu rosto ficou cor de rosa quase que instantaneamente, mas por conta da vergonha que suas palavras me expuseram. Ao contrário de Nicolas. Seu rosto ficou vermelho, mas seus olhos se dilataram e sua respiração nasal era facilmente escutada. Com os meus longos anos trabalhando com humanos era lógico ver que ele estava com raiva.

“O que, diabos, você aprontou, Mellany?”, ele perguntou entre dentes.

Isso fez com sua irmã recuasse um passo. Mas essa vulnerabilidade durou pouco tempo antes que ela levantasse a cabeça e desse de ombros. Meus olhos azuis se arregalaram com a facilidade com que ela lidava com um problema – sério o suficiente para ser levado até a direção e ser irmão ser chamado.

“O de sempre.”, ela deu de ombros de novo. Queria saber o que ela quis dizer com isso. Nicolas cruzou os braços e ela suspirou, rolando os olhos. “Matei aula e bebi escondida no estacionamento.”

“Com quem?”, ele perguntou.

Como se, de fato, isso importasse. Só o fato de ela ter matado aula para beber – Com apenas 16 anos – já teria me deixado surpresa. Mas, quando encarei Nicolas, esperando ver alguma reação semelhante a que eu estava imaginando, o vi apenas franzindo o cenho enquanto aguardava a resposta da irmã. Mellany revirou os olhos mais uma vez.

“Estava com Harper e Austin, mas isso não ter nada a ver e...”

“Eu já cansei de repetir, Mellany”, Nicolas deu um passo na direção dela e vi seus ombros se mexendo conforme ele respirava com força. “que não queria você com esse tal de Austin. Ele é só mais um jogador de futebol malandro que quer se aproveitar de você.”

Mellany apenas balançou a cabeça, mas preferiu não discutir e saiu. Mas não sem antes me lançar um último olhar raivoso. Encarei Nicolas, pronta para dizer alguma coisa que pudesse ajuda-lo. Mas pela sua expressão, nenhumas das palavras que eu fui criada a dizer poderiam acalmá-lo. Eu via em seus olhos que sua vontade era de trancar sua irmã em um porão e largá-la lá por uns tempos.

“Nicolas...”

“Tenho que ir, Caliel.”, ele me encarou e suspirou. Então forçou um sorriso. “Foi bom te conhecer e bem vinda a St. Loise. Espero que se divirta aqui mais do que eu.”, ele olhou para a porta e passou a mão pelos cabelos. “Eu tenho que resolver isso. Novamente.”

Antes que eu pudesse dizer mais uma palavra, ele saiu.

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“De fato, a religião e a filosofia tem uma disputa de muitos milénios.”, eu disse andando de um lado para o outro, sentindo o tecido da saia roçando em minha perna conforme me movimentava. “E agora, para me mostrar mais ou menos onde vocês pararam com sua antiga professora, gostaria que me escrevessem uma redação com tudo o que sabem sobre a disputa Religião X Filosofia.”

Muitos dos alunos reclamaram, mas eu continuei com meu sorriso.

“Vocês tem uma hora.”, anunciei e me sentei na cadeira, enquanto conferia as anotações da antiga professora.

Na lousa atrás de mim estava escrito o meu nome: Professora Caliel Crista. Substituta. Alguns alunos me perguntaram se era alguma piada por eu aparentar ter quase a mesma idade que eles. Prendi o riso, afinal, eu tinha mais anos de existência que sua mente seria capaz de contar.

Levantei os meus olhos, verificando se todos estavam cumprindo com o que eu havia pedido. Encontrei os olhos de Aliel, sentada ao lado de Jeremy, como se já era esperado. A sua frente estava Jason Hastein e Sarah Burke, sua última missão como cupido. A ruiva estava inclinada no namorado, apontando alguma coisa em seu texto e rindo.

Jason tinha os olhos verdes atentos a cada movimento que ela dava como se fosse à coisa mais interessante do mundo. Sarah também parecia estar ciente de que Jason a observava. Mantinha os olhos baixos, mas não conseguia ficar sem encará-lo por muito tempo. E quando o fazia, seu rosto ficava tão vermelho quando os seus cabelos.

Ela pareceu sentir que estava sendo observada por alguém além de seu namorado e olhou para frente, cruzando com o meu olhar curioso. Sarah, parecendo ficar ainda mais vermelha, se sentou ereta e voltou a fazer seu exercício.

Aliel, que observava a cena com a mesma curiosidade que eu, prendeu o riso e balançou a cabeça. Eu dei um pequeno sorriso e pus uma mecha do meu cabelo loiro atrás da orelha. Jeremy fitou Aliel e suspirou, dando um meio sorriso. Algo dentro de mim se remexeu, mas me mantive firme. Só que não pude deixar de impedir que algumas lembranças me alcançassem.

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“Já percebeu como as flores ficam lindas ao entardecer?”

Pus a mão por cima do meu vestido de verão, sentindo como o meu coração se acelerava apenas com a sua voz á poucos centímetros de meu ouvido. Não tive nenhuma indicação de sua aproximação. Evitei olhá-lo por alguns segundos, tentando me preparar psicologicamente para todos os efeitos que ele me causava com um simples olhar.

Encarei o vasto jardim á minha frente. A variedade de flores me fazia sentir maravilhada. Era incrível como os humanos que trabalhavam ali tinham tanto cuidado. Os Lotfor realmente adoravam preservar tudo o que possuíam. Escutei seus passos se aproximando e parando ao meu lado. Respirei devagar para que meu coração pudesse voltar a sua velocidade normal.

“Ela são lindas de qualquer jeito, Senhor Lotfor.”, respondi em voz baixa.

Escutei o seu riso antes que ele parasse a minha frente, quase me obrigando a encará-lo. Fazia apenas dois dias que Dareel Lotfor tinha vindo até a casa da família e se surpreenderá com o desenvolvimento de sua irmã mais nova, Catherine. Suspirei, sabendo que não teria mais outra opção além de encará-lo e lidar com todas as sensações que me invadiriam de uma vez.

A primeira coisa que me fascinava eram os seus cabelos. Eram escuros, como a noite que anunciava chegar, e um pouco longos tocando seus ombros largos e chamativos. Estavam sempre presos em um rabo de cavalo elegante, mas pouco firmes. Os fios ondulados e rebeldes, ora ou outra sempre se soltavam do aperto.

Então vinha o seu rosto. Quadrado e másculo, sempre bem barbeado e sem nenhuma marca no rosto, evidenciando seus poucos 24 anos. Os lábios cheios e convidativos, que proferiam as palavras mais doces e perigosas no ouvidos de qualquer desavisada. As maçãs do rosto eram roseadas, por conta dos últimos raios de sol que tocavam sua pele, tirando o ar fantasmagórico de sua palidez.

Então vinha o nariz. Arrebitado, mas um pouco torto. Como se me lembrasse de que, mesmo diante de toda essa beleza, ainda possuía imperfeições. Mas isso o fazia ainda mais interessante. Como, por exemplo, o motivo por trás daquela marca. Como se isso fosse um atrativo para aguçar a curiosidade sobre si mesmo.

E finalmente tinha os seus olhos. Verdes e brilhantes, como as esmeraldas que muitas mulheres no seu círculo social tanto gostavam de ostentar. Mas eram sinceros e tinham uma luz quando ele sorria. E sempre parecia revelar o que passava por sua mente. Suas emoções e seus pensamentos mais profundos eram descobertos com um simples olhar. Mas tinham que prestar bastante atenção. Observá-lo bastante.

Assim como eu fazia.

“Não me chame assim, Senhorita Crista.”, ele disse e ficou em silêncio por alguns segundos. “Por favor, vamos acabar com essas formalidades. Só porque sou noivo, não quer dizer que sou velho.”

Alguma coisa dentro de mim se apertou. O fato dele ser noivo me perturbava de um jeito que não deveria, de fato, perturbar. Mordi o lábio inferior e pus uma mecha do meu cabelo loiro atrás da orelha. Um hábito bem antigo e que ainda possuía. O vi mexer os pés, demonstrando sua inquietação. Engoli em seco.

“Então, pode me chamar de Dareel e a chamarei de Caliel, certo?”, ele continuou e eu sabia que estava sorrindo, sem que o olhasse diretamente. Ele passou as mãos nas calças de alfaiataria, mostrando estar frustrado. “Caliel, por favor, olhe para mim. Gosto de falar com as pessoas olhando diretamente nos olhos. Dizem que isso deixa as pessoas mais expostas e nos mostra as suas emoções.”, ele deu um passo a frente pôs uma mão por baixo de meu queixo, o levantando. “Eu quero ver as suas emoções, Caliel.”

Aqueles olhos. Ah, aqueles olhos. Eu poderia pecar apenas para ficar encarando-os durante o tempo que a eternidade durasse. A pele onde nos encostávamos estava quente. Pisquei por alguns segundos, desviando os olhos para o jardim logo atrás dele. Mas não consegui ficar muito tempo sem encará-lo. E quando menos esperava, estava caindo na armadilha de suas belas orbes esmeraldas.

Ele sorriu, mostrando todos os dentes brancos. O laço que prendia o seu cabelo, estava ameaçando cair, como eu sempre observava. Suas mãos eram grandes e eu me sentia estranha ao imaginá-las fazendo outra coisa que não fosse pintar. Seu hálito doce bateu em meu rosto. E, ao invés de recuar, eu queria me aproximar mais e mais.

“Assim está melhor.”, ele disse e senti meu coração ameaçando sair por minha garganta. Engoliu-o de volta para seu devido lugar. “Gosto de como seus olhos azuis brilham com o por do sol.”

Não pude me impedir de sorrir. Naquela época, eu usava quase a mesma aparência de atualmente. Mas, meus cabelos loiros eram longos e ondulados, caindo pelas costas e meus olhos eram mais claros. Além de minhas bochechas viverem coradas. Mas isso não era nenhum efeito angelical. Era o efeito que a presença de Dareel exercia sobre mim.

************************************

O sinal do final da aula me despertou de lembranças longínquas e dolorosas. Era como se, toda vez que elas tomavam a minha mente, abrisse novamente um buraco em meu peito que eu tinha certeza que estava remendado. Pus a mão em meu coração, sentindo-o se acelerar e abri a boca levemente, em busca de ar. Era como se eu estivesse sufocada com a dor.

Levantei-me, atraindo a atenção dos alunos ao meu redor. Reparei em Mellany no fundo da sala, mastigando chiclete e com as pernas em cima da mesa. Harper Moore, sua amiga, estava ao seu lado olhando tudo com desinteresse. Eu ainda achava incrível o fato de como as duas se pareciam, tanto fisicamente, quando na atitude.

Os olhos de Harper também eram azuis, mas escuros, como o céu noturno, depois de uma tempestade. Sua pele era tão ou mais pálida do que de Mellany. E seus cabelos eram castanhos claros, quase loiros. Talvez uma das poucas diferenças entre ela e sua melhor amiga. Ela focou seus olhos em mim e levantou uma sobrancelha.

Balancei a cabeça e comecei a recolher os trabalhos um por um. Não me impressionei com o fato de que, nem Mellany, nem Harper tinham feito o trabalho. Um por um, os alunos foram saindo da sala. Apenas Aliel e Jeremy permaneceram, depois de trocar algumas poucas palavras com Jason e Sarah. Aliel se sentou na cadeira em frente a minha mesa e sorriu.

“Como está sendo seu primeiro dia como professora?”, perguntou. Nós rimos. “Não que seja a primeira vez que você dê aula.”

“Nessa década, é sim.”, eu esclareci, me sentando na mesa. Então suspirei. “Pensei que seria fácil, mas essa Mellany Brown irá me dar trabalho”.

Jeremy assentia conforme eu proferia cada palavra. Ele estava usando a jaqueta do time de futebol, sinalizando que naquele dia teria treino. Como se lesse os meus pensamentos, ele se inclinou na direção de Aliel lhe deu um beijo na testa, de despedida. Então acenou para mim enquanto caminhava em direção à porta.

A lembrança de algo me fez pará-lo.

“Read, só um segundo.”, eu disse indo na direção rapidamente e fechando a porta. Ele me encarou, cruzando os braços e levantando uma sobrancelha, demonstrando curiosidade. “Quem é Austin? Acho que ele faz parte do time de futebol. Ele estava com Mellany no estacionamento hoje mais cedo, bebendo.”

Jeremy fez uma careta com a simples menção do nome do seu companheiro de time. Isso me fez ficar ainda mais temorosa. Todos sabiam que Jeremy Read não tinha um histórico muito respeitável. Incluindo consumo excessivo de bebida e o uso de drogas. Claro que esse último tópico tinha sido banido de sua lista depois de que Aliel entrou em sua vida.

Mas, além de suas atitudes, tinham suas marcas corporais. Piercing e tatuagens. Ele, com certeza, era a última coisa que um anjo procuraria. Mas atraíam muitas humanas. Seu jeito de galanteador e Bad Boy que não ligava para nada, fazia as humanas ficarem aos seus pés. Aliel tinha sido atraída e tentada. Na verdade, ela era tentada todos os dias. Mas, aos poucos vencia essa batalha interna.

Então, para alguém como Jeremy Read fazer uma careta apenas com a menção do nome de outro humano, era algo para que eu ficasse preocupada. Minha vontade foi de ir atrás de Mellany, aonde quer que ela estivesse. Mas me segurei, apenas aguardando a resposta de Jeremy. Aliel também se levantou, se aproximando de seu protegido humano.

“Austin Parker não é flor que se cheire, posso garantir.”, Jeremy disse e passou a língua pelos lábios, se preparando para contar o que estava em sua mente. “Mesmo sendo do meu time, eu não tenho muito contato com ele. Mas, se você quiser uma festa regada á álcool e drogas, é com ele que deve falar. E isso não é um bom sinal, certo?”

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Aliel arregalou seus olhos escuros e arfou.

“Eu me lembro de Austin na sua festa.”, ela disse. “Foi ele que...?”, ela deixou a frase em aberto e Jeremy assentiu lentamente. Então ela me encarou, alerta. “Afaste Mellany dele o quanto antes. Eu vi como se comporta em festa. E não é boa coisa, Caliel.”

“Acho que escutei ele comentando alguma coisa esses dias sobre Mellany.”, Jeremy pôs um dedo no queixo, pensativo. “Eles estão juntos á algum tempo. Duas ou três semanas, no máximo.”, levantei uma sobrancelha com a sua definição de tempo. Ele me encarou, firme. “Levando em consideração que os Brown chegaram à cidade á um mês, isso é bastante tempo.”

Assenti, concordando com Jeremy. Antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa á Jeremy, escutei alguém batendo na porta. Alguma coisa dentro de mim, já me alertou de quem poderia ser, mas me mantive quieta, até que Nicolas pôs a sua cabeça para dentro da sala e sorriu me encarando. Mas, seu sorriso ficou trêmulo ao perceber que eu não estava sozinha.

“Bem, obrigada por tirar nossas dúvidas, Senhorita Crista.”, Jeremy disse pegando Aliel pela mão e a puxando porta a fora. “Até a próxima aula.”

“Até.”, eu sorri, surpreendida pela atitude repentina de Jeremy.

Mas, tinha gostado dela.

Nicolas esperou alguns segundos antes de entrar de vez na sala. Senti minhas bochechas corando, só de ver o seu sorriso voltando a ser genuíno. Incomodada por aquele sentimento ser tão semelhante, me movimentei até a mesa e comecei a recolher os papéis. Mas, a sua presença masculina não se tornou menos predominante. Era como se a sua essência enchesse aquela sala, tornando-me apenas uma vítima de seu encanto.

Ele passou a mão pelos cabelos escuros e ondulados, que estavam quase tocando os ombros. Talvez ele devesse prendê-los. Balancei a cabeça com força, evitando que minha mente formasse mais lembranças ilusórias. Nicolas parecia hesitante, enquanto passava a mão pelas calças e dava um passo a frente.

“E como foi seu primeiro dia de aula, Senhorita Crista?”

Fechei os olhos e respirei fundo. Sua voz parecia tocar a minha alma angelical e acionar algo que já deveria estar esquecido. Mantive os meus olhos baixos, fixos nos papéis já arrumados e organizados. Mas eu tinha que ganhar tempo, certo? Engoli em seco. Tão semelhante. Porém, ao mesmo tempo, tão singular.

Senhorita Crista.

“Foi bem proveitoso.”, eu sorri, ainda movimentando as mãos pelos papéis. “E se veio saber sobre o comportamento de Mellany”, suspirei. “Ela não fez nada.”

Ele hesitou.

“Pode definir nada?”

Isso me fez encará-lo. Meus braços abraçaram as pastas e a apertaram bem forte contra o meu peito. Aqueles olhos tinham que ser tão nebulosos? Parecia que, desde que aquelas lembranças tinham me tomado durante a aula, a presença de Nicolas tinha se tornado mais predominante para mim.

Ele estava sentado em uma das mesas, com as mãos pousadas nas coxas bem vestidas com calças jeans escuras. A camisa azul destacava ainda mais sua pele pálida e seus bíceps tensos. Ele passou as mãos – grandes o suficiente para chamar a minha atenção – pelos cabelos rebeldes, tentado prendê-los. Mas desistindo logo em seguida. Uma vontade súbita de acaricia-los me tomou. Contive-me.

“Ela ficou com as pernas em cima da mesa durante toda a aula.”, esclareci, colocando as pastas dentro de minha bolsa. “E sua amiga, Harper, ficou comendo chiclete e me encarando.”, dei de ombros.

“Sinto muito, Caliel.”, ele se aproximou de um jeito repentino. Quando me dei conta, ele estava ao meu lado, colocando a mão em meu braço. Senti calor onde ele me tocava, e meu rosto começou a corar. “Como eu posso te recompensar pelo comportamento vergonhoso de minha irmã?”

Sorri, mesmo sem perceber. Apenas pelo fato dele estar tão perto de mim e querer me recompensar por algo que nem era culpa dele, já tinha ganhado o dia. E mesmo quando tentei negar, Nicolas pareceu irredutível.

“Não aceito menos que um café.”, ele disse e levantou uma sobrancelha.

Era incrível como os seus olhos conseguiam ser dóceis e intrigantes ao mesmo tempo. Encarei sua grande mão que ainda estava em meu braço e escutei meu coração bater em uma velocidade invejável. Assenti devagar, me rendendo ao seu convite.

“Ok.”, ele sorriu, mas não me soltou. “Estou por aqui á pouco tempo, mas conheço um local ótimo para tomar café depois de um dia cheio de hormônios e adolescentes desinteressados em aula de religião.”

Não pude me impedir de rir. O bom humor de Nicolas era palpável. Mesmo depois das confusões que sua irmã mais nova se metia. O riso era a válvula de escape dele, percebi. Mordi o lábio, percebendo que teria que deixar Mellany sem cuidados por algumas horas. Vi o olhar de Nicolas acompanhando o meu movimento com a língua e corei. Seus olhos ficaram escuros. Engoli em seco.

“Tenho que falar com a minha prima.”, sussurrei.

A tensão tocava cada parte de minha pele, como se fossem pequenos raios. Talvez fosse o efeito de muito tempo longe de humanos. Fechei os olhos, tentando colocar todos os meus pensamentos no lugar. Tudo aquilo fazia a pequena cosquinha em minha mente, apenas uma leve distração. Minha pele estava queimando no exato lugar em que seus longos dedos estavam me tocando.

“Você deveria ir agora, certo?”, ele sussurrou de volta.

Sua boca estava tão perto de meu ouvido que ele entorpeceu. Os sons ao nosso redor ficaram silenciosos. E tudo o que eu pude escutar era o som do meu coração batendo com força contra o meu peito, quase fazendo meus ossos se partirem. Muito tempo sem contato com humanos bonitos.

Assenti devagar e abri os olhos, o encarando. Os olhos de Nicolas estavam tão escuros que quase ficaram negros. Meu peito ardeu com a lembrança de como os olhos de Dareel também escureciam quando tínhamos momentos como este. Dei um passo para trás, tentando me livrar daquele feitiço. Os dedos de Nicolas não me soltaram.

Então, nossos olhares foram em direção á sua mão em meu braço e ele riu, me soltando. Um frio bateu em meu estômago quando ele deixou de me tocar. Mas isso iluminou a minha mente o suficiente para saber que não deveria deixar Mellany tanto tempo sozinha sem supervisão. E eu teria que ir tomar café com Nicolas. Tanto pela educação, quanto para saber um pouco mais sobre sua irmã e poder me aproximar dela.

“Vou falar com Aliel e já volto.”, eu disse pegando minha pasta e andando apressada até a porta.

Ele me deteve quando eu estava com a mão na maçaneta.

“Aliel Sky é a sua prima?”, ele perguntou levantando uma sobrancelha negra. Assenti, sentindo coceira no couro cabeludo. “Devo dizer que vocês não se parecem, mas ok.”, ele deu de ombros e sorriu. “Te espero no estacionamento.”

“Tudo bem.”, disse saindo da sala.

Andei apressada até o banheiro e passei a mão por meu rosto algumas vezes. Então encarei o espelho. Meus olhos azuis estavam dilatados e um pouco mais escuros do que o habitual. Meus cabelos loiros e ondulados nos ombros estavam em ordem. Mas eu estava totalmente corada. E tinha certeza que, se eu tivesse a capacidade, estaria suando.

Quando Jeremy e Aliel começaram a engatar nesse romance pouco convencional, ele lhe deu de presente um celular. Não que eu achasse necessário na época, mas eu estava aliviada por ter seguido o exemplo do humano e comprado um para mim. Procurei o número de Aliel pela lista de contatos e reparei que estava com as mãos tremendo.

“Sim?”, ela atendeu hesitante.

“Aliel, preciso de um favor.”, eu disse.

“Hum, pode falar, Caliel.”

Respirei fundo algumas vezes antes de continuar.

“Preciso que fique de olho em Mellany por algumas horas para mim.”, pedi e passei o endereço para ela. Escutei-a repetindo alto para que Jeremy pudesse copiar. “Estou te devendo uma, Aliel.”

“Que nada.”, ela riu. “Apenas cumpra sua missão.”

“Eu o farei.”


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Notas finais do capítulo

Quem quiser uns spoilers de Light, veja essa entrevista em meu blog: http://estantedasfics7.blogspot.com.br/2014/01/breve-entrevista-sobre-light.html



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