Light, O Amor Nunca Morre escrita por Nynna Days


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Domiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiingo, nooooooooooooooooovo capítulo.

Bem, não tem muito o que falar. Então, aproveitem e não me matem no final.



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Foi uma surpresa chegar á casa do padre Joseph e encontrar Aliel jogando xadrez sozinha. Ela estava deitada no chão vestindo apenas um pijama branco. Mesmo que ela não precisasse usar roupas de dormir, parecia se sentir bem as usando. Fiquei um tempo encostada no batente da porta, vendo sua expressão neutra, mas seu olhar distante. Ela pôs os cotovelos no tapete e o queixo nas mãos, encarando as peças, como se ali tivesse o segredo do mundo.

Cruzei os braços com um pequeno sorriso. Era o mesmo sentimento que me inundava quando eu vi Mellany fazendo algo fora da sua pose de Bag Girl. Aliel estava fora do seu habitual disfarce de Anjo Perfeito. Ela respirou fundo e franziu o cenho. Então abriu a boca e puxou o ar. Coçou os olhos. Coçou novamente. Fiquei confusa com tudo o que ela estava fazendo, até que pareceu ficar frustrada e empurrou o tabuleiro para longe.

“Estava tentando dormir?”

Aliel deu um pulo com o som da minha voz e me deu um sorriso sem graça. Abaixou os olhos, parecendo envergonhada por ter sido pega naquele momento tão intimo. Sorri também. Era incrível o quanto ela me lembrava da época em que eu era apenas uma guardiã. Seus cabelos escuros estavam trançados, deixando sua expressão acanhada aparente.

“Eu só...”, ela hesitou e resolveu não dizer nada. “Deixe para lá, por favor.”

“Tudo bem.”, descruzei os braços me aproximando dela. “Eu te entendo. Também tentava ser humana quando estava com Dareel. Eu queria sentir que merecia lutar por ele. Que eu poderia dar tudo o que uma humana daria.”

“Ás vezes eu me sinto mal por Jeremy”, Aliel admitiu e se sentou no sofá. Peguei sua mão e esperei que ela contasse o que estava mexendo com ela. “Eu vejo o jeito como os casais se comportam, Caliel. Eu e Jeremy não fazemos – e nunca conseguiremos fazer – a metade. Não gosto de limitá-lo a um romance mágico. Ao mesmo tempo, sou humanamente egoísta para não querer que ele se envolva com mais ninguém.”

Assenti lentamente entendendo perfeitamente o que se passava com a guardiã. Ela manteve sua atenção em nossas mãos entrelaçadas, evitando o contato direto de nossos olhos. Mesmo estando feliz ao lado de Jeremy, todos sabiam que um dia acabaria. Era como uma bomba relógio, pronto para explodir quando menos se esperasse. E não havia nenhum botão que pudessem apertar para impedir.

“Nicolas me beijou.”, soltei. Aliel arregalou os olhos escuros. Sua boca pendeu aberta e colocou uma mão no peito, como se aquilo pudesse conter seu coração. Desviei o olhar para a janela. “Aconteceu sem querer. Tinha me esquecido o quanto os Quase-Anjos conseguiam nos atrair.”

“Nós sabemos que o motivo de ter beijado Nicolas não tem nada relacionado com o fato dele ser Quase-Anjo.”, Aliel disse devagar. Assenti lentamente.

“Mas as memórias que sugiram, tem.”

Aliel se levantou parando bem a minha frente com o rosto franzido.

“Memórias?”

Respirei fundo e contei com detalhes o que acontecia quando Nicolas e eu nos beijávamos. A intensidade com que as memórias me atingiam sem pudor. Como ele parecia perdido entre o passado de uma vida desconhecida e o presente de uma existência duvidosa. Não omiti nada. Sentia meu peito se aliviar a cada palavra que meus lábios proferiam. Aliel voltou a se sentar do meu lado e escutou tudo, sem desfazer a careta.

“E nenhum Arcanjo veio atrás de você?”

Neguei.

“Se minhas penas não estivessem caindo e se prateando, eu diria que tudo não passou de uma ilusão minha.”, passei os dedos por meu rosto. “Tive que contar a verdade sobre sua alma, mas sobre eu ser um anjo...”, encolhi os ombros. “Isso ele descobriu sozinha com a ajuda das memórias. Uma delas foi de quando Dareel viu minhas asas.”

“O que você vai fazer?”

Aliel parecia mais assustada do que eu. Nossas mãos tremiam e eu tentava respirar fundo para acalmar todas as sensações que estavam me atingindo. O medo era predominante. Aliel estava certa quando disse que o céu estava perdendo a rédea. Uma coisa que não quis dizer á Aliel foi o quanto o céu estava sendo hipócrita. Desde que não pensássemos em abandonar nossas asas, poderíamos ter esse livre arbítrio de sermos humanos.

“Não sei.”, dei de ombros me levantando. Andei até a porta e virei a chave, me certificando que estava trancada. A rua estava silenciosa, a não ser pelos carros que passavam. “Pensei em me afastar, mas sei que não sou forte o suficiente para isso.”, fechei os olhos encostando minha cabeça na porta. “Eu rezei tanto para que a alma de Dareel descansasse em paz, convivi por tanto tempo com a dor, que nunca pensei na possibilidade disso voltar a acontecer.”

Aliel se levantou e pôs uma mão em meu ombro, mostrando estar do meu lado. Escutei um carro parando e deduzi ser o vizinho chegando. Tentei me concentrar em seus passos apressados e precisos, apenas para ignorar o torpor que invadia o meu corpo. Escutei Aliel suspirando ao lado e abri os olhos.

“Está pensando em abrir mão de suas asas novamente?”

Engoli a seco. Ela havia tocado em um ponto que eu estava tentando ignorar. Havia uma parte de mim – uma parte que eu julguei estar morta ou adormecida – que queria largar tudo e apenas viver feliz ao lado de Nicolas enquanto nossas vidas não suficientemente longas durassem. Mas a dor me fez racional. Eu sabia que o mero pensando de largar as asas seria o fim de Nicolas. Poderia imaginar os jeitos horríveis que ele poderia morrer.

Não poderia conviver mais com aquela culpa. Não novamente. Não estava preparada para olhar dois túmulos. Respirei fundo, balançando a cabeça com os pensamentos confusos que estavam me sufocando de dúvidas. Mas, antes que eu pudesse compartilhar tudo o que estava se passando em minha mente, escutei um barulho vindo do outro lado da porta. Fiquei alerta e olhei para Aliel, que estava tensa.

Seria uma confusão se mais um humano ficasse sabendo de tudo o que se passava com o mundo angelical. Hesitante, abri a porta. Meus olhos afiados e experientes vagaram pelo quintal bem cuidado do padre Joseph atrás de alguma evidência de que alguém havia estado ali. Mas tudo o que eu encontrei foi um vaso derrubado ao lado da entrada.

E um carro se afastando rapidamente.

Um carro bastante parecido com o de Nicolas.

***************************

“Não quero saber, Harper.”

Mellany rosnava no celular passando os dedos pelo armário procurando alguma coisa. Ela sorriu e puxou um vestido preto. Fechou o armário com o pé e colocou a roupa em frente ao seu corpo. Deu um meio sorriso e suspirou. Eu sorri, ajeitando as asas em minhas costas, por conta do vento. O cabelo batia em meu rosto enquanto tentava ver o que minha pupila estava aprontando.

Diferente das outras noites, Mellany tinha deixado a janela aberta, o que me permitia escutar tudo o que ela conversava no celular com Harper claramente. Levantei uma sobrancelha enquanto Mel escolhia um vestido para combinar com os sapatos. Fez uma careta para alguma coisa que sua amiga disse e revirou os olhos.

“Que se foda o que Nicolas disse.”, ela jogou os sapatos do outro lado do quarto e sentou na cama, passando os dedos pelos cabelos. “Ele está tão distraído com a história de ter que cancelar o maldito casamento que nem se lembra de que eu existo.”, ela suspirou enquanto deitava na cama. Sorriu. “Sabe, estou feliz por ter tirado Erin de sua vida. Aquela mulher era traição certa. Teve uma vez que a vi conversando perto demais de um ex-namorado meu.”

Franzi o cenho com as palavras de Mellany. Lembrava que Marienne, a ex-noiva de Dareel sempre havia sido apaixonado por outro homem e que iria se casar forçada. Mas ela sempre havia sido carinhosa com ele. Assim como Erin. Mas, traição? Eu nunca soube. Mellany voltou a olhar para o teto, parecendo divagar com as palavras de Harper.

“Eu sei.”, ela suspirou e deu um pequeno sorriso. “Eu gosto de Caliel. E sei que Nick também gosta. Devo admitir que no início ela me desse nos nervos. Ainda mais depois que ela me arrastou bêbada pela escola. Só que o tempo que ela ficou aqui em casa...”, ela parou e olhou diretamente para a janela. Onde eu estava sentada. “Eu senti falta da minha mãe preparando café da manhã.”, ela murmurou. Então estalou a língua e voltou a sorrir. “Mas, isso não importa. Eu vou à festa e ponto final.”

Pressionei os lábios juntos com a ideia de ter que ir atrás de Mellany nessa festa. Não poderia sempre pedir para Aliel ficar de olho. Na verdade, nem sabia se Aliel iria. Mas em vista que Jeremy era um dos garotos mais populares da escola e Aliel era sua guardiã/namorada, ela seria praticamente obrigada a ir. E observando a situação que estava se desenvolvendo á minha frente, parecia que eu tinha presença confirmada também. Ainda bem que mantive minha aparência de mulher jovem.

Mellany se levantou, andando de um lado para o outro no quarto, inquieta. Alguma coisa se agitou dentro de mim. Estava preocupada com ela. Parecia estar em um misto de sentimentos enquanto escutava as palavras de sua melhor amiga. Ela assentia enquanto voltava a procurar alguma coisa no armário. Então parou, revirando os olhos e cruzando os braços.

“Eu sei que Jeremy vai estar lá.”, bufou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E de fato era. “E que vai estar com Aliel. Você acha que eu vou à festa por qual motivo?”, ela pausou escutando Harper e fez uma careta. “Sei que eles estão namorando firme e que eu estou com Austin. Mas, sei lá.”, ela encolheu os ombros. “Estou pensando seriamente em terminar com ele.”, pausa. “Eu sei que ele é um dos garotos mais popular da escola e é um gato, Harper. Mas... não sei. No começo foi divertido, mas agora é apenas... comodidade.”

Senti-me orgulhosa de Mellany por estar falando a verdade. Tínhamos conversado bastante sobre isso. Esse envolvimento com Austin Parker não a fazia bem. Entendia a proibição de Nicolas. Se eu fosse irmã de Mellany também estaria surtando. Por fim, ela apenas se despediu de Harper e desligou o celular. Bocejou e fechou as janelas. Eu encolhi as asas contra o meu corpo e no segundo em que Mellany olhou para a paisagem no primeiro andar de sua casa, passei os dedos por seus cabelos escuros. Ela suspirou e deu um pequeno sorriso.

A ideia de encontrar a mãe dela passou por minha mente, mas se apagou no segundo seguinte. Eu sabia que Mellany estava magoada e não queria que ela descontasse na sua mãe. E, além disso, eu queria protege-la. Fechei os olhos com a verdade tomando conta de minha consciência.

Eu queria ser a mãe de Mellany.

Passei os dedos trêmulos por meus cabelos e a observei indo dormir. Não me levantei de imediato, apenas absorvendo aquele momento. O jeito como ela falou de mim com Harper, poderia quase ser visto como uma demonstração de afeto. Pus meus dedos no vidro frio da janela e desejei, pela primeira vez, estar lá com ela. Acariciando seus cabelos e dizendo que tudo ficaria bem.

Que eu estava ali por ela.

Antes que a dor por não ter esse direito me atingisse, a janela ao meu lado se abriu. Escutei-o ocupar o mesmo lugar de ontem, mas mantive meu olhar em Mellany por alguns segundos. Estava tentando acalmar meu coração apressado, que cismava em apostar corrida com os meus pulmões para ver quem me fazia arfar primeiro. Poderia dizer que teve empate.

Mantendo meu rosto frio e meu olhar o mais indiferente possível, me virei para ele. Diferente de ontem, ele não tinha a mesma expressão curiosa. Arrastei-me cuidadosamente até o seu lado e fechei minhas asas totalmente, fazendo-as sumir. Nicolas passou as mãos pelo rosto até a raiz dos cabelos, mostrando sua frustração. Então ele me encarou sério. Eu não desfiz o meu olhar frio.

“O que você estava fazendo na casa do padre?”, questionei.

Mas Nicolas ignorou minha pergunta, como sempre.

“Caliel, como eu morri?”

Minha garganta ficou seca e eu arfei. Ele pegou minha mão e me puxou para sentar ao seu lado. Tudo ao meu redor parecia girar. Ele não tinha esse direito de me fazer lembrar. Não tinha. Um grito abafado escapou dos meus lábios e eu respirei fundo. Tudo estava me atingido rápido de mais. Forte demais.

“Dareel, por favor, não”, eu engasguei.

Ele passou os dedos por minha bochecha. Os dedos gelados. Sua alma começou a exalar o cheiro da morte que ele estava carregando. Seus olhos estavam ficando opacos e sem aquele habitual brilho que eu conhecia. Mas isso não o impediu de dar um sorriso, depois de torci brevemente. Sangue saiu de sua boca e ficou no canto.

“Eu te amo, anjo. Sempre vou te amar.”, ele respirava com dificuldade. Minhas mãos tentavam pressionar o ferimento á faca em seu abdômen, mas não parava de sangrar. As lágrimas começaram a escorrer por meu rosto. “Espero que no céu tenham mulheres tão incríveis e bondosas quanto você.”, ele pegou uma de suas mãos e a colocou em seu peito. Senti seu coração vacilante. “Minha alma e meu coração sempre serão seus.”

“Dareel...”

Senti as gotas de chuva se misturando com as minhas lágrimas, tentando eliminar toda a dor e o sangue que estava ao meu redor. Mas não adiantava. O buraco em meu peito era bastante evidente e havia um sério risco de meu coração parar de bater junto com o dele. Eu soluçava sabendo que era tarde demais. Então, por que continuava tentando evitar que o inevitável acontecesse?

“Não chore, amor.”, ele tirou algumas lágrimas de meu rosto, mas outras vieram tomar o lugar. “ Estou morrendo por algo que amo e me sinto orgulhoso por isso.”, ele respirou fundo e suas pálpebras começaram a tremer. Senti o desespero me possuir totalmente. “Vou fechar os olhos, anjo. Estou muito cansado.”

Era como se eu conseguisse ver a sua alma se arrastando para longe de seu corpo lentamente. Tentei alcança-la, tentei toca-la. Mas tudo o que eu consegui fazer foi que minhas lágrimas se tornassem mais grossa ao ponto de quase me cegasse. Deitei a cabeça em seu peito, esperando que a chuva cumprisse o seu objetivo e tirasse aquela dor que fazia o meu peito latejar.

“Eu vou embora.”

Levantei-me e o vi seguindo o meu movimento. Fiquei apreensiva. Estávamos no segundo andar e não sabia se conseguiria abrir minhas asas, rápido o suficiente para não deixa-lo cair ou se machucar. Pus uma mão em seu peito, impedindo que ele desse mais um passo. O calor começou a se espalhar por meu corpo a partir da ponta dos meus dedos. Fechei os olhos, sendo envolvida por seu cheiro amadeirado e pela batida de seu coração contra a palma de minha mão.

Abri os olhos, levantando-os até encontrar os seus. Ele estava sério, mas tinha alguma coisa ali que me perturbava. Ele passou os dedos por minha bochecha – um leve roçar – e todo o meu corpo começou a formigar. Mordi meu lábio inferior e o vi acompanhando aquele movimento com os olhos alertas. Então, como se estivéssemos presos em um feitiço que se quebrou em seguida, ele deu um passo para trás, me privando de seu toque e se livrando do meu.

“Caliel, acho que você está certa.”, ele suspirou desviando os nossos olhares. Franzi o cenho, confusa. “Você se sacrificou demais por mim e não quero que isso volte á acontecer.”, ele respirou fundo e pousou os olhos cinza e frios em mim. Como se aquilo não significasse nada para ele. “Vou voltar para Seattle no domingo e irei marcar meu casamento com Erin.”

Eu arfei. Era como se uma flecha tivesse acertado meu coração em cheio. Mas isso não fez com que Nicolas poupasse o veneno em suas contínuas palavras. Comecei a piscar com força, impedindo que as lágrimas invadissem os meus olhos e expressasse todo o furacão de emoções que se passava dentro de mim. Dareel nunca tinha terminado comigo. Mas, Nicolas estava provando que não era o mesmo de 450 anos atrás.

Parecendo perceber o efeito de tudo o que estava dizendo, o olhar dele se suavizou por um curto momento. Esticou a mão na minha direção, como se fosse acariciar o meu rosto, mas deixou sua mão cair e desistiu. Deu outro passo para trás e franziu o cenho, como se não soubesse o que fazer. Eu não sabia o que fazer. Estava me sentindo perdida no meio de uma estrada de fogo. E não tinha a opção de recuar.

E Nicolas finalmente deu o seu golpe final.

“Nós não nascemos para ficar juntos, Caliel.”, ele entrou no quarto e suspirou como se estivesse arrependido. Apenas para em seguida balançar a cabeça e me encarar. Eu não respirava. “E eu não sou Dareel. Tenho o direito de escolher se devo ou não te amar. E, infelizmente, eu não amo.”


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Notas finais do capítulo

Comentem, flores.



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