Light, O Amor Nunca Morre escrita por Nynna Days


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, hj é quinta DIA DE CAPÍTULO NOVOOOOOOOOOOO. Mas, além disso, hj é dia 20 de março (vulgo entrada do Outono, vulgo dia da felicidade) E MEU ANIVERSÁRIO DE 18 ANOOOOOOOOOOOOOS. Então, aqui está o capítulo com muuuuuito amor.

Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/474431/chapter/11

Eu nunca me senti tão humana quanto naquele momento. Aquela dor era insuportável demais para que fosse sentida por anjos. Parecia que todos os meus órgãos vitais estavam sendo espremidos ao mesmo tempo, impedindo que eu respirasse ou vivesse. Mas, a imagem de Dareel e Marienne se beijando desencadeou um sentimento tão cru e humano em mim, que tinha me deixado descontrolada.

Meus pés estavam correndo por vontade própria, já que tudo que se passava em minha mente era aquele beijo. Minha pele estava ausente dos espinhos que me arranhavam durante minha corrida por entre a roseira. Minhas costas começaram a coçar, ao mesmo tempo em que meus olhos arderam. Minha garganta secou e em peito se criou um vazio. Criador, por que tanta dor?

O gosto de algo salgado em minha boca me fez frear. Minhas mãos foram automaticamente até os meus olhos, vendo que aquela água saía de lá. Então era isso o que acontecia quando os humanos se trancavam em seus quartos e lamentavam? Eles choravam? Sentiam aquela dor? Fechei os olhos, pensando que assim iria interromper o fluxo de lágrimas, mas quando os abri novamente, ele só aumentou.

O barulho de algo se quebrando atrás de mim foi subjugado pela chuva que me envolveu. Assim que a primeira gota tocou os meus lábios, eu soube que aquela chuva não era algo mundano. Era limpa, como um abraço. Calorosa. Fechei os olhos, ignorando tudo ao meu redor. E me deixando levar por aquele sentimento, fiz minhas asas prateadas se abrirem ao meu redor, em uma tentativa de fazer aquela dor crua sumir.

Um arfar despertou-me daquele momento, me fazendo encarar os olhos arregalados de Dareel. Ele estava parado á poucos passos de onde eu estava com a roupa totalmente suja e encharcada, como um reflexo do meu estado. Dei um passo para trás, deixando que o choque se espalhasse por minha pele. Criador, não poderia ser. Eu sempre fui uma anja tão obediente e cautelosa.

“Dareel, eu posso explicar.”

Minha voz soou assustada e trêmula diante daquela situação. E, me deixando ainda mais receosa, vi um hesitante – mas confiante – sorriso crescendo em seus lábios. Minha respiração estava tão acelerada quanto o meu coração. Ele deu um passo à frente e pegou minha mão estendida. O calor que irradiou em minha pele me fez relaxar e o fluxo de lágrimas serem interrompido.

Sua voz soou doce e calma por cima da devastação que estava minha mente. A chuva se estiava aos poucos, assim como minhas lágrimas se secavam em minhas bochechas lentamente. Senti seus dedos tirando o rastro delas enquanto ele dizia as últimas palavras que eu esperava, mas as que mais precisava.

“Sempre soube que sua beleza e sua bondade eram coisas sobre-humanas.”, ele sussurrou e tocou meu ombro. “Abri suas asas apenas comprovou minha teoria que você era perfeita demais para ser desejada por alguém tão incorreto como eu. Deus te enviou para ser minha prova de fogo, Caliel. Porque eu queimo só em te olhar e não poder te tocar.”

**********************************

Nicolas e eu nos afastamos arfantes. As memórias ainda queimavam diante de nossos olhos, como se tivesse acabado de acontecer. Todo o meu corpo estava tenso. O simples ato de passar a mão pelo rosto foi como um desafio. Mas nada se comparou ao momento em que tomei coragem o suficiente para encarar Nicolas.

Seus olhos azuis pareciam dilatados novamente, como se ele estivesse vendo algo além daquele momento. Minha pele queimava em expectativa e meus lábios formigavam por aquele contato tão pecaminoso.

Hesitante, pus minha mão em seu ombro sentindo o calor de espalhando desde a ponta dos meus dedos até a raiz de meu cabelo. Nicolas piscou, demorando alguns segundos para focar em mim. E quando o fez, deu um passo para trás, se afastando de meu toque, como ardesse. Passou as mãos pelos cabelos, exasperado. Então parou na minha frente, determinado.

“O. Que. Está. Acontecendo?”, ele perguntou destacando cada palavra. Abri a boca, meu couro cabeludo coçando pela mentira que sairia. “Não minta, Caliel. Dá pra ver em seus olhos que está desesperada. Sei que viu o mesmo que eu e que sabe disso.”

“Nicolas...”

Ele deu um passo à frente, mas eu balancei a cabeça pondo minha mão em seu peito o impedindo de se aproximar. Mesmo que meu interior estivesse implorando por aquele contato. Soltei o ar, tentando controlar todas as sensações que me invadiram sem a minha permissão. Em minha mente, tudo estava misturado. Eu queria contar. Queria gritar tudo o que estava engasgado, mas não conseguia. Sentia minha pele doer só de pensar na possibilidade de estragar a sua vida.

Mais uma vez.

“Não tente me enganar, Caliel.”, ele segurou meu antebraço e me puxou até o carro. Encostei-me ali e cruzei os braços, encarando o espaço a nossa volta. “Você só vai sair daqui quando me contar tudo o que está acontecendo. E eu sei que algo está acontecendo. Se você não contar...”, ele pausou parecendo procurar pelas palavras certas. Estreitou os olhos, franzindo o cenho. “Se não me contar, eu saio da cidade e levo Mellany junto.”

Essas palavras me atingiram no exato ponto que eu estava tentando proteger. Minha alma. Eu arfei tamanha a dor que me possuiu. Nicolas observou cada mínimo movimento meu. Passei a língua pelos lábios, tentando impedir que as palavras saíssem. Mas parecia que meu corpo obedecia a qualquer comando que viesse dele. Fechei os olhos, respirando fundo e compartilhei tudo o que estava me atormentando desde o começo daquela missão.

Não ver o seu rosto facilitou a minha escolha detalhada do que dizer.

“Essas visões são lembranças da sua vida passada.”, engoli a seco e abri os olhos. Ele estava sério, mas seus olhos permaneciam arregalados. Dei um meio sorriso amargo. “Suas lembranças como Duque Dareel Lotfor, da Inglaterra do século XVI. Eu era a assistente da professora de sua irmã mais nova. Nós nos conhecemos por acaso.”

Dei de ombros como se aquilo não importasse. Mesmo que meu coração estivesse ameaçando quebrar os meus ossos apenas para cair nas mãos de seu verdadeiro dono. Mas, manter os olhos em Nicolas, sem deixar nenhuma emoção aparente foi a pior parte. Eu queria poder pular em seu colo e chorar por todo o tempo em que existi na sua ausência. Pressionei os braços contra o meu peito com força, resistindo a aquele impulso.

Eu estava esperando que as poucas palavras que eu havia dito entrassem na mente de Nicolas e ele as absorvesse com cuidado. Queria que ele questionasse. Que dissesse que eu era louca. Para nunca mais me aproximar dele. Criador, como seria mais fácil. Mas, se a vida não era fácil nem para os humanos, porque a dos anjos seria. Derivávamos deles. Erámos parte da essência dele. Só que, para nos diferenciar, nos foi posto asas e a ausência do direito de errar.

“O que você é?”

Sua pergunta me fez dar um passo para trás, pressionando ainda mais minhas costas no ferro frio do carro. Eu não esperava por aquilo. Eu não queria aquilo. Ele não deveria perguntar. As visões... Todas as provas estavam ali. Só faltava que ele raciocinasse. Meus lábios se mantiveram em linha reta. Dessa vez meu corpo não venceria.

Nicolas massageou as têmporas, enquanto fazia uma careta. Eu sabia que ele estava com dor de cabeça. Também estava. Mas tinha que manter-me firme. E se eu fraquejasse pela menor do que fosse, iria fraquejar para qualquer coisa que ele quisesse. Seus olhos se estreitaram novamente, desconfiado. Então ele balançou a cabeça. Mantive meu meio sorriso amargo. Ele havia descoberto, apenas não queria acreditar.

“Um anjo?”, ele sussurrou e passou a mão pelo rosto, exasperado. “Não pode ser. Mas suas asas em minhas lembranças são bastante nítidas. Você é um anjo, Caliel?”

“Sub Arcanjo.”, esclareci.

Seus olhos quase saíram das orbitas de tão arregalados e deu um passo para trás.

“Um Arcanjo?”, ele grasnou.

“Sub Arcanjo”, corrigi. “Você é um Quase-Anjo. Reencarnação. O que preferir.”, dei de ombros. “Tem alguma coisa em sua alma que te faz reconhecer os anjos e nos atrair á você. Esse é o motivo pelos beijos acontecerem.”, parei a sua frente. “E isso não voltará á acontecer.”, virei a cabeça, encarando os carros que passavam pela rua pouco movimentada. “Meu único motivo de estar aqui embaixo é Mellany. Por ser a anja da guarda temporária dela.”

“Espere.”, ele levantou a mão e deu um passo para trás. “Muita informação. Vamos por partes, Caliel.”, ele respirou fundo algumas vezes. “O que aconteceu entre mim e você na Inglaterra?”

Meu coração deu uma parada brusca e se acelerou novamente. Respirar era um ato quase impossível. Pulmões inúteis. Fechei os olhos por um segundo, sendo tomada pela dor que sua voz carregava. Eu queria evitar aquela dor. Queria que ela nunca mais o tocasse. E eu era o foco dessa dor. O motivo principal de ela existir. Minha garganta se fechou e eu respirei fundo. Tive que reunir toda a coragem do mundo para encarar Nicolas e responder com a voz mais fria possível.

“Nós dois foi um erro.”, era como se uma parte da minha alma estivesse sendo arrancada. Mantive minha expressão neutra. “Um infeliz erro que custou sua vida. Você é humano, Nicolas. Nunca conseguirá entender o mundo angelical. Não tente fazê-lo novamente. Pode acabar pagando o mesmo preço.”

Eu tinha que sair dali antes que desabasse. Com passos lentos – e arrastados – me afastei de Nicolas sem lhe dar um segundo olhar. Assim que fechei a porta atrás de mim, minhas pernas cederam e eu caí com força no chão. Um pequeno lamento escapou dos meus lábios, mas as lágrimas continuaram presas. Eu havia feito a coisa certa. Ele não era feito para mim.

E o som de seu carro se afastando era uma prova disso.

*****************************

But since you been gone

I can breathe for the first time

I'm so movin' on, yeah yeah

Thanks to you now I get what I want

Since you been gone

Fechei os olhos, sorrindo enquanto Mellany pulava pelo quarto com fones de ouvido e cantava a música. Seu cabelo trançado e seu pijama azul-anil com desenhos expunham o seu lado infantil pouco visto. Minhas asas bateram e eu senti uma leve pontada ao ver algumas penas caindo e se prateando. Não poderia reclamar. Eu havia causado isso.

Olhei para o céu. Mesmo não demonstrando, estava apreensiva. Esperava que a qualquer segundo um Arcanjo aparecesse e me levasse de volta para o céu em julgamento. Mas nada havia acontecido. Tinha mantido os beijos em sigilo total. Aliel não entenderia e Adriel talvez me julgasse. Odiava ser um anjo tão imperfeito.

Assim que Mellany dormir, me levantei. Não iria passar mais tempo que o necessário ali. Sabia que não conseguiria resistir. Meus lábios formigavam só de lembrar dos beijos que Nicolas havia me roubado. Passei as mãos por meus cabelos, prendendo-os em um coque frouxo. Tinha que sair dali. Flexionei os joelhos no mesmo momento em que a janela do quarto ao lado se abriu.

Eu deveria ter continuado. Mas alguma coisa me segurou naquele lugar enquanto Nicolas se sentava no batente da janela com duas xícaras fumegantes nas mãos. Seu torso exposto, exatamente como todas as noites, me dando uma bela visão de sua pele dourada. Engoli em seco. Ele olhava para os lados, como se procurasse alguma coisa.

E eu sabia muito bem o que era.

“Caliel, hum, eu sei que parece estúpido, mas eu sinto que você está aqui.”, ele disse ainda procurando por mim. Eu permaneci em silêncio, sabendo que a barreira que me envolvia era bastante segura. “Deve ser por conta dessa ligação que temos...”, eu tenho que ir. “Trouxe chá.”, ele levantou as duas xícaras e sorriu.

E eu não consegui mais resisti. Culpa daquelas mãos enormes.

“Você é realmente insistente.”, eu disse me sentando ao seu lado e pegando a xícara de sua mão. Nicolas piscou algumas vezes, vendo eu me materializando ao seu lado. “Achei que tinha deixado bem claro que o melhor para nós dois era que...”

“Quero que me conte de como nos conhecemos.”

Minha boca pendeu aberta com o seu pedido. Mas eu não neguei. Bebi um pouco do chá e encostei minha cabeça no vidro da janela. Pela primeira vez em todos esses anos, deixei que as lembranças me tomassem. Era como poder respirar novamente depois de tanto tempo submersa. Senti um pequeno sorriso deslizando por meus lábios.

Eu desci as escadas rapidamente com os pensamentos longínquos. Estava atrasada para a primeira aula de Catherine. Tinha passado tanto tempo no quarto rezando, que havia esqueci totalmente. Mas quando o sino da igreja tocou, assinalando que era meio-dia, dei um salto de onde estava.

O longo vestido violeta que eu vestia não me ajudou na minha corrida. Eu era tão distraída. Tão novata. Tão imatura. Estava feliz por ter ido á Inglaterra. Era a primeira vez em que haviam me deixado sair do país. E logo para o lugar que eu mais queria. Era um sonho realizado. Dei um salto nos últimos degraus, esquecendo o quão deselegante era aquilo.

Escutei uma das empregadas reclamando de algo e quando me virei para me desculpar, meu corpo trombou em algo. Mas, levanto em conta que esse algo havia arfado, sabia que era alguma coisa viva. Levantei os meus olhos com uma enxurrada de Desculpas prontas para serem despejadas.

Mas a palavras ficaram presas em minha garganta quando seus olhos verdes cravaram em mim. Minhas bochechas começaram a queimar, assim como o restante de meu corpo. Criador, era um anjo? Por que meu coração estava batendo tão rápido e com tanta força? Onde estavam os meus pulmões? E minhas cordas vocais?

Ele deu um meio sorriso e se aproximou. Sua pele cor de marfim brilhava contra a luz do começo da tarde, mas ficava em contraste com seu cabelo negro e longo, preso em um rabo de cavalo despojado. Tinha elegância e confiança em seu andar, como se ele soubesse exatamente para onde ir, mesmo que não soubesse onde estivesse.

Seus dedos longos vieram na minha direção e dobraram duas vezes, como se me chamasse. Só naquele momento eu percebi que, com o nosso trombo, eu havia caído. O impacto de seu olhar foi mais rápido do que o do chão. Quando nossas peles se encontraram, foi como se eu tivesse tomado uma carga de 220 volts. Ele me puxou e só soltou minha mão quando teve certeza que meus pés estavam firmes no chão.

“Quem é você?”, perguntei ainda maravilhada com sua beleza.

Seu sorriso se ampliou.

“Sou Dareel Lotfor. Irmão de Derek.”, pegou minha mão novamente e a eletricidade me fez dar um salto. Ele soltou um riso. “E quem é você? Tenho certeza que reconheceria esses belos olhos azuis em qualquer lugar.”

“Caliel Crista.”, meus lábios pareciam anestesiados, mesmo que as palavras saíssem deles. “Sou assistente de Elizabeth. Professora de sua irmã, Catherine.”

“Oh.”, ele assentiu e largou minha mão. Senti algo vazio. “Então, nos vemos em breve, Caliel. Cuidado para não cair nos braços de qualquer um.”

E com isso, se afastou.

Nicolas e eu rimos.

“Eu não acredito que disse isso.”, ele riu mais um pouco. “Cuidado para não cair nos braços de qualquer um? Nossa, isso é muito brega.”

“Naquela época, era algo galanteador.”, eu defendi. O modo como Nicolas repetia as palavras de Dareel sem perceber era perturbador. “Além disso, vocês têm as mesmas mãos.”, peguei-a por entre as minhas alisando cada um dos dedos com minhas curtas unhas. A eletricidade sendo intensificada a cada segundo. “Dareel era um pintor talentoso. Um artista. Sua morte chocou muitas pessoas.”, levantei meus olhos encarando Nicolas com determinação. “Eu te amei o suficiente para não deixa-lo morrer novamente.”

“Todos morrem, Caliel.”, ele disse confuso.

Balancei a cabeça.

“Eu vou embora.”

E antes que ele pudesse me impedir, eu fugi.

Novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Light, O Amor Nunca Morre" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.