Caçada escrita por Gabi Gomes


Capítulo 6
De Volta ao Lar


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Aqui está mais o capítulo de Caçada, espero que gostem!



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As semanas que se passaram foram ótimas para todos do circo, mas é claro, menos para mim. Jordan finalmente tinha conseguido terminar o número de Kishan depois de longos dias frustrantes onde o máximo que se conseguia do tigre negro era que ele deitasse na grama com a barriga peluda para cima.

Com o número pronto, o público nas apresentações triplicou, fazendo o humor do senhor Benzini melhorar a cada Benjamin Franklin que ele ganhava. Mudávamos de cidade com maior frequência e em menos de três semanas já tínhamos percorrido quase todo o estado da Carolina do Sul.

Multidões se aglomeravam na bilheteria, eufóricas para assistir o “Espetacular Tigre Indiano” sendo domado por Jordan, fazendo saltos majestosos, deixando mulheres e crianças maravilhadas.

O Benzini Brothers festejava a nossa nova “mina de ouro”, enquanto eu assistia tudo àquilo meio revoltada, pois como eu disse, tudo estava indo muito bem para todos, menos para mim.

Agora você deve estar pensando que meu namoro com Matt estava horrível, certo? Mas a real situação era totalmente o contrario, nosso relacionamento estava indo muito bem. Era bom ter Matt para mim, ele me fazia sentir bem e a cada dia eu estava mais feliz.

Então porque eu dizia que nada estava indo bem para mim? Poderia parecer bobagem, mas desde o dia em que Matt e eu nos beijamos na tenda de Kishan, as coisas entre mim e o tigre negro se tornaram estranhas. Kishan parecia estar me ignorando, pois parou de me olhar com seus olhos dourados brincalhões e sempre que eu me aproximava para lhe dar comida, ele bufava e se afastava de mim.

Continuei indo até sua tenda todas as noites, tentando conversar com ele no mesmo estilo “Eu falo, você ouve”, mas Kishan não parecia querer me ouvir, então parei de tentar, mesmo sentindo uma dor no peito ao fazer isso.

Era final de Julho quando chegamos à cidade em que esperei anos para rever. Bryson City, a cidade em que meus pais viveram.

Na verdade aquele lugarejo não poderia ser considerado uma cidade em si, pois era apenas um amontado de casas de madeira e pedra, no estilo rústico que se encontravam perto da floresta de Nantahala. Mas era um lugar ótimo para se viver e a nossa chegada ali me deixou um pouco animada.

Fazia muito frio na noite em que chegamos, por isso o senhor Benzini adiou a apresentação para o dia seguinte e eu aproveitei essa “folga” para sair com Matt, em um encontro de verdade e não as saidinhas que dávamos toda tarde para o tenda perto do canil.

Fomos ao antigo cinema de Bryson City, que era o única da cidade. Era um prédio antigo, onde antes fora uma antiga escola, mas agora servia como ponto de encontro para jovens.

Na sala apertada e empoeirada de cinema passava o filme Edward Mãos de Tesoura, mas não a versão com Jhonny Deep, mas sim, uma bem mais antiga, em preto e branco e sem falas que eu nunca pensei existir.

Eu comia um saquinho de pipoca doce que Matt tinha me comprado na entrada, enquanto minha mente viajava, totalmente desinteressada naquele filme.

“Nós tínhamos que vir logo na semana Preto & Branco do cinema?”

Um arrepio tomou conta do meu corpo, quando senti os lábios gelados de Matt tocando meu pescoço. Automaticamente, virei minha cabeça e sorri.

– Já está querendo se agarrar comigo, senhor assanhadinho Donovan? – Sussurro perto de seu ouvido para que o velho lanterninha não viesse brigar conosco.

– Qual o problema, Campbell? Ninguém está prestando atenção no filme mesmo.

Olho em volta, para os três casais que estavam naquela sessão junto com a gente. Dois deles se beijavam normalmente, enquanto o casal que estava na primeira fileira já estava praticamente deitado nas cadeiras.

Virei minha cabeça rapidamente, sentindo minhas bochechas corando. Vejo Matt rir da minha cara antes de se aproximar e selar nossos lábios.

Joguei a pipoca para a cadeira do lado e envolvi o pescoço de Matt, dando passagem para ele aprofundar o beijo.

No final do filme, quando os créditos começaram, eu já estava sentada no colo dele, totalmente descabelada e sem mais ar nenhum nos pulmões.

– Cinemas com certeza são ótimos lugares para encontros. – Matt diz quando passávamos pelo velho lanterninha que nos olhava de um jeito suspeito, como se soubesse o que tínhamos feito.

– Desde quando você é safado desse jeito, Matt?

Eu ria enquanto nós saímos pela porta de madeira do cinema, indo para as ruas escuras e frias de Bryson City. Abracei meu corpo, quando o vento gelado bateu em mim, me fazendo estremecer mesmo estando com alguns casacos de frio.

– Como eu odeio o inverno... –Ouvi Matt atrás de mim e logo senti seu casaco me cobrindo. – Fique com meu casaco, seu rosto esta ficando roxo.

– Obrigada, Matt. – Tentei sorri, mas eu sentia meus lábios congelando.

Matt me abraçou, enquanto andávamos o caminho de volta até o circo em silêncio. Meus olhos vagavam pelas casas que se encontravam as escuras e minha mente trouxe de volta as lembranças de meus pais.

– Você sente falta deles, não é, Mia? – A voz de Matt me faz acordar e olha-lo. Soltei um longo suspiro.

– Sim... Muita.

Uma lágrima teimosa desceu pela minha bochecha, mas a limpei rapidamente. Matt beijou o topo da minha cabeça de um jeito carinhoso e eu me aconcheguei em seu abraço.

– Não fique assim, Mia. Aonde quer que eles estejam, aposto que estão orgulhosos de você.

Um pequeno sorriso se abre em meu rosto, enquanto atravessávamos a rua, onde um semáforo piscava no amarelo.

Depois de alguns minutos, nós finalmente chegamos ao Benzini Brothers. Dei boa noite a Matt e entrei no meu trailer, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar Cadence e as outras bailarinas que dormiam enroladas no cobertor.

Coloquei o pijama mais quente que tinha e depois de fechar bem a janelinha que ficava de baixo da minha cama, me deitei. O único problema é que eu não conseguia dormir, meus pensamentos voltavam para olhos dourados que me encaravam, me fazendo rolar pela cama até perder a paciência.

Me joguei para fora do colchão e coloquei minhas pantufas da Minnie, pegando meu caderninho de desenho que estava em baixo da cama.

Deveria ser de madrugada ainda, pois o céu ainda estava todo estrelado. Eu sabia muito bem aonde deveria ir e quando vi, já tinha entrado na tenda de Kishan, que dormia todo enrolado em sua jaula.

Me acomodei no meu banquinho de sempre, enquanto via o peito do tigre subir e descer lentamente de um jeito ritmado.

– Você é realmente um belo tigre.

Meu sussurro ecoou pela tenda, fazendo a calda de Kishan balançar. Vi suas orelhas peludas se moverem em minha direção, e logo sua cabeça saiu do meio de suas patas e seus olhos dourados penetrantes me encararam.

– Me desculpe ter te acordado Kishan, eu não consigo dormir e resolvi vir aqui te desenhar, você se importa de servir de modelo?

Minha voz era amigável, mas mesmo assim o tigre negro bufou e virou a cabeça, voltando a deitar.

Nervosa com a atitude de Kishan, fui até sua jaula batendo o pé. Parei em sua frente e fiquei encarando seu pelo negro, mas ele continuou me ignorando.

– Afinal, porque você está bravo comigo? Eu não fiz nada para você, seu tigre besta!

Minha revolta era evidente, o que fez o tigre virar a cabeça para mim de modo questionador.

– Pare de me olhar como se eu tivesse jogado uma bomba na floresta Amazônica!

Foi a minha vez de bufar e virar as costas para Kishan. Escorreguei até o chão e me sentei, apoiando as costas nas grades da jaula. Abracei minhas pernas e apoiei minha cabeça nos joelhos, deixando o caderninho de lado.

Senti uma respiração quente em meu pescoço e uma coisa gelada tocou minha pele descoberta, me fazendo arrepiar. Olhei para traz e vi Kishan ao meu lado, esfregando seu focinho em mim.

Tentei ficar séria e não dar o braço a torcer, mas não aguentei quando o tigre lambeu meu pescoço. Uma risada alta me escapou.

– Ei! Não babe em mim!

Limpei a gosma e me virei para Kishan que me olhava da forma brincalhona de sempre, o que me fez sorrir. Levei minha mão até sua grande cabeça e lhe acariciei o pelo negro, vendo o fechar os olhos e ronronar com o meu toque.

– Nunca mais faça isso comigo!

Tentei dar uma bronca em Kishan, mas logo desisti e continuei acariciando seu pelo, indo da cabeça para as orelhas e depois para o pescoço. Aquela sensação era ótima, e me confortava de um jeito maravilhoso.

– Agora acho que não vai se importar se eu te desenhar um pouco, certo?

Como resposta, recebi um rugido baixo, enquanto Kishan se deitava perto de mim, sem tirar seus olhos dos meus.

Comecei a rabiscar o papel em branco, moldando as formas perfeitas do tigre ao meu lado. Entre um desenho e outro, parava para conversar com Kishan e lhe fazer um carinho, mas acho que peguei no sono ali mesmo, pois acordei assustada com alguém me chacoalhando.

Abri os olhos e soltei um bocejo, olhei em volta e vi que o já era de manhã, porque tudo estava claro.

– Mia, acorde!

A voz de Matt me fez despertar por completo. Olhei para ele que estava ofegante, provavelmente ficou me procurando por todo lugar.

– O que houve, Matt? Não acredito que dormi aqui.

Olhei para traz e vi Kishan na mesma posição da noite anterior, só que agora seus olhos eram atentos e ele não parecia contente com a presença de Matt ali, pois o encarava de um jeito ameaçador.

– Mia! O Benzini vai vender o tigre!

Arregalei os olhos com aquela noticia e me levantei do chão com um salto.

– O quê?

Continua...


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