Annabeth precisava ficar longe do namorado. Na verdade não queria. Depois de ficarem tanto tempo separados, não era justo que agora ela tivesse que evitá-lo. Mas era necessário. Afinal, Percy provocara um maremoto por causa dela e Annabeth sabia que, como uma legítima filha de Atena, não podia se deixar levar pelas emoções. Passou então a se envolver em todas as atividades dentro do navio: faxina, fez um curso intensivo com Leo para aprender a mexer em todas as engrenagens do motor à casa de máquinas e até na lavagem de roupas o que deixou os meninos sinceramente agradecidos, menos Percy.

É claro que todos no navio estranharam este súbito interesse pelo trabalho. Não que Annabeth fosse preguiçosa, pelo contrário, foi sempre ela a segunda pessoa a manejar o navio e era sempre organizada com suas coisas, mas daí a tomar para si quase todas as tarefas, isso já era um exagero. Piper e Hazel não conseguiram esconder certa preocupação com a amiga. Mas a garota não se importou. Sabia que era o correto a fazer. A viagem em direção a Atenas já estava chegando ao fim. Eles não haviam sofrido nenhum ataque até então. Portanto, não seriam ela e Percy que iriam causar problemas.

Entretanto a saudade machucava. Era só pensar nele que seu coração apertava, seu corpo todo doía. Além disso, temia que estivesse magoando o namorado. Quando estavam todos os tripulantes juntos durante as refeições, e o olhar dela cruzava com o dele, quase desistia de tudo. Se Piper sabia como convencer com a voz, Annabeth achava que os olhos verde-mar de Percy compartilhavam do mesmo feitiço.

O filho de Poseidon, por sua vez, parecia compreender as intenções da namorada e era aquilo que a fazia amá-lo ainda mais. Percy nunca discutia, confiava nas escolhas dela, isso desde que se conheceram, mas Annabeth sabia que nem sempre era justa.

Naquele dia porém, parecia que as coisas não estavam muito fáceis para Annabeth. Ela acordara estressada e reclamando da sujeira que os meninos faziam durante as refeições, da molhadeira no banheiro e da quantidade enorme de roupas sujas. Nem sequer fora tomar o café da manhã. Piper e Jason que a ajudavam nas tarefas daquele dia resolveram se manifestar.

__ Annabeth, deixe que eu seco o banheiro hoje. Você tem feito isso todos os dias. Isso não é justo, nós sempre trabalhamos com escalas, assim como no Acampamento. __ argumentou Jason.

__ Amiga, ouça. Já venho percebendo algo estranho em você, mas agora preciso falar. Seja o que for que esteja acontecendo, você não pode assumir todas as tarefas. Isso só vai contribuir para você ficar ainda mais estressada. Além de não resolver o seu problema. __ Piper parecia estar usando o charme para convencê-la.

Annabeth caiu em si. Não que concordasse com Piper, pois sabia que precisava manter-se ocupada para se afastar de Percy, mas entendeu que aquele afastamento não estava fazendo nada bem a ela e certamente nem a ele. Olhou a amiga nos olhos e agradeceu sincera.

__ Obrigada, Piper. E Jason, você pode terminar com o banheiro, sim?__ disse dando um abraço conjunto nos dois.

Em seguida, foi procurar Percy.

Começou pela cabine dele, que estava como sempre desarrumada.

O namorado não estava em nenhum lugar, começou a ficar preocupada.

__ Onde está Percy? __ perguntou ela a Leo, que naquele momento manejava o leme, enquanto assoviava uma música, que Annabeth reconheceu como sendo do The Rolling Stones.

__ Ham? Percy? Ah, ele mergulhou há algumas horas, ainda era madrugada. __ respondeu como se dissesse “Ele foi dar uma caminhada.”

Annabeth ficou desapontada e preocupada, mas agradeceu, pois do jeito que estava era capaz de ter se jogado nos braços do namorado, enchido o garoto de beijos e o levado para a sua cabine na mesma hora. No entanto não deixou de pensar que Percy não estava bem para ter se jogado no mar durante a noite.

__ O que está acontecendo conosco? __ pensou alto.

__ O quê? __ perguntou Leo __ Ah, aí está ele. __ disse com aquele sorriso travesso, enquanto olhava para alguém bem atrás de Annabeth.

A garota sentiu um arrepio na espinha e fechou os olhos para se ver se conseguia manter o raciocínio.

Todas as vezes que Percy voltava de um mergulho no mar, ele ficava ainda mais bonito, com um brilho mais radiante nos olhos e um sorriso pra lá de cativante. Annabeth sabia que não ia resistir, mas respirou fundo e se virou.

Lá estava ele. Seco como sempre, o cabelo jogado para trás, mas ainda caindo no olhos daquele jeito que o fazia sacudir a cabeça de vez em quando para afastar um fiozinho que o incomodava, os olhos verde-mar profundos e encantadores e o sorriso... Cadê o sorriso?

Annabeth encarou Percy. Seu rosto estava bonito e calmo, mas ele estava sério. A mente dela se fundiu. Era a primeira vez, desde que começaram a namorar, que Percy não sorria quando olhava para a ela. Na mesma hora Annabeth entendeu: só uma coisa poderia melhorar o ânimo de Percy. E era justamente o que ela estava negando a ele. Sabia que não se tratava só de sexo, mas da companhia dela, do estar junto enfim. Na mesma hora se sentiu péssima, a pior das namoradas! Como ela pôde pensar na segurança da missão e esquecer totalmente os sentimentos do namorado? E os dela também?

__ Você está bem? __ ele perguntou tocando no rosto dela.

__ O que você acha?

Ele baixou a cabeça.

__ Bem, é o certo a fazer não?

__ Não! Não é! __ falou enfática. Depois o puxou pela mão, levando-o para um lugar onde pudessem conversar mais à vontade. __ Acho que meti os pés pelas mãos, Percy. Eu sei que minha intenção foi boa, mas não consigo mais ficar longe de você. Acho que vamos ter de nos arriscar, quer dizer, acho que estou sendo egoísta ao pensar desta forma, mas...

Ela se interrompeu porque Percy finalmente dera um sorriso. Um sorriso largo e bom como aqueles com os quais ela já estava acostumada, pelos quais ela se apaixonara. Annabeth suspirou aliviada.

__ Você é um enigma pra mim. __ confessou Percy __ Ao mesmo tempo em que é extremamente racional, se deixa levar pelas emoções.

Ela o abraçou e começou a beijar todo o rosto dele: testa, nariz, boca, bochechas. Ele agradeceu aos deuses o fato de Annabeth não estar usando batom, pois do contrário àquela hora estaria todo marcado.

__ Então, o que vamos fazer agora?__ resolveu perguntar ainda entre os beijos da namorada.

Ela parou de beijá-lo e olhou-o fixamente com aqueles olhos cinzas perturbadores.

__ Não sei, Percy, sinceramente. Só sei que te amo e que preciso de você do meu lado.

__ Eu também preciso de você. __ ele a aconchegou em seus braços.

Annabeth não soube como conseguira ficar todos aqueles dias sem aquele abraço. Sentiu-se uma idiota. Ora, eles eram inteligentes o suficiente para arranjar uma solução para aquele problema, já haviam passado por tanto! O importante é que estavam juntos e era isso que contava naquele momento. De repente foram surpreendidos pelos gritos de Leo.

__ Terra à vista galera! Terra à vista! __ o garoto pulava e gritava eufórico.

Annabeth sentiu um tremor pelo corpo e imediatamente dois pensamentos invadiram sua mente. O primeiro: Teriam chegado a Atenas? Neste caso, os gigantes de Gaia certamente os estariam esperando. E o segundo: Caso o Leo achasse melhor colocar o Argo II no ar, ela e Percy poderiam finalmente ter sua segunda vez. Olhou para o namorado. Ele pareceu ler os pensamentos dela.

__ Vamos pensar primeiro na guerra, mas ficaremos juntos, haja o que houver. __ ele parecia decidido.

__ Claro. __ respondeu Annabeth, em seguida o beijou. __ Vamos nos reunir aos outros.