Estrada da Morte escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 4
Diana


Notas iniciais do capítulo

OLHA EU AQUI DENOVO! Com mais um capitulo, de uma personagem novíssima! hehe. Obrigada a todos que comentaram!
Capitulo dedicado á Nina, meu pote de Nutella! Personagem: Diana Mander



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Diana

Diana já estava fumando seu terceiro cigarro do dia, e não passavam de sete da manhã.

Ela estava nervosa desde a noite anterior, quando recebeu o recado do pai. Não que tivesse continuado nervosa depois de praticamente uma garrafa inteira de gim e do sexo selvagem que todos os moradores do prédio deviam ter ouvido. Mas quem disse que Diana ligava? Nunca se importara com esse tipo de coisa, e não começaria bem nesse momento.

Levantando-se da cama sem se preocupar com o vento gelado batendo no seu corpo nu, foi até a janela e jogou o cigarro por ela, soltando a última tragada numa fumaça espessa.

– Bom dia, gata. - Eric falou baixo, a abraçando pela cintura.

– O que tem de bom eu não sei. - respondeu mal-humorada.

Sem se deixar abalar, Eric começou a espalhar beijos por sua clavícula e o pescoço, acariciando seus braços de leve. Quem os visse de longe poderia dizer que eram um belo casal, não a troca de favores que acontecia na realidade.

– Você não tem que ir encontrar com a sua vadia, Eric? - Diana perguntou com desdém, e o sentiu ficar tenso em suas costas, as mãos parando no meio do trajeto de carícias.

– Do que está falando?

– Até parece que eu não sei sobre você e aquela tal de Liz.

Eric se afastou um pouco e Diana sabia que o tinha pegado completamente de surpresa. E não entendia o porquê. Todos sabiam que por ser quem era sabia de tudo sobre todos, e o homem não fazia força nenhuma para esconder seu caso com essa Liz. Muito menos quando estavam juntos.

– Olha, eu posso…

– Não, você não pode. - cortou antes que ele começasse com as desculpas - Eu não me importo se está com ela ou não, só me faça o favor de quando passar a noite comigo não falar o nome dela. Tudo bem?

Eles se encararam por um momento. Apesar da calma que aparentava, Diana sabia que Eric estava assustado. Como todos os outros.

– Tudo bem.

Dito isso, pegou suas roupas espalhadas pelo quarto e as vestiu, se mandando logo em seguida. Pelo menos esse sabia obedecer. Eles se conheciam fazia anos, desde que ele entrou para o “negócio” do pai de Diana, e sabia muito bem que não devia insistir ou entrar em confusões com ela. Já estava pisando em ovos passando a noite em seu apartamento, era melhor não fazer mais alarde.

Esse era um dos únicos momentos em que Diana tinha algo a favor da vida em que tinha sido criada.

– Idiota. - murmurou baixo enquanto ouvia a porta se fechar.

Pegou a toalha, foi para o banheiro e ligou o chuveiro deixando a água esquentar e soltar o vapor. Tomou um banho demorado e relaxante, sentindo os músculos perderem a tensão com o tempo, que voltou assim que saiu da água e lembrou do encontro que teria que encarar em uma hora.

Irritada, Diana se apoiou na penteadeira no canto do quarto e encarou seu reflexo no espelho. Não parecia nada bem. Estava mais pálida que o normal e as mãos trêmulas. Até o cabelo, que já era de um loiro muito claro, parecia mais branco e fosco.

Por isso odiava quando tinha que ver o pai. Esses encontros a deixava nervosa, acabava com seu estado físico e emocional, e era sempre para pedir um favor que a colocaria em perigo.

Vestiu uma calça, uma blusa grossa e um casaco, calçou as botas, pegou a bolsa e o cachecol. Parecia simples e uma menina delicada, mas seu andar confiante e certo mostrava exatamente o contrário.

Saiu do apartamento a passos largos e não se preocupou em chamar um táxi. O lugar não era tão longe e podia muito bem ir á pé. A brisa não estava tão gelada ali, mas ainda estava frio e quando o ventava se arrepiava toda e se abraçava mais forte.

Quando chegou no píer trinta minutos depois, um homem já a esperava ali, observando a água, as mãos afundadas nos bolsos do casaco cinza e o cabelo dourado muito bem penteado deixando algumas mexas escaparem com o vento.

– Pensei que ia me ignorar. - Hank falou se virando para observar Diana, que mantinha a expressão mais calma que conseguia.

– Eu também. - retrucou, pouco á vontade.

– Fico feliz por não ter feito isso. Ou teria que ir até você. - sua voz era calma, mas o tom ameaçador ardia entre as palavras - Pode ser minha filha, mas tem que seguir as mesmas regras dos outros, querida. Sem privilégios.

– Eu não preciso de nenhum privilégio. - falou entredentes - Já avisei um milhão de vezes que saí dos seus negócios, mas você sempre quer me puxar de volta. Se quer que eu te ajude é problema seu, não preciso ficar te seguindo como um cachorrinho.

– Olhe a boca, querida. - ele deu um sorriso afetado - E já disse um milhão de vezes também que é para me chamar de senhor. Sou seu pai, tenho o mínimo de respeito.

Respeito?, pensou Diana, irritada. Por favor!

Ela não podia acreditar que tinha mesmo aceitado estar ali. Queria ter sumido, começado uma vida nova em outro país, com outro nome. Tivera a chance dois anos antes, quando o pai, o grande rei de Detroit que comandava mais da metade das gangues e todas as drogas e pontos de prostituição que existiam na cidade, foi dado como morto e ficou meses sem ter notícias. Mas tinha acreditado que estava mesmo morto. Tinha que admitir que ficou triste, Hank era sua única família e foi ele quem a criou - com uma mamadeira numa mão e uma arma na outra, mas a criou. E então ele voltou pedindo a ajuda dela. Mais uma vez.

– O senhor– falou com desdém - devia ter me deixado com minha mãe quando eu nasci. Se pretendia criar um animal obediente que faz tudo o que pede deveria ter comprado um poodle. Não ter me tirado da Elena.

Quando o nome foi mencionado, todos os sinais no rosto de Hank que expressavam carinho ou algo parecido com isso sumiram, deixando-o inexpressivo e mortal. Diana quase se arrependeu, mas não voltou atrás. Nunca voltava. Ela levantou o queixo e o encarou.

– Não mencione o nome dela.

Diana ergueu uma sobrancelha em sinal de desafio. Queria era ir embora logo e de preferência sem ter que fazer mais nenhum serviço sujo para aquele homem. Mas sabia que ele também não desistia fácil, mesmo ela usando a artilharia pesada - o nome de sua mãe. E era nesses momentos que se perguntava como ela se apaixonara por ele. Tudo bem que para um quarentão ele era muito bonito, mas o caráter… Duvidoso era pouco.

Eles se encararam por um bom tempo, Diana determinada e, Hank, frio. Uma hora um deles teria que ceder. E no fim, foi Diana.

– O que você precisa? - quis saber, indignada consigo mesma por ser fraca.

– Essa é minha garota! - Hank abriu os braços como se esperasse um abraço e riu - Era isso que eu queria ver, querida, a menina que eu criei. Minha Diana de volta.

– Mas essa é a ultima vez que te ajudo. E estou falando sério. Se me mandar outro recado depois disso, eu não vou ajudar, e nem vou te encontrar. É sério.

– Claro, querida, claro! - ele concordou vagamente, como se não a estivesse ouvindo.

– Diga logo o que quer. - Diana pediu irritada.

– Nove da noite vai chegar um barco pelo rio, vindo do mar. Preciso que você me acompanhe para pegar a carga. E de uma distração.

– Está muito cedo, não?

– Não. É a hora perfeita. Vai ter uma festa beneficente no centro da cidade e todos os policiais vão estar de olho no lugar.

– Tudo bem. Nove horas.

– Perfeito! - Hank falou e se virou para ir embora, mas se virou quando estava perto do carro preto e lustroso num canto - E antes que eu me esqueça: tente não se envolver com meus homens. Só falta um deles me chamar de sogro. Pode dormir com qualquer um que quiser, não ligo, só pare de distrair quem trabalha para mim.

Diana ficou observando enquanto o carro partia, sem palavras para expressar o que sentia. Só queria gritar e bater em alguma coisa. Como podia ser tão burra? Ele nunca a deixaria partir. E ela nunca conseguiria sair dessa vida.

Voltou para casa e se deitou no sofá, determinada a ficar ali até que fossem nove horas. Ou até que morresse. O que viesse primeiro. Apenas ficou olhando para o teto pensando como uma pessoa pode estragar a vida de outra, a mão coçando de desejo de dar umas boas pancadas em alguém.

E o resto do dia foi tranquilo.Fazer compras, fazer o almoço, limpar o apartamento, limpar as armas que não usava fazia tempo e se arrumar. Colocou calças confortáveis e escuras, blusa e casaco pretos e sua bota. Amarrou os cabelos no alto da cabeça e não se esqueceu de passar a maquiagem escura e que lhe dava um olhar sensual, caso precisasse de um plano B.

Quando chegou novamente ao píer, uma van azul estava parada ali com as portar traseiras abertas e Hank esperava por ela apoiado na lateral.

– Finalmente a minha menina chegou! - falou com um sorriso enorme - Sinto falta de quando fazíamos tudo isso juntos.

–Por favor, Hank, já tenho vinte e cinco anos. Não fale comigo como se eu fosse um bebê. E pro falar nisso, porque não pediu para um dos seus, como você diz, capangas te ajudarem?

– Ah, querida, tudo questão de negócios. Estou fazendo um investimento novo com novas drogas vindas da China e por enquanto pretendo manter isso só para o escalão mais alto de compradores. Se trouxesse um deles, isso iria escapar e ir para a classe baixa dos meus compradores, não acha? Nessas horas devemos contar coma família. Mas fique tranquila, vai dar tudo certo. O carregamento já deve estar chegando.

Diana balançou a cabeça inconformada com a situação e encostou-se na parede do galpão abandonado ao lado da van. Fechou os olhos e esperou pelo que pareceu uma eternidade até um barulho soar ao longe, estridente, como se pedisse socorro.

– O que é isso? - perguntou assustada.

– Parece uma sirene, alarme, ou coisa assim. Algum idiota deve estar tentando roubar uma das mansões nas ruas de cima. - Hank deu de ombros - Só espero que não seja um dos nossos. Se for eu o mato por ser tão imbecil.

Diana revirou os olhos e se encostou novamente no armazém. Passou-se mais de duas horas de puro tédio e nada do tal barco aparecer. E lá se foram mais alguns minutos até o celular de Hank tocar.

– Onde você está? … Sim… Mas o que?... Não… Não tem nada de errado, Ed… É melhor você dar um jeito… Está de brincadeira?... Tudo bem… Não, tudo bem… Espero que isso não se repita, para o seu bem. - Hank desligou o celular furioso - Esse desgraçado. O barco está parado há um quilômetro daqui e ele não vai vir. Ele vai se arrepender por isso. Inútil. Alguma cosia errada na cidade. Não tem nada errado aqui...

– Ok, Hank, já posso voltar para minha casa? - Diana perguntou impaciente.

– O termo correto é papai, e não. Vamos para a cidade. É bom que vejam que ainda está contribuindo com os negócios, dar uma sensação de continuidade, entende?

– Não, pai, eu não vou. - ela se irritou, se desencostando da parede e encarando o pai completamente furiosa - Estou cansada disso, estou cansada de ser cobaia para carregar a porra das suas drogas! Quer saber? Você que se dane…

– Diana.. - Hank a chamou, preocupado.

– Diana nada! Você vive me arrastando de um lado para o outro para fazer seus trabalhos sujos. Acha que quero passar a minha vida inteira lidando com um bando de drogados!

– Diana! - o homem a chamou mais alto, tirando uma arma do interior do casaco e apontando para um ponto atrás da filha - Você ai! Saia agora, ou vou atirar!

A mulher virou e encontrou alguém tentando se esconder na lateral de um dos galpões, sem sucesso. A pessoa, ao ouvir a ameaça, saiu de lá cambaleando na direção deles. Diana colocou a mão na parte de trás da calça, onde estava sua arma. Quando passou sob o poste, a luz fraca iluminou um homem, sangue escorrendo do pescoço e se estendendo por todo o braço esquerdo. Parecia estar sofrendo.

– Me ajudem, por favor - pediu com a voz fraca e ofegante.

– O que aconteceu? - perguntou Diana correndo até ele, o apoiando com firmeza no chão antes que caísse e viu seus ferimentos, que pareciam ter sido cortados com faca de cerra.

– Eles estão… Estão… Ela estava andando… E pulou em cima de mim. Ela me mordeu!

– Quem te mordeu? - Hank perguntou com uma careta de nojo, o mais distante daquele homem que podia.

– A mulher… Estava andando… E me mordeu...

– Está tudo bem, se acalme. Você vai ficar bem. - Diana tentou acalmá-lo. Mas quando terminou de falar, os olhos do homem estavam vidrados. Ela o soltou imediatamente e se afastou - Droga. O que aconteceu?

– Mortes acontecem todo dia, querida. Isso é normal.

– Os ferimentos dele parecem mordidas, Hank. Mas porque alguém morderia ele?

As luzes acima deles piscaram algumas vezes, se estabilizaram novamente e então se apagaram de uma vez. Um barulho estranho e pegajoso ecoou pelo silêncio da noite, se misturando com o barulho da água. O barulho parecia se mover pelo lugar, chegando cada vez mais perto.

– O que é isso? - Hank perguntou e pelo barulho Diana sabia que ele tinha destravado a arma, e provavelmente estava apontando-a para o nada, exatamente como ela.

As luzes piscaram mais uma vez, iluminando novamente uma pessoa. Mas não qualquer pessoa. O mesmo homem que Diana tinha acabado de ver morrer em seus braços. Andando. O sangue ainda escorrendo e os olhos ainda vidrados. Mas estavam esbranquiçados, e a boca estava aberta e produzia um som nojento que a fez ter calafrios. E a luz apagou novamente.

– Hank… - chamou num fio de voz.

– Eu vi.

O barulho chegava mais perto.

– Eu não sei onde está. Ele está se movendo.

– Fique parada. Não faça barulho.

Diana fez o que ele mandou e prendeu a respiração, enquanto escutava o barulho lentamente ficar mais alto e mais próximo. Até uma mão gelada apertar seu pulso, e um tiro ecoar, abafando seu grito.


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Notas finais do capítulo

Ficou bom, sim ou não? Muito vadia? Muito louca? Muito lecal? Muito diva? Deem sua opinião! u_u
Beijos e até a próxima ♥



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