Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 9
Capítulo 9 - Complicados


Notas iniciais do capítulo

Hi people! Podem começar a odiar e amar os personagens, eu ficaria bastante satisfeita. Deixo com vocês o nono capítulo, separando ou unindo os caminhos de Davi e Megan.



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"Não, não, não, não, não, não... tudo menos isso!" O mundo parecia girar à sua volta. Megan sentou no banco da carro e levou as mãos à cabeça, não acreditando que era possível que sentisse aquilo novamente. Os olhos se fecharam e ela soltava o ar com paciência, tentando fazer com que seu metabolismo voltasse ao normal, que as borboletas de seu estômago desaparecessem. Sempre se começa assim, e termina com um vazio enorme no coração. Sabia que Davi poderia, assim como os outros, estar em busca de apenas uma coisa, e não estava nada disposta a isso. Sim, sabia que quem estava correndo atrás era daquilo tudo era ela, mas tinha medo do que a gentileza e cavalheirismo dele se tornassem algo ruim adiante. Não precisava de mais desilusões.

Voltou à sua casa e espiou pela janela, vendo que todos estavam acordados. Jonas estava sentado de pernas abertas no sofá, e notou a presença de alguém entre as cortinas. "Ah... merda" - ela grunhiu para si mesma, sem criatividade para falsas desculpas. Deixou o quite de primeiros socorros debaixo do banco, e abriu a porta, entrando de fininho. Pâmela foi a primeira a vê-la e sua expressão não era das melhores. O seu papo era o mesmo de sempre. "A senhorita não pode sair sem avisar em uma cidade perigosa e grande como essa! Você nem sabe o caminho!".

Megan tinha total consciência disso quando o fez, então a bronca não era válida. Subiu até seu quarto e se jogou na cama, começando a escrever os planejamentos do seu dia na agenda. Era uma quinta feira, a anterior ao reality... o que estava autorizada a fazer? Nem amigas ela teria para aprontar, nada mais tinha graça. O Brasil era um porre. Tudo era um porre! Com exceção de...

Enfim, ela não tinha ideia do que faria de sua vida no decorrer de todos esses meses. Sua rotina estava desamparada. Nunca que imitaria o que tinha feito aquela manhã na Califórnia. Nunca precisaria ser responsável pelo bem estar de alguém... como ela decidira ser quando acordou. Afinal de contas, ela não tinha essa obrigação... assim como nenhuma outra. Era uma pessoa poderosa e teria pessoas aos seus pés em um estalar de dedos, nada era impossível demais.

Irritada pela sua própria falta de noção ao ter ido ao encontro de Davi, escolheu estourar o limite de seu cartão de crédito. Como o de costume, preencheria o buraco de sua auto-estima com compras. Pegou uma caneta colorida e escreveu o primeiro item de seu dia com uma bela caligrafia.

1. Ir ao shopping e garantir que nenhum jornalista venha atrás.

2. Se as sacolas ficarem muito pesadas, ligar para Antoine me ajudar.

3. Passar no supermercado e comprar sorvete.

4. Escolher uma boa academia.

E esse era o resumo de seu dia, nada a acrescentar nem a diminuir. Se bem que, se houvesse alguma nova reunião na sede com os participantes... ela bem que poderia...

— Jonas, seu lindo! — ela descia correndo as escadarias, se sentando ao lado dele no sofá. — Você vai à sede esta noite? Quer dizer... tem alguma reunião marcada com os concorrentes ou novas informações do reality? Alguma coisa por lá?

— Aham...tem.

Ele não tirara os olhos da televisão.

Um sorriso discreto compunha o rosto da garota.

— Eu vou contigo então, tá?

— Não.

A resposta era seca. Sem vontade; sem emoção. As pupilas de Megan se dilataram, enquanto o timbre enfraquecia.

— Porque não?

— Megan, meu amor... quando foi que começou a se interessar por negócios?

— Ué, é que na Califórnia eu não tinha tempo...

— Não venha com esse papinho pra mim. Porque quer estar na sede hoje a noite?

— Eu... não sei... qual o problema de eu querer?

— Eu sei o que está havendo. — ele enfim falou, cruzando os braços. — E se quiser saber... não irá acontecer.

— O que não irá acontecer?

— Você sabe.

A garota já sentia peito inchar.

— Olha bem Jonas... eu não sei aonde está querendo chegar com isso...

— Não se faça, meu bem. Você não é mais tão burrinha.

— Jonas!

— Megan.

— Porque está fazendo isso?

— Isso o que?

— Me tratando dessa maneira!

— É o seguinte... você é mimada e irresponsável. — ele concluiu, com um sorriso. — Estou cansado de aturar suas fugas, se quiser que eu seja sincero. Se você não aprendeu a nos respeitar por bem... infelizmente será por mal. Eu não ficarei criando cobras para me comerem.

— Para com isso! — ela protestou.

— A partir de agora você vai abaixar o tom antes de dizer algo. Posso até não ser seu pai, mas eu sou o mais próximo disso que você tem. Ou você me obedece, ou sofrerá as consequências. Está me entendendo bem?

— Mas você está sendo...

— E quando eu disser "não" é "não". Sem mais discussões e dengo para me atormentar. Hoje, você não irá até a sede. Porque eu sei bem o que foi fazer esta manhã, o que planeja fazer esta noite e como pretender aproveitar suas companhias. Então, chega! Eu e sua mãe estamos de acordo em te fazer ver a vida como ela é, e se os seus planos eram arruinar o meu programa... sinto muito. Fique bem longe dele.

***

Davi estava faceiro, lendo os comentários do público antes mesmo do programa estrear. Se criava muita expectativa do que ele mostraria, e de quê cronograma seria usado como modelo. Se seria algo como Big Brother Brasil ou uma competição realmente séria e promissora. Se o futuro da tecnologia mundial seria entregue nas mãos de malfeitores ou se novos nomes gênios logo seriam anunciados.

Ele viu sua foto no jornal da cidade, e precisou de dois crossaints para sanar a ansiedade. De um dia pro outro, ele estava na boca do povo. Leu uma frase que o fez entrar em colapso. "O participante de número oito, Davi Reis, surpreendeu os jurados com sua experiência. É a maior aposta da Marra International ainda por agora.". Ele não sentia mais seu lábio, que ficava formente com a força de seus dentes. Começou a sorrir a toa, quando percebeu que Zac o espiava com o canto do olho, inconformado.

— Não conte vantagem, Reis. — disse, depois de muito tempo calado. — A competição ainda não começou.

— Ah... você se incomoda com a felicidade dos outros.

Uma risada de zombação veio como resposta.

— Você é aquele tipo de gente que acha que tudo é inveja, não é?

— Apenas estou feliz comigo mesmo, seria bom se respeitássemos os espaços.

— Ok cara... só acho que não devia estar tão confiante, temos belos profissionais nessa. Gente qualificada, especializada... que coloca em prática o seu trabalho dia após dia.

— E eu sou um mero professor, é isso que quer dizer?

— Você entenda como quiser. Só saiba que não é porque uma ou duas colunas estão puxando teu saco, que você ficará na frente dos outros.

— Vem cá... tu tem minhoca na cabeça? Tá precisando amadurecer, rapaz.

— Cala a boca.

— E deveria? O que vai acontecer se eu não quiser?

— Tá querendo encontrar problemas, né?

— Tô querendo achar um motivo para te esmurrar. — ele disse, vendo o jovem hesitar. — Fica na tua... e eu terei menos um problema para me preocupar. Deu de me provocar, entrar na minha privacidade e se intrometer onde não é chamado. Ou então... acredite, vou fazer com que se arrependa.

***

Megan comprava com compulsão quando o emocional não ia bem. As vendedoras arregalavam o olhar todas as vezes que viam o total de suas roupas, e cochichavam com as funcionárias sempre que ela trocava de loja. Tinha um bom gosto para conjuntos como ninguém, pegando todas as tendências de verão e até mesmo de inverno, apenas para se garantir. Saía abarrotada de sacolas e vociferando palavrões todas ás vezes que lembrava quem pagava seus cartões. Jonas Marra queria estragar sua vida, mas ela não deixaria que acontecesse.

Desde que Antoine se perdera na praça de alimentação, tratou de ficar ao seu lado. Era um bom amigo e conselheiro sempre que ela precisava, também sendo seu complô quando ela recebia broncas, deixando claro para Pâmela e Jonas que ela não havia feito anda errado. Limpava sua barra sempre que conseguia.

— Eu vou gastar todo esse dinheiro... — ela repetia, tomada pelo ódio que estava sentindo. — Eu vou fazer com que ele veja que não estou de brincadeira. Não ficarei de braços cruzados! Lógico que não.

— Mas senhorita Megan, ele vai congelar sua conta.

Ela parou para pensar e passou as mãos pelos cabelos, bufando.

— Ah meu Deus... tem razão. Ele não me deixará comprar nada.

— Seria inteligente se você mostrasse estar bem quanto a atitude dele.

— Como assim?

— Ele tem certeza que você descontará nas compras... você fazendo isso, só vai enchê-lo de prazer quando cortar suas regalias. Você já comprou mais que o suficiente, agora, nós voltamos e você conversa com ele. Diz que pensou melhor e viu que ele só está fazendo isso pelo seu bem. O abraça, agradece, e o confunde. Talvez ele pense que pode confiar em você de novo.

— Isso! Perfeito! Você é... demais.— ela o abraçou, deixa a raiva toda desaparecer levemente. — Sabe que hoje eu fui cuidar do Davi?

— O garoto que você bateu?

— Bem esse.

— E como foi?

— Bem... eu acho que fiz errado.

— Em tê-lo ajudado?

— É...

— E porque você pensou isso?

— Porque... quando eu estou com ele, eu tenho meio que um bloqueio do resto do mundo. Entende? — ela murmuriava. — Ele tem um jeito que me cativa e me faz sentir bem... mas eu tenho...medo de me apaixonar de novo. Era como se eu soubesse que é errado e não me importasse e, ao mesmo tempo, não me sentisse segura com o que sinto. — Antoine entortava o lábio, como se não visse sentido no que ela dizia. — Eu sou a pessoa mais confusa do universo...

— Eu te entendo, Megan... mas, você sabe que se envolver com um participante do programa vai contra todas as regras impostas até hoje, não sabe? Isso pode gerar especulação, fofoca, e até mesmo uma visão ruim da Marra International. Tem certeza que quer ir adiante com isso?

A garota suspirou... sentindo uma pontada no peito.

— Não tenho certeza de mais nada.

***

Um babaca daqueles, com uma boca de merda daquelas, não estragaria seu dia. Todos os participantes estavam na sede da Marra, em mais uma reunião. Um especialista em marketing explicava como deveria ser o comportamento deles dentro do show, dando a entender que não poderiam haver brigas ou discórdias em frente as câmeras. No momento em que dissera isso, Davi pôde sentir os olhos de Zac cravados nele, não dando bola alguma. "Em frente às câmeras..." - ele pensou, dando uma risadinha pelo canto da boca.

Quando estavam liberados dali, Davi seguiu o grupo até fora do prédio, mas a mente voava longe. Seus olhos corriam todos os corredores e portas, em busca de uma só pessoa. A garota de cabelos loiros não estava ali, algo estranho... já que Pâmela e Jonas sim. Se pegou lembrando que na noite anterior tivera o mesmo pensamento, então deixou a maré lhe levar. Imaginou que a qualquer instante ela passaria na sua frente, carregando aquela bolsa demoníaca, com o mesmo rosto bonito de sempre.

Ele esperou e esperou, enquanto a coordenadora Marisa falava a beça sobre algum assunto irrelevante para todos ali. Mas, de nada adiantou esperar, ela não veio. Sua vida realmente deveria ser muito corrida, provavelmente estava com um daqueles idiotas que lhe mandavam sms. Ou em um boteco, bebendo todas e conhecendo novos rapazes. "Hahaha..." - ele tentava se convencer. "Megan deve estar beijando alguém agora... enquanto o idiota aqui fica lembrando dela.".

Continuava caminhando e vendo que Marisa continuava a falar, mesmo não ouvindo uma palavra que dissesse. Sua mente estava lhe passando a perna. Ele estava se desfocando do seu sonho.

"Ele deve ser alto." - grunhiu. "Alto e bronzeado! Deve deixar a camisa desabotoada e mostrando o peito cabeludo." - aquilo era demais para que pudesse suportar. "Nesse momento ele deve estar beijando a boca dela. Passando a mão pelo seu cabelo... lhe dizendo cantadas idiotas". Davi estava se sentindo até meio zonzo, nem percebendo que o grupo já avançava até a van.

— DAVI?! — Marisa arregalou os olhos, com a cabeça pra fora da janela no veículo. — O que está fazendo parado aí, garoto? Venha já pra cá!

"Porra, Megan!" - ele pensou. "Dispense esse idiota."

— DAAAAAVI! — ela berrou, fazendo-o despertar do transe profundo.

— Ah caramba! — disse ele, correndo para alcançá-los. Entrou na van e riu com algumas piadas que fizeram sobre sua insensatez, sentando no único lugar que sobrava por ali. Encostou a cabeça na janela e assistiu o movimentos dos carros. Ele precisava ligar para ela.

O rapaz que estava ao seu lado, Ernesto, deixava a barba crescer e o encarava com uma expressão analítica, como quem estivesse curioso com o que se passava. Eles já tinham conversado várias vezes, pois sua inteligência era admiradora. Suas conversas eram ótimas e seu bom humor o agradava.

— O que foi? — Davi perguntou, rindo.

— Você é a pessoa mais estranha que eu já conheci. — ele respondeu, abrindo um sorriso, vendo a risada patética que o rapaz tinha. — E confirma isso a cada segundo.

— Ah qualé. Eu não sou tão estranho assim.

— Você é. — disse, dando palmadinhas em seu ombro. — O que é que te faz ficar tão pensativo? De repente, você apaga a expressão do rosto e fixa o teu olhar em nada. Em nada, meu querido! Tava querendo lembrar o que almoçou hoje?

— Não... eu tava pensando se devo ou não fazer algo estúpido.

— Adoro fazer coisas estúpidas! São as que me deixam feliz.

— Mas elas podem me comprometer.

— Geralmente não fico muito afincado nisso.

Davi bufou.

— É uma garota. Eu pedi o telefone dela, mas não sei se devo ligar.

— A loira?

— Hã?

— Aquela enteada do Jonas?

— É sério?! Como todo mundo tem tanta certeza?

— Aquele dia na reunião, você parecia um besta apaixonado.

— Mas eu não estava. — protestou.

— Aham, essa não é a questão. Ela é uma garota complicada.

— Você acha?

— Aposto tudo que sim. Mas acho que deve ligar.

A atenção de Davi foi ativada.

— Como-como assim devo ligar? Você acabou de dizer que ela é complicada.

— Essas são as melhores.

— Mas...? — ele se enrolava. — Não acha que pode... mudar a opinião do Jonas?

— Pode, mas é claro que pode. Mas deve mudar para pior... o que me serviria de vantagem. — ele riu, batucando os dedos nas pernas. — Brincadeira. Se quiser que eu seja sincero, se fosse comigo, eu não daria tanta importância. O que vai valer aqui não são detalhes da sua vida amorosa, e sim a tua competência. Se você é bom... você passa. Eu ligaria para a garota, e me permitiria fazer dar certo. Porque eu sou assim. Você eu não sei...

— Puxa... você é bom.

— Eu sei, todos acham.

— E eu ligo hoje?

— Quando ela te passou o telefone?

— Hoje.

— TU TÁ MALUCO?

— O que foi?

— NUNCA QUE VOCÊ LIGA NO MESMO DIA!

— Tá... e eu ligo quando?

— Daqui a três dias.

— Três? — ele disse, esbaforido. — Porque tudo isso?

— É o tempo ideal para se ligar para uma garota.

— Se baseando no quê?

— Se for no primeiro, você está desesperado.

Se for no segundo, você está desesperado.

Se for no terceiro, você se lembrou dela.

— E isso faz ela ficar...?

— Satisfeita.

— Nossa...

— O que?

— Você é ótimo.

E então ele avistou o começo de uma nova amizade. A única que ele tinha, e certamente a melhor de todas que tivera. Era apenas uma questão de tempo, para que ele começasse a escrever a própria história. E já podia sentir quais personagens o levariam até seus sonhos, o levantando todas às vezes que caísse. Seu coração já apontava dois deles...


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Notas finais do capítulo

Tomara que continuem acompanhando hahaha tenho planos para a seguir.