Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 8
Capítulo 8 - "Culpado"


Notas iniciais do capítulo

Dedicado a quem quer mais deles juntos ... *o* Tomara que fiquem satisfeitas. haha



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Algumas coisas ainda a deixavam intrigada, e a faziam rolar pela cama vazia. Podia ser o tremor das mãos dele quando ela se aproximava ou a relutância da voz a sair. A insegurança de dar um sorriso completo e o modo engraçado que ele costumava falar. Palavras tão carregadas de sarcasmo e de implicância... mas ao mesmo tempo demostravam certo nervosismo. Queria tomá-lo como psico-análise. Descobrir o que se passava por sua cabeça, se ainda guardava rancor pelo acontecido.

Não teve coragem de dizer, mas o corte estava feio. O terror constante que ela mesma criou, consequentemente prejudicou alguém que só tentava ajudá-la. Tinha tons roxos em volta e o lado esquerdo do seu rosto estava inchando, tudo graças à boa ação de Megan. "Meu Deus..."– ela suspirou, lembrando de como ele rolava pelo chão apertando os olhos, pedindo que não continuasse. Davi era tão meigo... tão doce... não merecia algo daquilo, ainda inesperado. Se colocou em seu lugar, caminhando pelos corredores, tentando encontrá-la para lhe devolver o celular e sendo ferido. Mesmo assim, não se defendeu. Não levantou a mão para revidar. "Meu Deus..."– ela continuou cochichando... cochichando para ela mesma, e observando o sol da manhã entrar pelas frestas da cortina.

Prendeu o cabelo comprido em um rabo de cavalo, notando que alguns cômodos ainda não tinham todos os móveis. Olhou ao redor e procurou ver o horário, vendo que passava um poucos das oito horas. A casa estava em silêncio total e todos eles dormiam, com portas trancadas e persianas fechadas. Talvez a vinda para o país fez com que todos decidissem repor as horas de sono, tantas perdidas em reuniões e coletivas, nada que ela já não estivesse acostumada. Desceu as escadarias e pôde escutar o som de torneira aberta e o tilintar de alguns pratos, concluindo que os empregados já começavam a faxina.

Ela não se sentia bem muito pelo assunto mal resolvido. Aquilo que aconteceu entre ela e Davi não estava certo. O reality começaria em seis dias e a inchaço em seu rosto tiraria toda a sua confiança, ela tinha certeza. Passaria a impressão de estar envolvido em briga de rua ou coisa pior. E... afinal de contas, ela se comprometera. Disse que o ajudaria e era uma menina de palavra. Sabia que o hotel tinha enfermeira e que qualquer um se colocaria ao dispôr de ajudá-lo, mas sentiu que devia algo a ele. Sentiu que deveria agradecê-lo... lhe abraçar...

Correu até o quarto novamente com intuito de vestir suas roupas de sempre. Colocou um óculos escuros e o salto fino, com brincos de argola e cílios carregados. Passou um brilho labial apenas para garantir que não ressecassem e soltou o cabelo, fazendo uma trança caída por cima do ombro.

Pâmela e Jonas estavam deitados em sono profundo, então não teve problemas em pegar as chaves de seu novo carro e dar a partida, acelerando pelas ruas do Rio de Janeiro. A cidade era enorme e tinha diversos caminhos diferentes, que embaralhavam sua memória. Esperta, esquecera que não sabia onde Davi estava, e não tinha sequer pegado o número de seu celular. Também se tivesse pedido, ele pensaria que Megan estava com segundas intenções e essa era a última coisa que queria.

Restou que dirigisse até a sede da Marra e pedisse informação na secretaria.

— Bom dia senhorita Parker, posso ajudá-la em alguma coisa? — uma moça de óculos e cabelo preso a uma caneta lhe perguntou, fazendo com que a barriga de Megan embrulhasse. Pôde ver seu nome no crachá.

— Olá Ângela. — ela tentou decifrar, inconformada com o próprio sotaque de gringo. — Sim, eu precisava saber qual o nome do hotel em que os concorrentes estão e uma bela explicação de como chegar lá.

— Ah... claro. Eles estão no Hotel Royal Tulipa, a dois bairros daqui. É só seguir esse trajeto. — ela apontou para um folheto na borda do balcão, e escreveu algumas coordenadas. — Você chega lá em cinco minutos.

— Obrigada, querida. Boa manhã.

Ela fez de cinco minutos, dois. O trânsito parecia conspirar a seu favor.

Quando chegou na frente do hotel cinco estrelas, pediu para que guardassem seu carro no estacionamento e seguiu para a recepção, onde um homem bebericava seu café recém passado. O chão era tão limpo que chegava a refletir o pouco de sol que entrava pelas janelas, e o movimento era tão pequeno que nenhum dos funcionários precisou sair do lugar.

— Bom dia! A senhorita deseja um quarto?

— Na verdade... eu precisava visitar um amigo. Pode me informar o número do quarto dele?

— Érrr... ele te colocou na lista de acompanhamento?

— Como assim? Não... é que eu quis fazer uma surpresa.

— Pois é. Mas então não há nada que possam... — o homem empacou, espremendo os olhos para identificar algo. Quando pareceu reconhecê-la, chegou a soltar o ar com mais dificuldade que o normal. — Você é a enteada de Jonas Marra... mil desculpas. — ele pausou para raciocinar. — Bem... qual é o nome do amigo que quer visitar mesmo?

— Davi Reis.

— Quarto 104. É só apertar no décimo andar.

— Muito obrigada.

Megan entrou no elevador acenando para o recepcionista. Era impressionante como um status social podia mudar a vida de uma pessoa e as influências que causava, nada diferente de sua rotina na Califórnia. Apertou no andar e sentiu o elevador subir... os números corriam depressa no painel. Quando as portas se abriram... só precisava bater na porta 104, mesmo que não arrumasse a iniciativa.

Toc. Toc. Toc. - ela esperou que viesse abrir a porta, mas se lembrou que talvez ele estivesse dormindo.

Toc. Toc. - a quantidade de batidas diminuíra, as ações eram hesitantes demais.

Quando já dava meia volta para pegar o elevador, o som da fechadura destrancando fez com que gelasse. Olhou na direção e a quem encontrou não era nada parecida com Davi. Era garoto e não usava camisa, mostrando o peitoral bem definido e o rosto pálido, com a cor azul dos olhos em contraste.

— Ai, me desculpa. Vim no quarto errado.

O rapaz não pareceu se importar muito com o horário, pois os olhos quase brilharam quando a analisou dos pés a cabeça. Cruzou seus braços e abriu um sorriso intimidante. Parecia devorá-la com o olhar.

— Sem problemas, pequena. Eu não a mandaria embora, se quiser saber.

Um gostinho enojado começou a subir pela garganta da garota. Ela já se conformava em lhe direcionarem a palavra desta forma, mas não conseguia vivenciar isso sem querer lhe estapear o rosto.

— E se estava procurando pelo quatro olhos... ele está bem ali. — ele continuou, apontando por cima do ombro, onde se podia ver um homem enrolado nos lençóis, dormindo solenemente. — Ainda quer ir embora?

— Hãn... vocês dividem o quarto.

— Não tive opção de escolha... se te isso te interessa.

"Não"– ela pensou, se esforçando para manter um sorriso puxado.

— Sabe quando ele acorda?

— É nosso primeiro dia aqui... então não. Mas o acorde, já que quer tanto.

Não gostava do tom debochado que ele usava, como se ficasse insinuando coisas e dando em cima dela o tempo todo. Era o típico garoto que diz ser o que não é e que tenta demonstrar isso da forma mais hipócrita possível. Tinha dó de pessoas assim.

— Pode ser. Eu vou entrar e esperar que ele acorde, se importa?

— Não... pode ficar a vontade.

Megan percebeu a cama disponível no outro lado do quarto mas não sentaria ali nem a pau. O garoto cadavérico deixava seus olhos correrem pela silhueta dela... fazendo com que percebesse ter cometido um grande erro ao esperar Davi despertar. Não se permitiu espiar para trás, apenas sentando-se em uma cadeira ao lado do corpo deitado do rapaz.

— Você e ele estão...?

— Não.

A resposta era curta e grossa.

— Então o que te levou a vir para cá agora cedo?

— Eu vim para lhe fazer um favor.

— Ah, um favor. Que seria?

"Não é da sua conta."

— Não sei se percebeu, mas ele está com a bochecha parecendo um rabanete. Fui eu quem fiz isso, e lhe devo desculpas.

— Ele aceitou suas desculpas?

— Sim.

— Então o que realmente veio fazer aqui?

Pareceu estar achando uma graça imensa daquela situação.

— Eu já lhe disse.

— Tudo bem, não ache que estou te julgando... vamos recomeçar. O meu nome é Zac e eu tenho 24 anos.

"Realmente... isso mudou minha vida."– ela grunhia para si mesma.

— Ok, Zac.

— Você nem precisa se apresentar... sei bem quem você é.

"Eu não ia". - ela pensou, querendo fazê-lo voar por dez andares.

— Sabe Megan... — ele disse, dando passos em sua direção. — Já te disseram que o teu rosto parece de uma princesa?

Como ela queria chacoalhar Davi... como queria...

— Não me leva a mal, Zac, mas por favor... mantenha distância.

— Mas que neura. Eu nem estava indo até você.

— Ótimo...

— Mas se quiser... sem stress.

Aquilo era patético demais para suportar. Megan levantou da cadeira.

— Eu acho que terei de esperar o Davi na recepção. Tenha um bom dia! — ela disse, e quando foi passar pela cama, acabou tropeçando no pé da mesinha e tendo que se apoiar nas pernas do garoto, que abriu os olhos em um susto. — Ah... oi.

A cara de Davi estava toda amassada e os olhos piscavam com demora.

— Megan? Mas o que...

— Me desculpa de novo.

— Não... não precisa pedir desculpa.

Ele se sentou no colchão e fez sinal para que ela o fizesse também.

— Porque veio até aqui... às... seis horas da manhã?

— São nove horas...

— Uou! — ele se esforçou para dilatar as pupilas. — Bom dia.

— Bom dia... — ela sorriu.

— Bom dia. — Zac participava, do outro canto do quarto.

O olhar de Davi não era tão gentil como o de costume, algo que Megan teve vontade de aplaudir de pé. Reencontrou o dela e um suspiro recomeçou suas conversas.

— Porque está aqui?

— Eu vim ver você.

— Bem... — ele engoliu em seco. — Obrigado.

— Não só lhe ver, é claro... eu trouxe um quite de primeiros socorros.

Aquilo tinha soado meio estúpido.

— Primeiros? Estou com dor desde ontem.

— É... mas achei que sobreviveria.

— Digamos que sobrevivi... você... veio cuidar de mim?

— Não com experiência, mas sim.

— Já te disse que teu sotaque é engraçado?

— Não... — ela deixou o riso escapar. — Terá de conviver com isso.

— Nem tudo é perfeito... eu entendo.

Megan sentiu o coração acelerar de uma forma como nunca antes. Sabia que se falasse... as palavras sairiam enroladas e sem sentido, então decidiu permanecer em silêncio.

— Você não-não me levou a mal, certo? Achou que eu...?

— Não! — ela tentava disfarçar o nervosismo, mas tivera vontade de abraçá-lo com o pijama macio que ele vestia. — Pode relaxar.

Ele assentiu.

— Relaxar... será complicado quando esses seis dias passarem.

— É! E você precisa aproveitar o tempo que resta, porque... você tem que ganhar, entendeu?

Hello! — a voz de Zac irrompeu o rumo das palavras. — Eu estou bem aqui.

Megan bufou.

— Enfim... deixa eu alcançar o remédio e a maquiagem.

— Vai me maquiar?

— Vai maquiar ele?

Sério. Eles precisavam logo de um lugar reservado para conversarem.

— Sim, eu vou. A não ser que queira ser fotografado com "isso aí".

— Okay... mas só na bochecha.

— Posso passar blush? — A expressão de Davi era clara. Certamente que não. —Eu estava só brincando. Vou precisar que você... — ela suspirou. — Bem... preciso que deite a cabeça no meu colo... eu preciso limpar o corte.

— No seu colo?

— Sim...

— Tá tirando proveito da minha situação.

— Cala a boca!

— Ué... mas você está. Vê se não se acostuma.

— Idiota.

— Tá... menos, né? Bom... eu estou deitando a minha nuca nas tuas coxas agora... — ele começou a narrar, em tom de provocação. — Estou tentando encontrar uma posição boa, e nossa... sua pele é macia.

— Para de falar besteira que eu preciso pingar isso aqui.

— Okay.

— Para de falar!

Ele franziu o cenho.

— Mas eu já parei!

— Argh! Não parou ainda! Pára! Vamos... 3... 2...

Davi ficou em silêncio, se esforçando para conter o riso.

— Que que foi, praga?

— Você me faz rir.

— Meu Deus, eu mandei parar!

— Mas eu não consigo...

Os dois começaram a gargalhar... demorando alguns segundos até ela pingar em sua bochecha. Quando conseguiu, o sorriso forçado dele causou uma poça na roupa de cama.

— Se continuar assim eu vou embora.

— Nossa... precisa parar de me ameaçar.

— E cê precisa aprender a ficar quieto. Combinado?

Ele concordou. Depois do corte limpo e dele ter tomado um antibiótico, ela pediu para que ele sentasse de frente para ela, pois iria começar a maquiagem. Eles podiam ouvir as risadinhas de Zac dali mesmo e se entreolharam, completando os pensamentos um do outro. Como mensagem telepática... a conversa saiu mais ou menos assim.

"Nós poderíamos..."

"... nos livrar dele."

Continuaram fazendo os procedimentos padrão. Megan pegou um pincel e espalhou uma certa quantidade de corretivo nas bordas do ferimento, e Davi chiava todas as vezes que ela tocava. Em seguida, um pouco de base para disfarçar e finalizou com um pó mais moreno, combinando com o tom de pele do garoto. No final de contas, só conseguia enxergar quem chegasse bem perto, algo que ele se encarregaria de evitar. Do contrário, ele se parecia muito com o Davi de dois dias atrás.

— Juro que nunca imaginei que Megan Parker seria minha maquiadora particular.

— Eu também nunca imaginei que me prestaria a isso.

— E porque se prestou, garota? Tem uma enfermaria aqui no segundo andar. Só não passei lá ontem porque era muito tarde e eu estava caindo de sono.

— Não sei o porquê... mas deve ter sido pela culpa.

— Se sentiu culpada por me espancar com uma bolsa? Não deveria.

— Ótimo... vai ficar me lembrando o tempo todo.

— Era brincadeira... eu sei que tava assustada. Eu faria a mesma coisa.

— Mas então... o que achou que ia acontecer com você? Lá na sede?

— Sei lá... os barulhos eram estranhos, já que só eu estava por ali. E eu tinha visto uma sombra, tinha alguém me espiando, e... era um homem. Mas quando eu fui ver... não tinha mais ninguém ali. E eu tenho certeza que tinha alguém.

— Quando foi isso?

— Quando eu sai para a sala de jogos... os participantes iam ocupar a reunião.

Davi arqueou uma sobrancelha.

— Você estava de salto ontem, não estava?

— Sim.

O garoto começou a rir, com o dedo apontado para o rosto dela.

Ahá! A sombra era minha.

— Como é que é?!

— Eu ouvi o som de saltos tocando no piso do corredor ao lado, e eu estava indo para a reunião. Achei que era a coordenadora Marisa, já que ela estava nos procurando há pouco tempo atrás, então eu ia chamá-la e avisar o caminho, mas o Bóris me puxou e disse que todos estavam esperando. Então eu não vi quem era, e voltei correndo para a fila. Nós todos fomos para dentro da sala. — ele riu. — Ninguém estava te espiando e do nada, desapareceu.

Os olhos da garota estavam arregalados e secos de não piscar.

— Era você o tempo todo então?

— Hipoteticamente falando, sim.

— Eu vou te matar.

— Uou... calma aí. Tudo isso é psicológico. Aconteceu só na tua mente.

— Mas você é culpado por tudo! — ela riu, fingindo que ia esganá-lo. — Se você não tivesse no meu caminho, eu estaria jogando tranquilamente a minha partida de corrida. Não teria me desesperado, e não precisaria passar minha manhã cuidando de um babaca como você.

— Então valeu a pena. — ele sorriu. — Eu sou o culpado por você me conhecer.

— É... você é. — ela falou, estática, analisando o sorriso enfeitiçado dele. — E o culpado por me fazer vir ... e o culpado por me prender aqui.

Nem se deu conta de suas últimas palavras, elas saíram sem que pudesse evitar. O garoto a encarou por alguns momentos, sem saber o que responder, e as bochechas dela voltaram a ser vermelho-tomate. As respirações saíam fracas e lentas... os olhos diziam por si.

— Sou culpado por... te prender aqui?

— É... acho que sim.

Suas palavras saíam com debilidade.

— Obrigado. Foi... bom ouvir isso. De verdade.

Ele firmava seus olhos nos dela. Tão linda... tão envergonhada.

— Seus olhos são muito... muito bonitos, Megan.

— Não precisa ser gentil. — disse ela, sorrindo.

— Eu não estou sendo gentil... são bonitos mesmo.

— Bem, obrigada...

— AH MEU, PAREM DE VIADAGEM! — Zac, explodiu, frustrado, debaixo das cobertas . — PEDE LOGO PRA SAIR COM ELA, MERDA! SE NÃO PEDIR, EU PEÇO.

Os olhares eram surpresos, e de certa forma... constrangidos. Ele realmente queria acabar com aquele imbecil, mas... talvez houvesse um resultado. Os dois se entreolharam mais uma vez, e outra de suas conversas telepáticas teve início.

"Então você quer...?"

"... sim, por favor."

Eles ficavam se encarando até que aquela conversa viesse em forma de palavras, mas nunca foi tão difícil. Davi fez uma retrospectiva de sua vida amorosa em poucos segundos, e lembrou de algumas coisas que nunca deveria repetir. O coração batia forte e sua respiração mal saía, quando ele moveu sua mão alguns centímetros adiante, onde conseguiu acariciar a dela. Ela pareceu surpresa a princípio, mas conseguiu coragem para retribuiu o toque.

— Você... não sei... quer... sair qualquer dia desses?

— Sim... qualquer dia desses... seria bom.

— Então... eu posso te ligar né...? Pra marcar...

— Ah sim... tem uma caneta?

Davi se esticou até o bolso do casaco, onde ele guardava sempre sua caneta de cruzadinhas. Entregou para ela e Megan cravou a ponta na palma da mão dele, onde escreveu os dígitos de seu telefone celular.

— Bom... o teu rosto está bem de novo. Acho que eu deveria ir embora.

"Não vá..."– ele quis falar, mas as palavras estavam entaladas na garganta. "Só mais um pouquinho...".

— Quer mesmo ir?

— Eu preciso... não avisei a ninguém que viria para cá.

— Ah bom. Tudo bem... eu te levo até a porta. — disse, se levantando da cama e assistindo a reação dela ao vê-lo de calção. — O que foi?

— O que foi o que? — perguntou. — Nada.

Ele assentiu, seguindo seus passos até a porta e notando que Zac os encarava descaradamente. Por questões de bom senso, saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, finalmente ficando a sós com Megan.

— Então... eu acho que deveria te dizer "bom almoço". E... muito obrigado.

Megan ficava com o olhar desorientada, indecisa sobre para onde deveria olhar. Suas coxas? Olhos? Pernas? Boca...? Engoliu em seco, percebendo como estavam perto um do outro.

— De nada, Davi. Espero ter compensado a besteira que fiz.

— Você sabe que não precisa compensar nada... — ele falou, hipnotizado com o movimento dos lábios carnudos da garota. — Você não precisa...

— Preciso sim.

— Você me fez um grande favor.

— Para de ficar sendo gentil comigo...

— Caramba... — ele dizia, sentindo a excitação lhe subir o corpo. — Não estou sendo gentil. Eu só... acho você uma garota diferente.

— Quando homens falam "diferente", querem dizer "estranha".

— Então você é a estranha mais linda que eu já vi. Pronto... falei.

Os dois começaram a rir... tensionados.

— Eu... realmente preciso ir embora.

— Eu sei... — ele assentiu.

— Posso te dar um... abraço?

"Abraço?" .

— Pode... — respondeu. — Acho que pode me dar um abraço.

Ela sorriu... deu um passo a mais e sentiu o calor dos braços dele a envolverem por inteira. Fechou seus olhos e começou a ter delírios no subconsciente, algo que sempre desconheceu. Ela encaixou sua cabeça no ombro dele e pôde pôr seu nariz no pescoço, sentindo o cheiro tentador de sua pele. Sua cintura sendo abraçada, e todas as suas defesas se desconstruindo. O abraço já durava segundos, mas ali ela poderia permanecer por horas. Podia ouvir o coração dele... era rápido, depressa, e isso estava desorientando seus pensamentos, a fazendo pensar que algo estava acontecendo. Algo forte... algo que nunca soube identificar. Não queria colocar tudo a perder.

Foi se desvencilhando de seu abraço e distanciando seu rosto do dele, com sutileza. Em um momento, achou que ele a puxaria e volta... mas não podia arriscar deixar que o fizesse. Aquilo tudo que sentiu não deveria se resumir a isso... as coisas tinham que acontecer quando fosse a hora. Embora desejasse arrancar sua camisa do pijama e deslizar os lábios pelo seu corpo... não seria louca de fazê-lo. Não apressaria o que deveria ser aproveitado com intensidade em um momento mais adequado. Davi era único... e ela não perderia essa chance por nada. Mesmo que colocasse em risco tudo o que sempre considerou essencial. Mesmo que fosse perigoso... mesmo que que fosse insensato. Ela faria aquilo valer a pena.

Vai me ligar para sairmos?

— Vou... — ele dizia, ainda zonzo com o choque de realidade.

— Então eu estarei esperando... — disse ela, enquanto caminhava de ré e entrava no elevador. Apertou no botão térreo e disse em bom e alto tom. "Tchau", assim como da última vez. Em uma fração de segundo, a porta do elevador de fechou e Megan desapareceu de sua vista, o deixando estático no meio do corredor.

Davi estava paralisado, com cada músculo de seu corpo. Aquela mulher conseguia mexer com ele de uma forma que ele sequer conhecia. Era maravilhosa em cada gesto e frequência de voz. Era forte e vulnerável, ao mesmo tempo. Era tudo que ele sempre sonhou em encontrar... e se ele era culpado em causar algo assim, era o culpado mais realizado deste mundo.


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