Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 27
Capítulo 27 - Choque de realidade


Notas iniciais do capítulo

Que bom que gostam de pitadas de suspense! Fico muito satisfeita! heueh



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O coração de Megan pulava pela boca, na carona da moto vermelha. Ela não queria jantar, nem comer, apenas entender que diabos estava acontecendo. Herval era forte, então ela precisava admitir que a segunda opção de sua mãe era boa. Estacionaram em um barzinho de esquina e entraram sem demora. Megan estava de cara fechada e cruzava os braços, até se sentarem no balcão de bebidas.

— Pode começar a falar.

O homem engoliu em seco.

— Antes disso, posso pedir um tira gosto? O que quer beber?

— Não quero nada, apenas que me explique.

— Sim… tudo bem. Vamos lá, o que quer saber?

— Tudo! — disse, e ele assentiu com a cabeça, mesmo não sabendo por onde começaria. — Pode começar por: quem é você, e porque minha mãe tem andado estranha ultimamente. Tá bom assim?

— Sim, tudo bem. Eu já vou começar, só tô tentando encontrar as palavras certas. Bem... deixa eu pensar. Vamos lá. Você sabe o que é um carma na vida de uma pessoa?

— Nada que tenha vindo na minha cabeça agora. Por favor...

— Sim. Carma é o resultado direto de decisões que tomamos no passado. Digamos que eu sou um carma de seu padrasto; Jonas.

— E isso significa que…?

— Significa que eu sei de todos os segredos dele; e que minha vida tomou um rumo diferente devido a isso. Eu e sua mãe éramos completamente diferentes antes dele aparecer. Entende?

— Não entendo. O que você é da minha mãe afinal?

— Eu sou ex-namorado dela, Megan. — ele respondeu, sem mais delongas. — O último, antes dela se casar com Jonas. Tínhamos uma relação excêntrica do resto, éramos felizes, simples, e apaixonados. Foi depois da morte de seu pai. Você era recém-nascida e sua mãe precisava imediatamente de ajuda. A princípio eu era só um grande amigo, mas a paixão só tendia a aumentar. Mas aí Jonas veio, e… com ele, todos os nossos problemas.

— Está dizendo que se apaixonaram logo depois do meu pai morrer?

— Não. Não foi logo depois! Ah Deus! Eu... eu estou tentando encontrar uma forma de fazer isso parecer menos terrível. Digamos que…

— Isso não vem ao caso, Herval, apresse sua história!

— Tá bem! Retomando... Jonas apareceu em um momento muito… muito difícil de nossas vidas. O pior de todos. Havia toda a discussão sobre paternidade e crises financeiras, e isso fazia com que brigássemos muito. Não quero que pense que eram brigas revolucionárias, aquelas que destroem todo o sentimento de uma relação. Não! Eu e sua mãe só tínhamos um ao outro, nós amávamos muito, e eu nem sei dizer quão horrível foi quando aquilo aconteceu…

— O que… o que aconteceu?

— Bem… uma vez, você ficou com muita febre, 40º se não me engano. Eu e sua mãe pegamos meu carro para te levar ao hospital, mas estava chovendo… muito, chovendo muito e… eu não lembro a ordem exata dos acontecimentos, mas sei que precisei desviar de um caminhão em alta velocidade. O carro saiu da pista para uma estrada de terra e quase bateu em uma árvore. Sua mãe ficou desesperada, e vocês duas choravam muito no banco de trás. O carro começou a atolar na lama, e você passava muito mal. A única opção que sua mãe teve foi ligar para Jonas ajudar. E foi isso que ela fez.

— E então…? — Megan escutava tudo com o coração na mão.

Ele veio. Levou vocês duas para o hospital. Sua mãe tinha um corte na lateral da nuca pelo movimento brusco do carro, e você foi atendida com emergência, logo que chegou. Jonas pagou por todas as despesas e… nesse meio tempo, fez a cabeça de Pâmela contra mim. Disse a ela que aquilo era a prova de que não poderia confiar em mim, que podia lhes proporcionam uma vida melhor, e que a amava. Vamos ser francos, eu era um pé rapado e Jonas… bem, ele era rico. Você era tão miudinha… e frágil, e as nossas condições não eram muito boas, ainda mais para cuidar de um bebê. E assim… a sua mãe optou pelo caminho mais fácil. Ela... se mudou com ele para a Califórnia.

— Deus! Isso é horrível! Você deve ter ficado muito mal…

— É… na realidade, acho que "mal" não é a palavra certa. O que quero dizer é que; eu vi o amor da minha vida me abandonando por meras conveniências, e acompanhei pela televisão cada passo do casamento dele. Para piorar um pouco, eu tinha toda a certeza de que ela ainda me amava, e mesmo assim abriu mão disso. Levou com ela toda a minha alegria, disposição e vida. E… não estou exagerando. Vivi momentos críticos depois disso. Acabei querendo acabar com todo aquele sofrimento de um jeito rápido e indolor. Não quero que pense que sou depressivo… eu superei essa fase com um pouco de ajuda. Mas, de fato, eu não estava mal… eu estava péssimo, de um jeito que nem me reconhecia mais.

— Sinto muito. De coração.

O homem tentava impedir que os olhos lacrimejassem.

— Não sinta…

— Herval? Tá tudo bem?

— Sim. Tá tudo bem.

— Peça uma bebida, por favor… cê precisa!

Um minuto depois era virava uma dose de cachaça.

Argh! Graças a Deus!

— Agora se quiser continuar…

— Sim… eu fui atrás de sua mãe na Califórnia alguns anos depois. Já era sócio de uma ONG de tecnologia e consegui dinheiro suficiente pra fazer a viagem. Encontrei a casa que vocês moravam e fiz de tudo que podia para que ela me visse. Mas… nem cheguei a falar com ela. Pelo contrário, conheci um outro lado de Jonas; o de quando está bêbado. Se quer saber de detalhes; fui espancado até não sentir mais um lado do rosto. Depois dele descontar a raiva, me entregou aos seguranças, que esvaziaram minha carteira e bolsos, me deixando sem nenhum centavo. — ele fez uma pausa para respirar, e virou outra dose enquanto fechava os olhos. — Eu passei dois dias caminhando pelas ruas da cidade, sem ter pra onde ir. Precisei ligar para Rita, minha sócia, para que me ajudasse a voltar para o Brasil. E depois… bem, eu estava lascado.

Megan escutava com o coração batendo a mil. As lembranças dos seis anos, quando assistiu o padrasto espancar um homem na sala de estar voltaram muito mais fortes. Ela olhou para Herval, e encarou seu rosto; desta vez, acrescentando deformações e muito sangue. Era ele. O homem estava falando a verdade.

— Tudo isso por uma mulher?

O homem sorriu profundamente:

Minha mulher.

— E depois de tudo isso ainda tem sentimentos? Nossa…

— Se você quer a verdade, vou te falar a verdade; depois do que aconteceu na Califórnia, eu fiz de tudo para esquecê-la. Me envolvi com várias mulheres, de todas as cores, de várias idades, certinhas e desequilibradas. Nenhuma delas, e eu estou sendo sincero, nenhuma delas me fez tão feliz como sua mãe. Não tenho nada a esconder, Megan. Quando recebi a notícia de que vocês viriam para o Brasil, foi o dia mais feliz dos últimos anos. Eu estava ganhando a chance de recuperar o quesempre foi meu.

— Admirável. E o motivo por ter ido até a mansão? Falar com ela?

— Não exatamente. Se quer mesmo saber, nós nos encontramos semana passada, e sinceramente acho que Jonas desconfiou, pois minha secretária de Recife me informou sobre um telefone estranho, que queria saber sobre minha localização.

— Minha mãe sabia que tu iria pra mansão?

— Claro que sim! Foi ela quem desativou as câmeras de segurança do portão por onde entrei, e quem ordenou que os guardas fossem para o outro lado, para que não me encontrassem. Mas aí você me viu. Se isso não tivesse acontecido, agora eu estaria no gabinete do Jonas, transferindo as informações do cartão de crédito de sua mãe.

A naturalidade que pronunciou as palavras fez com que Megan se assustasse. Certamente pareceu muito mais ameaçador quando escutou.

— Você só pode estar de sacanagem! Quer roubar dele?

— Não! Não! Essa é uma longa história! Deixa pra depois!

— Pelo amor de Deus! Que cara de pau!

— É que você não vai entender! Sua mãe disse que seria melhor que não soubesse do que se trata. Você… tem sérios problemas em tentar compreender o que ela sente.

— Ela te disse isso?!

— Megan, isso não vem ao caso! Apenas esqueça, tá bom?

— Esquecer? Fala sério! Me explique essa história!

— Ainda não é o momento… é melhor esperar… — ele dizia, mas percebeu que ela não estava o levando a sério. Bufou sem nenhuma paciência. — Tá! Pâmela e eu estamos fazendo planos. Ela quer finalizar a terceira temporada da Parker TV, eu pretendia passar as informações das contas hoje a noite, e em breve haverá uma poupança com teu nome.

— Uma poupança? Por quê? Não faz sentido. Nós temos bilhões!

— É verdade, vocês tem bilhões, mas com muita ajuda do saldo de Jonas. O ponto que estou querendo chegar é; vocês não terão mais essa ajuda.

Tudo ao redor ficou mais cinza.

— Está querendo me dizer que minha mãe vai se separar?

— Isso! — ele comemorou, agradecendo pela economia de palavras.

— Não faz o menor sentido, cara! Ela sabe como eu amo minha vida na Califórnia! Nunca que faria algo assim comigo…

— Bem, você é maior de idade.

— Isso não muda nada! Até porque Jonas nunca vai assinar divórcio…

— E quem falou em divórcio?

Ele não poderia estar falando sério.

— Voc… vocês querem fugir?

— Isso! Você é ótima nesse jogo!

— VOCÊ SÓ PODE ESTAR MUITO LOUCO!

— Estou! Mas juro que nunca estive melhor!

— ARGH, SEU…

Megan mudou de ideia. Estendeu a mão para o barman e pediu algumas doses de vodka. Precisava esquecer, se não aquilo não funcionaria. Assim que as pegou, virou a primeira e sentiu a garganta queimar. O estômago era um vulcão.

— Por que o drama?

— Drama? Acha que tô fazendo drama?

— Acho que sim! Drama! Pâmela está deixando uma poupança bem recheada para que não se preocupe! Você deveria estar felicíssima com isso, do jeito que é.

— Ah, ela acha que pode comprar a própria filha.

— Isso é para te ajudar no futuro…

— Um dia o dinheiro acaba, meu bem!

— E chega a hora de você acha um emprego! Mas sabe qual é o problema de pessoas como você? Não conhecem outra vida que não seja de luxo e mordomias! Você acha que ama sua vida na Califórnia, mas não poderia seguir mais esganada. Ninguém consegue viver só de fama e dinheiro! Os realmente felizes são os que batalham todo o dia para serem recompensados, e realizam seus sonhos com o suor do trabalho! Me diga, Megan; você sabe como é a vida do outro lado?

A garota virou outra dose de vodka, sentindo a cabeça rodar.

— Vem cá, quem você acha que é pra dar palpite no jeito que vivo?

— Eu sou uma pessoa que vive no outro lado, e que se hoje está melhor na vida, é porque sofreu muito para conseguir! Agora, eu quero que responda com toda a sinceridade; alguma vez já quis esquecer do teu sobrenome? Pensar como seria se você não fosse enteada de um Marra? Tenho toda a certeza que a resposta deve te infernizar a mente, porque deixa eu te dizer que, se Jonas não tivesse pedido tua mãe em casamento, você viveria que nem outra garota normal, teria uma vida difícil, mas eu aposto que muito mais feliz do que pensa que é hoje. Um dia, todo esse glamour e dinheiro, só servirá para te destruir cada vez mais e mais, até que se sinta sozinha e abandonada; que nem a sua mãe. Mas você pode não ter a mesma sorte que ela, e ao contrário da nossa situação, quando você querer voltar correndo pros braços de quem te fez mais feliz, essa pessoa não esteja esperando por ti.

Megan tateava os pés no banco, se segurando para não desabar. Pensou em Davi e em como ele lhe fazia bem, responsável por que esquecesse quem era, e nas responsabilidades que carregava. Precisou dar razão para Herval, pois não conseguia mais enganar nem a si mesma: cada dia que passava dentro daquela mansão, era um dia perdido. Bebeu mais um pouco, até que se sentisse tonta.

— Ah meu Deus… eu só queria que tudo fosse um pouco mais fácil.

— Então entende a sua mãe. Ela pensa do mesmo jeito.

— Mas e você…? Mais uma vez se rebaixando ao desejos dela?

— É a vida… apenas corro atrás da minha felicidade.

— Mas e teu emprego? Teus amigos?

— Eu já fiz tudo o que tinha de fazer na sociedade da ONG, vou deixar toda a minha parte para minha amiga, Rita, como gratidão por tudo que já me fez. Eu não lembro de ter dito antes, mas sou tutor de um garoto maravilhoso. Também não há muito o que se fazer, pois era está criado, tem vinte e quatro anos e teu um futuro brilhante pela frente. Pretendo acompanhar tudo isso pela tevê.

— Pela tevê?

— Sim… ele é o jovem mais inteligente que já conheci. Está participando do The Genius Of Marra inclusive, e isso me ajudou muito na…

— Espera um pouco! ELE É UM PARTICIPANTE?

— O número oito, sabe aquele de óculos e…

— ESPERA UM POUCO! — ela berrou, tomando uma expressão de rosto totalmente diferente. Precisava de tempo para captar todas as informações. — ESTÁ ME DIZENDO QUE É TUTOR DO DAVI?

— Por quê? O que tem de mal nisso?

Megan dava goles a cada sílaba que ele pronunciava.

— Não pode ser possível… — balbuciou, já embriagada.

— O que o Davi tem a ver? Você o conhece? Porque sua mãe me contou que você não gosta muito de socializar com estes jovens.

— Ela não sabe de porra nenhuma.

O homem pareceu estremecer, e logo notou que encontrou o ponto fraco da garota.

— Vocês dois fizeram algo? Vocês estão…?

— Não estamos transando, seu imbecil.

— Eu não me referi a isso. Vocês estão…?

— CALASSABOCA! — ela berrou, e então pôde ser visto como estava bêbada. — MIM NÃO TER QUE DAR DAR SATISFAÇÕES!

— Megan, acho melhor te levar em casa.

— Não voltar! Quero é que se foda!

— Megan! Pare de beber… ei, me dê o copo, vamos!

— Não! Solta minha mão! Sai da minha vida! Se você veio pra estragar a única coisa boa que eu ainda tenho, desejo todo o mal do mundo pra você. Sabe que eu até tava com pena? Mas agora eu sei que o que cê quer é tirar o Davi de mim. Vou te dar um aviso: se quiser, pode levar minha mãe pra puta que te pariu, mas não vem se meter no meu namoro, se não vai se arrepender.

— Eu nem sabia de vocês dois!

— Então que continue como se não soubesse! Se Jonas descobrir… eu não sei o que ele pode fazer…

— Jonas não vai ser idiota a esse ponto! Ele agora está comendo na sua mão, será que não percebe?

— Que merda cê tá falando?

— O que eu venho falando a noite toda, criatura? Você acha que ele passou todos esses anos tentando fazer o quê? Hãn? Deixa eu te responder; ele quer, a custo de tudo, esconder essas verdades, porque sabe que se por algum deslize isso vier a tona, a vida dele será destruída. E agora é só pensar! Você sabe de todo o passado desse miserável! Você tem poder sob ele! Ele não vai impedir esse namoro.

Megan ficou estático por um instante, o que era raro já que estava completamente tonta. Olhou nos olhos azuis do homem e pensou por alguns segundos, mesmo com os pensamentos embaraçados.

— Puta merda… — murmuriou. — Tem razão…

— Obrigado, agora vamos pra tua casa, tá? Você vai passar mal…

— Puta merda… você tem toda a razão.

— Isso, pode falar enquanto anda, vem…

— Sensacional…

Os dois já se aproximavam da moto quando a garota tropeçou, quase caindo no chão sujo e imundo daquela esquina.

— Quer vomitar? — ele se assustou, segurando os cabelos dela por garantia.

Ela fez que não com a cabeça, e tentava retomar o passo, sem sucesso.

— Eu não posso voltar pra casa desse jeito...

— Claro que pode! Você entra pelos fundos!

— Jonas já deve ter chegado! Minha mãe também!

— Sua mãe vai deduzir o que está acontecendo.

— Ela não é tão inteligente como pensa...

— E você não a conhece tão bem como acha.

O vento gelado a ajudava a se sentir melhor.

Mas o álcool fazia tudo girar ao seu redor.

— Eu quero ligar pro Davi! Quero dizer que o amo!

— Você está completamente bêbada!

— Eu amo o Davi... eu amo tanto ele...

— Foi bem por isso que sugeri uma pizzaria!

— Me dá meu celular!

— Ele tá no teu bolso.

— Ah bom! Eu vou pegar isso aqui e vou... — ela murmuriava, discando os números do namorado. — Vou ligar e dizer pra ele que... ALÔ?! — disse, ao perceber que ele atendera. Herval levou às mãos na cabeça e se arrependeu profundamente de trazê-la em um boteco. Restou que esperasse ela finalizar a chamada. — Alô, amor... amor, Davi?!

— Megan... tá tudo bem contigo?

— Uou, uou... tudo uma beleza.

— Que voz estranha.

— Puffff! Não é nada! Eu te amo. — e um silêncio irrompeu a ligação. — Quer casar comigo?

Herval não suportou mais assistir aquilo, tirando o celular da mão da garota.

— Alô! Davi!? Esquece tudo o que ela falou! Ela tá bêbada!

Quem tá falan... — ele começou, mas parou instantaneamente ao reconhecer a voz do outro lado da linha. — Meu Deus... HERVAL?

— Isso! Oi campeão!

— O QUE...? MAS...! O que cê tá fazendo com a Megan?

— Longa história. Amanhã a gente se fala, preciso levar ela pra casa.

— Onde é que ela tá?

— Eu já disse que é uma longa história. Tchau!

— NÃO! NÃO! NÃO! ESPERA!

— Quê?

Fala pra ela que eu a amo também!


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Notas finais do capítulo

Momento nada adequado hahaha não se preocupem, nada será levado tão a sério diante da situação.