Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 26
Capítulo 26 - "Não grite"


Notas iniciais do capítulo

Depois desse hiatus de Caminhos Cruzados, voltei com o capítulo 26. heue obrigada a todo mundo, e espero que aproveitem. Qualquer dúvida sobre o final: http://www.telemaniacos.com.br/exclusivo-saiba-mais-sobre-os-personagens-de-geracao-brasil-que-vao-conquistar-o-publico/ .



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/473180/chapter/26

Sabe aquele momento que tudo ao seu redor vive mais um pouco? Bem, isso nunca havia acontecido com ela, até aquele instante. Megan já estava em casa há horas mas ainda se flagrava lembrando os recentes acontecimentos. Pois não adiantava qual era a cor do céu, quem fazia seu dia mais bonito era ele. Não sabia definir quão estranha é a sensação de desfocar o olhar de tudo, que não fosse seus olhos. Ou aconchegar a cabeça em seu pescoço, sentindo o cheiro de seu perfume e deixando que tudo de ruim fosse embora.

Deixou um rastro de água pelo caminho do banheiro ao quarto, com os longos cabelos loiros enrolados na toalha. Os passos eram leves, a respiração era tranquila, e a mente vagava longe, tão neutra que até um conhecido estranharia. Carregava junto a si um livro de poesias, daqueles que costumava ler em dia chuvosos, mas ainda não conseguira tempo para começar. Estava ocupada demais fazendo nada e pensando em tudo. Os olhos já lacrimejavam de sono, mas a última coisa que pretendia era dormir.

Vestiu um pijama um tanto infantil, e calçou as pantufas, até que andasse a procura do secador de cabelo. E assim que o fez, caiu na cama como despenca de um precipício, iniciando a leitura da primeira frase da página: "Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.”

Aquilo só podia ser uma brincadeira. Imaginou câmeras brotando por todos os lados e uma voz ecoando pelo quarto: "Rááááá! Glu glu! Iê iê! Pegadinha do malandro!". Seria bem menos chocante do que aquilo, do que aquelas palavras; a atingindo em cheio, no momento certo.

O tempo que levou até o começo do programa equivaleu a uns vinte ou cinquenta anos dentro da concepção da garota, que ligou a televisão na esperança de que em algum momento a imagem do rapaz se formasse em sua frente; ou que pudesse sair da tela, deitando-se junto dela na cama. Precisou sorrir. Aliás, a tarde toda se resumiu a isso.

The Genius Of Marra não tardou a iniciar, e poucos minutos depois do apresentador mostrar as filmagens de dentro do museu, que mostravam todos eles assistindo à aulas de tecnologia, os dez jovens apareceram nas arenas. Pelo o que se mostrava evidente, a primeira tarefa aconteceria logo, e todos precisavam de um tempo para armazenar fôlego. E então, lá estava ele.

Davi foi responsável por fazê-la rir sozinha; mesmo que não houvesse motivo algum para isso. Compunha a Equipe B e vestia colete vermelho. A prova consistia em quesitos físicos; para entretenimento do público, e teóricos; para a avaliação da bancada.

Cada participante deveria disparar da linha de partida, considerando que treze monitores de computador estavam pelo caminho, separado-os por cinco metros cada um. Em cada computador que alcançasse, uma pergunta soaria nas caixas de som, e o participante deveria respondê-la, para que quando terminasse a tarefa, passasse a linha de chegada e retomasse seu lugar no grupo.

No final do jogo, a equipe mais rápida ganharia um total de pontuação, e cada participante - isoladamente - receberia os pontos de seus acertos, assim subindo na escala do placar. Pelo o que o apresentador dizia, mais duas seriam feitas na semana, e no domingo o menos bem pontuado deixaria a competição.

Mesmo com toda a pressão, o garoto lhe parecia bem; melhor que os demais. Respirava longamente e estalava os dedos, fechando os olhos nos momentos de insegurança. Luzes coloridas tomavam as arenas, e todos os tipos de câmeras apontavam para eles. Ela sabia disso; sabia que Jonas queria mostrar tudo o que acontecesse; sendo isso bom ou ruim. Filmavam o rosto de Davi mais uma vez. "Sabe que cê fica lindo de vermelho? "– ela murmuriou. - "Acho que essa cor destaca teus olhos."

O celular florido começou a vibrar no criado-mudo. Megan esticou o pescoço para ver quem era e atendeu logo em seguida.

— Oi! — era Antoine. — Tô assistindo ao programa aqui na cozinha. Hellen mandou dizer que se você quiser ela pode fazer aquela pipoca amanteigada que cê adora.

— Oba! Quero sim, agradeça à Hellen por favor.

— Tudo bem.

Foi uma questão de minutos para que escutasse o som de batidas na porta, e puxasse o mordomo para dentro do quarto. Viu que em poucos segundos começaria a tarefa.

— Ó lá! — ela apontou para a televisão, que mostrava a imagem de Davi sorrindo para Ernesto, como quem conforta. — Ó que sorriso.

— Érrr se você diz. Eu não vejo grande coisa...

— Ah! Ah! Toinê! Senta aqui comigo pra assistir!?

— Pra você babar na tevê e fazer meu ouvido de pinico? Tô fora! Já me comprometi em ver com a Hellen, então fica pra próxima. Esse já foi um dia de grandes emoções pra você. Hasta la vista.

— Isso foi bem insensível.

— Isso foi bem sincero. — ele gargalhou, dando um beijo na testa da garota e correndo porta afora. — Arrivederci!

***

Megan não evitou a comemoração quando a Equipe B terminou a tarefa poucos segundos antes da A. Eles apertaram o botão vermelho e uma chuva de confete caiu em cima do grupo, que berravam de euforia. Ao contrário da equipe A, além dos pontos dos acertos, ganharam cinquenta pontos. O resultado foi satisfatório para ela, que já enchia a mão de pipoca, mastigando com vontade.

A -Bóris dos Santos - 70

A- Carla Zarpelonn - 80

A- Hana Nogueira - 110

A- Tatiana Medeiros - 100

A- Vicente Brosnan - 90

B- Danilo Marra - 140

B- Davi Reis - 180

B- Ernesto Lacerda - 160

B- Fabrício Sugiyama - 150

B - Zac Cooper - 160

Megan gargalhava de felicidade. "Esse é meu namorado"– ela quis gritar da varanda e dane-se o mundo. "Todo meu... meu". Colocava os punhados de pipoca dentro da boca, até ter de fazer esforço para mastigar. Era a melhor forma de manter-se sã. Tinha que garantir que não fizesse nenhuma bobagem; não colocasse tudo a perder, pois aquilo era bom demais para ser verdade.

Depois de ver o placar, o coração pesou dentro do peito. "Ele é o melhor. Ele será o vencedor. Ele irá pra Califórnia. Comigo."– e de repente tudo se tornou mais fácil em sua concepção. Depois de realmente se dar conta da competência do namorado, ele percebeu que tudo iria dar certo; se ambos se esforçassem. Era só serem discretos e batalhadores, que nada seria impossível.

Jonas agora era o maior obstáculo, e isso podia-se notar apenas olhando para a televisão. Ele estava lá. Ele estava observando todo o jogo. Ele encarava Davi intensamente, e sem disfarçar. Qualquer pessoa que tenha olhos podia enxergar claramente a tensão que surgiu entre os dois, após o placar. Ele era o empata. Ele era o inimigo. E ele era seu padrasto; algo que ela poderia aproveitar para o bem ou para o mal; tudo dependeria de suas atitudes.

Megan terminou de assistir ao programa, e a equipe vencedora fazia a festa, comemorando os prêmios que receberam logo depois. Um Ipad para cada um, e novos HD's de computador, entre outros, apresentados no final. Ela desligou a televisão e acabou o pote de pipoca, descendo pelas escadas para chegar à cozinha.

Caminhava pela sala de estar bem iluminada pelos lustres, quando uma sensação estranha tomou conta dela; estar sendo observada. Olhou com cuidado por cima dos ombros, mas a mansão estava vazia, dado ao horário. Apenas haviam funcionários na cozinha, já que Pâmela e Jonas estavam no reality. A sensação aumentava a medida que andava, e então ela enxergou algo que fez o estômago gelar. Em uma das janelas, um vulto.

Os olhos arregalaram e o som de grito não saiu, nem que quisesse. Ficou estática, em choque, e viu que o vulto tentava ao máximo se esconder. Pensou em ligar para a polícia; ou pelo menos gritar pelos seguranças da mansão, mas nenhum deles estava daquele lado. Não sabia o que fazer ou pensar. Quis chamar por Antoine, Hellen ou qualquer outra pessoa que estivesse perto para ajudar, mas teve medo. Medo de que ele fizesse-lhe mal outrora.

Tudo bem que era medrosa, e fazia tempestades em copo d'água, como na noite que conheceu Davi, mas isso não amenizava o que estava sentindo ali; naquele momento; diante daquele sujeito. Ela pretendia correr, em breve, mas os movimentos não obedeciam aos comandos do cérebro.

Quando arranjava coragem para sair, outra coisa prendeu sua atenção. O homem do outro lado do vidro pegou um aparelho de dentro do bolso, e digitou, como quem manda mensagens de celular. O rosto era branco, pelo o que podia-se ver debaixo do capuz, e ele fez sinal para que ela se acalmasse, como se tivesse mais medo ainda. Assim que parou de digitar, ele colocou as mãos ao alto, como quem se rende, sem mexer nem um músculo.

Megan olhou para o próprio celular, e viu que acabara de receber uma nova SMS. "Megan, por favor, não grite."– estava escrito, e aquilo fez a cabeça da garota girar. Ele sabia seu nome. Tinha o número de seu celular. Estava praticamente dentro de sua casa. Poderia estar armado. Olhou para a janela mais uma vez e viu que ele tinha mostrado o rosto, tirando o capuz. Tinha cabelos negros e um rosto digno de ator de cinema, olhos claros, algo como azul, e uma barba mal-feita. Pedia que ficasse em silêncio, como mímica, e forçava uma expressão gentil. Isso estava lhe deixando paranoica. Megan ainda estava parada, de boca aberta. "Você não me conhece, mas eu conheço você. É uma longa história, por favor, não grite. Ninguém pode saber que estou aqui."

O homem lhe parecia muito familiar; parecia tê-lo visto alguma vez. Mesmo assim, não era idiota para obedecer. A garota foi se distanciando, pouco a pouco, e viu o celular vibrar mais uma vez.

"Não conte a ninguém, por favor, não farei nenhum mal a vocês."– estava escrito, e ela percebeu que o número do celular viera registrado. Não fazia ideia do porquê um ladrão lhe mostraria o rosto e mandaria mensagens com um número de celular identificável, e foi isso que lhe deixou intrigada. Ele colocou o capuz novamente, preparando-se para dar no pé, quando Megan, sem pensar duas vezes, correu até a janela.

— SE EU FOSSE VOCÊ NÃO SAÍA CORRENDO.

O homem ficou paralisado. Só carregava uma mochila junto de si e parecia assustado. A voz era grave e o timbre fraco.

— Megan, eu não sou um...

— COMO SABE O MEU NOME?

— Eu... eu te conheci há muito tempo, você...

— ME DIGA AGORA QUEM É VOCÊ OU EU GRITO.

— Não. Você não vai querer que eles saibam que vim... eles...

— AGORA! NÃO BRINQUE COMIGO.

— Meu nome é Herval. Herval Gomes.

Os olhos da garota se arregalaram, e lembranças lhe ocorreram.

[***]

— Bem... digamos que... Jonas tem assuntos mal resolvidos aqui no Brasil.

— E...?

— Ele descobriu que um romance passado de sua mãe está na cola dele.

— Como é? Da minha mãe?

— É... mas parece que ele já está dando um jeito.

— Sabe ao menos o nome do homem?

— Eu ouvi eles comentarem, mas saí logo em seguida. Eu preciso me lembrar... ah caramba... era um nome estranho. Juvenal... Nicolau...

— Pasqual?

— Não... argh, maldição! Terminava com essa sílaba, mas era tão... me lembrei! Ahááááá! Herval! O nome do homem era Herval!

[***]

Megan o analisava de cima a baixo, horrorizada.

— Você.... você está comendo minha mãe! — ela disse, quase num berro, e ele implorou que não o fizesse. Quis estapeá-lo. Quis esmurrá-lo. Ele não era nenhum bandido, apenas um homem asqueroso a fim de desestruturar uma família. Era fraco. Perverso. Lhe enojava. — Como pode ser tão cretino?

— Não! Não estou co... ah, que expressão horrível. Eu não fiz nada disso com sua mãe, eu apenas... apenas preciso... vem cá, como sabe disso?

— Não te importa como eu sei! É por isso que minha mãe anda tão estranha... ela... ela...

— Megan, eu te suplico, fale baixo. Se quer conversar sobre isso, se quiser que eu te explique, vamos sair daqui. Por favor... não faça isso.

— Onde quer conversar? — ela disparava as palavras. — Vamos agora.

— Não... não, agora não.

— Ou saímos agora para que me explique, ou chamo os seguranças.

— Tudo bem! Calma! Se vista e... vamos sair para jantar.

— Como é que é?

— Pra conversar! Vamos! Pizzaria! Churrascaria! Não sei... escolha. Eu... eu só preciso que não fale alto! Que não grite! Por favor, ninguém pode saber.

— Eu vou colocar uma roupa... e volto. Se ousar fugir, eu conto a todos que Herval Gomes invadiu nossa casa e tentou me atacar.

— Mas...

— Em quem acha que vão acreditar?

— Megan... tá bem. Tá... tá bem, fico aqui. Não vou me mover.

— Volto em dois minutos. — ela disse, furiosa. — Não se mova.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

BUMMM!