Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda
Notas iniciais do capítulo
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH CARA! Me subiu a adrenalina agora.
Megan parecia um aprendiz de marginal. Usava um casaco cinza grande, algo que a deixava com uma aparência masculina. Embaixo do capuz, deixou o cabelo preso, e usava óculos escuros, a fim que ninguém a reconhecesse. Ela e Antoine podiam ver os participantes sentados nas escadarias, atrás do muro, e um frio tomou conta de sua barriga quando percebeu que Davi firmava seus olhos neles.
— Merda. Merda. Merda. Abaixa! — ela disse num sussurro gritante e o mordomo imediatamente se agachou. Eles estavam do lado das caçambas de lixo, o fedor era terrível e Megan acreditou ter visto um rato, algo que não contribuía para sua tranquilidade.
— Ele nos viu?
— Sim... ele nos viu.
— Maravilha.
Depois de pelo menos dois minutos, quando o cheiro de comida estragada ameaçava impregnar nas suas roupas, o homem não aguentava mais ficar esperando.
— Espie mais uma vez. Veja se a área está limpa.
Megan ficou de pé, cuidando minuciosamente para que não notassem sua presença. O olhar voltou ao jovem atraente de óculos que sorria abertamente, batendo papo com Nêne, segundo ao que um dia lhe contara, e com uma sorridente moça loira.
— Quem é aquela vadia? — Megan arregalara os olhos, sentindo uma pontada no lado esquerdo do peito. Um gosto amargurado subiu pela garganta, ao lembrar ver estava vestida. — Antoine, ela está se atirando para o Davi. Ó lá! Ó lá, tocando o braço dele. Eu vou estourar os miolos dessa...
— Megan! A área está limpa ou não?
— Está... — ela bufou. — Tem funcionários dentro, mas ainda não abriram as portas, o que pretende fazer a respeito?
— Lembra que eu disse que tinha um plano? Eu vou colocá-lo em prática. — ele suspirou, lhe entregando um walkie talkie. — Isso vai ajudar pra que a gente se comunique. Megan, é importante que se lembre; vou te dar todas as instruções por aí. Tire o olho da assessora do Davi e se concentre no combinado.
— Assessora? Tá de sacanagem comigo?!
— Megan!
— Okay. Focar no plano.
— Focar no plano!
Antoine carregava uma mochila consigo, mesmo que não tivesse lhe dito porquê. Ele foi se distanciando, cada vez mais, até contornar a rua e sumir de sua vista. Megan espiou mais uma vez, observando o modo descarado que a assessora sorria, e o jeito sem vergonha que o tocava. Os dentes já rangiam e ela tentava respirar fundo.
— Câmbio. Câmbio. — o som viera do walkie talkie.
— Câmbio.
— Estou na parte detrás do museu. Tem câmeras.
— Então se esconda!
— Beleza... eu acho que vai ser mais fácil do que pensei. Tem uma porta aqui com um alerta; "Acesso restrito a funcionários". Vou entrar.
— O alerta me pareceu bem claro.
— Que alerta? — ele riu, e um barulho de rangido de porta prendeu a atenção da garota. — Estou dentro.
***
"Vai dar tudo certo, Megan... se concentre" - ela repetia para si mesma, estalando os dedos. Volta e meia observava Davi, mas nada que a atrapalhasse. Pegou um espelho dentro da mochila e observou o reflexo do rosto, satisfeita com o que via. "Que fedor..." – ela reclamava, torcendo o nariz e tentando se afastar o máximo possível do lixo.
— Câmbio. Câmbio. — a voz de Antoine voltou.
— Câmbio. O que eu faço agora?
— Presta atenção: quando eles entrarem, você espera três minutos e vai para a lateral do museu, onde tem o depósito. Eu vou abrir a porta para ti, já que já consegui as chaves das salas mais altas, e você vai pro quarto andar. Pelo o que consigo ver aqui no mapa dos corredores, um deles leva para uma sala bem afastada e particular. É pra lá que você vai. É o corredor da direita. Só vou te entregar a chave e você sobe. Tem que ser rápido. Depois disso, terá o tempo que quiser. A sala é o escritório de um antigo coordenador, demitido há duas semanas. O sistema de segurança está desativado desde então. Ninguém pode te reconhecer. Captou?
— Captei. Três minutos depois deles entrarem?
— Exatamente. — dissera ofegante. — Boa sorte. Aproveite.
***
Se a intenção do The Genius Of Marra era mostrar o mundo fantástico da tecnologia, aquilo era ainda melhor. Certamente que as informações lhe pegariam de surpresa a noite, então precisariam de muita concentração. Como Davi era professor, todas aqueles ensinamentos não passavam de uma revisão; uma refrescada na memória, algo que lhe deixou bem mais a vontade que o restante. Os modelos de primeiros programadores estavam dentro de uma estante de vidro, e se assemelhavam a relíquias, em comparação com os atuais. Um guia, de amplo conhecimento sobre, seguia em frente à fila de jovens e relatava todas as táticas que os grandes técnicos costumavam usar.
Clara caminhava bem ao lado de Davi, parecendo admirada com todos os artefatos a sua volta e pedindo que prestasse muita atenção, enquanto Ernesto vinha logo atrás, na sua cola, praticamente esquecendo que tinha um próprio assessor. O guia contava mirabolantes fatos importantes que aconteceram, e os participantes tiveram autorização de anotar. A planilha de Davi estava cheia de esquemas, com flechas ligando todas as informações às datas que ocorreram e às consequências, perdido nos planejamentos de seu cérebro. Estava muito bem entretido quando um homem, usando uniforme do museu, o interrompeu.
— Licença, Davi Reis? — ele lhe disse. — Venha comigo.
— Oi?! — o rosto empalideceu, prendendo a respiração. — Como assim?
— Não faça perguntas. Apenas venha, nós temos questões a resolver.
O guia interrompeu a aula sobre medidas de KB e GB , intrigado com os murmúrios entre Davi e o homem uniformizado.
— Pode me explicar o que está havendo aí atrás?
— Preciso levar o número oito até o supervisor.
— Com que alegações?
— Isso é confidencial.
— Confidencial? Eu estou responsável por este grupo.
— Não... eu estou responsável por ele. — Clara retrucou.
— Seja quem for o responsável, não poderá fazer nada para impedir. — o funcionário finalizou, acenando com a cabeça. Enquanto o guia deixava para lá e retomava a aula. — Trago ele em breve.
Davi estava mais perdido que cego em tiroteio.
— Eu tenho que fazer as anotações.
— Ei... — Ernesto lhe cutucou. — Eu te passo as minhas depois.
— Venha logo. — o homem dissera sem paciência, o carregando em uma distância considerável do restante do grupo, enfim largando seu braço. Era alto e robusto, com cabelos castanhos. Usava um bigode de filmes mexicanos e cavanhaque. — Você é um garotinho difícil, hein.
— Quando alguém quer me tirar de meu caminho sem motivo...
— Eu tenho um motivo.
— É? Deixa eu adivinhar: confidencial.
— Coisa parecida.
Davi vociferou um palavrão em voz baixa.
— Me diga que não é o Jonas quem está me esperando.
— O que eu falei sobre fazer perguntas?
— Isso não é uma pergunta.
— Apenas cale a boca.
O homem começou a bufar, e então algo prendeu o olhar do garoto. Todas às vezes que dizia uma palavra, seu bigode levantava um pouco. Era como se estivesse vivo, ou não muito bem preso. Como se fosse falso; como se fosse disfarce. Davi sabia que não devia arranjar encrencas, mas aquilo estava muito absurdo. Enquanto todos os outros participantes aprendiam e se preparavam para a noite, ele estava sendo levado por um homem com bigode falso. Quer dizer, ainda se fosse verdadeiro...
— Acho que gostaria de saber que seu bigode tá descolando, não?
Assim que o disse, viu tudo acontecer muito rápido. O homem arrancou o bigode falso do rosto e tirou os cabelos, apresentando uma cabeça lisa e totalmente depilada. Deu um forte chute na perna do garoto e o segurou pelo pescoço, pressionando-o contra a parede.
— Ah, não brinca! — ele disse, com tom sarcástico. O olhar de Davi estava desordenado, pois não entendia diabos do que acontecia. Os dois estavam em um corredor sem saída, isolados de todo o resto do museu, algo que lhe dera calafrio na espinha. O homem apertava as laterais de sua garganta, o imobilizando. — É o seguinte, tem uma garota linda e apaixonada dentro daquela sala. — ele apontara para uma porta com a cabeça, enquanto abria as ventas. — Essa garota está gostando de você. Pra caralho. E para o seu azar... já teve o coração partido muitas vezes. Por isso, eu serei breve e claro.; Se você magoar essa garota agora, amanhã... ou depois, eu te encontro... e te castro. Entende bem o que eu quero dizer? — Davi lutava contra a força do homem, tentando arranjar voz para responder. — É claro que entende, você não é louco de negar.
Ele tirou suas mãos do rapaz, que retomava fôlego. Antes de qualquer outra coisa, apontou para a porta, erguendo uma das sobrancelhas e cerrando o punho, caso Davi quisesse revidar. O jovem estava em êxtase, e arregalava os olhos para o homem, que lhe parecia bem mais inofensivo quando o abordou.
— A propósito, meu nome é Antoine. É um prazer conhecê-lo.
***
Davi estava lento após os recentes acontecimentos. Não ousou fazer perguntas, ainda menos permanecer ali. Deu passos curtos até a porta, girando a maçaneta, aquele homem conseguira lhe assustar. Assim que abriu, se deparou com a garota loira que rondava seus pensamentos, sentada em uma cadeira. Ela levantou em um pulo quando o viu, e um sorriso radiante tomou conta de seus lábios. Davi trancou a porta atrás de si, por garantia.
— Ainda bem que é você. — ele disse, ignorando a dor que ainda atacava suas canelas. Foi uma questão de segundos até que corresse a seu encontro, e a agarrasse pela nuca, lhe puxando para perto e beijando seus lábios; sentindo o coração disparar a mil. Megan sorria no intervalo entre um beijo e outro, não acreditava que era real.
— Eu que o diga. Se fosse outra pessoa eu tava frita.
— Como conseguiu vir aqui?
— Com muita ajuda e uma bela porção de saudade.
— Usou toda?
— Não. Acho que ainda tem um pouco...
— Ótimo! — ele sorriu. — Vamos acabar com ela...
Davi mordeu seu lábio, puxando-a para um beijo, enquanto as mãos corriam até a cintura. A ergueu no ar, fazendo com que desprendesse os pés do chão, e a pôs em cima da escrivaninha vazia, colocando a língua em sua garganta. A puxava para perto e depois se afastava, provocante, levando os lábios ao seu pescoço.Todo o corpo de Megan se arrepiava, pêlo por pêlo, até que beirasse o delírio.
— Deus! Como é bom ter mais que poucos segundos contigo. — ele sussurrara em seus ouvidos, fazendo com que sentisse calafrios no estômago, e desligasse a mente, imune a qualquer pensamento. Era tomada pela euforia, sentindo o toque dos beijos balançarem sua sanidade. Davi se sentia tentado a continuar, mas antes de qualquer outra coisa, ele precisava compreender o que acontecia. — Vem cá... aquele cara do lado de fora... porquê?
— O Toinê? — ela sorriu.
Certamente, o carinho era desigual entre eles dois.
— O careca ameaçador.
Os olhos dela arregalaram, e então Davi percebeu que era melhor distorcer a verdade. Pelo o que tudo indicava, Megan era bem especial para Antoine, e Davi não se atreveria a mandar isso por água abaixo. Nem que quisesse.
— Ele te ameaçou?
— Não. Não ameaçou, na verdade foi muito educado.
— Eu imagino... Toinê é a pessoa mais adorável que conheço.
— É... — ele dissera, assentindo com a cabeça. "Imagina se não fosse..." - dizia para si mesmo, forçando o sorriso. — Mas voltando ao assunto, queria dizer que senti sua falta.
— Sentiu é?
— Um pouco... bem pouco. Assim, quase nada.
— Eu acredito! E sua assessora deve estar feliz por isso.
— O que disse?
— Você me escutou muito bem.
A risada dele irrompeu a conversa.
— Putz... eu tava notando uma coisa agora; o ciúmes fica muito bem em você. Inclusive, cada vez que eu abro meus olhos, você fica mais bonita. Isso é natural ou é coisa da minha cabeça?
— Puxa saco.
— Talvez, mas não mentiroso. — disse, começando a admirar ainda mais as feições de seu rosto. A beleza dela era engraçada, pois atacava cada parte de seu corpo de uma forma diferente. — Quanto tempo nós temos?
— O suficiente até alguém começar a te procurar.
— Merda... eu queria fugir com você, sabe? Pra bem longe.
— Sua impulsividade me preocupa.
— É. Acho bacana esse negócio de paixão, te faz esquecer do mundo... — ele riu, envolvendo seus braços nas costas dela, sentindo o corpo sendo pressionado e as reações que isso lhe causava. Mal pôde ver como os olhos da garota brilharam ao escutá-lo.
— E isso quer dizer...
— Que estou apaixonado.
— Quem é a garota de sorte?
— Deixa eu te dar uma dica: é loira.
— Posso dar meu palpite?
— Fique a vontade.
— "Clara, a assessora periguete."
Davi não conteve o riso.
— Não. A Clara é só uma amiga.
— Periguetes não tem amigos.
— Ela não é periguete...
— Vai, xonadão! Defende.
— Cara... você é chata.
— E você é um idiota.
— Um idiota bonito pelo menos?
— Um idiota modesto.
Megan e ele se entreolharam, deixando os sorrisos escaparem. Davi tinha uma cara de sacana única, superando todas as que já vira, e adorava irritá-la, também a fazendo rir.
— Percebeu que essa foi nosso primeira briga como casal? — ela perguntou, deixando as bochechas avermelharem logo em seguida. Parecia ter levado duas chineladas.
— Somos um casal?
— Eu não quis dizer isso.
— Tá. Pelo menos você pensou isso?
— Digamos que sim.
— Eu também pensei isso.
— E isso quer dizer?
— Que eu acho que nós parecemos um casal.
— Um casal bonito?
— Sou suspeito para responder.
Megan mordeu o lábio inferior, sorrindo. Se desentrelaçou dos braços do rapaz e desceu da escrivaninha, caminhando até o outro canto da sala. Pegou a mochila e voltou o trajeto, mexendo nos bolsos. Encontrou o celular e subiu novamente na mesa, retomando seu lugar.
— O que vai fazer?
— Quero ver se nós formamos um bonito casal.
— Tirando foto?
— Exato. Quero tomar minhas próprias conclusões.
— Então tá bom. — ele concordou, vendo a posicionar a câmera frontal. Megan encostou sua cabeça na dele, e por pouco não soltou um suspiro. — Pera, cê não vai me abraçar?! Que namorada fria! Assim não dá, cara... assim não funciona!
— Quer foto da gente abraçado?
— Ué, não somos um casal? E depois quero beijando.
— Tá se entregando ao personagem.
— Quero viver o personagem! Vem, me abraça!
— Carência é uma coisa complicada.
Ele sentiu o braço da garota passando em volta de seu pescoço, e o flash da câmera sendo disparado. Uma foto sorrindo, outra beijando, e assim seguia, até completarem dez fotos.
— Fizemos uma sessão de fotos juntos!
— A primeira de muitas.
— Tô te achando muito animado com essa ideia...
— Gosto de sonhar.
— Você sabe que eu gosto de você.
— O suficiente?
— Mais que o suficiente.
— Diria que está apaixonada?
— Mais que apaixonada.
— Então vamos fazer isso dar certo!
A garota riu.
— Tem certeza disso? O reality não tem facilitado.
— Eu vou dar o meu melhor para conseguir vocês! Tu e o reality- show! — ele provocou. — Nesse momento da minha vida são as coisas mais importantes pra mim.
— Acho que está deixando a maré lhe levar.
— Mas que leve! Gosto das coisas assim.
— Isso significa...
— Que quero que você seja minha. Não pela metade...
— Davi... vou te fazer a pergunta mais uma vez: tem certeza disso?
— Posso responder com outra pergunta? — disse ele, e a observou assentir com a cabeça. Borboletas lhe atacaram o estômago, e o timbre saíra com dificuldade. — Quer namorar comigo?
Uma onda de calafrios envolveu Megan, com um sorriso aparecendo logo em seguida. A garota soltou um longo e emocionado suspiro, antes de tomar coragem de responder. O "sim" veio antes que esperasse, antes que pudesse planejar. Aquele era o começo do sentimento mais forte que um dia sentira, indestrutível e sobrevivente, como os de livros, aqueles que ela sempre sonhou.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!