Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 21
Capítulo 21 - "Entende?"


Notas iniciais do capítulo

Espero que acompanhem o desenrolar da história, tenho muitas ideias em mente muahahaha



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Apaixonada. E o eco vinha logo depois. O silêncio se instalou no quarto, pois nenhum parecia disposto a dar continuidade ao que falavam. Megan suspirou, e percebeu que os olhos começavam a lacrimejar. Não queria que acontecesse, mas já era tarde, suas emoções estavam vindo à tona. E surpresa: ela as tinha. Mesmo que não quisesse admitir, se sentia presa ao que sentia por Davi. Foi algo que lhe aconteceu de repente, fez bem, e a manteve em refém. Não queria deixar de lado; ainda menos, esquecer. Simplesmente desejava que tudo fosse mais fácil, e que mesmo sendo uma Parker, tivesse o direito de encontrar a felicidade onde quer que estivesse. Mas certamente, tudo aquilo estava fora de seu alcance.

— Você está... — Antoine sussurrou, como quem tem medo de ser escutado.

— Sim.

A garota encarava as reações do próprio corpo como algo inédito; nunca visto antes. Ela realmente não sabia como fazer para aquilo passar, pois só de pensar nele, queria sorrir. Respirava fundo e soltava o ar com lentidão, querendo se manter equilibrada.

— Céus Megan está ouvindo o que fala?

— Eu nunca me senti assim com alguém antes. Eu sei que é verdade.

— Mas você precisa entender que não é possível. Quer dizer, isso é...

— Suicida. Eu sei. E egoísta já que ele tem grandes chances de ganhar.

— Se você sabe de tudo isso por quê insiste?

— Porque sim! Eu estou cansada dessa vida! Nunca me permiti ser verdadeiramente feliz com alguém até agora, e é injusto que eu não possa amar quem eu quiser, como qualquer pessoa normal. Eu gosto dele, entende? Até mais do que eu achava.

Antoine engoliu em seco, sem saber o que responder. Passou os dedos compridos pela careca e bufou, aquele momento não era o dos melhores. Encarou os olhos negros e marejados da garota e segurou sua mão, beijando-a.

— Acho melhor voltar ao trabalho.

— Vai fugir assim... na cara dura?

Ele sorriu para ela, que retribuiu docilmente.

— Desculpa mas não sou a pessoa apropriada para te dizer o que fazer.

— Pois eu confiaria minha vida a você.

— Megan, pense melhor antes de fazer algo que se arrependa.

Ela fechou os olhos num suspiro, como quem engolisse a angústia.

— Será que há alguma chance de isso dar certo?

— Sempre há uma chance.

— Então eu quero tentar. Nem que seja para vê-lo mais uma vez.

— Se tiver a certeza de que quer continuar com isso... tudo bem. Os participantes farão uma excursão amanhã a tarde, antes da primeira prova. Uma van irá levá-los, pelo o que se pode escutar no saguão.

— Como é que é?

— Eles irão passar em um museu da tecnologia. A prova será a noite.

— A prova deles não é do meu interesse. Será que conseguimos roubar o Davi por uns minutos? — ela sorriu, arranhando a almofada em suas mãos, prestes a fazer o mesmo com o próprio rosto.

— Conseguimos com uma boa ajuda, como por exemplo: subornar o pessoal da segurança e fazer ele se afastar do restante do grupo.— ele riu copiosamente, mas a garota levou a sério. Foi tomada de esperança.— Contanto que Jonas não descubra e muito menos desconfie, estaremos no lucro. Mais tarde eu venho aqui e a gente bola um plano, pode ser?

— Eu acho que sim. Pode dar certo...

— A não ser que queira deixar pra lá, assim fica tudo mais fácil.

— Não desta vez, vamos pelo caminho mais difícil. Vale a pena.

— Deve gostar mesmo desse garoto pra se prestar a isso...

Um sorriso da garota respondeu todas e quaisquer dúvidas sobre.

***

Maçãs deveriam suprir as necessidades de seu corpo. Ele e Danilo pegaram algumas frutas e mataram a fome, assim saindo da mesa. Ernesto os olhava de lado, como quem não estivesse tão a vontade com aquilo, e negou ao convite de acompanhá-los. Todos os outros também deixavam a mesa, fazendo com que o garoto barbudo ficasse sozinho por ali. Eles já passavam do segundo poste e se sentaram em uma pequena colina, conversando controladamente. Danilo estava preocupado.

— Agora pode colocar tudo pra fora, vamos.— Davi disse, tentando parecer amigável. Deu tapinhas no ombro do colega e sorriu. — Não a comida... as mágoas.

— Eu não sei o que dizer, fui meio estúpido em trazer os maços.

— Foi estúpido, mas não foi absurdo. Não faz sentido o modo que ele descobriu, você me disse que foi discreto.

— Pelas câmeras! Ele deve ter notado que eu estava tenso demais quando coloquei a caixa na gaveta. Eu escondi atrás de muitos papéis e essas malditas têm um bom alcance. Não posso culpá-lo por desconfiar.

— Eu só espero que não se prejudique.

— Aham, claro.— ele riu sarcasticamente.— Cala a boca.

— Cê acha que eu gosto de ver os outros se ferrando?

— Em uma competição que quer ganhar? Eu acho.

— Não sou que nem você e aquela Hana. Sou humano.

— Humanos pecam. Todos eles. Inclusive eu e ela.

— Por isso não estou te julgando, estamos quites.

— Pelo menos não está na beira da desclassificação.

—É... — Davi forçou um sorriso, lembrando-se de quem beijou.

—E Jonas não fica pegando no seu pé.

— Aham...

— Você deve ter ganhado uns pontos quando trouxe a Megan.

O estômago gelou enquanto a garganta secava.

— Eu acho que não escutei direito.

— Aquele dia na sede. Você fez com que ela voltasse bem. Pâmela ficou bem agradecida e você é um ótimo profissional. Tenho quase certeza que vai pra final, mas não fique convencido.

— Ah, obrigado. Me disseram que você também é excelente no que faz.

— Se deixarem que eu mostre isso ao público, eu seria um cara feliz.

— Jonas não fará nada demais, acredite em mim.

— Mas vai me expor, ou seja, minha pontuação vai baixar.

— Você pode compensar nas provas e tarefas.

— É... seria uma boa solução, caso ele não me tire do programa.

— Ele não vai, Danilo!

— Ok. Muda de assunto, por favor!

— Tá bom. Sobre o que posso falar?

— Sobre ti. Teus gostos, teus interesses.

— Eu hein... porquê?

— Só sei que é professor. Você nunca conversou muito com o grupo.

— Nhé... minha vida é mais interessante dentro da minha mente.

— Aposto que não. Me diz, vai... porque se inscreveu?

— Eu idolatro a Marra International desde pequeno, era sonho.

— Hummm... e você mora aonde?

— Recife. Qual é... tava tudo no meu vídeo.

— Eu tava nervoso. Não reparei.

— Somos dois.

— E aquilo foi só o começo, tenho medo dessas tarefas.

— Todos nós temos.

Danilo encarou o garoto por uns instantes.

— Você não é tão bocó como eu imaginava...

— Vou levar como elogio.

— Leve! Mas sério, você devia se enturmar mais com a gente.

— Talvez. Se bem que criar laços não é boa ideia...

— É sempre bom fazer amigos.

— Amigos ou não, o jogo continua.

— Bela filosofia...

Ambos começaram a rir. Danilo devia ser pelo menos dois anos mais novo que ele e tinha covinhas nas bochechas. Soltou um longo suspiro, parecendo bem mais a vontade que outrora. Davi também podia dizer que o rapaz também não era tão abominável como pensou, e isso lhe servia de alívio, pois assim Danilo se tornava menos uma pessoa a se preocupar. A paz faz com que convivência seja um pouco mais agradável.

— Se sente melhor? — ele perguntou.

— Mais ou menos...

— Sabe que Jonas não é um monstro, né?

— Não. Você sabe?

Tinha lhe pego de surpresa, ele não sabia de mais nada.

— Eu acho que ele é um homem revoltado, mas não chega a ser mau.

— Agora é esperar pra ver, meu caro... essa noite será complicada.

***

Pois a noite chegou mais rápido do que todos esperavam. Davi estava sentado na escrivaninha do segundo andar de seu chalé, quando escutou alguém abrir a porta e subir as escadas. Pensou automaticamente em Jonas, e estremeceu, mas foi Ernesto quem apareceu diante de seus olhos.

— Certo, agora pode me explicar que porra foi aquela.

— Como é? — Davi brincava com a cadeira giratória, sacana.

— Do nada, você e o filho da puta ficaram amigos?

— Eita. Mano... baixa a bola. Ele tava meio desesperado...

— E ele não tem amigos?! Pois que vá caçar os dele... tu é meu.

A gargalhada de Davi ecoou pela casa.

— Tá tirando com a minha cara.

— Vá te vestir, favelado... temos trinta minutos pra entrar ao vivo.

— Tudo bem. Eu tô indo. Já tô calçando os sapatos. Colocando o relógio.

— E parando de narrar. Vamos... não tenho tempo pra papo furado.

— Claro. Porque é um cara muito ocupado.

— Exatamente! Agora me conte o que falou com o Danilo.

— Assunto meu e dele. — disse, e o garoto arqueou as sobrancelhas em sinal de surpresa. O riso veio em seguida. — A gente conversou sobre o programa, e sobre infrações.

— Não contou sobre a Megan, contou?

— Isso, fala mais alto que o Jonas ainda não escutou!

— Foi mal... mas, contou ou não?

— Cê acha que eu tenho probleminhas?

— Devo responder?

— Eu jamais seria tão idiot... esquece, eu contei pra ti.

— E eu pretendo carregar isso junto pro túmulo.

— Bem que faz. Se bem que, agora também tenho algumas interessantes informações sobre você... sobre o passado... sobre...

— Não se atreva.

— Sossegue. — disse ele, contendo o riso.

Davi correu até o espelho e demorou alguns minutos até que cada fio de cabelo estivesse em seu lugar, colocando perfume francês atrás do pescoço e orelhas. Quando se viu decentemente arrumado, chamou Ernesto para descer as escadas e encontrou a porta do chalé aberta, ... e uma mulher loira sentada em uma das cadeiras.

— Clara? — ele engoliu em seco. — Há quanto tempo está aqui?

A mulher abriu um enorme sorriso, e tudo ao redor ganhou mais brilho.

— Desculpe pela indelicadeza. Cheguei agora pouco.

— Mas... érr... — Davi olhou para Ernesto como se implorasse para que ela não tivesse escutado nada. Respirar de repente se tornou difícil e a barriga era tomada por uma intensa brisa. — Veio me ver?

— É isso que assessoras fazem. Se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé. — disse ela, e se aproximou deles, os cumprimentando. — Você é o participante número sete, não é? Meu nome é Clara Crey.

Nêne parecia um débil mental antes de responder. Hipnotizado com o azul dos olhos dela, sorriu como abobado. Enfiou as mãos nos bolsos e conseguiu desentalar as palavras da garganta.

— Ernesto Lacerda. É um prazer conhecê-la.

— Awn, o prazer é todo meu. Eu precisava conversar com o Davi antes das 22h, então se puder nos dar dois minutinhos, ficaria grata. — falara, e ele não hesitou ao deixar a sala. — Bom, eu quero que me explique exatamente como foram os acontecimentos desde ontem a noite.

— Claro, mas não aconteceu nada demais. Eu cheguei em casa, dormi... acordei hoje de manhã e fui falar com o cara que acabou de sair daqui. Dei um encontrão com o Jonas e caminhei com o participante número dois.

— Caramba, me diga que não fez nada comprometedor.

— Não. Quer dizer... Jonas é o Jonas. Me olhou como sempre.

— Olhar de admiração ou desprezo?

— Desprezo. É como eu disse: o de sempre.

— O que ele veio fazer aqui?

— Digamos que o Danilo fez algo errado, e ele descobriu.

— Calma... você caminhou com o rapaz infrator?

— Sim... não... talvez... o que quer que eu responda?

— Você não pode apoiar esse tipo de atitude! Pode perturbar o Jonas.

— Certo! Ok. Eu tento me afastar dele. Sem problemas...

— Davi... — sua voz saía num sussurro estonteante. — Você precisa começar a tomar mais cuidado com o que faz. Não adianta ser um técnico maravilhoso, e melhor do que todos por aqui... se você estiver entre o caos. Pule fora de encrencas. Entende o que quero dizer?

"Megan Parker se encaixaria como encrenca?"– ele pensou, com a pergunta repetindo dentro de sua cabeça.– "Rezo para que não."

— Entendo.


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Notas finais do capítulo

E vocês... entendem?