Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 20
Capítulo 20 - Conturbados


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Hahahaha obrigada por elogiarem a história, estou muito feliz. Como eu percebi que haviam dúvidas sobre o uso de celular na competição, queria esclarecer que o programa não é um típico BBB. Eles poderão sair como pessoas normais, que nada vai acarretar, ficarão morando nos chalés porque os representantes da Marra precisam gravar o dia-a dia dos participantes, para mostrar a preparação, mas eles não ficam confinados e presos. O uso do celular só deve ser evitado, entende? Eles tem autorização para usarem em lugares que não há gravação. Mas explicações a parte, eis o capítulo vinte.



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O sol despencava entre as frestas da janela e as vozes tagarelas assumiam boa parte dos ruídos. Davi sentou na cama e esfregou os olhos, notando o movimento do lado de fora dos chalés. Eram sete e meia da manhã, algo que o fez resmungar um pouco até que arrumasse coragem de levantar. Ficou encarando as duas câmeras que giravam nas paredes, sem saber como agir. Não podia passar vergonha, mas também não podia controlar cada passo pelos próximos meses. Precisava encontrar um meio termo.

Não quis parecer preguiçoso, então deixou os os ombros retos quando se pôs de pé, se espreguiçou, estendendo os braços em cima da cabeça, enquanto andava até a torneira do banheiro e lavava o rosto. Sabia que uma câmera ficava no andar de baixo e outra no andar de cima, sem necessidade de mais para captar ângulos diferentes. Nunca se imaginara em uma situação como aquela, em que fosse o foco de uma audiência tão grande que o programa sustentara, mas estava gostando do rumo que as coisas estavam tomando.

Voltou ao quarto e se pôs a arrumar a cama, quando percebeu o aparelho celular debaixo do travesseiro, e foi atacado pelas lembranças da noite anterior. Aproveitando que voltaria ao banheiro para se vestir, escondeu-o entre o tecido e carregou-o junto. Vestiu um calção e uma camisa vermelha, colocando um relógio de pulso. Calçou os tênis que comprara recentemente e alcançou o celular. Ele capotou no sono assim que enviou a última mensagem, sem saber se houve uma resposta.

Esperou a inicialização do aparelho e estremeceu ao perceber que Megan não lhe mandou mais nenhuma. Soltou a respiração tensamente... talvez tivesse exagerado um pouco no que escrevera. Era complicado e complexo demais para ser expresso com palavras tão neutras, e para que dissesse com tanta certeza. Obviamente ele deixou a emoção do momento lhe levar, perdeu a noção e... acabou lhe assustando. Era um imbecil. Saiu do chalé às pressas e olhou para os outros quatro, tentando puxar na memória qual deles era o de Nêne. Diante às duvidas, aproximou do segundo-B e bateu na porta, mas não foi o amigo quem ele encontrou.

Jonas... — Davi disse, com o estômago embrulhando por estar em frente a ele, que vestia um terno claro e lhe lançava um olhar penetrante. Quis parar de tentar imaginar o motivo por ele estar ali, dentro do chalé de um concorrente, mas era difícil. Engoliu em seco.

Reis?— esboçava um sorriso sarcástico. — A que devo esta visita?

— A nada. Quer dizer... eu acho que errei o número da casa.

— Errou... e ia visitar quem?

— O participante número sete.

— Eu te aconselharia a ir para a mesa do café... — Jonas esbravejou, saindo do chalé sem despregar seus olhos nebulosos dele. — Seria uma pena se se atrasasse mais uma vez... porque querendo ou não, o público valoriza a pontualidade.

O silêncio se instalou no local, assim que o homem saiu.

— Davi. — uma voz masculina lhe chamou. — O que está fazendo aqui?

Danilo estava enrolado em uma toalha, com o cabelo molhado e surpresa evidente. Tinha acabado de sair do banho e o encarava como se aquela cena fosse a mais bizarra de todas.

— Ér... me desculpa, eu vim no quarto errado.

— Como conseguiu abrir a porta? Eu tinha chaveado!

— Jonas abriu pra mim.

— Jonas? Quando foi que ele esteve aqui?

— Hã... ele saiu agora.

— Caramba. — Danilo disse. — Será que veio falar comigo?

— E entrado sem avisar? Você quem deve saber...

— Eu estava no banho! Não tinha como saber...

— Não sei, cara... vai ver ele estava futricando tuas coisas.

Ele tinha dito em tom de brincadeira, mas pareceu muito mais grave quando Danilo escutou. O garoto arregalou os olhos, parecia gelar. Correu até uma escrivaninha dali e puxou uma das gavetas, tirando vários papéis e jogando-os no chão, apavorado. Tirou uma caixa dali e abriu, olhando o vazio dela com um suspiro.

— Meu Deus... — ele murmuriou, estático.

— O que houve?

— Não está mais aqui... não acredito.

— O que?

— MEUS MAÇOS DE CIGARRO NÃO ESTÃO AQUI, PORRA!

— Seus...?

— EU FUMO! OK? E agora, pode deixar que eu...

— Como Jonas descobriu?

— Não sei! Eu tive tanto cuidado em escondê-los e... não faço ideia.

— É proibido?

— Se eu for tirado do reality-show por causa disso, eu vou...

— Calma!

— Jonas vai acabar comigo, ele me odeia.

— Não... ele não odeia.

— Por favor, eu sou um sobrinho que ele nunca quis conhecer... ok?

— Danilo... — ele implorou com os olhos, dizendo num cochicho. Apontava para as câmeras com a cabeça e cerrava os dentes, fazendo o som sair como ruídos. — Cuidado com o que fala... isso sim pode te prejudicar.

— Certo. Você tem razão. Vou calar a boca antes que seja pior.

— Eu acho que ele simplesmente retirou para que não os usasse.

— E não me punir por descumprir as regras? Você vive aonde, no mundo dos pôneis?

— Vamos tomar café?! Por favor, esquece isso.

— Claro... porque não é contigo que está acontecendo. Se estivesse fazendo algo errado, sabendo que é errado, mas estivesse completamente sem condições de deixar isso para trás... já imaginou? Agora pensa se eles descobrem isso que você faz, e você se visse em risco de perder seus sonhos por causa de algo tão bobo, hã? Entende como eu me sinto? Eu sou um fumante desgraçado que não tem a menor vontade de largar o vício, eu cavei minha própria sepultura... assim como eles tinham certeza que alguém faria.

"Alguém..."– ele pensou, respirando fundo.- "Eu te entendo... e como."

— Danilo, vamos fazer o seguinte: sair daqui. Aí podemos conversar sobre qualquer coisa que quiser, combinado?

— Eu não quero conversar!

— Algo me diz que você quer.

O garoto bufou.

— Agora, além de tudo, você tem sexto sentido?

— Vamos, cara... qual é. Os jardins são enormes, a essa hora não tem câmeras-man, e os postes só gravam até certa distância. Não fique aí remoendo sua raiva.

— E o café da manhã?

— Quer fazer um piquenique?

— Só pode estar de palhaçada!

— Devia ter visto a sua cara quando eu falei... — ele riu, quase se babando todo. — Vamos comer alguma coisa e depois caminhamos um pouco. Falou?

— Pode ser... eu acho.

***

Alguém batia na porta e Megan estava desligada do mundo. Colocou os fones no ouvido e deu play em uma música que a fazia viajar. O hipnotizante movimento das cortinas era estonteante, e os olhos se fechavam devagar, quando sentia o vento tocar sua pele. Vestia uma calça de moletom e uma camisa regata, com o cabelo preso em uma caneta, e deitava-se na cama, com uma almofada nas costas. O sino de vento balançava na varanda e o céu ia fechando, fazendo-a acreditar que choveria.

A mente ainda repetia de novo e de novo os acontecimentos da noite anterior e algumas coisas não faziam sentido, como ela estar na sala e duas horas depois acordar no quarto, sem que houvesse uma explicação decente. Ou o motivo de ela não conseguir se manter muito tempo de pé e enxergar tudo dobrado. Antoine dizendo que lhe ama e o modo sinistro que Hellen lhe encarava. Teve perda de memórias em vários momentos também, mas de algo ela se lembrava perfeitamente. Já era madrugada quando recebeu a resposta da sms, e assim ela e Davi tiveram uma conversa curta.

Entretanto, durou tempo suficiente para que ele dissesse algo com o poder de tirar sua razão. Arrebatador demais para que pudesse levar numa boa, forte demais para que pudesse esquecer. Demonstrou perfeitamente como ele se sentia a respeito do que tinha acontecido, e ela não teve como responder à altura. Apenas ficou calada... levando mais uma hora para conseguir dormir. Ficou pensando naquilo e em como era perigoso. Como uma simples frase daquelas podia fazer com que tudo mudasse... e no caso dele, para pior.

As batidas continuaram incessantes na porta de seu quarto, mas ela aumentava cada vez mais o volume. A cabeça latejava de acordo com o ritmo, enquanto ela tentava esquecer de tudo. Para ver Davi, teria de ser pela tevê... como todas as outras pessoas, segundo o que acreditava. Talvez pudesse fazer uns ajustes nisso com uma boa ajuda, mas naquele momento ela só precisava se sentir zonza. A voz do vocalista fazia com que movesse os braços estendidos no ar, e com que depositasse nos travesseiros tudo o que guardava dentro de si. Ela se sentia bem... se sentia livre... assim como se sentia com ele. Não era tão bom quanto, mas ajudava.

— MEGANNNNNN! — a voz de Antoine ainda gritava, e ele queria arrombar a porta. Estava ali por um bom tempo e ela se recusava a abrir, mas ele sabia que estava no quarto. O assunto era sério e ela estava fazendo que diabos? Contanto que não estivesse dopada que nem na noite anterior...

Antoine deu meia volta, enfurecido com a ingratidão da garota, e desceu as escadas até sair da mansão. Contornou-a... até passar pelo quintal, indo até às quadras de tênis, onde se aproximava da altura da janela de Megan. Deu alguns passos e ficou na beirada do gramado, tentando alcançar a escada de incêndio. O vento estava forte, e algumas gotículas de água começaram a cair em sua careca, quando ele se pendurava nos ferros para alcançar o parapeito. Deu passos hesitantes, devido a altura, e espiou pela janela.

Megan estava deitada na cama, com fones de ouvido e fazia a cabeça rodopiar. Certamente correndo o risco de estourar os tímpanos, mais uma vez, como de costume. Ele bateu no vidro da janela, pensando no esforço que estava fazendo apenas para dizer algo, que poderia falar mais tarde. Mesmo assim, ele queria ser o primeiro a lhe falar... e não tinha tolerância de espera. A garota não abriu os olhos, e ele seguiu fazendo o mesmo.

— MEGANNNNNN! — ele berrava, não querendo que ninguém escutasse, com exceção dela. Seria extremamente embaraçoso se algum funcionário o visse daquele jeito, implorando por atenção e com a bunda empinada, levando chuva. — OLHA PRAAAAA CÁ! — e a chuva caiu de vez. Ele não podia olhar para baixo, por nada nesse mundo.

O curto intervalo entre uma música e outra foi tomado pela voz de Antoine. Megan abriu os olhos, assustada, e viu seu melhor amigo na escada de incêndio, fora da janela, todo molhado. Tirou os fones com pressa e correu para abrir a tranca, possibilitando a entrada dele.

— Que merda você foi fazer aí? — dizia com pavor.

— Não está na hora de ficar ouvindo música, mocinha... — ele grunhiu, indo atrás de uma toalha pelos arredores do quarto. — Tive de fazer tudo isso para poder falar contigo. Seria muito difícil abrir a porta para mim?

— O que tem para me falar?

— Babado no reality.

A garota riu, pedindo que se sentasse com ela.

— Pode começar...

— Jonas acabou de chegar dos chalés. Ele entrou de cabeça quente, xingando os candidatos de infratores.

— Infratores?! Puta merda ... ele descobriu de nós.

— Não! Não era pra vocês! Ele encontrou dezenas de maços de cigarros na gaveta de um deles... e você sabe que é terminantemente proibido.

— Sim... e então?

— Não sei qual decisão ele tomou a respeito, mas ele está bem irritado.

— Nossa... — ela suspirou. — Ele pode ser desclassificado por isso?

— Acho que não, mas acredito que Jonas vai querer fazê-lo sofrer.

— Não duvido sobre isso... ele não tem piedade de ninguém. Mas... quem foi que infringiu as normas? Era menino, menina? Especifique.

— Danilo, o segundo participante. E sabe o que me intrigou? Ele disse algo sobre o "Reis".

— Tinha que ser... Jonas está na cola do Davi. O que falou?

— Que ele faria com que andasse na linha, pois ele tinha algo que não o agradava. — ele contava, com o coração disparando. — Isso é perigoso, entende? Se ele ficar pegando no pé do garoto... de uma forma ou de outra, vai descobrir. Então eu te pergunto: tem certeza que quer continuar com isso, ou... quer ajudá-lo a seguir seus sonhos? A relação de vocês seria tão conturbada que não quero nem pensar...

— Eu não sei, Toinê. Eu não sei de nada...

— Mas você precisa! O garoto está se apaixonando!

— Não! Não está apaixonado! Nem um pouco!

— E aquela mensagem significa o quê? Por favor...

— Significa que ele gosta da minha companhia... que me quer perto.

— Ele disse que quer te beijar! Qual é... disse que quer que tu seja dele.

— Ele estava cansado... os participantes beberam algumas depois...

— Ele estava completamente sóbrio! Não é muito difícil alguém se apaixonar por você... e sabe disso. Cabe a ti por ou não um fim nisso. O garoto não deve saber o que fazer... deve sentir medo de se desclassificar, e não deve querer te perder! Dê uma solução à ele.

A garota lutava contra a própria garganta.

— Não! Eu não tenho nada a ver com isso!

— Vocês se beijaram! Diga a ele que não significou nada!

— Eu não posso!

— Diga a ele, Megan.

— Não...

— Diga que não sentiu nada com aquele beijo.

— NÃO CONSIGO!

— É SÓ DIZER!

— PÁRA! — ela berrou, fechando os olhos. — EU NÃO POSSO DIZER A ELE!

— E POR QUÊ? — ele queria sacudi-la, o timbre tremia.

— Porque significou! Satisfeito? Eu tô completamente apaixonada pelo Davi!


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Notas finais do capítulo

BUM!