Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 19
Capítulo 19 - Lar doce lar


Notas iniciais do capítulo

*Confissões: eu tinha feito outra versão desse capítulo, mas apaguei tudo e comecei de novo.

Hahahaha oi gente, fico faceira com todos esses elogios, sério mesmo... *O* obrigada por tudo. Foi dada a largada do reality, né... espero que gostem e deixem a imaginação fluir. Beijocas!



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Davi não conseguiria parar de olhar, nem que tentasse. Os fios loiros caíam sobre as bochechas enquanto ela mostrava um meio sorriso, lhe cumprimentando docilmente. Megan estava linda. O suficiente para deixá-lo débil. Fechou os olhos por um longo segundo e os abriu, se deparando com todas aquelas pessoas sentadas nas arquibancadas. Não eram vinte ou trinta, mas sim milhares. O estômago revirava. O suor era frio. A saliva quente e a mente longe. Davi estava sendo atacado por todas as náuseas possíveis e imagináveis.

— [...] Você vai conferir a entrada dos nossos dez participantes em seus chalés, divididos por arenas um tanto... complicadas. Não sai daí, depois do intervalo vamos explicar tim-tim por tim-tim do The - Genius - of - Marra!

Um breve silêncio tomou conta do local, e as luzes verdes de "NO AR" voltaram ao vermelho. Eles já haviam sido orientados sobre isso antes, sabendo que precisariam cruzar o jardim para chegar aos chalés, em um tempo aproximado de cinco minutos. Assim que começassem, acionariam as câmeras posicionadas nas arenas e tudo o que acontecesse a partir dali seria gravado. Não seria algo do tipo Big Brother, onde ficariam confinados e presos, sendo supervisionados 24h por dia. Era simplesmente uma competição destinada a empregos, em que os participantes viveriam em seus chalés por três ou quatro meses, considerando o fato de que quase nenhum era carioca, e ficariam em exposição apenas pelo tempo que estivessem no ar, 1h no máximo.

Era por esses e outros motivos que Davi se propôs a concorrer. Quem o assistisse pela televisão, teria a visão de um jovem inteligente que sonha como qualquer outro, e luta para realizar. Sem pensamentos inferiores; não se envergonhariam por ele ser brasileiro. Davi se sentia radiante, ainda mais quando começavam a esvaziar o palco, depressa. Pôde observar Megan pelo canto do olho, e ela caminhava para a segunda ala; o caminho da saída.

Davi não queria que a garota fosse embora. Queria lhe dar um abraço e lhe puxar pelo lábio, ignorando toda e qualquer câmera ali presente. Era pedir muito? Ela se afastava sem espiar por cima do ombro, e as mãos de sua mãe repousavam no mesmo. O tecido do vestido balançava quando ela andava e, sem que ele pudesse impedir, Megan já estava longe demais. Ouviu uma voz e notou que Ernesto lhe chamava. Eles deveriam seguir o caminho e Davi sabia... mas algo lhe atraía para o lado, como um íman; seu desejo de estar com Megan.

Ele respirou fundo e assentiu para Nêne, que disparou na frente. O tempo passava lentamente e a cabeça rodopiava, pois ele sabia que assim que colocasse os pés naquele jardim, estaria escrevendo o título de sua história. Deixaria de ser um mero professor de informática e disputaria o cargo da profissão que sempre sonhou. Tudo estava mudando... e a euforia de dentro dele transparecia bem. Olhou mais uma vez para a segunda ala, mas não viu rastros de ninguém que tivesse passado. Megan tinha ido embora.

Um pesar imediato tomou conta de seu peito e pesou como um chumbo, prejudicando sua pressa. Enquanto corria em direção aos portões, a decepção se espalhava pelo corpo. Era difícil de engolir, mas agora já chegava ao coração. Davi soltou um suspiro, se Megan já era difícil quando se encontraram, ficava mais distante à medida do passar de tempo. Novas barreiras lhe separavam, e ele deveria compreender, porque assim tudo facilitaria.

O caminho pela grama era iluminado por pequenas lâmpadas, assim como lampiões nas extremidades. Três carrinhos de golfe estavam posicionados, e carregavam toda a bagagem que eles precisassem. Era irônico eles correndo pelo campo, sendo que poderiam usar os carrinhos. "Eles devem querer mostrar ao público como somos dispostos..."– ele pensou, continuando a correr. Olhou para o relógio e contou os últimos segundos antes que acabassem as propagandas, há poucos metros das pequenas casinhas. Um poste eletrônico lhes deu o aviso que estavam no ar, o comportamento de cada um passava a ser registrado a partir dali, então todos estavam nervosos, não deixando de conversar e rir, como forma de extravasar.

— Chegamos cambada...! — Danilo dissera, com as mãos para alto.

Incrível como o simples fato de estar diante de milhões de pessoas afloravam a simpatia de algumas pessoas por ali.... Um gosto amargo tomou a boca de Davi, sem vontade de responder, e ele foi ao carrinho para carregar sua mala. O lugar parecia uma vila de desenhos animados. Dez casinhas de dois andares, minuciosamente moldadas, com uma ruela que as separava; cinco de um lado, e cinco do outro. "Equipe Azul" - "Equipe Vermelha", estavam bem sinalizadas, e tudo ao redor parecia fantástico. Uma televisão gigantesca ficava no alto de um pilastre, e a imagem do apresentador aparecia ali projetada.

— O que acharam do lar, novos gênios da geração?

Eles podiam escutar claramente os gritos da platéia. Como um coro, a resposta era bastante positiva por todos. A inquietude de Davi estava evidente, todos perceberiam. "Minha mãe está me vendo... Herval ... meus alunos... colegas de trabalho... o Brasil ... o mundo..." — ele falava consigo mesmo, tentando agir naturalmente.

Dentro do bolso, no modo silencioso, o celular vibrou. Junto com ele, todos os músculos. Ele lembrava de ter visto uma placa que proibia que ligassem os celulares quando estivessem ao vivo, mas agora de nada adiantava. "Não desvie o olhar da tevê... não desvie o olhar da tevê..." — repetia copiosamente, tentando disfarçar o nervosismo. Em alguns segundos, alguém notaria, e seria uma péssima maneira de estrear o show.

Disfarçadamente ele socou a parte de cima da coxa, acertando o bolso. Repetiu a ação incessantemente, até que parasse de vibrar. Ernesto lhe olhou com repreensão, como se implorasse para que não fizesse nada comprometedor, o fazendo baixar a bola. Davi olhou para a televisão mais uma vez, sorrindo em sintonia com o público. O apresentador retomava a explicação do programa.

— Toda segunda, quarta e sábado, os participantes passarão pelos desafios, que serão realizados nas arenas que intercalam os jardins. Deixo vocês agora com Jonas Marra, o ilustre cérebro da empresa, que deixará claro suas exigências para o novo representante.

O homem sistemático apareceu na tela. Se vestia muito bem e tinha expressão sóbria, sem muitas particularidades. O microfone era passado para sua mão, e ele bem que conseguia espichar um sorriso, forçado. Os seus olhos corriam pelo rosto de cada concorrente e o orgulho entalava em sua garganta, antes que dissesse algo.

— Boa noite a todos mais uma vez. Como o meu caro Greg acabou de anunciar, serão vários os desafios que enfrentarão pelas etapas. A banca de jurados e os representantes da Marra lhes avaliarão pelos seguintes quesitos; criatividade, desempenho, planejamento e trabalho em equipe. Terão que se esforçar muito para impressionar... pois a exigência é grande. desta vez sorrira verdadeiramente, como se sentisse prazer em dizê-lo. — Ganharei a oportunidade única de escolher o jovem talento que virá trabalhar na Califórnia, e de treiná-lo para que esteja pronto para o que lhe aguarda. É um emprego de peso, para quem ama o que faz, lembrem-se disso. Bem... e que vença o melhor.

Davi tinha toda a certeza que não era só o coração dele que saía pela boca. Era o sonho de uma vida sendo expresso em poucas palavras.

***

O relógio marcava uma hora da manhã quando todos deram boa noite e adentraram seus chalés a fim de descansar após um dia cheio. Davi virou a chave, abrindo a porta e tateou as mãos até encontrar um interruptor de luz, achando logo em seguida. O queixo caiu com a visão da cama em formato de teclado e a colcha estampada de teclas. As paredes repletas de suas fotografias de vida e vários equipamentos de computação espalhados pelo local. Uma escada de caracol o levava para o andar de cima, onde um escritório personalizado ficava. O teto era ilustrado de histórias em quadrinhos e os abajures tinham formato de sabres de luz. Era o paraíso nerd que Davi sempre sonhara.

— Fala sério... — ele murmuriava, sem piscar, temendo que não passasse de sua imaginação. Levou as mãos à cabeça e não pôde se mexer. Queria gritar mas o som não saía.

Assim que o fez, percebeu que duas câmeras gravaram sua reação que provavelmente seria exposta no programa seguinte, onde ele deixaria de ser ao vivo. Respirou fundo e passou os dedos pelas paredes de sua nova casinha, o seu lar dos próximos três meses. Era tudo maravilhoso demais para alguém como ele.

Em uma das estantes, vários porta-retratos estavam fixados. Um deles, de seus alunos da ONG e de toda a equipe. O segundo, de Rita, que mostrava um dia que lhe levou ao balanço e empurrou pelos ares, o fazendo gargalhar de alegria. Já o terceiro, lhe pegou de surpresa... mostrando a família Marra sentada no sofá. Os olhos correram pelas pessoas até que identificasse a garota loira, dois anos mais nova, sentada no canto. As unhas rosas em destaque, estiradas na almofada, enquanto ela sorria.

A imagem instantaneamente mexeu com seu subconsciente, lhe torturando sem piedade alguma. A beleza da garota o fragilizava... como nunca acontecera antes. Ele esfregou os olhos, já bocejando, e caminhou até a cama, vestindo o pijama e se deitando embaixo das cobertas. Estendeu a mão até um controle remoto e por um clique as luzes se apagaram. Já estava fechando os olhos quando a curiosidade lhe atacou. Davi se esticou até a gaveta, e tirou o celular do bolso da calça, o trazendo para baixo do cobertor.

"Acabei de chegar em casa e tô assistindo tudo pela TV, desculpe ter saído mais cedo. Não estava me sentindo muito bem...até um pouco tonta. Não esqueça que torço por você, boa sorte..." — ele leu, seguido de 'mensagem recebida há três horas atrás'.

Sorriu, e mesmo sendo tarde tratou de respondê-la.

"Você é tonta naturalmente, não tem que se envergonhar disso. Obrigada por ter ido, se quiser que eu seja sincero, era a mais linda do auditório..." — enviou, sentindo-se novamente um adolescente de quatorze anos.

Ele já tratava de dormir quando inesperadamente o celular vibrou. Não era possível que naquele horário ela ainda estivesse acordada.

"Você também não tava tão feio assim... até posso dizer que parecia gente. Bem... espero que tudo ocorra bem, porque assim... pouparei o trabalho de trazer você na mala para a Califórnia."

Um frio tomou conta de sua barriga.

"Isso significa que me quer por perto?"

— "Significa que te quero bem perto..."

— " O suficiente pra roçar minha boca pela tua?"

— " Acredito que sim..."

— " Então... tudo o que mais quero é estar perto de ti."

—" Hahahaha... faço de suas palavras... as minhas."

Davi digitou a mensagem, mesmo sabendo o risco que corria. O coração batia apressado e o estômago revirava. Só de pensar em puxá-la para perto, ele soltava um suspiro. Escreveu e apagou dezenas de vezes, até conseguir enviar.

" Eu faço de você, Megan Parker, ... minha."


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