Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 15
Capítulo 15 - Inseguranças


Notas iniciais do capítulo

Hahahaha fechando algumas questões ainda em aberto. Obrigada pelos comentários, meninas, sou muito grata. De coração...



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Megan entrou em um dos banheiros da mansão, e precisou sentar para retomar o fôlego. Antoine só podia ser um anjo que colocaram em sua vida, pois não era possível que houvesse alguém que se importasse tanto com ela, como ele. Tirou as calças, os sapatos, e os casacos, escondendo tudo dentro do armário de papel higiênico, atrás de uma fila de rolos. Em seguida, correu até a pia e esfregou o rosto com água e sabão, até ficar com o rosto completamente limpo. Enrolou uma das toalhas no corpo nu e enfiou o cabelo loiro debaixo da torneira, enrolando a outra toalha na sua cabeça, sem esquecer de deixar uma mecha úmida aparecendo, para garantir.

Abriu a porta com cuidado e saiu andando apressada pelos corredores, temendo que alguém a visse daquele jeito. A casa estava lotada de pessoas super bem sucedidas e ela estava correndo semi-nua. Subiu por uma escada de caracol até pegar outro caminho até o quarto, vendo que a mãe estava logo ali, conversando com Antoine.

— Megan? — Pâmela dizia, boquiaberta. — O que pensa que está fazendo?

— Oi mãe! — ela sorriu, tentando disfarçar o nervosismo. — Qual o problema?

A tensão do local aumentava cada vez mais, a cada palavra dita. Antoine engolia em seco, cogitando fugir antes que lhe direcionassem a palavra, mas os movimentos não obedeciam os comandos do cérebro.

— Como assim qual o problema? Você está andando assim por aí, enquanto os patrocinadores e investidores estão em reunião... entra já nesse quarto, mocinha... ou você não vai gostar do que acontecerá.

Antoine não suportaria assistir à aquilo.

— Bem... Sra. Parker, Srta. Megan? Eu vou me retirar.

— Pode ir Antoine, mas depois precisarei de um favor seu...

— Claro que sim. — ele tossiu, vendo o olhar de socorro que a garota lhe lançou. — Vou ver se o Sr. Marra precisa de algo. — falou dando entonação às últimas palavras, e esperou que Megan entendesse o recado.

Ele deu passos largos e sumiu dali, levando com ele toda a segurança, criatividade, e coragem que a garota ainda possuía. Pâmela abriu a porta e mandou que ela entrasse, fazendo com que obedecesse sem hesitar, e deixasse os ombros caírem.

— Por que é que estava vestida dessa maneira por aí?

— Tecnicamente... não estou vestida. — respondeu, e percebeu que era melhor abaixar a bola, pois não queria grandes discussões. — Mãe... meu chuveiro começou a falhar e diante a tempestade, então... tive muito medo que desse curto circuito. A água é um dos maiores condutores de energia... e ... eu poderia tomar um choque. Procurei um chuveiro que estivesse em melhores condições, só... e me desculpa, mas esqueci da reunião e só carreguei as toalhas comigo.

Pâmela soltou um suspiro de alívio, feliz com a inocência da filha.

— Menos mal então... me desculpe, estou bastante estressada com o Jonas. — ela bufou, passando os dedos pela testa. — Ele pensa que sabe mais do que todo mundo e acha que pode mandar no que devo ou não fazer. Estou tão cansada dele, sabe... tão... — ela parou, ao notar que começava a falar mais do que devia. — Não estou muito bem para sermões hoje, então... fica pra próxima. Boa noite filha.

— Boa noite, mãe... valeu pela paciência.

***

A pouca claridade daquela manhã vinha entre as nuvens pretas e carregadas que ocupavam o céu. Davi ligara a televisão e, pelo o que a previsão de tempo mostrava, enevoamentos de tempestade continuariam cercando o Rio de Janeiro. A vista da janela era sombria e o vento voltava a sacudir as porta de vidro. Zac só podia estar querendo lhe matar congelado, pois o ar condicionado apresentava mínimas temperaturas. Ele saiu pouco mais cedo, indo até o restaurante do hotel, e deixando o quarto bem parecido com um iglu.

Já eram quase nove horas, embora aparentasse não passar de seis. Davi não conseguia entender como o clima de verão estava tão pesado, mas essa questão não cabia a ele. Caminhou um pouco pelo quarto e entrou no banheiro, observando seu reflexo no espelho. A barba que fizera na noite passada já voltava a crescer e o cabelo que cortara há pouco mais de duas semanas, também. Estava com os olhos quase grudados de sono e fazia corpo mole para entrar no chuveiro. Sabia que precisava de um banho para despertar totalmente, mas não encontrava coragem para fazê-lo. Olhou para si mesmo novamente no espelho.

Aquele cara tinha beijado a enteada de Jonas Marra. Por um acaso, ele era o dono do reality-show. Que por outro acaso, Davi participava. E que, para melhorar, começava daqui há dois dias e quarenta minutos. Olhando por fora, não haveria uma pessoa sequer que concordasse com o que ele tinha feito. Que o apoiasse e dissesse que estava no caminho certo. Que tal atitude não o prejudicaria em ganhar e que ele podia ficar tranquilo. Com exceção de Nêne.

Colocou o corpo debaixo do chuveiro e passou as mão pelos olhos, querendo deixá-los bem abertos. Precisava deles assim, pois não sabia quem o apunharia pelas costas quando descobrisse sobre Megan. Não havia só Zac a fim de desclassificá-lo e isso lhe parecia óbvio. Outros participantes torciam o nariz ao vê-lo passar, temendo que poderia ser o culpado em colocados para trás. Havia Bóris, Tatiana, Danilo, o pequeno Vicente, Zac, Carla, Fabrício e Hana, seguidos de Ernesto. E por incrível que pareça, ele era o único que parecia estar muito a vontade com toda repercussão em cima de Davi.

Era estranho conquistar uma amizade, quando se tratava de competição. Afinal de contas, só um deles ganharia o cargo na Califórnia, enquanto os outros retornariam à suas vidas rotineiras de sempre. Ou seja, era muito questionável o motivo de Ernesto não se importar com algo tão grande assim. Ou que o deixasse disposto a guardar um segredo daqueles, levando em conta destruiria Davi assim que chegasse nos ouvidos de Jonas. Diante a isso, trataria de resolver aquilo assim que saísse do chuveiro, o mais rápido que conseguisse. Não poderia se arriscar mais do que tinha feito.

Chegou no quarto do amigo sete minutos depois, e este lhe recebeu com um sorriso bastante autêntico. "Putz, se for atuação, ele merece seguir carreira no cinema."– notou, surpreso. Como é que conseguia demonstrar uma reação tão natural e ficar verdadeiramente feliz com a visita de Davi, se estivesse esperando o momento certo para empurrá-lo no abismo?

— Bom dia, pegador. Entra aí. — ele dizia, dando palmadinhas no ombro de Davi.

— Bom dia...

— Como foi a noite ontem, hã? Conseguiu?

Depois daquele pensamento, ele começou a analisá-lo como um todo. "Porque quer saber como foi a noite? Está bolando algum plano maligno?". Decidiu escolher as palavras com mais cuidado.

— Boa... a noite foi bem boa.

— Vish, então deve ter sido horrível.

— Por quê?

— Quando você gosta de verdade, você não a define só como "boa".

Davi parou para raciocinar. Era melhor ir direto ao ponto.

— Ernesto... porque está sendo tão meu amigo?

O garoto lhe pareceu bastante confuso.

— Porque não se comporta como um Zac da vida? — perguntou mais uma vez.

— Eu... não estou te entendendo...

— Você sabe sobre que eu estou falando, cara... não se faça de desentendido. Assim como eu, você está nesse programa porque quer ganhar, então... porque diabos está me ajudando?

— Acho que eu... eu... gosto de você, você é o único amigo que eu tenho.

— Mas somos amigos há tão pouco tempo... não consigo achar firmeza.

— Cara, porque está questionando minha fidelidade?

— Você não se questionaria se eu me aproximasse de você e soubesse dos seus segredos? Porque... você não me disse nada realmente relevante de ti até agora. O assunto principal sempre foi a minha vida e o meu interesse pela Megan. Isso não te parece bastante questionável?

— Isso me parece bem patético.

O silêncio tomou o quarto.

— Você me contou que sua maior qualidade é honestidade. Seja sincero: por que está sendo tão gentil e caridoso sobre eu seguir meus sonhos?

Ernesto bufou longamente para conseguir paciência.

— Quem está fazendo a sua cabeça contra mim? — ele dissera, cabisbaixo. O ombros eram caídos e os olhos se encontravam com os seus. — Eu não sou competitivo como o resto deles, cara. Acredito na minha capacidade e sei que posso passar por todas essas etapas sem dificuldade. Eu vou me empenhar para conseguir, acredite em mim... mas não farei isso à custa dos outros. Não estou me aproveitando da tua vulnerabilidade para te eliminar... apenas estou me esforçando para manter a única amizade que realmente acho que possa dar certo. — conseguiu dizer sem tremer a voz, desta vez. — Nem todas as pessoas do mundo são falsas e dissimuladas.

— A maioria é.

— Não posso discordar.

— E por que não contou sobre a Megan para algum jornalista?

— Puta que pariu, é isso que você quer que eu faça? Por que se for assim, não me importo. Eu não espalho as coisas que me contou, por que sei você confiou em mim para dizer. E como achei que fosse meu amigo... percebi não é uma coisa que amigos fariam. Mas... acabo de ver que nunca houve uma confiança. Cê acha que eu tô querendo te ferrar.

— E por isso vim esclarecer. Não quero ser apunhalado.

— Se você for... não será por mim. Você veio aqui para ter certeza disso?

— Sim.

— Então está feito! Entenda uma coisa: eu te apoio na sua relação com a garota, não porque sei que está dando um tiro no próprio pé, mas porque sei que vocês dois estão sim, interessados um no outro. Eu sempre te disse que ela era complicada, que isso era perigoso, que era loucura... mas deixei claro que se eu tivesse essa oportunidade, eu faria dar certo. Não te mandei chamá-la para sair... e você fez. Te disse que o Zac estava na tua cola... e você saiu mesmo assim. Então é você quem está fazendo tuas escolhas, e eu... particularmente, estou bem orgulhoso delas.

— Bem... acho que de certa forma você tem razão.

— Exatamente. E se quiser saber... sim, ele tinha acesso às câmeras de segurança. Ou seja, se eu não tivesse concordado em te ajudar nessa, ele saberia de vocês dois. Teria saído daquela merda de quarto, seguido vocês pelo caminho, e fotografado seja lá o que estivessem fazendo. E sabe porque eu quis saber como foi a noite de ontem? Porque achei que merecia saber, depois de quase ter apanhado do teu companheiro de quarto. Mas valeu pela confiança e gratidão, me deixou bastante feliz.

Seria bom se Davi dissesse algo em resposta. Se aproximou do rapaz e lhe deu um abraço longo, querendo reconfortá-lo. Era verdade o fato dele não ter amigos, então, era o mínimo que deveria fazer.

— Desculpa... muito, muito, muito obrigada por ontem.

— Você acabou de acusar de falsidade, e agora vem com esse papinho.

— Que foi?

— E se você estiver querendo me ferrar?

Os dois se entreolharam e começaram a rir.

— Me diga como. O que eu poderia usar contra você?

— Sei lá, esquece... eu não te contei nada de mim mesmo.

— Deveria começar, é uma boa forma de otimizar amizades... só falando.

— Vamos aos poucos, parceiro... devagar e sempre.

— Então, voltando a ontem. Porque quase apanhou?

Ernesto teve um breve calafrio ao lembrar.

— Bem... digamos que eu não sabia como distraí-lo. Quer amendoim? — lhe perguntou, alcançando um dos cinco pacotes que guardava dentro da mala.

— Quanto amendoim... quero. Mas, continuando...?

— Ah sim. Ele não queria tirar os olhos do notebook, então eu precisei apelar para algo que o desligasse daquilo, algo que mexesse mais com o emocional.

— Então... — disse ele, sua boca estava cheia de amendoins. — Você deu um soco na fuça dele?

— Até parece que eu faria isso... não, eu lhe dei uma notícia. Disse que o pessoal da recepção queria lhe avisar que a mãe dele tinha infartado.

— Como é?! Ela está bem? Meu Deus...!

— Como você é lerdo... eu inventei isso. Ele saiu correndo e chorando.

— Você não fez isso... — disse, chocado.

— Eu fiz... e por pouco não senti a dor dessa decisão.

— Como conseguiu se livrar?

— Imaginei que se os recepcionistas dissessem que nada havia acontecido com a mãe dele, eu poderia falar que errei o número do quarto. Que outra mãe estava naquela situação, e que eu só quis ajudar. Ele não me bateria por que me enganei, entende? Por sorte, deu certo.

— Você é bem esperto.

— Eu sei que sou.

— Obrigado por pôr a cara a tapa. Significa bastante pra mim.

— Agora você entende que sou um cara bacana?

Davi fez que sim com a cabeça.

— Só pelo sacrifício, vou te contar como foi ontem a noite.

Ernesto sorriu e ergueu as mãos ao teto.

— Aleluia.


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