Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 14
Capítulo 14 - Consequências




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O som esganiçado da porta dos fundos despertou o interesse de Antoine. Ele estava parado na porta do quarto da garota desde que Jonas chegou em casa, tentando agir naturalmente, enquanto os minutos atrasados contavam no relógio. Desceu correndo pelas escadarias e deu de cara com Megan. Seus olhos lhe pediam piedade.

— Megan!? Você perdeu o juízo? Nós tínhamos combinado o horário.

— Eu sei Toinê, sei disso. Me desculpa, vim o mais rápido que pude.

Ele bufou, tentando ao máximo diminuir o tom.

— Jonas chegou há dez minutos e perguntou por ti.

— E tu não disse que eu tinha saído, disse?

— Lógico que não! — ele gritou num sussurro, enquanto a puxava pelo braço até outro corredor. — Contei que você estava no banho! Então acho melhor você subir logo e se enfiar naquele banheiro, menina! Se não... ele vai me matar. Ou pior, me demitir!

— Fica tranquilo que não vou causar mais nenhum problema... eu vou pro quarto...

— Rápido!

A garota já disparava, quando ouviu os passos de alguém vindo em sua direção.

— Não, meu amor. Eu já disse pra ela... e ela aceitou numa boa.

O coração dela quase saía pela boca, enquanto se escondia atrás de um vaso de planta. Jonas estava satisfeitíssimo em fazer de sua vida um terror, e isso podia-se notar pelo sorriso apertado entre as bochechas. Pâmela vinha logo atrás, usando um robe de flanela esverdeado. Passaram em sua frente, sem notarem como ela fazia o possível e o impossível para se camuflar entre as folhas.

— Querido... eu acho que devíamos respeitar a privacidade dela.

— A custo do quê? Você, mais do que ninguém, sabe como ela retribui.

— É uma fase...

— Ela tem vinte anos, mulher! Nessa idade eu...

— Não comece, Jonas. Já ouvi esse discurso muitas vezes.

— Mas é verdade! Essa menina não faz a mínima ideia do que é vida.

— E quer que eu faça o quê?

— Entre naquele quarto... e converse com ela. Se não o fizer, eu faço. Você quem escolhe...

Megan sentiu a pele gelar. Ela parecia um daqueles personagens de desenhos animados, quando os olhos se arregalavam e saltavam para fora do rosto. Se ao menos ela pudesse ir para o quarto sem ser percebida...

Um homem uniformizado vinha até eles e a lembrou da reunião que realizaram naquela noite. Poderia ser sua única chance.

— Sr. Jonas... um dos patrocinadores acabou de chegar. — o empregado dissera e o padrasto ficou abobado como uma criança que ganha doce. Andou pelos corredores com seu charme e elegância exagerados. Pâmela ficou ali, estática, rumando para o quarto de Megan com calma.

Tudo estava perdido.

Psiu! — o som vinha logo atrás. — Psiuuuuuu!

Megan olhou por cima do ombro com pesar. Antoine estava lhe encarando, e trazia nas mãos mais de duas toalhas. Pedia que se apressasse. Implorava que corresse. A conversa rápida saíra em murmúrios.

— Minha mãe está indo para o meu quarto... eu... não sei o que fazer.

— Pega... a ... toalha. — ele dizia, lutando contra os próprios sussurros. — Enrola a primeira no cabelo... e a segunda... você coloca no corpo.

— Mas eu estou de calça! E com maquiagem!

— Vai até um dos banheiros e resolve isso! Não posso fazer de tudo...

— Ok... — ela disse, já saindo. — E ah... Eu amo você!

— Anda logo que sua mãe está voltando, criatura... corre! — ele ordenou, tentando se esconder atrás do mesmo vaso, mas sua altura não facilitava. Megan já havia desaparecido dali e Pâmela então... apareceu no fim do corredor.

— Antoine?

— Sra. Parker?

— O que está fazendo?

— Estou vendo como essas flores são lindas... seria bom se eu as regasse, não seria?

— Seria sim...

— Então vou tratar de regar. Com licença...

— Antoine?

— Sim?

— Você sabe onde a Megan está?

***

Davi gastou sola de sapato na caminhada de volta. Pouco depois de ser abandonado, a chuva veio lhe fazer outra visita. Demorou eternos quinze minutos para chegar ao hotel, e quando o fez, os hóspedes lhe olharam dos pés à cabeça. Ele estava encharcado. A água de suas calças deixavam rastro por onde ele passava. Tratou de secar os pés assim que entrou, mas de nada era útil. O estrago já havia sido feito.

Entrou no quarto sem direcionar o olhar até Zac, mesmo sabendo que ele o estava analisando. Soltou grunhidos de cansaço e foi tirando a roupa molhada, até ficar apenas de cueca. Havia gotículas de chuva em suas costas e braços, e o ar-condicionado do ambiente fazia com que tremesse de frio. Não tomaria mais um banho, ainda mais em uma hora como aquela. Vestiu uma camisa de pijama e uma calça de moletom, entrando debaixo das cobertas. Já tentava fechar os olhos, quando Zac não suportou mais ficar calado.

— Tomou um banho dos bons, não foi?

— Aham... cara, o mundo tá caindo lá fora.

A simpatia bizarra de Davi o pegou de surpresa.

— E... você não foi de táxi... aonde quer que tenha ido?

— Não, eu precisava caminhar um pouco.

— Tem caminhado bastante ultimamente.

— Não sou bombado como o resto do grupo. Paciência...

A boa vontade excessiva o estava deixando confuso.

— Você voltou... bem tarde, né?

— Aham... é bom conhecer um pouco do Rio. Vim poucas vezes aqui.

— E... foi sozinho?

— Infelizmente... — ele deu um suspiro. — É chato fazer essas coisas sem companhia.

Aquilo já estava virando paranoia.

— Tá tudo bem contigo?

— Sim e com você? Tudo bem?

— Porque não está mandando que eu cuide da minha vida?

— E deveria?

— É o que você sempre faz... por isso é estranho.

— Eu só não quero mais arranjar problemas. O reality começa logo...

— Érr... é inteligente que não queira.

Davi conseguiu espichar um sorriso forçado.

— Fico feliz que estejamos nos acertando.

— Você está até feliz demais, pelo o que parece...

— Estou, né? Acho que é o sentimento que fica pouco antes da estréia. — ele dizia, empolgado, antes de deitar a cabeça nos travesseiros e largar um bocejo. — Boa noite aí cara...

Zac o observava como se fosse a pessoa mais bipolar do mundo. Ainda mexia no notebook e a luz projetada em seu rosto lhe deixava com aparência alienada. Davi estava largando as defesas e com o passar do tempo, isso podia lhe ser muito favorável.

— Boa noite. Quer que eu apague a luz?

— Por favor...

Debaixo dos cobertores, o jovem alcançou o celular para mandar duas mensagens. O sono lhe pegara de vez... sabia que não duraria muito. Primeiro, selecionou o número de Ernesto. Nem tinha como lhe agradecer pelo o que tinha feito. Escolhera bem em quem confiar.

"Muito obrigado por hoje Nêne! Fico te devendo essa."

Em seguida, o número da garota que lhe fez companhia a noite toda.

"Aposto cinco pila que vou sonhar com aquele teu beijo... e com a forma linda que me deu teu último, antes de fugir naquele táxi. Hahaha. Obrigado por me acompanhar, adorei conhecer um pouco mais da sua sofrida infância. Espero que consiga ótimas falsas desculpas e saia de fininho quando te pressionarem. Durma bem e durma logo, não quero ver olheiras nessa tua pele perfeita. Boa noite... e beijos. Muitos beijos...".– ele escreveu, e então percebeu que talvez pudesse ter passado um pouco dos limites. Já conseguia ouvir a voz de Ernesto ecoando em sua cabeça. "Desesperado, Davi, desesperado demais."

Devido a essas circunstâncias, apagou tudo o que escrevera e digitou novamente.

"O gosto da tua boca ficou impregnado na minha... acho que não escovarei mais os dentes.". - ele escreveu numa gargalhada silenciosa e percebeu quão patético era. Desta vez, queria socar o próprio rosto. Reescreveu a mensagem mais uma vez.

"Obrigado pela noite, ''pouca sombra'', espero que haja uma próxima vez. Tenha bons sonhos e uma boa sorte em tentar negar o que aconteceu... porque por mim, eu não esqueceria. Se cuida. "

Apertou em enviar e esperou que recebesse a confirmação, livre para se entregar de corpo e alma ao sono. Espiou Zac por uma fresta das cobertas e viu que o olhar estava fixado no celular que ele acabara de colocar no criado-mudo. Não seria tão burro a esse ponto... então, alcançou o aparelho pela última vez e apagou o histórico de sms, sorrindo profundamente. As pálpebras pesavam e ele não media mais esforços em mantê-las. De um instante para outro, foi tomado pela total escuridão... e logo iluminado pela nublina de um sonho. Um sonho agradável... que o fez sorrir enquanto dormia.


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