Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 13
Capítulo 13 - Distância mínima


Notas iniciais do capítulo

Escrito com muitíssimo carinho... sejam felizes. hahahaha



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Ernesto já escutava o som de passos apressados vindo na direção do quarto. Fechou seus olhos e deu um longo suspiro, tentando fazer a maior atuação que conseguisse. Zac apareceu diante a porta, furioso, e vinha até ele.

— E aí cara, tá tudo bem com ela? Tomara que...

— TU TÁ TIRANDO ONDA DA MINHA CARA? — ele berrava, segurando o rapaz pela gola da camisa, enquanto o fazia tropeçar nas próprias pernas. — QUERIA ME FERRAR? HEINNN? MINHA MÃE, PARA O SEU AZAR, ESTÁ ÓTIMA.

— Mas é um milagre! Eu fico muitíssimo feliz com a notícia.

— QUE MERDA CÊ VEIO ME DIZER?

— Eu - eu... este aqui não é o quarto 101?

— ESSE É O QUARTO 104, SEU FILHO DA ****.

— Ai meu Deus! — sua expressão era de choque. — Me desculpa.

— DESCULPA PORRA NENHUMA, VOCÊ ESTRAGOU TUDO.

— Eu achei que era 101. Eu só queria ajudar... ah....

— Deixa eu te dizer um negócio, parceiro... você não vai querer me ter como inimigo. Acredite, eu falo sério. Saia deste quarto e não dirija mais a palavra para mim, antes que eu perca a cabeça. SAAAAAI!

Ele saiu dali sem hesitar, enquanto Zac batia a porta com toda a força, logo atrás. O som ecoava pelos corredores, e o silêncio de em seguida fez com que Ernesto se sentisse tonto, como se não pudesse acreditar.

"Estou vivo..."– ele notou, passando as mãos pelo corpo. "Sem hematomas".

Ergueu os braços para o céu e fez sua prece pessoal, antes de retomar caminho até seu quarto. Sabia que era um bom amigo, e um cara legal... por isso, não entendia como ninguém se interessava por ele. Se olhou no espelho e viu que nem o rosto, nem o corpo eram feios. O sorriso era bonito e os olhos carregavam muita coisas... coisas que não se dispunha a falar. Se deitou na cama, após uma experiência de quase morte e passou a ver as coisas de um modo diferente. Olhou janela a fora, percebendo que a Lua estava bastante brilhante. Fez um pedido para ela, mesmo sabendo que era quase impossível de se realizar. "Um amor... pra ver se amolece meu coração de pedra..."– ele pediu, deitando a cabeça nos travesseiros e adormecendo pouco depois.

***

A ventania do lado de fora da sorveteria alcançava enormes proporções. Os quadros sacudiam e guardanapos voavam, com algumas gotículas de água nos vidros. Carros buzinavam e as pessoas se apressavam, como se pudesse fugir da chuva. Devido a essas circunstâncias, os dois optaram por continuarem sentados e dispostos a conversarem sobre detalhes de suas vidas.

— [...] mas tipo, foi sacanagem. Não tinha a menor necessidade de cortar o meu barato, mas nãoooo... capaz que Dona Rita iria pensar nisso. Então se aproximou, com aquele olhar que só ela tinha, e disse como que estivesse prestes a me derrubar de lá: —"Davi... SAI AGORA DESSA ÁRVORE". Foi quando o galho começou a entortar... e entortar... até que se quebrou. Fim. E essa é a história de como eu quebrei o braço tentando alcançar as bergamotas, depois disso... nunca mais as comi.

— As bergamotas não tem culpa nenhuma.

— Elas me deixaram com gesso por quatro meses! Eu deixei de ir em brinquedos infláveis no 12 de outubro. Eu parei de desenhar. Não pude participar da Educação Física, e tomava banho com uma sacola enrolada no braço. São meses terríveis para uma criança que gosta de explorar e se divertir.

— Que dó que eu tô... pobre Davi! — ela zombava, tomando um gole de seu suco, enquanto percebia os olhos dele cravados nela. — Sempre gostei de frutas, mas nunca suportei legumes. Se tem um que eu detesto de verdade, é beterraba!

— Beterrabas são gostosas.

— Não são! Quando eu tinha sete anos, minha mãe estava tão fascinada por estrear seu programa de tevê, que contratou uma babá para cuidar de mim, porque não tinha mais tempo. Jonas estava na Marra e Antoine, aquele amigo que te falei antes, ainda não tinha sido contratado, ou seja, fiquei com a babá...

— E ela te levou até um árvore com uma cesta de beterrabas e te empurrou de lá?

— Não...

— Então não é tão terrível.

— Claro que é... escuta essa. Essa babá me obrigava a tomar três copos de suco de beterraba por dia. Ela batia no liquidificador e me entregava com a cara mais diabólica do mundo. E quando eu dizia não gostar do gosto, ela dizia que ia contar para minha mãe que eu era uma garota má e que não tinha me comportado.

— Mas que capeta!

— Pois é!

— Eu tava falando de ti, mas tudo bem. E daí?

— Teve um dia que eu vomitei só de sentir o cheiro do legume, e foi aí que eu percebi que não estava fazendo nada errado em não querer. Todas às vezes que ele me entregava, eu esperava ela sair e despejava o suco todo no vaso sanitário, dando descarga, e voltando correndo para a minha poltroninha. Demorou um bom tempo para que ela percebesse que eu não chiava mais antes de beber. E então... ela contou para a minha mãe... O fim da história? A babá foi demitida.

— Tadinha, cara...

— Sim! Sofri tanto nas mãos dela...

— Eu tava falando dela, mas tudo bem.

— Quer parar com isso? — ela ria, dando tapas fortes no ombro do rapaz. — Tá pegando no meu pé desde quando?

— Desde que fiquei sabendo que nós nos gostamos.

— Justo...

— Falando sério agora, eu tô muito feliz em estar aqui contigo.

— Aé? Achei que tinha me ligado apenas por educação...

Davi abrira um sorriso acanhado.

— Eu quis te ligar assim que você saiu...

— Ah, mas aí também seria muito desespero.

"Valeu Nêne". - ele comemorou em silêncio.

— Tu também não se decide hein... mulheres são bixos complicados.

— Não... é que nós esperamos o equilíbrio perfeito entre grude e frieza.

— Então, se eu ligasse logo... seria grudento. E se demorasse... seria frio?

— Aham.

— Vocês piram na batatinha.

— E por isso somos tão especiais. Não é verdade?

O olhar de "se eu fosse você, diria que sim", fez com que ele risse.

— Tem toda a razão... vocês são todas perfeitas.

— Não exagera... nesse caso, você precisaria me achar mais perfeita que as demais. Entende o que eu quero dizer?

— Ah... então é daí que surgem as desconfianças e os ciúmes? De coisas sem importância que dizemos sem perceber? Caramba... tô começando a entender um pouco da lógica nada lógica de vocês.

— Cala a boca e come. — ela bufou, movendo uma colher com sorvete até a boca dele. Ele a abriu, sentindo o gosto gelado indo direto à sua garganta. Era bom... uma mistura derretida de napolitano e uva. — Viu só, fica mais bonito quando está em silêncio.

— Valeu.

— Disponha.

— Ah... mas me conta: como é ter pais conhecidos em todo o mundo?

— Frustrante e complicado ... mas, eu acabo tendo direito as minhas regalias...

— Como uma jacuzzi no seu quarto?

— Tipo isso... — ela riu. — Jacuzzis são ótimas.

— Nunca tive uma... desculpa. Que bizarro né. Davi esquisitão.

— Super esquisitão. E tapadão também...

— Claro. Eu sou sim.

— Mas eu gosto de gente esquisita... me julgue.

— Eu não te julgaria... até porque, eu tenho um gosto pior.

— Lá vem bomba... mas então... conte-me mais sobre isso.

— Tudo bem. Eu estou gostando de uma garota... ela é linda, divertida, inteligente e bastante irônica. Mas ela tem um problema sério. E imperdoável... eu simplesmente não sei como lidar. Não posso conviver com algo tão terrível.

Megan já estava sentindo-se ultrajada.

— Qual o problema dessa garota incrível então?

— Ela nunca assistiu Senhor dos Anéis! Dá pra acreditar numa coisa dessas? — ele quase berrava, batendo as mãos na mesa, vendo ela suspirar de alívio. — Não tem como ignorar algo assim, mano... não tem! Senhor dos Anéis é épico, quase um clássico... não posso seguir com uma garota que nunca sequer viu.

— Eu só nunca tive interesse, cara... é tão terrível assim?

— Não fala esse tipo de absurdo na minha frente...menina. Eu nem consigo respirar direito só de pensar no vazio enorme que você deve ter aí dentro... não tem noção, não?

— Ok, eu assisto essa porcaria de filme...

— Valeu! Pelo menos alguma decisão inteligente.

— E onde eu encontro pra alugar? Não conheço muitos lugares por aqui.

— Eu baixo na internet hoje a noite e a gente marca de assistir juntos! Combinado? Não vai recusar um convite feito com tanta animação, vai?

— Não... eu assisto contigo.

— Yes!

— Por curiosidade... você já assistiu quantas vezes?

— Umas... sete ou oito, cada filme.

— Você me assusta...

— Eu sei. É bom que tenha medo de mim mesmo...

— Por?

— Eu prometi a mim mesmo que me vingaria.

— Se vingaria de mim?

— Aham.

— Por quê? Que foi que eu fiz?

O garoto apontou para a marca de um corte, quase imperceptível, debaixo de tanta maquiagem.

— Todas as manhãs... eu preciso passar pela humilhação de colocar base e pó compacto no meu rosto. Minha virilidade está perdendo feio... e diante a isso, você merece uma boa vingança. Pode não ser hoje... ou amanhã. Mas eu me vingo.

— Me sinto ameaçada...

— É bom que sinta mesmo... mas, a chuva passou. Vamos?

— Aham... quando ficou? — perguntou, já se movendo para o caixa.

— 500 pila o seu, e 2 pila o meu.

— Engraçadinho... eu falo sério.

— Vai pra fora, Megan. Permita que eu cumpra meu papel como homem.

— Eu quero pagar o meu, pode ser?

— Não. Me espera na saída.

— Okay... coloco na sua carteira mais tarde.

— Não se depender de mim. Só xispa daqui, ô pamonha.

Davi pagou a conta às gargalhadas, saindo da sorveteria, até ir ao encontro de Megan. O céu ainda estava nublado e o vento soprava forte, mas a chuva já cessara de cair. Ele foi se aproximando, até que viu que horas eram no relógio.

— Viu que já são 23h?

Os olhos de Megan se arregalaram.

— Tudo isso? Mas... nossa, tudo pareceu tão rápido.

— Eu não me importo... gosto de passar o máximo de tempo contigo.

— Eu também, mas... caramba, já são 23h.

— E qual o problema? Tem hora para voltar?

— Tenho...

A surpresa de Davi lhe deixava mal.

— Você é maior de idade.

— Meus pais têm outra lógica...

— Ele não é seu pai...

— Mas é como se fosse. Que merda! Eles farão fiasco.

— Por quê? Você disse que viria para cá e... — observou a cara de quem tinha aprontado que a garota fizera. — Você não avisou que viria, isso?

— É... digamos que eu tenha fugido e deixado Antoine me dando cobertura.

Davi não podia julgá-la, de uma forma ou de outra, ele havia feito a mesma coisa.

— E precisa voltar correndo? Quer dizer... não banque a Cinderela. Por favor...

— Eu disse para o Toinê que voltaria às 22h30.

— São só meia hora de atraso... fica aqui dessa vez.

— Eu... não posso arriscar! Por favor... assim não vou poder te encontrar de novo. Eu preciso manter a confiança do Jonas. A minha vida já é um caos! Daí você aparece e tudo fica confus...

Pôde sentir seus lábios colando no dele, enquanto mãos a puxavam pela nuca. A língua de Davi tocou na dela com voracidade e todas as barreiras entre eles foram desaparecendo. O vento os rodeava com força, e os braços dele faziam com que sentisse minúscula e frágil. Seus dedos compridos roçavam nas costas, até que chegassem em sua cintura, e a boca dele era quente, tomando todos os seus medos e inseguranças.

Tudo ao redor pareceu congelar, e o tempo era todo deles. Os ritmos cardíacos se elevavam e as pernas perdiam força todas às vezes que seus corpos se encontravam. Ele a beijava com rapidez, e em seguida diminuía a velocidade, como se não tivesse pressa. Como se não estivessem condenados aos ponteiros do relógio, como se eles pudessem fazer o que quiserem, sem pensar nas consequências. Como se por um instante, perdido no espaço, ele não estivesse na disputa pelos sonhos e ela não fosse uma Parker. Como se... tudo fosse mais fácil.

— Agora... se quiser fugir de mim, não vou te impedir. — ele sussurrou no ouvido dela, fazendo com que todos os pêlos se arrepiassem. — Obrigada pela noite... eu me diverti muito.

— Eu também... muito mesmo.

— Então... acho melhor que volte antes das 12 badaladas. Boa sorte...

Megan sorriu.

— Obrigada... se eu me atrasar mais, a culpa é toda sua. Táxi! — ela gritou, e o carro encostou na calçada. Ela olhou para Davi mais uma vez e o beijou, firmemente, antes de entrar no banco de trás. — Boa noite. — disse com um aceno, virando-se para o taxista. — Hotel Royal Tulipa.

E ela já desaparecia de sua vista... seguindo pelas ruas da cidade.


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