Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 12
Capítulo 12 - Mais do que deveria


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse capítulo foi aguardado. Não se preocupem, a continuação já está sendo preparada. E com carinho... hahaaha



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Davi estava pronto meia hora antes do planejado. Sabia que era apenas uma sorveteria... mas não se tratava de apenas de uma garota. No ano de 2005, ele comprou um perfume francês em uma loja de cosméticos, bem longe de onde morava. Desde então, nunca o havia usado, pois sempre esperava o momento certo. Bem... o momento era esse. Ele já havia tido um ou dois relacionamentos sérios durante todos esses anos, mas nunca se sentiu tão... encantado com alguém, como se sentia com Megan. Ela tinha algo diferente... algo único. Megan Parker era o desafio que se propôs a ganhar.

Faltavam dez minutos... o tempo perfeito até que Ernesto chegasse no quarto. Davi se olhou no espelho mais uma vez, se sentindo confiante o suficiente para sair por aquela porta e rodear os braços pela cintura dela, como se pegou imaginando tantas vezes nessas últimas 72 horas. Deu um suspiro longo e colocou a carteira no bolso.

— Onde está indo? — Zac estranhou, tirando por uns instantes os olhos da tela do notebook. Analisou Davi dos pés à cabeça e respirou o ar perfumado que vinha em sua direção. Ele não pareceu se importar. O celular em sua mão vibrou, com um alerta de sms. "Estou levando bases para unhas, twister, e a primeira temporada de Gossip Girl. A noite dos garotos vai ser irada. Divirta-se."– estava escrito.

— A nenhum lugar... — ele grunhiu como resposta à Zac, dando meia volta e rumando até a porta. Assim que saiu, o rapaz de olhos azuis voltou correndo até o notebook e inseriu um código, tendo acesso às câmeras dos corredores e assistindo Davi entrar no elevador.

"Pode fugir, mas não pode se esconder"– ele esbaforia. – "Eu estou de olho em você, pequeno gafanhoto...".

O som de batidas na porta atrapalhou seus pensamentos. Que retardado estava disposto a ser socado repetidamente, até cair no chão frio e duro de seu quarto? Se levantou da cama, com a cólera acima do normal, sabendo que perdia preciosos segundos de espionagem.

— Olá... — um dos participantes, lhe disse com calma. — Boa noite.

— Posso te ajudar em alguma coisa? O que é que você quer?

— Eu fiquei sabendo que você trabalha em uma grande empresa de São Paulo. Puxa vida... posso entrar?

— Eu estou meio ocupado para conversar agora.

— É só um minutinho.

— Cara... de boa... eu não posso gastar esse 'minutinho'.

Ernesto sorria com força, desesperadamente tentando lembrar de algo que poderia falar em seguida. A mente estava em branco e tudo o que conseguia fazer era manter aquele sorriso duradouro... esperando uma reação da parte dele.

— Ah... mas sou eu! Você pode abrir uma exceção...

— E você é...?

— Ernesto Lacerda.

— Falou aí, cara. Volta daqui a quinze minutos e a gente conversa.

— Não... eu preciso falar contigo agora. É que... eu deveria ter falado antes, mas não sabia como começar e...

— Me diga em outro momento. — ele dizia, tateando os pés no chão. — Foi mal, mas eu estou em um assunto mais urgente que o seu. Passar bem e...

— A sua mãe teve um infarto.

Os olhos de Zac arregalaram. Seu mundo parecera ficar cinza, de um segundo para o outro e a expressão do rosto era distante, enquanto a boca murchava. A voz não era firme como a pouco tempo atrás.

— Quê? — ele perguntava, o lábio superior temia.

— Ligaram na recepção querendo falar contigo, e... eu me ofereci para te avisar. Eu sinto muito... muitíssimo... entendo como deve estar.

— Mas... — os olhos já enchiam de água. — Ela... ela...?

— Disseram que conseguiram reanimá-la! Os médicos estão na linha do primeiro andar. Ela está em observação ainda por enquanto, mas quer muito falar contigo. Se você pudesse descer lá e...

Zac saiu do quarto às pressas, correndo como nunca antes. A respiração quase não saía e o desespero tomava conta dele, enquanto voava pelas escadarias, rumando para o primeiro andar.

"Ernesto... você pegou pesado."– pensou ele. "Você vai pro inferno."

Aproveitando a ausência do rapaz, ele abriu o notebook. Percebeu que um funcionário já deixava o carro de Megan no estacionamento privado e que Davi e a garota de cabelos loiros sorriam um para o outro, dando partida à caminhada e sumindo do alcance das câmeras. "Boa sorte, mano"– ele sussurrara, enquanto se sentava no outro canto do quarto, aguardando o retorno de Zac. Tinha medo do que aconteceria a seguir, quando a mãe dele não tivesse infartado. Seu rosto perfeitamente moldado corria risco de deformação, e ele tinha consciência disso. Davi pagaria a sua assistência médica, ô se pagaria.

***

O vento soprava forte e os cabelos compridos dela voavam na mesma frequência. Usava um casaco-moletom e uma calça preta que realçava suas coxas, vestida de uma maneira tão vulnerável que por pouco tempo esquecera estar falando de uma Parker. Estava linda, como nunca antes. Cheirava bem e seus olhos reluziam as luzes dos lampiões, enquanto caminhavam pelas quadras que restavam.

— Então...?

— O que foi?

— Quando eu te liguei... não estava vestindo nada mesmo?

Um empurrão fez ele cambalear para fora da calçada.

— Qualé... seja sincera.

— Se realmente quer saber, não, eu não vestia nada. — ela sorriu, vendo-o corresponder. — Você entrou na minha vida apenas para me atrapalhar, cara... primeiro você me faz achar que seria assassinada. Depois, me faz cuidar de um cortezinho de nada, ocupando a manhã toda. E agora... poxa... interrompe meu banho e me faz caminhar por tudo isso aqui. — apontara para a frente, lhe lançando um olhar de socorro. — Você é uma bagunça!

— Obrigada pelas belas palavras... é uma honra, de todo o coração. — ele assentiu, vendo-a colocar uma mecha de cabelo por trás da orelha. — Eu nem ia te ligar, sabe... achei que você não merecia. Demorei um pouco para me tocar que tinha pedido teu telefone e seria falta de educação se eu não cumprisse o combinado.

— Ah... obrigada por me contar sobre seu desinteresse.

— É recíproco?

— Lógico que sim... pff... ficaria chato se eu negasse teu convite né. — ela dizia, virando na esquina enquanto eles procuravam a faixa da sorveteria. — Além de que, eu precisava compensar o estrago que eu fiz no teu rosto, que inclusive... — ela fez uma pausa, colocando os dedos na bochecha dele e tocando sua pele com cuidado. — Está muito melhor... graças a mim.

— Nisso você tem razão, eu nem sinto mais dor.

— Viu só... a Megan sabe fazer algo direito.

Uma leve curvatura podia-se notar nos cantos dos lábios do garoto.

— Você também é uma bagunça então, nós somos uma bagunça.

— Não posso negar que está certo... nós somos uma bagunça.

— Agora que eu e você estamos a sós, podemos nos conhecer um pouco melhor? — ele perguntou, logo avistando o lugar de destino. — Como por exemplo... como era sua vida lá no exterior?

— Maravilhosa... — ela refletiu, vendo que Davi segurava a porta de vidro, esperando que passasse. — Ai que cavalheiro! Eu hein...

— Eu sou um menino de ouro. Acho que já deve ter percebido...

— Enfim... eu nunca tive muitos amigos, mas tive vários admiradores. — ela contou, sentando-se em uma mesa bem arrumada. — Sabe quando você sabe que todos que lhe direcionam a palavra, pouco se importam como você está? Que tudo o que desejam é por interesse, que cada atitude é forjada e mega-calculada?

— Não. Mas estou começando a vivenciar.

— Tomara que só venham coisas positivas desse reality-show...

— Eu duvido muito! Se continuar como estou... serei banido.

— Por quê? Não faça nada estúpido!

— Já fiz. Olhe aonde eu estou... — ele lhe deu um toque de realidade, a fazendo estremecer na cadeira. — Mas eu não me importo nenhum pouquinho. Algo me diz que vale a pena me arriscar por você...

— Por mim? Eu sou a última pessoa por quem alguém deveria se arriscar.

— Não... você é especial. Não se coloque para baixo.

Megan ergueu seu olhar, de encontro ao dele. Engoliu em seco.

— Eu sou uma pessoa desastrada.

O garoto estendeu a mão devagarinho, acariciando a dela como na última vez. Abriu um sorriso tímido e se concentrou no movimento que os lábios dela faziam.

— Você tem toda a razão... e esse teu desastre me fascina. Agora... vamos lá tomar nosso sorvete. Sabe que... desde que eu era pequeno, gosto do sabor chicletes? São os melhores na minha opinião. — ele se levantou, sem soltar sua mão da dela, e a trazendo para perto de si, enquanto pegava uma concha e admirava o buffet de sabores. — Quais você quer?

— Flocos. Napolitano. Uva. Ferrero Roche. Com calda de chocolate e pedaços de fruta por cima. Ah, e coloca granulado também! E um pouco de leite condensado. É, e pega uma colher a mais para mim, eu sempre acabo quebrando uma delas.

Davi a encarava com uma expressão neutra, enquanto franzia o cenho.

— Como é que é?

— Sai do meu caminho que eu me sirvo! — ela riu, o empurrando para trás, enquanto se espremia para passar entre o corpo dele e a mármore do balcão. — Não sabe nem acompanhar o meu ritmo.

— Me perdoa se eu fiquei chocado com a quantidade de calorias que irá digerir.

O olhar de "cuidado com o que diz" veio antes que ele esperasse.

— Me espera na mesa, já que pesou o seu potinho com uma bola de chicletes. Fica querendo parecer menos faminto na minha frente, né...

— Pffff... claro que não.

Ele estava mentindo. Megan trouxe seu pote com sorvete de todas as cores e se sentou em sua frente, quebrando a primeira colher assim que tentou partir a calda grossa de chocolate.

— Ah... merda. Viu só, essa é a Megan que os noticiários não mostram...

— Quer que eu seja sincero? — ele sussurrou. — Eu prefiro mil vezes essa do que a outra.

Davi precisava parar urgentemente de fazê-la ficar bem. Aquilo estava ficando perigoso demais... Megan estava gostando demais. Precisava de um fim.

— Você nem é tão otário como eu imaginava.

— Puxa... obrigada.

— Eu falo sério, quer dizer... você é diferente. Muito diferente dos outros caras com quem já sai.

— Melhor do que a cambada toda?

Ela riu, tocando a mão dele, lembrando de como ele havia feito antes.

— Esquece a cambada... você só é o melhor.

— Tá falando... sério?

— Quer dizer... enquanto você não estraga tudo, né. Porque sempre tem uma cagada que a gente descobre, e daí o tu entra para a lista dos babacas sem coração.

— Eu não vou entrar nessa lista... se depender de mim, Megan. Eu não sou um babaca como todos aqueles idiotas que te perseguem. Eu te acho incrível e sei que todos temos os nossos defeitos. É muito mais provável que você se canse de mim, do que a capacidade de eu magoar você. Pode acreditar...

— Para de ficar sorrindo pra mim, cara. Por favor...

— Já estraguei tudo?

— De certa forma... sim! Você está estragando todos os meus planos!

Ele concordou, dando um leve suspiro de frustração.

— Seus planos... né. Quais planos?

— Eu não queria gostar de ninguém por muito tempo, e...

Um frio intenso vagou pela barriga do garoto...

— Você está dizendo que...

— Eu gosto de você, Davi. Mais do que deveria. Mais do que eu posso suportar.

A voz dela saía num sussurro, como se estivesse contando seus piores pecados. O garoto a observava levemente, e um sorriso seu foi suficiente para confortá-la. Tocou sua mãe novamente, entrelaçando seus dedos com os dela, desta vez.

— Quer tentar?

A cabeça da garota girava como centrifugadora. Os dedos começavam a suar.

— Tentar o quê?

— Megan... você é a garota mais linda e sensacional que eu já conheci. — ele disse, fielmente tentado a se aproximar um pouco mais. — Não estou exagerando... eu também estou gostando de você, loira. Mais do que deveria. Mais do que posso suportar...

— Me diga que está falando a verdade.

— Eu estou falando a verdade.

— Me diga que não vai me machucar.

— Eu jamais faria uma loucura dessas.

— Me diz que você vai me beijar loucamente quando sairmos daqui.

Eu vou te beijar loucamente quando sairmos daqui.


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