Caminhos Cruzados - Davi e Megan escrita por Alexia Lacerda


Capítulo 11
Capítulo 11 - "Alô?"


Notas iniciais do capítulo

Para vocês que estão acompanhando, cês são incríveis. Tá na mão:



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Davi entrou no quarto, sentindo-se três quilos mais gordo. O lugar ainda tinha um astral péssimo, dado pela presença de alguém indesejável estirado na cama da frente, lendo uma revista. A convivência com Zac era ótima quando nenhum dos dois trocava uma palavra, porque do contrário, não teria dó quando quebrasse seus dentes. Ele colocou um travesseiro atrás da cabeça, antes de deitar e rezar que a comida do almoço descesse pelo lugar certo. Se sentia mais pesado que o normal.

Colocou a mão dentro do bolso e puxou seu celular, feliz que havia conseguido esperar três dias antes de ligar. Já tocava nos dígitos, prestes a telefonar, quando a voz de Zac fez um gosto amargo subir pela garganta. Ah, como ele odiava dividir o quarto com aquele cara.

— Encheu bem o bucho? Está com uma cara péssima.

Davi cerrou o punho, tentando contar até dez para conter a raiva.

Ele não seria idiota de falar com Megan na frente dele. Não o conhecia, para saber do que era capaz de fazer. Optou por ignorar completamente a asneira que acabara de ouvir, e sair daquele quarto, indo para um lugar mais isolado e seguro. Ele levantou com dificuldade e foi fazer exatamente o que pensara, quando a mesma voz fez com que travasse.

— Você me intriga... — ele disse, com os olhos fascinados no celular de Davi. — Todas às vezes que vem para esse quarto... não fica mais do que dois minutos. Isso é muito... muito interessante. — o computador estava do seu lado, e, mesmo que Davi não conseguisse enxergar, todo movimento das pessoas no hotel, passavam ali na tela, em forma de vídeo. — Sabe que, eu adoro coisas interessantes?

A cada segundo, Davi se impressionava com a amplitude de seu auto-controle.

Saiu do quarto e fez questão que Zac visse o dedo comprido que ele apontara. Quando percebeu que prendera sua atenção, bateu a porta com força, fazendo o som ecoar por todos os corredores. "Vai ser um prazer te detonar em um programa ao vivo..."– ele se deliciava, sorrindo sorrateiramente até enxergar a placa que indicava o terraço, logo ao lado dos corredores. "Terraço/ Piscina/ Churrasqueira - 13º andar.". E era para lá que rumava.

Destrancou a porta de madeira com a chave, já pendurada na fechadura, dando passos calmos até o parapeito do lugar. A vista era sensacional e a altura horripilante. Podia observar as pessoas que entravam no hotel dali, e as miniaturas de pessoas que se banhavam na praia. Odiaria se aproximar demais da barra de segurança...

Trancou a porta, para garantir que ninguém como Zac o estivesse seguindo, e se sentou em uma espreguiçadeira, segurando o celular como se fosse sua vida. Leu o nome do contato aberto na tela e tentou deixar o nervosismo se esvair. Assim... digitou os números até que chamasse.

— Alô? — a voz dela atendeu a chamada e ele entrou em transe.

De um instante para o outro, as palavras secaram na garganta.

Não entendia porquê tinha feito, mas bateu o dedo para encerrar a ligação.

***

Megan estava prestes a entrar no banho, quando o celular começou a tocar. O número era desconhecido... Esquecera do banho e da hora, pensando que talvez podia ser ele. Atendeu com uma rapidez surpreendente, e pôde ouvir uma respiração quase ofegante do outro lado da linha. "Alô?" — ela tinha dito, mas desligaram na sua cara. Só podia ser brincadeira mesmo. Perdera meio segundo de seu tempo. Já havia entrado no box quando lhe ligaram mais uma vez.

— Alô!?

— Oi... aqui é o Davi. Se lembra de mim?

O estômago foi atacado novamente pelas malditas borboletas.

— Eu me lembro de vários, se te interessa...

— Então eu sou aquele de óculos.

— Óculos escuros? De grau? Espelhado? Desculpa...— ela riu. — É que na verdade... eu tenho muitos "Davi's" em mente agora. Altos e baixos, musculosos e relaxados, negros e brancos... poderia ser um pouco mais específico? — A risada debochada dele chegou em seus ouvidos logo em seguida.

— Dica: você me maquiou há três dias atrás.

— Ah não... — protestou. — Só pode ser o otário da bochecha inchada.

— O próprio! — zombou. — Tá muito ocupada agora?

Ela olhou ao redor, e em seguida para o corpo despido.

— Eu estava prestes a abrir o chuveiro...

— Ah... Jesus! Manda uma foto pra este número?

— Cala a boca!

A risada dele fazia com que seus músculos perdessem força. Ela sorria e as pernas bambeavam, como se estivesse derretendo. Fechava os olhos e se colocava a escutar o som... apenas a escutar.

— Desculpa ter empatado seus planos... se quiser, pode desligar o celular.

— Não... quê isso? Estou sem pressa alguma.

— Então me garanta que está com toalha... não fique estimulando a minha imaginação...

— Tu é um idiota. Eu já te disse, não é?

— Sou um "idiota"...? Só isso que tem em mente?

— E estúpido. Chato, imbecil, babaca ...

— Tudo de ruim... ?

— Tudo de ruim.

— Isso pode soar estranho, mas... você sairia comigo? Mesmo assim?

— Sairia.

Agora o riso se tornava recíproco.

— Você fez um idiota feliz agora.

— É bom fazer uma caridade de vez em quando...

— E tem planejamentos para hoje a noite?

— Assistir televisão e me entupir de sorvete.

— Putz... não sei se supero algo assim.

— Provavelmente não.

— É...

— Mas pode tentar...

— Ok... gostaria de... não sei, jantar comigo?

— Jantar engorda muito...

— E sorvete não, poxa... tá de parabéns...

— Aham!

— Então nós podemos tomar sorvete, magricela. Tanto faz...

— Não é tão má ideia assim.

— Uia... e eu achava que sair comigo era uma má ideia.

— E é... mas eu não me importo.

— Gosta de fazer burrices?

— Se a burrice valer a pena...

Ela não podia ver, mas sabia que ele abrira um sorriso.

— Tu podia começar a responder minhas perguntas com "sim" ou "não".

— E porque deveria?

— Porque eu não precisaria te superar nos argumentos...

— Ah... o teu negócio é vencer.

— Exato!

— Espero que sim... você merece.

— Aê! Um elogio seu. — ele gargalhou. — É pra glorificar de pé!

— Bom, deixa de papo furado... aonde vamos nos encontrar?

— Você vai direto ao ponto, hein...

— Só me responda, peste.

— Não sei... não quer que eu vá te buscar?

— Não! — ela dissera, quase num berro. — Que tal atrás do teu hotel? Deixo meu carro no estacionamento e saímos, caminhando. Tem uma sorveteria a umas quatro ou cinco quadras dali.

— Por mim tudo bem.

— E... que tal às 20h?

— Ás 20h está ótimo. Então era isso, Megan. Já pode tomar teu banho...

— Obrigada.

— Eu te ligo qualquer coisa...

— Aham... a gente se vê.

— Nada de "a gente se vê". Até de noite!

— Eu não vou te deixar plantado, bonitinho...

Um silêncio breve tomou conta da ligação.

— "Bonitinho"? — disse, como resmungo. Essa doeu.

— Até de noite, Davi...

— Até de noite... — ele dizia, com a voz embargada. — Tchau...

— Tchau...

Fim de ligação.

***

— UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU! — ele gritou.

Foi o suficiente para que alguns pedestres achassem que ele pularia. Davi se recolheu do parapeito, caminhando diversas vezes pelo terraço, indo a lugar algum. Estava contente consigo mesmo. Contente com o que a vida estava lhe proporcionando. Alguém como Megan, respondendo que sim a um convite pra sair. Era loucura!

Olhou para o relógio e percebeu que tinha cerca de sete ou seis horas até esperá-la atrás do hotel. Respirou fundo e saiu dali, andando vagamente até o quarto 110. Davi bateu na porta, e quando alguém a abriu, entrou em disparada, sentando-se em uma cadeira.

— Nêne... ela disse sim.

— Calma aí... pera... me explica direito.

— Eu liguei pra ela... ah, nem vem falar nada que hoje é o terceiro dia.

— Sem stress... continua.

— Eu liguei e ela me disse que tava entrando no banho.

— Uooou!

— Pois é né... pensei a mesma coisa.

— E então?

— Então a gente foi conversando e eu convidei. Assim... simples... e ela disse que sim. Se tudo der ceto, às oito eu estarei pronto, esperando ela atrás do prédio.

— Se deu bem então... Megan Parker é sua. — ele riu, pegando um punhado de amendoins que estavam no canto do balcão. — E rolou alguma outra coisa interessante?

— Não... desligamos logo depois. Mas... foi bom você falar esta palavra.

— "Interessante"? Por quê?

— Zac disse que achava interessante eu não passar muito tempo no quarto.

— E queria o quê? Zac é o cú em forma de gente.

Ele e Davi bateram as mãos.

— Essa cara fica me testando, parece querer que eu exploda o tempo todo...

— Sabe que isso não me surpreende? Ele tá ligado que não podem haver polêmicas, nem nenhum problema perto da véspera do reality. — Ernesto dizia, arqueando a sobrancelha. — Ele sabe que tu é bom, e parece estar procurando a oportunidade perfeita pra te ferrar.

— A oportunidade perfeita... tipo, saber que sairei com a Megan?

Os dois se entreolharam, com os olhos arregalados.

— É cara...tipo isso!

— Tá, mas... como faço pra ele não descobrir?

— Acho que se tu for discreto...

— Ah, mas isso tudo bem. Eu vou encontrar ela atrás do hotel.

— Você acha que o Zac não vai ficar sabendo? Ô cara?! Tu acha nessa competição não tem hackers? — perguntava, como se fosse óbvio. — Se você der qualquer sinal de felicidade, o mano vai te caçar até o inferno. Pode acreditar! Tem câmeras na frente e atrás..., por isso acho melhor tu marcar com ela longe daqui.

— Você podia me dar cobertura, né? Por favor...

— Hã?

— Por favor...

— Quer que eu... entretenha ele?

— Eu hein... depende do entretenimento...

Ernesto quis lhe dar uma almofadada na cabeça.

— Engraçadão você.

Davi bufou.

— Cara, só... não deixe ele pegar no computador.

— Ele não larga aquela porcaria!

— Dá um jeito!

— Tá bom. Só pra garantir que ele não assista as gravações. É isso?

— É...

— Não seria mais fácil se marcasse com a garota em outro lugar?

— Não... não quero que ela se incomode.

— E porque não busca ela lá na casa dela?

— Ela não quer.

— Ok... ok... eu vou distrair o maldito.

— Eu amo você! — ele se empolgou para abraçá-lo.

— Ei... vamos com calma ae...

Tudo parecia estar em seu devido lugar, para que às oito ele pudesse vê-la. Mas... para que tal encontro não fizesse de suas vidas um inferno, ele precisaria depositar sua confiança em Ernesto, um rapaz que conhecia a pouco mais de três dias. Davi poderia muito bem marcar com ela em outro lugar, mas precisava saber se podia contar com o garoto. Afinal... ele não tinha ninguém. Assim como Davi. Algo estava lhe dizendo para confiar... e ele confiava. Esperava não ter que chorar pelo leite derramado...


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Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões sobre o caráter de Ernesto. (Ou Nêne) hahaha