Derek

Sábado foi um dia inesquecível, e eu acreditava que Hilly também estava pensando o mesmo. Eu realmente não sabia como era fazer trabalhos e lições de casa, mas tinha certeza de que era muito legal. Essa humana... Hilly. Eu sentia algo muito forte por ela. Tinha certeza. Mas o cheiro estranho que emanava dela ainda permanecia um mistério. Cheguei à conclusão de que seu cheiro era de humano normal, porém tinha uma essência... incomum. Era agradável e não parecia pertencer de nenhuma criatura. Agora isso já começava a me preocupar.

Toda a vez que eu me aproximava dela, eu me sentia mais forte. Eu diria... rejuvenescido. Sei lá, seu cheiro, seu sorriso, seu riso, tudo, era agradável e saudável para mim. Mais tarde eu procuraria a fundo sobre isso.

Eu nunca encontrei uma companheira. Afe, minha alcateia nem tinha muitas fêmeas interessantes. Portanto, nunca me envolvi romanticamente com ninguém. Até agora. A humana mexia comigo. Por falar em alcateia, já estava me sentindo infeliz sobre a missão. Eu tinha muitas saudades. Porém, apenas ignorei essa sensação e continuei meu disfarce no colégio. Minha família teria que esperar por mim.

Conheci Hilly mais a fundo. Contei algumas coisas pessoais, que eu desejaria não ter contado. Sobre Jarrod, por exemplo. Distorci um pouco os fatos, é verdade, mas eu não poderia dizer que o cachorro na verdade era um lobisomem. Jarrod é meu irmão mais velho, com 24 anos de idade. Um certo dia, ele voltou para casa depois de uma briga feia com outro lobisomem, que para variar, era maior e mais forte que ele. Meu irmão estava muito ferido. Percebi que ele havia perdido uma presa na luta. Lobos precisam de presas para caçar, então nossa raça valoriza muito nossas garras e dentes. Então, Jarrod, após a luta, decidiu pegar sua presa e trazê-la para casa. Era um tanto sombrio, porém lobos são assim.

Ele não tinha mais o que fazer com o dente. Então, ele me deu. Não sei exatamente por qual motivo, mas eu só sabia que estava com raiva do maldito lobo que o atacara. Peguei o dente e mais tarde decidi fazer um colar com ele. Hoje, meu irmão trabalha na alcateia e no Conselho, como eu. Mas não nos vimos muito nessas últimas semanas.

Voltanto à Hilly. Ela gostava de poesias; eu jamais me interessei por coisas assim. Mas quando li os poemas, fiquei muito sentimental. E me senti alegre por estar ao lado dela. Parecia que ela se importava muito com essas coisas. Então, decidi ler alguma coisa especial para ela. Depois disso, rolou o beijo. Santo lobo, não sabia que beijar era tão bom. Jamais imaginei que ficaria com uma humana, mas isso não importava.

Eu adorei tudo na casa de Hilly. Não era muito diferente das casas dos lobos de alcateia. Agora eu entendia melhor o universo que os humanos viviam todos os dias. Porém, uma coisa na minha cabeça vivia apontando: você deve se concentrar na missão. Primeiro, o assassinato. Depois, a garota. Mas ultimamente eu tenho ignorado por completo essa vozinha da razão que latejava em minha mente.

Diabos, logo o Conselho me chamaria para ver meu progresso: eles marcaram de me encontrar na quarta-feira à tarde. Estava nervoso. O que será que eles diriam se eu não mostrasse nenhuma prova ou pista sobre o caso? Poderiam pensar que eu não estava interessado na missão e me mandariam de volta para casa. Mas isso seria ruim. Muito ruim. Traria más experiências no meu trabalho; poderia até ser demitido. E, ei, ser desprezado pelo Conselho não era nada bom. Eu não estava passeando pelo mundo mortal; estava em uma missão séria. O Conselho inteiro (literalmente) contava comigo. Se eu falhasse, talvez o caso piorasse e vampiros, ou qualquer outra criatura, poderia questionar a eficiência do Conselho.

Nessa história toda, então, dá para ver que eu posso queimar a fita do Conselho. E eles iriam se vingar. Ah, com certeza eles não deixariam barato toda essa história. Eles eram severos em tudo o que faziam. Talvez eles me proibissem de voltar ao mundo mortal.

E agora pensando em tudo isso, ficava mais nervoso ainda. Se eu não pudesse retornar ao mundo dos humanos, como ficaria a Hilly? Eu poderia encontrá-la novamente? Eu já sabia que não poderia trazê-la para minha alcateia. Vish, a situação era delicada ao extremo. Não poderia falhar nisso. E talvez fosse até melhor... Eu me afastar um pouco de Hilly. Ela me distraía demais da missão.

Nesse momento, eu estava desesperado por achar uma prova. Qualquer coisa que estivesse ligado ao caso. Nem imaginava que entrar no mundo mortal era tão complicado. Ou que eu iria achar meu primeiro amor. Tudo o que me restava a fazer era continuar na investigação, dessa vez com maior vontade e sem distrações.

Não negava que eu tinha adorado a escola e Hilly. Mas eu não estava nesse negócio todo para me divertir e conhecer as pessoas. Julius fora bastante claro: Faça sua missão e volte. Ainda achava que ele escondia algumas informações de mim, mas não tinha jeito. Segunda-feira seria destinada só ao meu trabalho. A partir de agora, vou ficar exclusivamente de olho no caso, e em nada mais.

Ah. Como odeio trabalhar. Humanos, Conselho, Alcateia... Argh. Problemas. Só problemas.