Derek Donnis: Entre Mistérios escrita por Wolfkytoki


Capítulo 5
Na Casa de Hilly


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem... De verdade ;)



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Hilly

Acordei de manhã bem cedo no sábado. Eu costumava acordar tarde nos fins de semana, mas o nervosismo de encontrar com Derek em minha casa me fez despertar mais cedo. Eu deveria arrumar a casa para recebê-lo. Me levantei um pouco preguiçosa ainda. Tomei banho, me aprontei. Coloquei uma roupa casual: calça jeans e uma blusa básica preta.

Enquanto tirava o café da manha da mesa, fui pensando sobre o Derek. Eu nunca, ou melhor, jamais, tinha feito uma amizade com um garoto. Claro, eu tinha alguns colegas que eu conversava de vez em quando, mas nada comparado à amizade que eu tinha com Derek. Já tinha tido um namorado, mas terminamos há tempos. Não sabia mais como era esse negócio de estar afim de alguém. Eu sentia que nós tínhamos algum tipo de... união. União? Não sei se é essa a palavra correta. Parece estranho e bizarro, mas é por aí.

Eu havia combinado dele vir em casa às 9:30. O trabalho era longo, mas não acreditava que seria muito demorado. Meus pais não estavam em casa: nesse momento, ambos trabalhavam. Sim, infelizmente eles tinham que trabalhar também nos fins de semana. Disse que tinha chamado um amigo para fazer o trabalho, e minha mãe ficou feliz com isso. Ah... Mães. Nesse caso, fiquei feliz em estar só eu e o Derek em casa.

Fiquei esperando na minha sala. Ela ficava no andar de baixo da casa. Em cima, ficavam o meu quarto e dos meus pais. Batuquei a mesa de jantar, nervosa. Fazia tempo que eu não recebia garotos em casa. Só recebia minhas amigas.

Foi quando a campainha soou. Corri pela escada e fui atender. Ao abrir a porta da frente, fiquei boquiaberta: Derek estava muito, muito gato. Ele usava uma blusa azul-escura com mangas curtas, que realçavam seus bíceps. Também usava uma calça jeans e tênis All-Star igualmente azuis. Seu cabelo estava molhado e penteado para trás. Ele talvez tivesse acabado de tomar banho. Carregava uma sacola cheia de papéis. Seus olhos azuis claros brilharam ao me ver.

–Oi, Hilly. Posso entrar?

Mexi a cabeça por um tempo, até perceber que estava quase babando. Me endireitei e consegui falar:

–Oi. Sim, pode entrar.

Ele entrou em casa e passou a observar tudo com um olhar curioso. Talvez curioso demais. Depois de um tempo olhando para os móveis, ele se virou e disse:

–Bela casa. Eu gostei.

–Obrigada. Ah, já quer começar a fazer o trabalho?

–Trabalho? Ah, claro. Sim, sim.

Ele parecia distraído. Por um momento, pareceu que ele tinha esquecido o motivo de estar na minha casa naquela manhã de sábado. Descemos as escadas e nos sentamos na mesa.

–Você trouxe os papéis e as cartolinas?

Ele virou seu rosto para mim.

–Sim. Também aproveitei e trouxe algumas canetinhas.

Derek pegou sua sacola e jogou todo o seu material em cima da mesa. Começamos a fazer o trabalho. Eu tinha algumas ideias em mente, e fui discutindo com ele a respeito. De vez em quando, ele parava de fazer o que estava fazendo e sorria, dando outras ideias, como "Ah, olha, a gente podia colar isso aqui" ou "Ei, não seria melhor se mudássemos esse título?". E assim, de pouco em pouco, fomos realizando a tarefa. Ele parecia saber o que estava fazendo mais do que eu. Algumas ideias que o garoto dava pareciam não levar a lugar algum, mas com o tempo, foram fazendo sentido e aperfeiçoando o trabalho.

Por volta de 11:00 havíamos terminado. Fizemos um lindo cartaz cheio de cortes, escritos, desenhos, etc. Olhei para Derek com uma cara sorridente.

–Nossa, ficou melhor que eu imaginava. De onde tirou tantas ideias?

Ele deu de ombros.

–Intuição. Eu diria... Instinto. Sei lá, eu gosto de colocar a mão na massa.

Ri. Esse cara era divertido e realmente ajudava nos trabalhos. Já tinha feito várias lições importantes na escola com pessoas que não faziam nada, e eu tinha que fazer tudo sozinha.

–OK. Quer comer alguma coisa?

–Hum. Seria bom.

Fiz um lanchinho rápido para nós dois. Apenas dois sanduíches de queijo e presunto. Quando fui entregar para ele a comida, parei e perguntei:

–Você gosta de queijo e presunto, né? Esqueci de perguntar isso.

Ele me olhou com uma cara confusa e depois deu risada. Adorava seu sorriso. E por algum motivo estranho, também gostava de sua cicatriz no lábio.

–Quem não gosta de presunto e queijo?

–Ha, tem razão.

Sentamos na mesa e comemos. Conversamos um pouco sobre a escola e sobre as matérias chatas, tipo Matemática e Geografia. Ele mostrou interesse em Química. Por outro lado, ele odiava Redação. Concordo com ele.

E a conversa foi longa, ficamos falando por mais ou menos uma hora. Terminamos de comer e ofereci suco de manga para Derek.

–Hã... Desculpe, mas eu não gosto muito de suco. Principalmente de manga.

Torci o nariz. É, eu não era muito fã também. Porém, só tinha isso. Então, convidei-o para ver meu quarto. Derek aceitou minha proposta e me seguiu pelas escadas. Andamos pelo corredor estreito que ficava na parte de cima da casa, ligando os dois quartos aos banheiros. Entramos em meu quarto. Ele era um tanto grande até: tinha minha cama, minha mesa de madeira com um computador e vários CDs jogados em cima, uma estante de livros e uma TV de plasma na parede.

Derek parou na porta e olhou em sua volta, com seus lindos olhos azuis brilhando.

–Esse é seu quarto? Eu adorei!- Ele disse feliz, virando seu rosto sorridente para mim.

–De verdade? Ele está um pouco bagunçado...

–Que nada. É bem interessante para uma huma... Quer dizer, para uma garota tão legal que nem você.- Ele se atrapalhou nas palavras.

O que será que ele estava dizendo antes de se interromper? Derek agora olhou um pouco para baixo, nervoso. Quando ia perguntar qual era o problema, ele rapidamente ergueu sua cabeça e olhou em volta, pegando um CD que estava em cima da minha mesa de madeira.

–Imagine Dragons? Cara, eu amo essa banda.

Eu fiquei boquiaberta. Nunca conheci ninguém que gostava dessa banda. Só podia ser um sonho.

–Sério? Qual sua música favorita?

Ele parou e ficou com uma cara pensativa. Ele ficava bonitinho nessa pose.

–Radioactive, é claro.- Ele me olhou com olhos brilhosos.

Sorri.

–Sim. Também gosto de Demons.- A letra da música ficou na minha cabeça. Cantarolei baixinho enquanto Derek pegava um outro CD da minha mesa rústica. Ele se sentou na cama.

–Humm... Vejo que você tem bom gosto para escolher músicas.

–Há, bom saber que você concorda.

Então, ficamos mais um tempo conversando sobre músicas e bandas. Toda vez que Derek se empolgava na conversa, ele ficava eufórico e nesse momento dava para ver seu colar de dente. Eu me perguntava de que animal pertencia aquele dente. Curiosa, decidi perguntar sobre isso.

–Hey, Derek...

–Pode me chamar de Dear- Ele me interrompeu e me deu uma piscadela.

Pisquei. Aquilo foi tão... fofo. Uau, Derek agora era Dear. Eu fiquei um tempo boba, quase esqueci o que ia perguntar. Até que acordei para a vida e finalmente diz minha pergunta.

–Hã... Dear... Esse seu colar... De que bicho pertence esse dente aí?- Apontei para o colar preto em seu pescoço.

Ele nunca tirava o colar. Derek hesitou. Parecia até... perplexo. Perdido, eu diria. Até que ele se endireitou novamente na cama e respondeu, um pouco baixo demais:

–É... de cachorro. Eu tinha um cão quando criança, que uma vez perdera um dente brincando. Eu peguei o dente e guardei. Mais tarde, quando ele morreu, decidi fazer um colar, para sempre me lembrar dele.

Nossa. Não sabia que Dear era tão sentimental e fofo desse jeito. Senti pena. Mas ele não parecia muito abalado com isso.

–Como ele se chamava?

–Jarrod. Teve uma vida feliz.

Decidi mudar de assunto. A conversa estava ficando muito triste, e eu odiava coisas tristes.

–Dear, que ver minha... passagem secreta?- Perguntei, confiante.

–Humm... Interessante. Vamos lá.

Eu tinha, atrás da estante, meio que uma passagem para um quarto escondido. Só meus pais conheciam aquele lugar, mas eles quase nunca entravam lá. O quarto era para ser um quartinho de brinquedos, mas como não foi usado para isso, colocamos uma porta na abertura e depois eu coloquei a estante em frente à ela. Cuidadosamente, arrastei a estante cheia de livros para o lado. Peguei a chave que estava no meu bolso e entramos no quarto.

Fechei a porta de novo e encarei Derek. Esta era uma sala só minha; era onde guardava minhas coisas pessoais mais importantes: caixinha de música da mãe, minha guitarra e minhas poesias, além de alguns livros surrados. A iluminação era precária, por isso eu tinha um abajur ao lado de duas cadeiras no centro do cômodo.

–Lugar legal. Isso são... Poesias?

Corei um pouco. Apenas minhas melhores amigas sabiam que eu escrevia poemas. Sim, eu tinha um pouco de sentimentalismo.

–Sim.

Dear se abaixou e pegou um caderno cheio delas. Ele a folheou com cuidado, olhando vagarosamente para todas elas. Fiquei um pouco constrangida. Eu nunca mostrara minha poesias a um garoto. Derek de repente parou abruptamente e me olhou.

–Hã... Desculpe ir pegando suas coisas assim. Posso... Olhar?

–Claro, sem problemas.

Ele folheou novamente o caderno até parar em uma página cheia de rabiscos e anotações.

–Noite Estrelada... Posso ler essa?

Gelei. Mesmo. Esse era um poema muito... pessoal. Eu a havia escrito quando meu tio, Higor, morreu. Eu estava muito triste na época, portanto, era um poema triste. Derek aparentemente notou meu desconforto, então, se aproximou de mim e pôs sua mão delicadamente em minha face. Ele me olhou.

–Se você quiser, eu não leio...

–Tudo bem. Quero ler com você.

Nos sentamos no chão, lado a lado, de pernas cruzadas. Derek leu meu poema. Quando acabou, contou algumas piadas para descontrair. Ficamos um tempo lá. Quando percebi, já estava anoitecendo. Meus pais chegariam logo. Mas só decidi aproveitar o momento. Derek, eufórico, contava muitas piadas que me faziam rir à beça. Até que ele recostou sua cabeça em meu colo. Ele sorria muito. Parecia sonhador com aqueles lindos olhos brilhosos.

–Dear, está sonhando com o quê?

Ele hesitou um pouco. Corou e olhou nos meus olhos.

–Com você.

Paralisei. O quê? Hã? Meu Deus... Derek sentou-se na minha frente, ainda me olhando fixamente nos olhos. Seu rosto estava calmo e corado. Ele aproximou sua face da minha, deixando nossos lábios a poucos centímetros.

–Hilly. Eu... Acho que...

Eu o interrompi com um beijo. Sei lá. Não pensei em mais nada naquele momento. Foi suave e doce, e Derek correspondeu ao meu afeto. O lindo garoto de olhos azuis estava realmente me beijando. Ficamos assim por um tempo. Eu nem conseguia acreditar que isso estava acontecendo. Nos afastamos um do outro, ainda com as faces próximas. Eu sorri para ele, arfando um pouco.

–Você... Ia dizer que me ama?

Ele deu um belo sorriso, o melhor que eu já tinha visto. A resposta dele foi simples: ele me beijou novamente, agora com mais vontade. E passamos um tempo assim. Juntinhos. Lendo poemas e nos abraçando. Foi realmente um sonho. Quando chegou a hora de Dear ir embora, fiquei triste; mas lembrei que nos veríamos novamente na escola. Nos despedimos com um último beijo. Então, ele saiu cantarolando e sorridente na rua. Eu observei até ele sumir do bairro. Quem diria. Nunca imaginara que um trabalho traria tantas vantagens.


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