Só Que Platônico escrita por Gaby Molina


Capítulo 3
Capítulo 3 - Cópia Perigosa




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Jared

— Eu não posso fazer isso, cara — falei para meu melhor amigo, Akio. Esse não era o primeiro nome dele, mas era o único que eu conseguia pronunciar. — Não dá para simplesmente acordar e pensar "Que tédio. Ei, vou protagonizar a peça da escola!". Fora que a Blue é muito boa. Tipo, boa mesmo. Faz com que eu pareça completamente retardado, mas pelo menos a plateia presta tanta atenção nela que esquece de mim. Pelo menos, eu espero.

— Dawson — Akio suspirou, e acho que fechou os olhos por um momento. Com japoneses, não dá para ter certeza. — Você ganhou a chance única na vida de beijar Blue Monroe. Jamais reclame da própria sorte. Eu só beijei uma garota na vida, e ela era minha prima.

— Ela me deixa desconfortável. É muito enérgica, eu me perco.

— E daí?

— E daí que é estressante.

— Cara, deixa de ser gay, por favor. Olha bem para ela — ele apontou para o outro lado do pátio, onde Blue estava sentada numa das mesas ouvindo música nos fones de ouvido.

Blue era bonita de um jeito incomum, como seu nome. Às vezes eu achava que ela não era exatamente bonita, mas tinha um rosto interessante, simétrico, apesar de os olhos serem um pouco charmosamente grandes. A pele clara contrastava com os cabelos pretos ondulados, e ela mordia o lábio inferior de um jeito que me fez perceber que seus dentes da frente eram um pouquinho de nada afastados, apesar de serem bem brancos. Usava uma blusa com alguma estampa sobre zumbis e shorts jeans rasgados, além de seus tênis Converse azuis. Às vezes eu achava que ela não era exatamente bonita, mas às vezes eu achava que era completamente linda.

Blue

I'm gonna break down these walls

I've built around myself

I wanna fall so in love

With you and no one else

Eu estava ficando um pouco animada demais com o refrão quando percebi que Jared estava parado há alguns metros de mim. Ele parecia estar tentando decidir se deveria se aproximar ou não. Ergui uma sobrancelha.

— Algum problema? — indaguei.

— Hummm... Eu... Eu só...

Abri um leve sorriso entretido.

— Eu não mordo, sabe.

Ele não pareceu exatamente convencido, mas se aproximou.

— O meu, hum, roteiro sofreu um... acidente.

Franzi o cenho.

— É mesmo? E como foi isso?

— Freddie — ele respondeu.

— Freddie?

— É. Você não teria um extra, por acaso, teria?

— Bem, não, mas podemos tirar uma xerox aqui na escola.

— Mas não foi proibido usar a máquina de xerox depois que os caras do time de futebol sentaram na máquina e ficaram tirando cópias da própria bunda?

Eu ri.

— Aquele foi um dia digno de nota, realmente. Vamos, Jerry. Mas já vou avisando, eu preferiria que você continuasse com as próprias calças.

Jared

— Não é emocionante? — Blue sussurrou enquanto engatinhávamos sob a janela da coordenação. — Como Sr. e Sra. Smith, só que sem nos matarmos.

Não, Blue. Não era emocionante. Era suicida.

Ela se levantou e abriu a porta com o máximo de cuidado que conseguiu. Logo estávamos dentro da sala de cópias. Blue pegou o próprio roteiro e caminhou até a máquina, apertando alguns botões. Nada aconteceu.

— Hummm... Jerry... Como faz esse troço funcionar?

Arregalei os olhos.

— Você nunca veio aqui?!

— Bem, já, mas com o time de futebol, e eles...

Inspirei fundo.

— Certo, não pode ser tão difícil... Vou dar uma olhada na máquina, tente achar um manual.

Ela assentiu e começou a revirar todos os papéis que viu pela frente, procurando por instruções. Eu poderia dizer que estava pensando racionalmente no que estava fazendo, nas na verdade só estava apertando todos os botões.

A máquina fez um barulho.

— Ligou! — anunciei. — Rápido, me dê as folhas.

Blue me entregou o roteiro e eu coloquei a primeira página na copiadora. Logo as cópias começaram a sair da máquina, e suspiramos aliviados. Até que o papel acabou.

— Vou buscar mais, já volto — disse Blue e correu para fora da sala antes que eu pudesse dizer algo como "Por favor, não me deixe sozinho aqui".

Suspirei e sentei-me numa cadeira, mas não consegui parar quieto. Levantei-me e fiquei rondando em círculos pela sala, olhando freneticamente para a janela. Blue voltou depois de alguns minutos com um pacote de folhas sulfite.

— Onde arranjou isso? — ergui uma sobrancelha. Ela deu de ombros.

— Falei que a professora de Inglês pediu.

Blue sentou-se na mesa da copiadora, colocando o papel na máquina. Enquanto o roteiro era imprimido, não conversamos. Blue cantarolava alguma coisa baixinho, e seus pés balançavam no ar no ritmo da música. Do nada, ela arregalou os olhos.

— Puta merda — murmurou, descendo da mesa. Ela me arrastou pela mão e me jogou dentro do armário onde guardavam algumas pastas de sei lá o que que estavam cutucando meu pescoço.

Blue se abaixou um pouco para caber embaixo da prateleira, pois o armário não era lá muito grande. Ouvi a porta da sala sendo aberta e rezei baixinho para não precisarem de nada no armário. Olhei para a mão de Blue e percebi que ela havia se lembrado de pegar o roteiro. Agradeci silenciosamente.

Nossas respirações estavam um pouco fora de ritmo, e eu sentia o cabelo escuro dela roçando em meus braços.

Quem é Freddie? — ela sussurrou, e tudo o que pude pensar foi que aquela era a pior hora possível para uma pergunta banal daquelas.

Meu cachorro — respondi.

Depois de algum tempo, ela abriu uma fresta mínima na porta.

— Acho que já foram embora — sussurrou, abrindo a porta de vez.

De fato, estávamos sozinhos. Ela me entregou o roteiro e demos o fora dali o mais rápido possível.


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