John e Joan não tinham filhos. No carro, James me disse sussurrando que era um assunto muito delicado e que eu não devia nem comentar. Sirius olhava a paisagem, distante, perdido em seus pensamentos, eu pude perceber. John conversava com James sobre o Departamento de Aurores, falando em como ele daria um genial auror no futuro. Joan ficava quieta, com as mãos no colo, parecendo uma princesa de contos de fadas. Quase dei um pulo quando John mirou seus olhos azuis, a única diferença aparente entre ele e James, em mim.

–E você, Lily? Quer ser o que?

–Eu... Ah! –arregalei meus olhos enquanto ele me olhava pelo retrovisor do carro trouxa- Puxa! Acho que professora, ou aurora, talvez... Não sei - quase soltei um “obrigada por perguntar” mas me contentei.

–Aurora? Você é da Grifinória também não é? –Joan se pronunciou, finalmente. Queria que a direção da conversa mudasse, mas James me olhava com expectativa e eu não pude resistir aos olhinhos de cachorro perdido.

–É! Vocês eram grifinórios também não é? –perguntei, tentando mais uma vez desviar o assunto de mim.

–Não, eu era da Corvinal, mas John era... Bom, é da Grifinória. Nós deixamos Hogwarts, mas Hogwarts não nos deixa, não é, amor? –Joan perguntou com a voz doce.

–Claro! –exclamou John com a voz grave.

–Chegamos! –disse Sirius. Acompanhando o olhar de Amolfadinhas vi uma enorme mansão do outro lado do quarteirão.

Quase soltei um baita palavrão, mas me contentei. James olhava a casa, sorridente por ter chegado. Bem vindos ao lar! Ouvi Joan dizer, sorrindo finalmente. John virou na esquina, entrando na garagem. Saímos do carro trouxa, que, infelizmente, me lembrava dos meus pais, e James me deu um beijo na bochecha.

–Quando nós nos casarmos, vamos ter uma casa dessas. –ele disse, sorrindo para mim- Ou maior. Os filhos do Aluado vão ir brincar com nosso Prova-que-eu-dormi-com-Lily-Evans!

–Você é ridículo! –eu disse, mas não pude deixar de ficar feliz com o comentário.

Entramos na casa, subindo algumas escadas para chegar ao primeiro piso. Lá, um lustre de cristal brilhava no alto, uma escadaria dupla levava ao segundo andar e mesinhas de centro continham fotos e objetos de prata e ouro. Eu não sabia que a família de James era tão... rica.

–Uau! –eu disse, era difícil acreditar que viviam apenas John e Joan naquele casarão de mármore- Que casa adorável! –completei antes que alguma besteira fosse pronunciada.

–Obrigada. –disse John- Pode deixar as malas ali –ele completou, apontando para o primeiro degrau da escada da direita.

–Hey, Lil –Sirius me chamou

–O que foi, Amolfadinhas?

–Você não acha... –ele sussurrava agora e olhava para os lados freneticamente, como se alguém estivesse nos espionando. –Meio suspeito? Os tios de James nadarem em toda essa grana?

–Ah, Sirius! –eu disse- Sério?

–Os pais de James não tinham nem 10% de tudo isso.

–Pode ser, mas vamos aproveitar, não? –eu disse- Não vou comentar com James –completei ao ver o olhar dele.

Ele me lançou um olhar de gratidão e caminhou até Joan, que sorriu ao vê-lo se aproximar. James veio até mim e indicou um porta retrato.

–Meus pais. –ele disse, pegando com carinho uma foto emoldurada com ouro. –Minha mãe, Camille Potter e meu pai, Eugene Potter. Ela estava gravida de mim quando essa foto foi tirada. Eu sou o último Potter. Tirando meus tios, John e Joan, é claro, mas acho que eles não vão continuar a linhagem.

Uau! Foi tudo que consegui pensar. A mãe de James era linda, mesmo com uma barriga de nove meses de gravidez. Ela tinha os cabelos castanhos caindo nos ombros e marcantes olhos negros, que pareciam olhar dentro de sua alma. O pai de James era lindo, também, com os cabelos loiros e os olhos azuis. Ele se parecia muito com John.

–Seu tio John... –eu disse- Irmão do seu pai?

–Sim, senhorita- John disse. Assustei-me monumentalmente, não tinha reparado na presença dele ali. –Eu sinto falta de Eugene a cada dia que passa.

–Oh! Eu não devia ter mencionado... Desculpe! –disparei a dizer

–Não, não. Eu tenho que superar. Vou deixar vocês a sós. –falou ele, meio sorrindo.

***

–Ele me assusta! –disparou Sirius quando ficamos sozinhos a noite no meu quarto, bem longe do de James e dele- John! E aquela Joan! Ela parece uma bruxa!

Olhei para ele com a minha melhor cara de “Dã!”.

–‘Tá, isso soou errado. –ele disse, balançando os cabelos despenteados. –Ela parece um demônio! Sério, você não acha?

–Um pouco, talvez. –eu disse- Eles só devem querer filhos! Só isso.

–Você sabia que eles deixaram a casa de Godric’s Hollow e mais da metade da fortuna para James?

–Eles têm uma casa em Godric’s Hollow? –perguntei e Sirius assentiu. –Eles vão deixar para James?

–Acabei de falar, Lil. Presta mais atenção!

–Como você sabe? –perguntei, intrigada.

–Eu... Eu meio que mexi nos documentos do John Assustador. –ele disse- Ah, Lily! Não me olha com essa cara, a porta estava escancarada.

–Okay, o que eu posso fazer?

***

Eu tive um pesadelo terrível. John e Joan eram seguidores de Voldemort, a casa queimava e o corpo de James na escadaria, completamente sem vida. Fui correndo sem fazer barulho pelo corredor até a porta preta, onde sabia que James estaria com Sirius. Abri a porta, sem fazer muito barulho e pulei na cama de James, o assustando.

–Meu Merlin! Lily! O que foi? –ele disse no meu ouvido para não acordar Sirius.

–Eu tive um pesadelo. –eu disse- Terrível. Muito terrível. Me deixa ficar com você essa noite, por favor.

–Claro que sim. –ele disse e eu me deitei em seu peito, que, não pude deixar de perceber, estava descoberto.

Estranho dormir sem camisa e com cobertor, mas olhei para Sirius e vi a mesma cena, então não fiquei tão constrangida. Parecia ser normal.

Me aninhei nos braços de James, meus cabelos caindo nos meus olhos e nos dele. A minha direita, Sirius abriu os olhos sorrindo para nós.

Bobão, foi tudo que pensei antes de cair no mais profundo dos sonhos. Sem pesadelos.