Audiolivro - Capítulo 21

XXI

Reyna

Reyna não sabia o que aquela semente significava, ela pegou da mão de Nico para examinar, a semente não era muito pequena, nem grande, era de um tom de vermelho enegrecido, Nico esperou pacientemente até Reyna perguntar.

“Do que é esta semente?”

“É uma semente de romã, veio do jardim de Perséfone no mundo inferior, somente filhos de Hades ou Plutão podem comer.”

“E o que ela faz?”

Reyna percebeu que fizera a pergunta certa, Nico puxou uma leve respiração.

“Ela me mantém vivo durante o sono de morte, foi assim que sobrevivi naquele jarro, uma semente por dia. É uma espécie de coma, mas eu posso controlar o exército assim sem gastar muita energia, no estado que estou não sei se aguentaria convocar o exército plenamente acordado.”

Reyna entendeu, se ele convocasse um exército de ossos do jeito que estava ele poderia não sobreviver, não, pensou Reyna, não era uma opção, não podia ser.

“Você não pode fazer isso.”

Reyna disse a Nico, usando seu melhor tom de ordem.

“Eu preciso, está na profecia, não tem como mudar.”

A expressão de Nico estava cansada, Reyna não queria admitir que ele estava certo, ela não queria... as emoções vinham todas juntas e o peito de Reyna apertou, ela nunca havia sentido isso, doía muito saber que ele iria se sacrificar, mas Reyna não sabia por que, mas seu lado racional suprimiu tudo e agiu antes mesmo dela ter certeza do que ia dizer.

“O que eu posso fazer para ajudar?”

“Preciso que me proteja, ficarei num sono profundo, não poderei me mexer. Claro que poderia deixar alguns dos soldados esqueletos me protegendo, mas será uma energia desperdiçada, não posso me preocupar comigo mesmo, tenho que colocar toda a concentração na proteção do acampamento.”

Não respondeu de imediato, Reyna parou um momento para pensar e continuou.

“No que você está pensando, qual o plano?”

Nico conseguiu esboçar um pequeno sorriso para Reyna, devido a lembrança dele ter feito a mesma pergunta para ela tempos atrás.

“Pretendo ficar aqui, acho que será seguro, posso pedir para a Sra. O’Leary ficar do meu lado, se algo passar por você. O que eu duvido que aconteça.”

Dessa vez Reyna viu um fantasma do verdadeiro sorriso de Nico, mas ela não conseguiu retribuir. Respirando profundamente, Reyna perguntou.

“Uma semente, um dia? Quer dizer que você só vai fazer isso no dia do ataque.”

“Exatamente, temo... não acordar se ficar mais tempo. E além do mais, só me restou uma semente, não posso voltar para o mundo inferior para pegar mais e tem outra coisa, se o prazo de tempo da semente acabar, eu... eu... poderei morrer, se você não me acordar antes.”

Mais informações ruins, pensou Reyna, a guerra teria de ser rápida, se não Nico nunca acordaria daquele coma. O pensamento encheu os olhos de Reyna de lágrimas, que não caíram, ela passara muito tempo segurando-as, às vezes tinha medo de não conseguir mais chorar.

“É muito perigoso, e se eu não conseguir?”

Reyna disse baixinho, encarava os olhos de Nico.

“Você vai conseguir. Eu confio em você.”

A declaração de Nico assustou Reyna, que sabia que Nico não confiava em ninguém além de Hazel, quando o conhecera no acampamento Júpiter, Reyna nunca imaginou que Nico era assim, olhando para ele, Reyna não via mais aquele garoto, ele parecia muito mais velho, mais duro que antes, ele estava se perdendo de si mesmo, se destruindo aos poucos. Reyna não poderia deixar isso acontecer.

“Espero que sim. Nico eu...”

Reyna não conseguiu terminar a frase quando olhou em seus olhos, então mudou o assunto.

“Eu... sei que isso deve ser difícil pra você, depois do que passou, mas... você não tem que fazer tudo sozinho.”

De longe era isso que Reyna queria dizer, mas a outra coisa, ela não poderia.

“É que... funcionou pra mim até agora... Apesar de não ser mais o suficiente.”

A ultima parte Reyna não pode ouvir, Nico disse muito baixo e com a cabeça abaixada, só depois a encarou novamente.

“Reyna...”

Seu nome veio cheio de significado, mas Reyna com o olhar deixou claro que não era hora deles falarem disso, Nico se recompôs e continuou.

“Obrigada.”

Reyna assentiu devolveu a semente a Nico e se levantou, não se despediu, saiu em silêncio do chalé, temia que se dissesse algo, sua voz falhasse e suas emoções a traíssem.