Everlyn Clockwork

Acordei com uma dor de cabeça terrível. Parecia que alguém tinha pegado um martelo e batido na minha cabeça até meu cérebro virar sopa de neurônios.

Eu não lembrava nada que tinha acontecido, pera... Eu me lembro do Sir Batatinhas e do Ed falando algo sobre milk-shake... E. Era isso! Eles tinham feito um milk-shake e mesmo que Ed pediu pra não, eu acabei bebendo. E cara, como aquilo era horrível, mesmo que tinha sido um golinho achei que meu estômago ia se desintegrar e se transformar em poeira gástrica.

Então eu corri e tomei o copo de Ed, que tinha um gosto muito estranho, e que fazia minha garganta queimar. Eu me lembro daquilo me dar tonturas e de eu me sentir completamente... Sei lá, desnorteada.

Tentei fazer minhas pernas me obedecerem para eu sair da cama. Eu quase caí. Quase. Consegui me apoiar no criado-mudo, e andei em direção pro banheiro pra eu tomar um banho.

Quando eu saí do meu quarto, olhei para o relógio no celular. Quase duas horas da tarde!! Meu Deus. Ouvi vozes da cozinha. Andei como um zumbi em direção pra lá. Quando cheguei Ed e Will estavam sentados e Tristan estava cozinhando algo.

— Bom dia — falei bocejando.

Os três pararam a conversa para me encarar. Ed me encarava com um olhar estranho, Tris me olhava como se estivesse preocupado e Will me olhava... Não sei, era estranho, mas era um estranho diferente do olhar de Ed.

Virei-me para encará-lo e ele desviou o olhar. Tá, isso era estranho.

— Como você se sente, Ever? — Tristan me perguntou.

Sentei como se fosse a melhor coisa que fiz na minha vida.

— Como se alguém tivesse me obrigado a lutar contra Anakin Skywalker. Tipo, sério, o que aconteceu?

Ed estava meio envergonhado, e Will estava olhando pro chão.

— Snow, você... Hm... Bebeu do meu copo que tinha conhaque e você meio que ficou bêbada.

Pera... Acho que ouvi errado. As fadas devem estar de brincadeira comigo, os duendes devem estar sabotando meu sono. Eu o que?

— Como assim?? — me segurei para não gritar.

Então foi aí que Ed me contou tudo, Will ainda fitava o chão. Quando Ed me perguntou se eu não lembrava de nada, Will levantou a cabeça tentando ler meus olhos.

Tristan brigou de novo com os meninos e disse que se isso se repetisse, ele iria processar o Will e castrar o Ed. Me segurei pra não rir. Não deu certo.

Eu estava morrendo de sono. Tipo com muito sono mesmo.

Depois, ficou só eu e Will na cozinha, eu comendo e Will brincando com o guardanapo.

— Você não se lembra de nada? — ele perguntou.

— Bem, a menos que “eu não me lembro de nada” signifique outra coisa, então não.

Ele assentiu silenciosamente, fitou meus lábios e depois meus olhos.

— Você parece bem nervosa.

— MAS É CLARO. EU ACABEI DE DESCOBRIR QUE EU FIQUEI BÊBADA POR CULPA DE DOIS GOIABAS E MINHA CABEÇA DÓI E EU ESTOU CAINDO DE SONO.

— Sabe... Eu pensei... Eu acho que sei de algo que vai te animar, vem comigo?

Arqueei uma sobrancelha. Será que ele estava falando sério? Bem, não custa tentar.

— Tudo bem, me dê dez minutos pra eu me trocar.

Subi as escadas, coloquei uma sapatilha cinza, uma calça jeans e uma blusa com um tigre branco estampado.

Will como sempre estava (perfeito) charmoso, com uma calça jeans preta e uma blusa azul que destacava seus olhos azul-safira.

Fomos a pé, afinal era perto. Ele me levou pra uma sorveteria. Eu tipo AMO sorvete, mas como ele sabia disso, eu não fazia ideia. Acabei por perguntar.

Ele deu uma risada suave.

— Eu não sabia, é que eu amo esse lugar eu sempre vinha com a...

Ele parou de falar. Também não perguntei. Achei que não seria legal, afinal eu não sabia quase nada dele.

Nós nos sentamos e ele foi buscar o sorvete. Ele disse que queria escolher um especial. Sei lá o que que era.

Quando ele chegou com aquilo na mão, olhei para ele incrédula. Era um sorvete de JACA. TIPO, JACA. EU NEM SABIA QUE EXISTIA SORVETE DE JACA. E ERA MUITOOOO BOM.

Achei incrível. Comecei a dar risada sobre o fato. Estávamos em um ótimo clima, afinal (milagre) não estávamos brigando nem nada.

Até que uma Srta. Pouca Roupa 2 apareceu falando com Will.

— William — disse ela com voz melosa — por que você não me ligou mais? Não gostou da nossa noite?

Cara, sabe aquele sorvete que eu tomei? Então, estou sentindo ele na minha garganta de novo.

Will olhou pra ela sem nenhum interesse. Ele começou a relembrar ela sobre como ele não queria nada com ela, etc... Blábláblá, coisa de “sou um homem pegador, pego uma vez e nunca mais”.

A menina ficou profundamente machucada. Ela começou a fazer uma ceninha. Aquilo estava me irritando, não por ela fazer cena com Will, mas por eu estar presente. Custava ela esperar eu terminar meu sorvete de jaca e me retirar? Ela podia depois fazer tudo o que quisesse com ele, até tacar ele num riozinho.

Ele estava ficando puto já. Dava pra perceber pelo seu maxilar tenso e olhos brilhando de raiva. Mas a menina não parava de chiar.

— Como você pode fazer isso? Eu me lembro que você tinha dito isso, mas pera aí, olha pra mim, eu não sou de se jogar fora sabe? Sabe quantos homens dariam tudo pra estar no seu lugar? Quem você pensa que é?!

Então foi aí que eu murmurei, alto o bastante pro tio da padaria ouvir.

— Você é um bruxo, William.

Will se virou pra mim, chocado com a frase, sua raiva pareceu dissipar e ele começou a gargalhar, tanto, mas tanto que a menina desistiu de falar com ele e seguiu adiante.

Eu terminei meu sorvete e Will disse que queria passar em um lugar antes de voltar para casa. Ele não me disse onde.

Foi então que ele parou em frente a um fliperama.

MEUS DEUSES DO OLIMPO. UM FLIPERAMA, TIPO UM FLIPERAMA, E QUANDO EU DIGO UM FLIPERAMA EU QUIS DIZER UM FLIPERAMA.

Ele me deu um sorriso convidativo e adentrou no lugar. Eu o segui com total vontade.

Nós passamos a tarde inteira lá. Jogando de tudo. Num jogo de construir uma casa, ele me empurrou para me fazer perder, então quando ele foi atirar num vampiro eu dei um tapa em sua arma.

Por mais que estávamos implicando um com o outro, era divertido. E era como era em nossa casa, eu brigando com ele por coisas fúteis e fazendo arte. Nunca foi algo ofensivo como pensei que era. Era até que bem divertido. Será que ele pensava o mesmo?

Achei que nunca encontraria outra pessoa, além de Ed e Tristan, que me faria rir e querer ficar ao seu lado. Will era realmente legal. Me encontrei perguntando o que era isso que eu estava sentindo...