Desde O Fim Até O Começo escrita por Carrie Salvatore Grey


Capítulo 2
Capítulo 2 — Tristeza de verão


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo conta com um "POV" da personagem principal, Alice. os capitulos serão alternados entre narrações de Pedro e Alice :)



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“Tínhamos roupas iguais, hábitos iguais, manias iguais. Tínhamos um só coração”.

Ipanema, Rio de Janeiro

Quando a saudade aperta, pode parecer o fim do mundo. A saudade é algo que nos destrói por dentro, ainda mais quando não sabemos o que nos resta para o futuro. Pretendo me formar com louvor e garantir o orgulho dos meus pais, mas e o resto? Como ficam minhas emoções e meus sentimentos? Como fica meu coração?

É incrível a sensação maravilhosa que uma simples pessoa pode causar em nosso peito quando entra em nossa vida, mas também é incrível o estrago que ela deixa quando sai, por um motivo que nos leva a acreditar que todas as palavras doces foram uma grande mentira.

Mas o que importa é que o tempo que durou serviu de lição, serviu de exemplo.

Como dói lembrar. Antes, lembrar trazia sorrisos, hoje trás saudade e desespero. É como ter que se desprender de um vicio forçadamente, não por escolha própria, mas porque a vida está lhe exigindo isso. É como ver seu mundo ir embora, é ver o futuro sem a presença dele, sem as mensagens, o sorriso, as risadas, o cheiro, a voz, o carinho, a atenção.

Eu tive que me desprender do vicio chamado Pedro.

— Alice? — ouvi a voz de Frederico, ou Fred, como gosta que o chamem. — Você ouviu o que eu disse?

— Desculpa meu amor, estava pensando em outra coisa.

Ele ergueu uma sobrancelha, quase dizendo: “Está pensando no idiota do seu ex de novo?”.

— Preciso me preocupar?

— Não. — respondi com firmeza na voz. — Claro que não. Só estou pensando no trabalho da professora Gonçalves.

— Posso te ajudar com isso, afinal, é para isso que servem os namorados.

Sorri de lado.

— Para isso e para te encher de beijos também. — ele fez um bico e beijou-me no rosto, me deu um selinho e mais um beijo. Lembrou-se de alguma coisa e olhou para o relógio. — Nossa, amor, preciso ir. Vou perder o último horário por uma boa causa.

— E aonde você vai? — perguntei vendo-o levantar-se e sair rapidamente. E quando já estava numa certa distancia, gritou:

— Depois eu te conto!

A última aula passou mais rápido do que imaginei. Talvez porque eu não estivesse nenhum pouco a fim de ir para casa.

Estacionei o carro na garagem e peguei o elevador. Mas assim que cheguei na porta já ouvi os gritos.

Meus pais brigavam, separavam, brigavam, se amavam, reatavam e brigavam outra vez. Era sempre assim e não sei até quando. Hoje eles estão bem longe um do outro, exceto nos dias em que papai vem nos visitar. Quer dizer, visitar o meu irmão na verdade. Ele manteve Laura, minha irmã mais velha que se casou com um estrangeiro, na coleira por muito tempo. Então ela conheceu Brad, papai aprovou o namoro, os dois casaram e foram morar em Nova Iorque. Já no meu caso, ele pegou no meu pé até o dia em que anunciei o namoro com Fred. Depois disso, meu irmão mais novo sofre com seus conselhos horríveis sobre não se apaixonar por gente pobre. É terrível.

Eles se separaram pela primeira vez quando eu tinha 14 anos. Sendo assim, meu pai não me viu crescer como os outros ao ponto de vista das primeiras dormidas fora de casa, primeiro show com as amigas, baladas de salto, vestido e maquiagem, primeiro porre e só chegar em casa no outro dia. Quem enfrentou meus problemas da adolescência foi minha mãe, fazendo papel de mãe, pai, irmã e amiga. E fazendo muito bem.

Quando meu pai voltou a falar comigo, eu estava no segundo ano do ensino médio. E quando comecei a namorar o Pedro, ele odiou a ideia.

— Minha filha... Pense bem. Esse garoto não é para você! — ele dizia. — Irá lhe levar para o buraco. Pode dar adeus ao seu futuro.

— Eu posso muito bem ser feliz com o Pedro. Eu o amo e não vou abrir mão disso!

— Tudo bem, então não conte comigo.

Girei a maçaneta e entrei, mas os berros não cessaram. Revirei os olhos e bati a porta com força, até que os olhares dos dois se voltaram para mim.

— Vocês não cansam?

— Ah, minha filha, a culpa é toda do seu pai. Ele colocou na cabeça que o Rafael vai para a Suíça. Isso é ridículo! — mamãe cruzou os braços.

— Não! Sua mãe é que mima demais esse garoto. É tanto que ele aprontou mais uma vez. Tem mesmo que sair do país e ficar longe dessa gentinha. — resmungou meu pai.

— Olha gente, fiquem aí com essa briga idiota. Meus ouvidos não aguentam mais.

Subi as escadas enquanto eles voltavam a discutir.

O quarto do meu irmão estava fechada. O objeto que imitava uma placa de carro preso a porta dizia: Entrada Proibida. Ele colocou aquilo há alguns meses, o que deixou mamãe irritada. Fui até lá e dei três batidas.

— Esquece mãe, não vou abrir. — ouvi sua voz dizer lá dentro.

— Sou eu, Alice.

Segundos depois, ouvi a porta sendo destrancada.

— Ainda estão discutindo. — Rafa bufou.

— Dá pra ouvir até na China. — completei, enquanto entrava junto com ele.

O quarto do meu irmão não era uma bagunça normal. Se tinha algo que descrevesse aquela zorra, poderia ser: monstruosamente bagunçado. Ele só arrumava quando algum amigo vinha jogar videogame, digo, ele empurrava as coisas dentro do armário quando algum amigo vinha jogar videogame.

— O que disseram pra você? — Rafael me perguntou.

— Estavam falando algo sobre você ir para a Suíça. Ideia do papai, claro.

— Não acredito. Mais que saco! — se jogou na cama. — Ele não consegue parar de cuidar da minha vida nem por um segundo.

— Sei bem como é isso... O que você fez de tão horrível?

— Nada! Só estava saindo com uma garota. Mas ela não se encaixa nos padrões do senhor Garcia. — sentei na cadeira de escritório que ele usava o computador e o ouvi completar: — E o pior de tudo é que eu gosto dela.

— Se gosta dela não deve deixá-la só porque nosso querido pai não aceita.

— Mas se ele me obrigar a sair do país, terei que sair.

— Vou te ajudar nessa. — levantei, seguindo até a porta. — Mas para eu pode te ajudar, porque não vem comigo até a praia? Você tem que sair desse quarto!

— Ok, mas eu posso chamar a Carol? A tal garota que eu saindo? Assim vocês se conhecem.

— Por mim tudo bem.

Ele sorriu alegre e buscou o celular. Segui para meu quarto, liguei o som e fui tomar banho. Sempre que eu entrava no chuveiro era a mesma coisa. Parece que todo mundo pensa em tudo quando está no banho, mas eu pensava sempre na mesma coisa. Sempre na mesma pessoa.

E a música que começara a tocar ajudou um pouco.

Kiss me hard before you go (Beije-me forte antes de ir)
Summertime sadness (Tristeza de verão)
I just wanted you to know (Eu só queria que você soubesse)
That baby, you're the best (Que, baby, você é o melhor)

Lembrei-me do dia em que Pedro me deu um presente diferente dos anteriores. Era uma corrente dourada com um pingente em forma de uma flor vermelha. Suas palavras ecoaram em meus ouvidos:

“É uma tulipa vermelha. Significa amor eterno... Um amor igual ao nosso.”

Era simplesmente lindo, e eu nunca a tirava do pescoço.

I got my red dress on tonight (Trago meu vestido vermelho hoje à noite)
Dancing in the dark in the pale moonlight (Dançando no escuro, à luz pálida da lua)
Done my hair up real big beauty queen style (Fiz o cabelo bem grande como uma rainha da beleza)
High heels off, I'm feeling alive (Sem o salto alto, estou me sentindo viva)

Saí do banheiro com a toalha felpuda enrolada ao corpo. Abri a gaveta do meu armário à procura do biquíni enquanto a música continuava.

Oh, my God, I feel it in the air (Oh, meu Deus, sinto isso no ar)
Telephone wires above are sizzling like a snare (Os cabos de telefone acima chiam como a corda do tambor)
Honey I'm on fire, I feel it everywhere (Querido, eu estou queimando, sinto isso em todo lugar)
Nothing scares me anymore (Nada me assusta mais)

Kiss me hard before you go (Beije-me forte antes de ir)
Summertime sadness (Tristeza de verão)
I just wanted you to know (Eu só queria que você soubesse)
That baby, you're the best (Que, baby, você é o melhor)

Ah, sim, Pedro sempre vai ser o melhor. Mesmo depois de tudo, ele soube exatamente como me fazer feliz. Ele sabia tudo sobre mim, conhecia cada gesto meu. Assim como eu conhecia os dele. Éramos um só, unidos eternamente graças aquela flor vermelha. Parece ridículo pensar assim, mas não é nada além da verdade.

Você ouviu Summertime Sadness, da Lana Del Ray! E nós voltamos já! — disse o homem da rádio.

Vesti-me, peguei protetor solar e outras coisas que eu pudesse precisar, desliguei o som e desci as escadas. Rafael já estava lá embaixo.

— Ande logo, antes que papai ou mamãe apareçam e comecem a encher nosso saco novamente.

Nosso prédio ficava em frente à praia de Ipanema, e não havia necessidade de pegar o carro. Quando já estávamos lá embaixo, o sol tocou minha pele e o vento com cheiro de água salgada bagunçou meus cabelos.

E eu iria tentar mais uma vez esquecê-lo, bronzear-me na praia com, como disse a Lana Del Ray, minha tristeza de verão.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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