Desde O Fim Até O Começo escrita por Carrie Salvatore Grey


Capítulo 3
Capítulo 3 — Pra que lógica quando se vê que é o amor




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“Amor… Quatro letras. Tantos adjetivos. Tantos momentos de felicidade. Tantas lágrimas. Tanto amor. Tanto eu e você”.

Olhar para o mar me trazia boas lembranças. Minha mãe adorava o mar, dizia ser “a obra mais perfeita de deus, uma imensidão infinita”. Ela sempre nos levava a praia, e tanto eu como minha irmã aprendemos a gostar do mar como se fosse a nossa própria vida. Seria bom se ela estivesse viva, minha adorável mãe. Talvez ela me daria conselhos sobre esse enigma chamado amor.

Não sei se todos os filhos pensam da mesma forma, mas eu imaginava que meus pais sabiam tudo sobre tudo. Quando era criança, pensava que minha mãe era uma feiticeira do bem disfarçada de dona de casa, e que estava ali para responder qualquer pergunta que fizéssemos. Quanto a meu pai, achava que ele era algum tipo de super herói poderosíssimo, tão poderoso que não podia aparecer na TV ou nos quadrinhos. Um herói secreto.

E de repente todas as lembranças da minha infância vieram a tona, enquanto eu estava ali, sentado na areia e olhando para o mar.

Ouvi a voz de Ziggy chegando e fui falar com a turma de uns cinco caras que vinha com ele.

— Chega aê, mermão. — ele apoiou o braço no meu ombro e virou-se para os outros. — Galera esse é o Pedro, meu chegado. Esse aqui é sangue-bom.

Cumprimentei a todos e eles logo tiveram uma ideia.

— Porque a gente não vai bater uma bolinha? — sugeriu um deles.

Todos aceitaram e um loiro que segurava uma bola de futebol avisou onde tinha um campo. Tirei a camisa e a joguei no ombro, já estava esquecendo o sol escaldante do Rio.

Eu encarava os pés, tinha a mania de andar assim, enquanto Ziggy caminhava ao meu lado e contava sobre uma night que teria hoje em uma boate. Ergui os olhos por míseros segundos, mas que foram suficientes para reparar numa loira de biquíni azul que passava protetor solar em um garoto. Estaquei.

Simplesmente cravei os olhos naquela pessoa tão familiar. Era ela. Alice Garcia.

Meu amigo franziu a testa e seguiu meu olhar. Percebi que Ziggy coçou a nuca, percebendo minha reação idiota.

— Aê brou... Vamo nessa, cara.

Voltei a caminhar com a imensa vontade de desviar o olhar, mas continuei observando seus cabelos longos e dourados que chegavam a sua cintura. O corpo escultural, cheio de curvas, parecia ter sido roubado de alguma deusa. Não era exagero.

Mais algumas pessoas que estavam de bobeira se juntaram a nós, dividiram os times e o jogo começou. A bola rolou para mim, que a passei para um cara do meu time. Voltei a olhá-la, que agora estendia um tecido florido na areia e deitava-se de bruços sobre ele. Apoiou os cotovelos no mesmo e catou algo na bolsa.

Um livro. Claro.

Sorri de lado ao ver que algo nela não mudara, até que Ziggy estala os dedos na minha frente.

— Meu brother! Se liga no jogo, cara.

— Foi mal , foi mal Ziggy. — respondi, voltando para o jogo.

Apenas em saber que o grande amor da minha vida estava ali, tão perto, me bateu uma imensa vontade ir até lá e falar com ela. Mas o que eu diria? Não havia nada a dizer. Só iria estragar o dia dela. Eu sabia que não era o melhor a se fazer, sabia o mal que a causei no passado.

Voltamos para casa e enquanto meu amigo estava no banho, esvaziei minha mala. As roupas foram para os devidos lugares no armário e encontrei, no fundo da mesma, dentro da caixa branca, a lembrança mais especial que eu tinha de Alice.

Era uma foto nossa, num clube que fomos com nossos amigos. Não me lembro de quem a tirou, mas lembro bem do quanto Alice insistiu para tirarmos. Eu odiava fotos. Logo abaixo, a letra de uma música do Strike: “E ela me faz tão bem. Quando cai a noite, eu sou refém. Ela me faz tão bem, sem você não sou ninguém.

Pode parecer estranho, mas quanto mais o tempo passa, fico mais ansioso para vê-la de perto novamente, falar com ela novamente, declarar meu amor novamente, esquecendo o passado obscuro que teima em nos rondar. Perdi a oportunidade de dizer que a amava no último dia que nos vimos, há dois anos. Eu estava nervoso demais tentando me explicar, e ela apenas chorava, furiosa, enquanto me estapeava.

— Eu juro, eu juro Alice! Não sei o que aconteceu!

— Quer saber o que aconteceu? — ela falava entre dentes quando suas lágrimas escorriam. — Você jogou tudo pro alto, destruiu o nosso amor... Você estava me traindo Pedro!

— Mas não faço ideia de como fui parar naquele quarto caramba! Eu não sei quem é aquela garota!

O tapa veio logo em seguida. Meu rosto ardeu quando senti sua mão chocar-se sobre ele.

— Claro que você não sabe. Estava caindo de bêbado.

— Desculpa meu amor. Eu devia ter te ouvido e ido embora com você... Mas armaram isso tudo, armaram para nos separar...

— Pare com isso, não queira colocar culpa em outra pessoa. O culpado é você! Eu não quero te ver nunca mais!

— Por favor, Alice... — Rafael, o irmão dela, me puxou pela camisa e me distanciou da irmã. — Eu vou te provar que tudo isso foi uma armação!

Foi a última coisa que eu disse antes de ser retirado da casa dela como um cachorro. A partir daquele dia, todos da família Garcia passaram a me odiar. Não só o pai dela, mas Rafa e a própria Alice também começaram a ignorar-me.

Mas parece que a bolsa de estudos na escola de artes da França veio no tempo certo. Saí do Brasil com meu coração caído, e a ausência que era para ser curta, se prolongou.

Os meus dias teriam sido muito mais alegres e coloridos se eu estivesse com ela. Talvez como o namorado, quem sabe seu marido, ou na pior das hipóteses, apenas como um amante. Meu coração iria bater mais forte, eu seria mais feliz, e a tristeza estaria longe de mim.

Não te ver é me encontrar imerso nesse mar de fel
Vou te levar pro céu, já que os opostos se atraem.
E quando o fluxo é perfeito e vai girando feito carrossel
Se eu te levar pro céu, a noite não acaba mais.

Quando chegava a noite, eu ia até a janela da republica na qual fiquei instalado. A torre Eiffel me transportava para um mundo maravilhoso. Imaginava Alice em meus braços, eu sentia a força e o calor daquela que é a mulher da minha vida. Eu a cobria de beijos, saciava os desejos mais profundos, e lhe dava todo meu amor.

O que nos difere nos aproxima
Quando ela exerce teu poder é minha sina
Te contemplar até morrer
Ela aprecia um filme em boa companhia
Ser interessante é a arte que ela domina

Mantém a classe, o equilíbrio, é fiel onde for.
Sou um mero largado, que nunca endireitou.
Discreta pra beber, mas sabe se portar.
E eu só dou vexame, saio sem pagar.

Não quero saber com quem ela saiu, com quantos ela ficou. Não quero saber se ela apaixonou-se por alguém enquanto eu estivesse fora. Apenas quero completar a frase que não consegui dizer no passado, quero que ela acredite nas palavras que saem da minha boca. Não sei o que está acontecendo, só sei que não dá para passar mais tempo sonhando com os beijos, os abraços e o calor de nossos corpos juntos. Não vale a pena ficar esperando. Já não dá mais para segurar.

Quero a minha princesa de volta.

E ela me faz tão bem, quando cai à noite eu sou refém.
Ela me faz tão bem, sem você não sou ninguém.
Hoje eu vou me entregar trilhar com você, pra onde você for.
Pra que lógica quando se vê que é o amor


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Notas finais do capítulo

Chegado: amigo;
Sangue-bom: pessoa legal; gente boa;
Night: festa;



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