Do outro lado... escrita por Alayne MR


Capítulo 5
Pensamentos e consequencias


Notas iniciais do capítulo

...Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências;

Somos o que fazemos , mas somos principalmente o que fazemos para mudar o que somos.

A experiência não é o que acontece com o homem: é o que o homem faz com o que acontece com ele.
- Autor Desconhecido



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Por mais que eu tente não consigo deixar de pensar naquela mulher do meu sonho, é estranha a sensação que sinto, uma sensação como se a conhecesse de algum lugar, nas ultimas semanas tenho agido como se fosse apenas mais um sonho, mais eu sei que não é não pode ser coincidência toda noite eu sonhar a mesma coisa com a mesma mulher, e cada vez parece que a mulher tem mais urgência em falar comigo.

Cheguei ao meu ponto de ônibus, olho as horas são exatamente 13:00 levando em consideração que a aula acabou 12:30 e que eu vim contando passos cheguei ate cedo, geralmente o ônibus passas as 13:20. Me entretenho mexendo no celular,para ser mais especifica no whatsApp, minha sala tem um grupo nesse aplicativo, e no momento o assunto esta sendo meu mico na aula de história! Passa um carro, um garoto coloca a cabeça pra fora e grita:

— O gostosa, é você mesmo olho estranho, dizem que quem tem heterocromia é super hetero na cama em! Não quer me provar!

Mexeram com a pessoa errada, mostro o dedo do meio e mando-os pra casa do caralho, não intendo, tantas pessoas sofrem acidente andando na velocidade certa e com cinto de segurança e esses idiotas andam em alta velocidade, sem cinto e não acontece nada, nem a porra do pneu estraga... Meu ônibus chega dou sinal entro e sento nas cadeiras altas perto da janela, o ônibus arranca, mais a frente o transito esta todo parado depois de uns 8 minutos andando na mínima velocidade possível, ouço sirenes, meu coração começa a acelerar, depois de um tempo o ônibus anda um pouco mais e reconheço o carro dos garotos, levanto, dou sinal e peço o motorista pra abrir a porta ele diz algo sobre não poder porque esta no meio da pista mais acaba cedendo e me deixa sair, preciso descobrir o que aconteceu!

Atravesso entre os carros e vou em direção a uma pequena multidão reunida, vejo um senhor com cara simpática, vou em direção a ele e pergunto:

— Oi, por favor, o que aconteceu com eles? São da minha turma de escola não faz nem 20 minutos que eles estavam bem, sabe se é grave?

O senhor me lança um olhar simpático e responde

— Olha minha filha, parece que estavam andando em alta velocidade, o pneu do carro estourou, o carro rodopiou no meio da pista e bateu no caminhão que estava atravessando, os dois que estavam do lado do motorista parece que só tiveram alguns cortes superficiais, agora os outros dois um parece que não sobreviveu o outro está em estado grave... Esses jovens de hoje em dia...

Não consigo acabar de ouvir o que o senhor esta falando, minha atenção se prende em um corpo que os bombeiros estão fechando, aquele rosto, aquele era o garoto que mexeu comigo... Isso tudo é culpa minha, não posso acreditar, está acontecendo de novo! Eu matei esse garoto, eu desejei isso, tudo bem que não desejei a morte mais foi consequência de algo que desejei de repente a pressão no meio peito é de mais, meus olhos começam a lacrimejar.

— Ei você está bem? Está se sentindo bem? Você está branca...

Não reparo quem esta me perguntando só preciso sair dali, e é o que eu faço, eu saio correndo sem direção, coração disparando, lacrimas rolando, e meu peito cada vez mais apertado! Porque eu sou assim, porque sou estranha? Não sei quanto tempo eu corri, só sei que minhas pernas estão doendo, só sei que já não tenho lagrimas, só sei que estou na frente da casa do Marllon e não faço ideia de como consegui correr toda essa distancia.

Aperto a campainha por sorte quem abre a porta é o próprio Marllon, odiaria ter que inventar desculpas para a mãe dele. Abraço ele forte, esperando que esse abraço desfaça o nó em minha garganta ele retribui o abraço, não sei de onde sai mais lagrima só sei que estou molhando a camisa dele.

— Ei Kath o que esta acontecendo?

Ele levanta a minha cabeça, mais eu não quero falar ele não entenderia, então só balanço a cabeça e volto a abraça-lo. Ele me levou pro quarto dele, o lugar não era muito grande, mais também não era pequeno, tinha vários pôster do time dele nas paredes, fotos dele e do primo, varias roupas espalhadas no chão. Geralmente em dias normais eu faria piada das roupas e no fim acabaria dobrando todas elas. Mais hoje eu só vou pra cama dele e fico abraçada com ele, não me lembro em qual momento exato eu dormir, só sei que quando acordei o sol já estava quase se pondo.

— Ei dorminhoca! Que isso você babou minha cama toda!

— Há Marllon vai se fuder, tu sabe que eu não babo.

— Verdade, você não baba só ronca!

Eu pego uma almofada e jogo nele que pega no ar antes de acerta-lo. Desgramado!

— Mais é serio Kath, você está bem?

— Acho que sim, estou melhor...

— não quer falar sobre o que aconteceu?

— Marllon você não entenderia, eu nem sei como explicar...

— sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa não e? Mesmo que seja algo super louco eu vou ouvir, e vou arrumar um jeito de te ajudar.

— É eu sei disso, mais já que ofereceu, tem algo que pode fazer por min.

— Não gosto quando fala assim, sempre vem bomba.

— Qual é não é nada difícil e nem ruim, por favooor!

Digo fazendo biquinho e piscando os olhos. Em uma tentativa frustrada de fazer carinha fofa como o gato de botas.

— Ok manda ver!

Eu abro o sorriso, pois sei que ele nunca consegue negar nada para min.

— Então... Marllon, eu sei que você e bem íntimo – friso o intimo para ele – da Bianca, e as pessoas comentam que a família dela são meio bruxos...

—... Há não Kath até você pensa isso!

Ele disse já levantando da cama, e passando a mão no cabelo, ele sempre faz isso quando esta ficando irritado.

—Calma! Você nem ouviu o que tenho a dizer, senta ai e me deixa terminar!

— Ok então continua.

Ele disse sentando novamente na cama.

—... Então como eu estava dizendo, dizem que a família dela tem forte ligação com bruxas, magia e tal, tecnicamente ela deve saber de algo do tipo, e já me falaram que ela é boa em interpretar sonhos... Marllon eu só quero que você me apresente a ela, eu quero conversar com ela sobre meus sonhos!

— Não sei Kath , ela não gosta muito dessas coisas...

— Marllon está piorando, não tem uma noite que eu não sonho com isso, você mesmo viu hoje na sala de aula, por favor, eu preciso entender isso!

— Eu vou tentar conversar com ela e ver se ela aceita tá bom? Mais não vou prometer!

— Já esta ótimo! – levanto e o abraço beijando seu rosto – Aliás, Marllon tem uma festa na sexta feira na casa da Jully... Se ela topar, o encontro pode ser lá.

— Kath não crie esperanças ok? Eu vou falar com ela, agora com respeito à festa... Katherine Oliveira me chamando pra ir a uma festa? O que aconteceu? Quem é você? O que fez com minha amiga antipopular?

Faço cara de magoada, cerro os olhos.

— Isso é um absurdo, não sou antipopular ok? Não tenho culpa se as pessoas preferem ficar afastada, e eu vou à festa porque a Jully me convidou pessoalmente, e ela é a única que até hoje não ficou com raiva de min... Além disso, depois de tudo o que tenho passado, estou precisando de uma diversão!

O resto da semana passa super-rápido, tento não pensar em nada possível de acontecer, tento ficar acordada pra não sonhar, mais não consigo então sempre eu tenho o mesmo sonho, sempre a mulher tenta mais quando ela vai falar eu acordo. Durante a semana nada de novo aconteceu, exceto as confusões e micos que me acompanham. Na terça feira o professor de física me expulsou da sala porque eu estava dormindo na aula dele, e ele me disse que ainda descobriria como eu colo nas provas de física e eu disse que não tinha culpa se era mais inteligente do que o minúsculo cérebro que ele carrega protegido no crânio. Não sei por que ele se ofendeu, já que o cérebro de todo mundo é pequeno, o que muda é somente o QI. Na quarta feira fui ao treino com o Marllon mais também fui expulsa de lá, o que também não é novidade, tudo porque eu disse para um garoto que não adiantava ter 20 cm entre as pernas e não tem cérebro suficiente para saber usa-lo, o garoto ficou furioso e o treinador me expulsou porque de acordo com ele eu estava atrapalhando o desenvolvimento do jogo, grandes merda! Na quinta feira eu já estava tão cansada, com tanto sono, e com tanta ansiedade pra chegar sexta que nem percebi quando calcei uma rasteirinha de um tipo e a outro do outro tipo, nem o Marllon reparou, só percebi quando cheguei à escola e vi todo mundo me olhando, e foi assim a manhã inteira, as pessoas me olhavam e cochichavam!

Sexta chegou até que em fim! Marllon disse que a Bianca ficou receosa no inicio sobre ter essa conversa comigo mais acabou cedendo, suspeito que só aceitou porque sou amiga do Marllon, mais isso não importa eu só quero descobrir sobre meu sonho. Assim que a aula acabou Marllon me trouxe para casa, eu sou péssima com roupas então eu disse pra ele chegar um pouco antes da festa pra ver se eu estou legal. As 18:45 Marlon bate a campainha eu abro o portão, ele me olha de cima a baixo e faz cara de assustado, Merda! Eu sabia que ele não ia me deixar ir assim!

— Você não vai assim não é?

— Porque não?

Eu estava de tênis, calca Jeans, camiseta e o cabelo preso em coque, resumindo, super confortável.

—Porque isso é uma festa não um encontro casual!

— Mais eu não estou indo pra festa em si! Estou indo conversar com sua namorada

— Primeiro ela não é minha namorada, segundo o encontro vai ser em uma festa, então você vai à festa!

— primeiro vou fingir que acredito que ela não é sua namorada, segundo eu não sei que tipo de roupa se deve usar pra um encontro em uma festa.

Subimos para meu quarto, isso é estranho, geralmente é a mulher que ajuda o homem a se arrumar, mais comigo ocorre o contrario, o Marllon é meu consultor de moda. Ele separa uma saia curta jeans que eu tenho uma camiseta preta e pega um par de sandálias de salto alto. Fico abismada quando percebo que ele sabe onde fica tudo em meu quarto, me pego questionando se ele sabe também onde guardo minhas calcinhas, espero que não!

— Ok aqui está seu look!

— Humm, a saia e a camiseta rola, mais não vou de salto alto!

— há não? Vai de que então?

— Me espera do lado de fora enquanto eu troco de roupa e vai ver! Vamos... sai!

Assim que ele sai visto a roupa que ele separou, a camiseta acentua meus peitos, ela tem um decote chamativo, não gostei muito desse detalhe, vou ao guarda roupa pego uma jaquetinha branca visto por cima, pra calcar eu vou a sapateira e pego um tênis mais dia a dia com detalhe de oncinha do lado. esta ótimo! Solto o cabelo, hoje ele esta mais comportado, com menos volume, passo um delineador, rímel, batom nude e blush. Abro a porta.

— Nossa achava que não ia ma... Puta merda Kath! — ele diz me olhando de cima a baixo e parando os olhos em meus peitos – Se você se vestisse sempre assim já tinha encontrado um doido pra você!

Dou um soco nele, já toda vermelha.

— Fala serio Marllon, já são quase 19:30, sua garota já deve esta cansada de esperar!

Saímos de casa com ele tagarelando sobre como eu conseguia ser bonita quando queria. A casa da Jully não era muito longe, chegamos ate rápido, Marllon ficou de pegar bebida e encontrar a Bianca e eu fiquei sozinha. Comecei andar entre o pessoal, ver se encontrava alguma pessoa que eu não tivesse brigado, vários caras mexiam comigo, parece que meu decote e minhas pernas fizeram sucesso, alguns tentaram me agarrar de surpresa e receberam joelhada entre as pernas. Por mais que eu tentasse não conseguia me sentir parte daquilo. Em um dos cômodos da casa tinha uma janela grande, fui ate ela e meu olhar se prendeu na lua, era uma lua tão linda, lua cheia. Pulei a janela do outro lado tinha um jardim, fui andando olhando para o céu, achei um carvalho enorme, sentei e escorei nele e comecei a reparar em como a lua era incrível, a luz que ela lançava era algo estonteante. Meu celular tocou me tirando dos meus devaneios, era uma mensagem no whatsapp, Marllon me perguntando onde eu estava. Respondo que estou próxima ao carvalho que é só pular a janela, ele me chama de louca e diz que já esta vindo.

Cinco minutos depois ele esta se aproximando com a Bianca, nunca fico nervosa quando vou conhecer alguém, hoje era uma exceção, minhas mãos estavam suando e eu estava insegura, talvez porque ela pudesse ter respostas, talvez porque ela seria, além do Marlon claro, a primeira, a saber, sobre isso.

— Oi – tento falar de forma suave para não assusta-la – Eu sou a Katherine.

— Sei quem você é – ela diz – a única menina que não conversa com quase ninguém e ainda assim é popular.

E deu aquele sorrisinho debochado que eu não suporto, meu sangue começou a esquentar.

— Desculpa Bianca, desculpa Marllon isso foi um erro, deixa para lá. E já vou me afastando, sei que se ficar vou acabar brigando com ela, porem antes de dar dois passos Marlon segura meu braço.

— Espera Kath!

Ele se vira para a Bianca e olha com cara feia, ela respira fundo e diz:

— Desculpa, eu não queria ser rude, está bom, queria sim mais fui injusta afinal você nunca fez nada contra min.

Eu olho para ela e penso que nunca realmente fiz algo propositalmente com alguém, alias eu tento me afastar para não machucar as pessoas. Cruzo os braços e olho para o céu. Por algum motivo olhar o céu à noite sempre me trouxe uma calma inexplicável.

— Marllon disse que você precisa de ajuda na interpretação de um sonho?

Ela diz.

— Olha Bianca eu realmente preciso de ajuda, mais eu não quero que você faça contra sua vontade, eu nunca falei sobre isso pra ninguém, além do Marlon, então você pode imagina como isso está sendo difícil para min? Eu só quero ser ajudada por alguém que queira ajudar e não contra sua vontade...

Disse demonstrando mais sensibilidade do que queria.

Ela morde os lábios, e sua expressão se suaviza.

— Tem razão, foi muito rude de minha parte o jeito como te tratei, desculpa é que na escola não se fala coisas muito boas de você.

— Não se deve acreditar em tudo que se ouve, ainda mais naquele lugar.

Ela ignora meu ultimo comentário, e diz como se não tivesse acontecido nada antes:

— Então me conte seu sonho, se eu puder ajudar, vou fazer – ela diz sentando-se na grama.

Também me sento novamente e escoro no carvalho respiro fundo e começo a contar, falo que a primeira vez que sonhei foi no meu aniversario de 16 anos, e que de lá pra cá os sonhos vem acontecendo cada vez com mais frequência, e cada vez mais a mulher parece estar com mais urgência para falar. Ela escuta tudo sem dizer uma única palavra, quando acabo de falar ela permanece em silencio , eu tento ler sua expressão, mais não consigo, fico incomodada, depois de alguns instantes ela vira pra min e diz:

— Está claro que ela quer te falar alguma coisa, na cultura de minha família eles acreditam na existência de mundos paralelos até mesmo místicos, onde pessoas de outros mundos se comunicam com nós, assim como também se acredita que almas por meios de sonho se comunica com os humanos, mais isso é bem relativo.

Fico pensando no que ela falou, é tudo muito louco, não consigo acreditar.

— Então você não tem uma resposta? Pergunto.

— De imediato não, minha família tem alguns grimórios, diários, livros bem antigos, posso pesquisar e na segunda te digo se achei algo pode ser?

Balanço a cabeça concordando, já desanimada, isso tudo é muita maluquice, e eu sou a mais maluca de todos. Levanto limpo minha saia, ela e o Marlon também se levantam, reparo que ele esta com a mão na cintura dela.

— Ok, então... Nos vemos na segunda, espero que ache alguma coisa e ...obrigado por tentar me ajudar.

Despeço dos dois e vou embora mais desanimada do que nunca. Já que Marllon ficou na festa com a Bianca vou a pé para casa.


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