Lost It All escrita por Alice Antivist


Capítulo 10
Hell Above - Primeira parte


Notas iniciais do capítulo

MÚSICA DO CAPÍTULO: Hell Above - Pierce the Veil



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A única coisa que me acalma no momento é escutar o som chapinhado de meus passos pela rua, devido à chuva agradavelmente forte do momento. O capuz cobre meu rosto, escondendo minha expressão assustada de olhares estranhos ou de uma ajuda politicamente correta. Sinto o peso das palavras de Reyna sobre meus ombros, mesmo sem entender o que queriam dizer:

“A culpa é toda sua.”

Culpa de que? De Nico ter sumido essa noite? Dele estar cortando-se cada vez mais fundo? Ah, vá a merda. Eu nunca quis para que ele ficasse mal ou quisesse se matar, todos sabem que na verdade sempre me esforcei ao máximo para que ele se sentisse bem. Não faço a menor ideia do que meu amigo passou, mas tudo que eu mais quero é que ele não seja como minha irmã e desista, quero que entenda que não um fraco ou um perdedor: porque o que vence, é aquele que tenta. Pode até falhar, mas tenta.

Respiro fundo, parando no meio de uma praça próxima a um cemitério. Tiro o capuz, sentindo as gotas escorrendo pelo meu rosto e se misturando com o suor que formou-se em minha testa. Ergo meu rosto para cima e, fechando os olhos, relaxo meus braços ao lado do corpo; aquela sensação de pavor repentinamente some e é substituída por um calor gostoso. A chuva sempre me acalma, como um abraço apertado. A ansiedade insiste em voltar com tudo; aperto minhas pálpebras com força, engolindo um nó que se forma em minha garganta. Merda, merda, merda. Não posso chorar agora. Tenho de encontrar Nico, dizer que me importo e impedi-lo de se martirizar ainda mais por seja o que for...

Aqueles olhos são tão sombrios que nem parecem de um adolescente de quinze anos, e sim de um homem que já está cansado da vida. E ele realmente está. Cansado de ser julgado ou ignorado, cansado de pensar ou ser frio, cansado de não ter voz ou vez, cansado de sentir ou estar vazio: cansado de viver. Aqueles olhos... Aqueles olhos gritam de forma muda por um socorro que jamais chegará. O fato é que esse pedido não chega nem perto de ser atendido, uma vez que tudo que ele faz é esconder-se e impedir que os outros saibam o que se passa em sua cabeça. Eu daria minha alma para saber o que acontece com Nico, daria sem hesitar. Faço tudo para vê-lo feliz.

Fiz uma lista das coisas com as quais não posso brincar/falar com ele, guardei carinhosamente aquelas que o fazem sorrir. Escutei as músicas que ele gosta, com aqueles sons bizarros e incompreensíveis, mas que o faziam bater a perna e balançar a cabeça. Passei a ver beleza em lugares macabros ou sinistros, apreciar aqueles desenhos estranhos que fazia e assisti-lo interpretar formas de arte que para mim eram sem sentido. Adquiri com ele o gosto pela leitura, pelas variadas formas em que se pode organizar uma frase e deixá-la bonita. Ainda rio toda vez que recebo um olhar frustrado dele, quando erro a conjugação dos verbos no pronome “tu”. Acalma-me sentir a mão constantemente fria dele no meu ombro, em um momento em que estou à beira de um ataque de pânico. Agonia-me ver aquelas cicatrizes e não poder beijá-las, dizer que ele é muito mais que isso, mesmo que afirme o contrário. Agora você deve estar se perguntando: por que Jason Grace se sinte assim?

Porque estou psicoticamente apaixonado por Nico di Angelo.

E a cada nova marca naquele braço é uma nova facada no meu coração.

Olho para o lado, para o cemitério na outra quadra, com seus mausoléus repletos daquele goticismo que ele tanto adora. Meu coração aperta, ao imaginar o que ele pode estar fazendo no momento. Aquele lugar cheira a morte e, por incrível que pareça, isso me atraí; faz com que eu dê passos lentos em direção ao portão de ferro. Está trancado com um cadeado, mas nada me impede de voltar a alguns anos atrás (época em que pular muros dos vizinhos era normal) e escalar a grade. Chegando do outro lado, sou recebido pela estátua de um anjo, que olha para mim fixamente com aqueles orbes de pedra.

— O que foi? – pergunto, mesmo sabendo que uma estátua não responderia ­– Eu já vou para o inferno mesmo, então qual o problema?

O silêncio arrepiante perdura, fazendo-me inspirar fundo e soltar o ar vagorosamente por meus lábios entreabertos. Há um pequeno corredor entre os túmulos, pelo qual caminho sem pressa alguma; sinto falta de um cigarro, nesse clima até cairia bem, porém prometi a Bandit que pararia antes de me encontrar em um estado grave de vício. Qualquer coisa pode ser vício hoje em dia.

Sou arrebatado de meus pensamentos por um sou incomum num cemitério: garrafas. Mais precisamente: garrafas sendo quebradas.

Meu corpo inteiro entra em alerta, mas o medo me impede de virar-me em direção ao som. Vamos para pensar... Ou tem um gótico bêbado por aqui, ou os irmãos Winchester* resolveram fazer algum ritual maluco. Com essas duas possibilidades, minha imaginação acaba criando a imagem de Sam e Dean* cantando em latim para um gótico bêbado dançante. A cena me faz prender o riso e relaxar, coisa que me ajuda a voltar-me para o som e caminhar naquela direção. Depois de alguns passos, acabo indo parar em outro corredor, onde há um mausoléu que chega a parecer um pequeno castelo, e me deparo com a última pessoa que eu imaginaria estar num estado daqueles. Sentado nos degraus de pedra negra, com duas garrafas espatifadas no chão e outras três ainda intactas, os cabelos grudando no rosto e as mangas cobertas de uma fina camada de sangue recente:

Nico di Angelo.

Meu coração falha uma batida, para logo depois acelerar loucamente. Corro em sua direção e me ajoelho ao seu lado, puxo um de seus braços observando os vários novos cortes que foram feitos apenas naquela região. Não estão apenas nos pulsos, se estenderam por toda a extensão do mesmo, desde o cotovelo para baixo. Sua profundidade é mínima, mas é o suficiente para fazê-lo sangrar e sentir bastante dor, principalmente nessa quantidade tão alarmante. Envolvo seus ombros em um abraço apertado, sentindo as lágrimas insistindo em sair; deixo-as escorrer, não é como se Nico esperasse que eu mantivesse a postura numa situação como essa.

Mesmo com meu choro compulsivo, ele não esboça uma mísera reação. Isso me deixa ainda mais desesperado, fazendo com que soluços comecem a escapar, em uma dolorosa súplica para que tudo seja um pesadelo. Um terrível pesadelo, daqueles que eu acordo sobressaltado, suando frio e tremendo.

A voz do meu amigo, em um sussurro incompreensivo faz com que me afaste.

— O que?

Ele repete a frase, mais ainda num tom baixo demais para que eu possa entender.

— Ainda não escutei...

Seus olhos se fixam nos meus, aquele negrume todo faiscando com uma raiva que nunca imaginei existir naquele garoto tão contido. Sua mão direita agarra uma garrafa e a ergue como se quisesse me acertar; jogo o corpo para trás, levantando logo em seguida. Sua voz sai rouca:

— Eu disse... – tosse – A culpa é toda sua.

Nico fica de pé, para logo depois atirar a garrafa na minha direção.

Desvio-me com facilidade, e escuto o vidro se estilhaçar bem atrás de mim. Por que?

— O que?! O que eu te fiz?!?

Os olhos dele se enchem de lágrimas, mas ele trinca o maxilar, prendendo-as.

­— Você sabe muito bem, Jay. – ele cospe a frase em mim, atirando outro recipiente logo em seguida – Eu tenho certeza de que você sabe.

— Não sei! – digo – Mas você poderia me explicar e eu entenderia...

Imediatamente, me arrependi de ter dito isso. Ele dirigiu a mim o sorriso mais cínico que já vi, e agarrou-me pela gola do casaco, deixando meu rosto a poucos centímetros do dele. Seria uma situação engraçada, uma vez que Nico é mais baixo que eu, mas no momento tudo que eu sentia era desespero.

— Entenderia? – responde com sarcasmo – HAHA, que hilário! Já pensou em fazer stand up?

Aquela ironia toda não costumava ser dirigida a mim daquela forma, como se quisesse me machucar. Nico parecia estar querendo me destruir, mesmo que fosse apenas com palavras. Ele me empurrou, deixando uma distância razoável entre nós.

— Não, você não entenderia Jason! Você não conseguiria entender qual a relação de garrafas cheias de bebidas alcoólicas e a sua existência! Você não consegue entender nada! – a última garrafa é atirada – Você não consegue entender o que eu sinto por você!

Uma vez escutei uma frase de um anônimo, que dizia que as palavras regem as nossas vidas. Tudo o que somos é constituído por aquilo que dizemos, sejam mentiras ou verdades, realidades ou ilusões, elogios ou insultos. E aquelas palavras... Aquelas palavras regeram a minha ação, que por muitos seria considerada um crime.

Mas se eu era um criminoso, Nico é meu cúmplice.


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Notas finais do capítulo

*Sam e Dean Winchester: personagens da série Supernatural.

Relou beibes ;u;
Demorei? Demorei. Problemas? Problemas. Foda-se ;u;

Eu não ia postar hoje blá blá blá Não tem flash porque tem parte um e parte dois blá blá blá O pessoal do Nyah não reclama pq eu vou postar depois de responder os reviews (não sei escrever isso até hoje '-') blá blá blá

Nico revolts