Semana Cultural do Santuário escrita por Chiisana Hana


Capítulo 4
Capítulo IV




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SEMANA CULTURAL DO SANTUÁRIO

Chiisana Hana

CAPÍTULO IV – PRIMEIRA NOITE

O dia da abertura da Semana Cultural se aproximava. Os ensaios corriam bem e todos já se sentiam mais confortáveis com seus papeis.

Dias antes, Dohko marcou uma prova dos figurinos em sua sala. Ele e Saori tinham alugado tudo, mas dariam liberdade aos cavaleiros para modificar seus trajes.

Ao invés de provar uma das fantasias alugadas, Shiryu chegou trazendo sua própria roupa, uma túnica azul celeste sem mangas, ornada com um cinturão dourado, pouco acima do joelho. Trouxe também sandálias de couro de amarrar, pulseiras e brincos, e usava um penteado exótico: várias tranças foram enrolada sobre a cabeça, deixando o restante do cabelo solto.

– Lampito, você está linda! – zombou Dohko, rindo. – Aposto que isso é obra da Shunrei.

– Claro – respondeu Shiryu. – Ela quer que eu seja ‘a moça mais bonita’ no palco. E mandou dizer que se o senhor não gostar da minha roupa ela pode fazer outra. Mas por favor, goste! Ela passou noites em claro fazendo a túnica e os assessórios, e hoje me acordou mais cedo pra fazer o penteado.

– Está perfeito! Se tivéssemos tempo, pediria para ela fazer todos os figurinos ao invés de usarmos essas fantasias alugadas.

– Ainda bem que não dá... – murmurou Shiryu. – Não quero que ela morra de exaustão.

Quando as provas começaram, Seiya ficou encantado com sua túnica de rei, especialmente com a capa vermelha que pendia das costas dela.

Shina ficou muito bem com sua roupa de rainha e muitos concordaram que ela estava mesmo parecendo da realeza.

O elenco de Lisístrata, entretanto, não estava muito feliz. Como as túnicas femininas deixavam boa parte das pernas à mostra, Dohko sugeriu que se depilassem. Shiryu não enfrentou esse problema, uma vez que como oriental, tinha poucos pelos no corpo. Apesar de toda a reclamação, Dohko argumentou que não havia tempo para conseguirem novas túnicas e eles acabaram cedendo.

Na véspera da abertura do evento, as duas turmas fizeram um ensaio final usando os figurinos. Dohko estava satisfeito com a evolução deles, mas se perguntava se conseguiriam fazer tudo aquilo diante de uma plateia.

“Que seja como os deuses quiserem”, pensou, e encerrou o ensaio final, torcendo para que a vontade dos deuses lhes fosse favorável.

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No dia da abertura da Semana Cultural do Santuário, Saori estava ansiosa para ver sua concretizada. Depois do fracasso da violenta Guerra Galáctica, ela só queria um evento cultural divertido, sem sangue voando na cara dos espectadores.

Logo na entrada, as pessoas eram recebidas por moças usando túnicas brancas e coroas de louro.

Foram montadas tendas onde se realizavam as exposições de arte. Nas duas primeiras, havia esculturas de pedra feitas por Mu, e de gelo, feitas por Camus. Em outra, Máscara da Morte expunha seus quadros com temática macabra: pedaços de corpos, rostos em sofrimento profundo, zumbis devorando gente. Antes, Dohko havia pessoalmente aprovado uma por uma as obras que Máscara pintou, e chegou a vetar algumas, explícitas demais.

Afrodite solicitou uma das tendas para expor suas rosas, com as quais fez esculturas.

No espaço entre as tendas, Aldebaran montou um número de capoeira onde ele tocava berimbau e uns amigos jogavam. Em poucos minutos já tinha gente cantando ‘paranauê, paranauê, paraná’, mesmo sem saber do que se tratava, pois era simplesmente contagiante ver o gigante tocando aquele instrumento esquisito.

Na arena, o quadro com a programação exibia:

“Domingo: Concerto de piano com a senhorita Saori Kido.

Apresentação Teatral: Édipo Rei.

Segunda: Apresentação de Futebol com Aldebaran de Touro

Apresentação Teatral: Lisístrata

Terça: Tambores Chineses com Dohko de Libra e Shiryu de Dragão

Apresentação Teatral: Édipo Rei

Quarta: Habilidade com o chicote por June de Camaleão

Apresentação Teatral: Lisístrata

Quinta: Declamação de Poesia com Shun de Andrômeda

Apresentação Teatral: Édipo Rei

Sexta: Flauta Transversal com Afrodite de Peixes

Apresentação Teatral: Lisístrata

Sábado: Apresentação de Ilusionismo com Mu de Áries e seu discípulo

Apresentação Teatral: Édipo Rei

Domingo: Cerimônia de Encerramento

Concerto Voz e Violão com Seiya de Pégaso

Apresentação Teatral: Lisístrata”

Enquanto Saori fazia sua apresentação, na coxia improvisada, os ‘atores’ de “Édipo Rei” preparavam-se para entrar em cena. Depois de ensaiar exaustivamente, a deusa não decepcionou e exibiu um concerto competente. Ao final, até se arriscou a tocar e cantar timidamente “What a Wonderful World”, de Louis Armstrong.

Mais tarde, quando as cortinas se abriram para a peça, ela já estava na primeira fila da plateia. Apreensiva, ela viu Seiya entrar em cena, tropeçar na capa e cair. Entretanto, o cavaleiro levantou-se rapidamente e deu início à apresentação, para alívio de Dohko, apesar de ter soltado um “desculpa aí, pessoal”.

Saori ficou a ponto de ter uma síncope, mas acalmou-se quando viu que Seiya superou o tropeço. Depois, manteve o controle e não sentiu ciúmes dele em cena com Shina. Até porque ele estava com tanto medo de arranjar problemas que mal chegava perto da amazona.

Milo brilhou com seu Creonte, apesar de não ter resistido e colocado alguns cacos nas falas, para desespero de Dohko.

Hyoga foi bem com seu Tirésias e Mu fez um Corifeu contido, porém competente.

O Coro, constituído por Ichi, Ban e Geki cumpriu bem sua função e arrancou aplausos da plateia em diversas ocasiões.

Em geral, o grupo foi muito bem, mas Dohko orgulhou-se mesmo do progresso de Seiya, que conseguiu incorporar o personagem. Ele enrolou-se um pouco nas falas maiores, mas prosseguiu, com a ajuda valiosa dos companheiros de peça.

A certa altura, Seiya saiu do palco para voltar de olhos fechados e com o rosto coberto de sangue cenográfico, e fazer cena em que Édipo vaza os próprios olhos. Emocionou-se genuinamente ao lembrar que Shiryu, por amizade, já tinha feito o mesmo, o que deu ainda mais verdade a sua interpretação.

O Coro prosseguiu:

– “Oh!, que desgraça medonha para os homens! A mais terrível de todas as que tenho visto! Que loucura foi essa, desgraçado? Que deus te tornou pior ainda, com tais males, a sorte a que um mau destino condena? Embora deseje interrogar-te sobre muitas coisas, não posso olhar-te, não posso ver-te, não posso ouvir-te, tal é o horror que me fazes!”

– “Ai de mim! Ai de mim!” – Seiya prosseguiu. – “Como sou desgraçado. Para onde vou eu? Para onde vai a minha voz? Ó deuses, onde me lançastes?”

– “Numa infelicidade horrível que não se pode ouvir nem ver” – continuou o Coro.

– “Ó trevas execráveis da noite que sobre mim caístes” – ele prosseguiu, e chorou, lembrando-se das trevas em que se metera Shiryu, misturando suas lágrimas ao sangue falso. – “Lamentáveis, invencíveis, sem remédio! Ai de mim! Ai de mim! Ao mesmo tempo me despedaçam as dores dos meus olhos e a lembrança dos meus crimes!”

Milo entrou no palco para sua cena final, que prosseguiu até a entrada das filhas de Édipo, Antígona e Ismênia, representadas respectivamente por Shun e June. Ismênia seria Ikki por sorteio, mas o cavaleiro de Fênix recusou-se a participar e desapareceu como de costume, tendo sido substituído pela amazona de Camaleão. As duas não tinham fala, apenas auxiliavam o pai cego, porém Shun aprendeu a enorme fala de Édipo nesse momento, já intuindo que precisaria ajudar Seiya, como de fato precisou.

– “Os deuses detestam-me” – Seiya prosseguiu, encaminhando a peça para o ato final.

– “Por isso mesmo conseguirás o que suplicas” – retrucou Milo/Creonte.

– “É verdade?”

– “Não gosto de dizer o que não penso.”

– “Leva-me então daqui.”

– “Vem e deixa as tuas filhas.”

– “Suplico-te que mas não tires!

– “Não queiras possuir tudo; o que tiveste não te deu vida feliz” – Milo disse, encerrando assim sua participação. Ele, Seiya, Shun e June deixaram o palco, ficando nele apenas o Coro, que assim concluiu:

– “Vede vós, ó habitantes de Tebas, minha pátria! Que tempestades de terríveis desgraças derrubou Édipo que adivinhou o enigma célebre, o homem poderosíssimo que nunca invejou os cidadãos, nem tinha receio da sorte! Enquanto se espera o dia último, ninguém deve dizer que um mortal foi feliz, antes que ele tenha, sem sofrimento, atingido o termo da existência.”

A plateia derramou-se em aplausos e todo o elenco voltou ao palco para recebê-los. Orgulhoso, Dohko também entrou em cena e anunciou que havia à disposição da plateia formulários onde poderiam votar para eleger os melhores da noite, pondo fim à abertura do Festival.

Continua...


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