O Entregador de Estrelas escrita por Beatriz Azevedo


Capítulo 21
O Doutor da poesia




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Abri meus olhos e encontrei Mathew me chacoalhando. Coçei meu olho e olhei em volta.

“Carteiro, o Doutor voltou a falar.” Foi a primeira coisa que Mathew falou.

Me levantei e caminhei devagar ate a figura abatida do senhor de olhos azuis. Eu e Mathew já estavamos acostumados à observar o Doutor; desde o momento que sua cabeça havia o traído um de nos estava sempre o espionando, atentos a qualquer movimento. Ele tinha um rosto redondo igual a sua barriga e possuia uma cartola de cor marrom casual que mesmo que bem cuidada aparentava ser antiga. O que era tão peculiar sobre o novo Doutor era que ele nunca olhava ninguem nos olhos –mais ou menos como eu- e desde o momento de sua transformação ele não havia falado nada além de ‘água’. Admito que desde o instante que ele havia acordado minha atenção e meus pensamentos sao fixados nele e todos os movimentos que ele da –nao sao muitos alem de andar em circulos de vez em quando, tomar agua, dormir e outras necessidades para a sobrevivência- Mathew costuma dizer que ele tem esta rotina –exatamente na ordem anterior- por que ele ainda esta lutando para não perder a cabeça e eu concordo com ele.

O doutor estava encostado num canto da parede olhando para a janela como de costume, assim que eu me aproximei me agachei do seu lado e ele voltou seus olhos para o chão.

“Doutor, qual é o seu nome?” Eu perguntei e ele franziu a testa.

“Doutor?” Ele repetiu e eu virei minha cabeça em direção ao meu ombro com curiosidade.

“Você não se lembra do seu nome?” Perguntei e ele fez que nao. Pensei um pouco e tonelei minha cabeca mais um pouco com o objetivo de encontrar seus olhos. “Você se lembra de alguma coisa alem do que aconteceu ha 3 dias?”

Ele pensou um pouco e de repente seus olhos se arregalaram, o que me assustou e eu caí para tras.

“Meu... Casaco!” Ele falou alto e eu fiz um gesto para Mathew pegar o casaco dele.

“Fique calmo... o que tem o seu casaco?” Perguntei e ele ignorou minha pergunta. “Doutor, o que voce quer no seu casaco?”

“Minha casa!” Ele falou e eu cai novamente desta vez deixando minha cabeça ficar no chão. Olhei para o teto desesperado e apos alguns instantes me voltei para o Doutor.

“Doutor, meu sobrenome e’ Maynton, qual é o seu?”

Um estálo apareçeu em seu rosto e seus olhos azuis pararam nos meus. Eles estavam perplexos e eu acredito que os meus espelhavam os seus.

“Tio?” Sussurrei e ele olhou para os lados procurando outra pessoa. Mathew se aproximou de mim e colocou a mao no meu ombro como se tentasse me acalmar. Coloquei minhas mãos na cabeça já que a sensasão de que minha cabeça fosse explodir havia voltado. “Tio?” Repeti.

Pelos seus movimentos a cada vez que eu disesse tio eu sabia que ele não tinha mais conciencia de parentesco e que suas lembranças estavam escapando por seus dedos a cada instante. Ele me encarou cansado e eu tirei a cartola de sua cabeça. Olhei para a etiqueta quase apagada, mas que ainda possuia um nome legível. M-A-...-N-T-...-N. Fechei os olhos por alguns instantes ate finalmente ter coragem de olhar para os olhos azuis novamente. Eu teria de deixar meus sentimentos para depois e fazer perguntas importantes antes que ele só encontrasse um vazio em sua mente.

“Você disse que poderia me ajudar.” Falei para o Doutor que agora brincava com o casaco que Mathew o entregou. Observei como meu tio agia normalmente em relação ao Mathew... como ele poderia ver o Mathew se ele era da minha imaginação? Meus pensamentos criaram um nó e eu voltei a falar com meu tio. “Como?”

“Ajudá-lo?” Ele fez uma careta e eu tentei pensar em uma forma rápida e inteligente de me comunicar com ele.

“Voce lembra dos seus pacientes?” Perguntei e ele franziu a testa. “Você contou para um deles uma vez que voce era facinado por charadas e que ‘podem tirar tudo de você, menos a poesia’.” Ele me encarou curioso e eu sorri por conseguir chamar sua atencao, talvez eu o fizesse conseguir se lembrar de si mesmo. “Doutor, eu te pergunto, você tem uma poesia para mim?”

Ele pensou um pouco e abriu a boca para falar algo, mas de repente a luz sumiu de seus olhos e ele voltou a aparentar ficar doente.

“O que há doutor?” Perguntei e esperei uma resposta que não veio. Me vi cada vez mais curioso sobre uma vida que eu achava conheçer a tanto tempo. Me levantei e Mathew me seguiu até o canto oposto do quarto.

“O que acha?” Ele perguntou. E eu olhei para o homem de olhos fechados no outro canto.

“Ele está sofrendo.” Respondi de braços cruzados.

Mathew pareceu surpreso. “Você está arrependido então?” ele falou e não escondeu seu tom esperançoso.

Fiz que não. Enquanto pensava em algo examinei a cartola de meu pai. “Mathew.” falei por fim e ele me encarou atento. “Eu preciso que você traga livros para ele.” Mathew fez uma careta de quem não entendeu. “Livros de poesia. Acho que poderemos manipular o que ele vai se lembrar e poesia seria o modo mais seguro de ele se comunicar conosco.”

“Seria mais complicado e demorado.” Mathew cruzou os braços e eu coloquei a cartola em minha cabeça e admirei meu reflexo me lembrando das vezes que meu pai a colocava em minha cabeça e por ela ser muito grande a cartola tampava meus olhos.

“Por que?”

Mathew me encarou incrédulo por alguns instantes deixando claro que ele esperasse que eu o entendesse, mas assim que eu passei a fazer o mesmo ele suspirou “teremos que desevendar códigos o tempo inteiro. As palavras dele podem dizer várias coisas e-”

“Hey, não se preocupe com os detalhes.” Respondi e Mathew só olhou para o teto e depois caminhou em direção à porta, batendo-a depois de passar. Me aproximei do Doutor novamente e me sentei do seu lado. “Você se lembra de quem mora na sua casa?”

Os olhos azuis do Doutor se ascenderam e ele me encarou de uma forma surpresa. “Eles estão bem?!” Ele perguntou quase me assustando.

“Acredito que sim...” Olhei para outro lado envergonhado. Desde que Mary havia me levado para a casa de porta azul eu havia caminhado até lá. Eu sempre subia as escadas e fazia menção de bater na porta, mas alguns segundos antes de minha mão interagir com a madeira eu saía correndo da rua. Franzi a testa e voltei a o encarar. “'Eles'?”

O Doutor fez que sim e eu engoli em seco. “Quem são eles?”

Ele olhou para o teto e eu esperei por uma resposta apreensivo, mas depois de vários minutos notei que ele só estava dormindo de olhos abertos. Suspirei e me levantei. Caminhei em direção à o armário e tirei Victória que parecia ter crescido imensamente durante os poucos dias que estívemos aqui. Ela como sempre começou a piar e eu fiquei irritado. A coloquei no chão para que ela pudesse esticar as pernas e voltei a mexer na gaveta até que finalmente achei o pedaço rasgado da carta. Me sentei na cama e o examinei por alguns segundos...

O que eu estava fazendo?


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