– Se tá tão séria hoje. – Especulou Ben para Anita, enquanto os dois caminhavam pela rua a caminho do casarão, quando voltavam do colégio.

– Impressão tua, só estou sem assunto. – Anita se justificou.

– Sem assunto, sei. – Ele respondeu envolvendo um braço em volta dela. – Você com certeza já inventou desculpas melhores pra fugir de me dizer a verdade. – Ben afirmou, para pressiona-la a dizer o que estava lhe incomodando tanto, o que era nítido.

– Não é desculpa. – Anita argumentou.

– Não. – O menino repetiu, sem acreditar muito. - Você tá meia distante, desde que começou a receber as tais cartas. – Ben falou convicto, fazendo Anita perder a reação.

– Ai não Ben, eu não posso permitir que você coloque as coisas dessa forma. – Anita interviu os pensamentos dele.

– Qual forma? - Indagou ele. - A que o Antônio conseguiu o que queria, se for ele o autor das cartas. – Disse Ben um tanto irredutível, entrando pelo portão do casarão e o fechando.

– Ben não fala isso, porque não é verdade. – Afirmou ela, sentindo certa angústia pelos pensamentos dele.

– Você recebeu mais alguma carta, como as outras. – Encarou Anita nos olhos, antes de questionar.

– Não, foram só aquelas, mesmo. – Disse Anita, com uma enorme pontada de culpa, por ocultar de Ben que na noite anterior havia lido mais uma carta com mais uma ameaça, que supostamente poderia ser de Antônio, por ele se tratar do maior suspeito, mas algo dentro dela temeu a reação do garoto e ela viu sua mente sem coragem para dizer a verdade, como se algo dissesse que proteger Ben era mais importante.

– Melhor, quem sabe, não seja o Antônio. – Ben quis ter um pouco de esperança. – E a pessoa que tava fazendo isso pare. – Ele desejou taxativo.

– É quem sabe. – Anita respondeu, entrando em casa e fechando a porta, mas no fundo ela não tinha mais esperanças de que isso se realizasse, pois quanto mais cartas ela recebia, mais certeza que todas eram de Antônio ela tinha.

– Só que isso tudo esta tirando teu sono. – Desvendou ele, bastante incomodado. – Anita, o Antônio tem um proposito com essas cartas, com certeza o principal ele esta conseguindo. – Disse Ben sentando no sofá. – Abalar nossa relação. – Afirmou ele, fitando Anita, que estava parada em frente ao sofá.

– Ben, entende uma coisa. – Anita suspirou e caminhou até ele. – Nada que o Antônio faça, vai me impedir de te amar, ele não vai conseguir destruir nada. – Garantiu ela, se ajoelhando em sua frente.. – Porque simplesmente, eu ti amo. – A menina declarou. – Por favor, não pensa o que tá rondando os teus pensamentos, porque não é verdade, talvez eu tenha feito muitas coisas erradas de uns tempos pra cá, depois de tudo que rolou, enfim, e eu sei que eu fiz, posso até ter instigado mais ainda a loucura do Antônio. – Afirmou ela, com a voz rouca. – Mais independe do desfecho que essa história possa ter, e mesmo que ele não seja o mais favorável possível, eu vou continuar te amando e talvez essa seja a única certeza que eu tenha, diante disso tudo. – Anita falou com emoção, segurando rosto de Ben.

– Você não tem que sentir responsável por nada disso, porque você não é. – Respondeu Ben, tocado pelas palavras da garota, a conduzindo a sentar ao lado dele. – Desculpa. – Quase implorou Ben. – Eu que trouxe o Antônio pra tua vida, eu sou ser o culpado, não você então, sem mais. – Afirmou o menino, frustrado por tantos problemas enfrentados por ele e Anita.

– Não vamos mais falar disso, se a gente é culpado por alguma coisa, foi por não ter percebido do que o Antônio era capaz, de não ter tido malicia, pra quem sabe ter evitado um pouco de todo esse sofrimento, que a gente passou. – Anita disse em suplica.

– O que também não iria mudar muita coisa, eu iria continuar te amando do mesmo jeito, por mais que não ver você passar por tudo que viveu, seria um alivio. – Confessou Ben, e os dois sorriram antes de se unirem em um forte abraço, Anita deixou uma lágrima escapar ao fechar os olhos por alguns segundos, como forma de amenizar toda tensão que lhe dominava nos últimos dias.

– Eu tenho que ir, queria muito poder ficar aqui com você, mas o trabalho me chama. – Lamentou ele.

– Vai pode ir, eu vou ficar bem, não vai se prejudicar por minha causa. – Anita pronunciou sorrindo, enquanto ele descia a mão por seus cabelos.

– Você nunca me prejudica, por mais que ficar desempregado não seria uma coisa tão boa. – Ele disse, fazendo graça com a situação.

– É não mesmo, então é melhor você ir. – Anita respondeu, soltando uma risada.

– Se cuida tá, qualquer coisa me liga. – Ben recomendou.

– Vai pode ir tranquilo. – Garantiu ela, querendo despreocupa-lo. - Sério eu to bem, daqui a pouco aparece alguém pra fazer barulho aqui, relaxa de tedio é que eu não vou morrer não, não nessa casa. – Anita brincou, e os dos trocaram um beijo com carinho.

– O que nesse caso é uma coisa boa, né. – Disse ele caminhando até a porta. – Pelo menos você não fica sozinha, já que a Vera e meu pai não estão em casa. – Alegou Ben, ao pensar na proximidade de Antônio, por morar na casa de Maura.

– É. – Disse Anita parando em frente à porta. – Quando não seu quer silêncio poder ser. – Afirmou ela.

– A gente se vê mais tarde. – Questionou ele, com um sorriso no rosto.

Ah não. – Disse Anita com um beijo. – Não fala isso, se não eu vou ficar encarando o relógio a tarde inteira, só pra ver se eu consigo fazer ele andar mais rápido. – Ela afirmou, encarando Ben com um semblante alegre.

–Bom não sei vai ajudar, mas. – Riu ele, e depois se beijaram intensamente.

– Tchau. – Anita se despediu sorridente.

– Até mais, tchau. – Respondeu ele com um último beijo antes de ir embora, Anita fechou a porta logo depois e ficou de costas, fitando as entrelinhas estampadas na madeira presente na porta, um tanto pensativa.

– Então quer dizer que o Ben anda inseguro por causa do Antônio, você não muda o disco não Anita. – Sofia proferiu após descer as escadas, depois de ter uvido parte da conversa do casal de namorados.

– O que. – Anita se virou para ela, quando a ouviu. – Esqueci, que você tem esse habito, ouvir a conversa dos outros na entranha. – Falou Anita sem paciência.

– Eu não, foi por acaso. – Sofia justificou. – Mais já você, realmente não deve ser uma pessoa certa, depois de tudo que o Antônio aprontou você ainda deixa ele se meter no meio do teu namoro, to começando a achar que você gosta dessa situação. – Disse ela.

– Você não sabe o que você esta dizendo. – Anita rebateu se defendendo. – A situação é bem mais complicada do que você pensa. – Afirmou Anita, despois de um suspiro.

– O que eu sei, é que o Ben não nega que e um idiota e continua acreditando em você, mesmo depois de toda desconfiança que você teve dele, sinceramente eu não desconfiaria dele, nunca confiei no Antônio, já você pelo visto ainda confia. – Sofia pronunciou, indignada ao pensar no tamanho da ingenuidade da irmã.

– Da pra parar de se meter na minha vida, você não sabe das coisas e fica falando, como se fosse dona da verdade. – Esbravejou Anita, perdendo o controle dela mesma.

– Já você tem certeza que é, porque que você não encara que você foi ingênua nessa história, como foi em muitas outras, e para de se fazer de vitima, você usa essa história pra se auto- promover, e depois a mimada sou eu, pelo menos eu dou minha cara a tapa e não fujo das consequências. – Sofia devolveu.

– Ah claro, você já reparou que você me acusa de tudo aquilo que você faz. – Anita retrucou ao cruzar os braços. – Se eu sou vitima, egoísta, mimada, prepotente, você também é, só que é mais fácil pensar isso dos outros. – Anita disparou. – Sempre com o proposito de dizer que as pessoas te rejeitam aqui em casa, que a mamãe não gosta de você, que ela me prefere, talvez é isso que nós duas somos, reflexo uma da outra refletido em um espelho. – Anita afirmou se enfurecendo. – Você sabotou o casamento da nossa mãe, e assumiu o que, se ficou implorando pro Ben não contar a verdade. –Anita acusou.

– É você se fez de santa pra fica com ele, quando ele saiu daquele hospital você sabia que não tinha mais chance, não é Anita, você não tem coragem de admitir que o Ben me amava, não a você, ele só não ficou comigo porque eu acabei não querendo de imediato, e quando eu quis você fez a cabeça dele a teu favor, e ficou com o garoto escondido, pra ganhar tempo. – A loira devolveu a acusação. – E não vem não, me emaçar com essa história do casamento porque eu não me importo. – Garantiu ela.

– Não, ótimo, eu não tava brincando quando eu disse que eu estava disposta a abrir o jogo com a mamãe. – Anita respondeu, vendo Sofia esboçar um sorriso irônico por um instante.

– Ah claro, você não vai perder teu tempo pra se fazer de boa filha, já que o teu filme também tá queimado. – Sofia afirmou sarcástica. – Você continua mentindo pra ficar com o Ben. – Sofia gritou. – E a ainda quer ser a santa da história. – Completou ela.

– E você sabotou o casamento da própria mãe, por um capricho, pra se dar bem. – Anita falou alterada.

– Que isso que gritaria é essa. – Vera questionou, adentrando a sala ao chegar da rua, fazendo as duas arregalarem os olhos por medo do que ela realmente tinha escutado, após terem notado a presença da mãe. – Eu não posso ter ouvido certo, não posso. – Vera disse encarando as duas, perplexa.

Continua...