Apenas um olhar escrita por Eubha


Capítulo 123
Capítulo 123:




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— Você acordou. – Ben olhou surpreso para ela, parecendo ainda descrente.

— Você tá assustado, o que foi que aconteceu... – Anita indagou percebendo estranheza no olhar dele quando o encarou e dessa vez parecendo mais consciente.  – Porque eu to aqui, que lugar é esse Ben, o que houve... – Comigo, porque eu to aqui. – ela continuou querendo entender questionando confusamente, ao olhar em volta, mas não obter resposta alguma, eram só paredes brancas o que a garota assimilava, tudo estava tão vago em suas lembranças.  – Porque eu estou. – Eu to, aiii... – Anita reclamou ao pressentir que sua ordem para tentar se levantar não era tão obedecida assim por seu corpo, ela se via fraca, cansada, talvez com a cabeça pesada e zonza, e cada osso de seu corpo parecia esboçar uma dor repleta de exaustão, como se tivesse andado por horas sem parar um único segundo.

— Hey calma, você tá bem agora, se acalma, por favor. – Ben lhe pediu em um tom paciente, apoiando a mão ao ombro da garota e implorando que ela deitasse a cabeça no travesseiro novamente. – É um hospital, você não lembra do que aconteceu. – ele perguntava dessa vez encarando a garota em um tom de preocupação, Anita o lançou um olhar arredio parecendo ainda tentar reorganizar seus pensamentos.

— Lembro, eu acho, eu tava com, uh... – Anita expressou um olhar  forçado e totalmente assustado quando finalmente deu-se por conta de tudo que havia se passado consigo, ainda mais quando olhou para o curativo na testa do rapaz, e lembrou-se da briga de Ben com o garoto. – O Antônio. – prosseguiu ela temerosa, dessa vez parecia mais do que perdida e exausta, estava também apavorada e trêmula da cabeça aos pés. – Não sei, ele me empurrou contra a parede, eu me choquei com a janela, não sei, você e o Serguei, vocês ficaram estranhos aí, a última coisa que eu me recordo, foi você me pedindo pra acordar, eu te ouvia mais... – a garota jogou  a cabeça contra o travesseiro tonteada com o que se recordava. – E eu não conseguia te obedecer, aí tinha uma poça de sangue do meu lado, não sei, acho que eu apaguei completamente depois disso... – a moça quis lembrar-se de tudo. – Depois da última vez que eu acordei tinha muita gente falando comigo, mais eu não sei o que era, ou porque... – confidenciou ela a acerca da última cena que vinha puramente embaralhada em sua memória.

— Deve ter sido quando eles te levaram pra te atender, eles não deixaram nem eu ou o Serguei te acompanhar. – Ben afirmou forçando um sorriso despreocupado, não querendo assusta-la ainda mais.

— É, eu to dormindo há quanto tempo.  – Anita indaga ainda estranhando tudo aquilo. – Hoje,  a noite toda. – ela fala tentando achar um feixe de luz que pudesse vir da janela, mas parecia estar tudo tão escuro, quanto sua mente naquele momento.

— Por aí, já amanheceu, hoje na verdade já é ontem. – esclareceu.

— Imaginei, acho que eu to mesmo meio atrasada. – Anita tentou amenizar onde estava. – Ai meu braço, tá estranho demais. – ela confessou tentando mexer   o braço  imobilizado.

— Deve estar passando o efeito do remédio que te deram. – supôs Ben, tentando ajudar ela a ajeitar-se na cama.

— É, médico adora dopar as pessoas, devem ser porque paciente histérico é terrível de aturar, agora tá explicado porque eu to assim, parece que eu to leve e pesada ao mesmo tempo. – Anita esboçou rir de seu real estado.

— É também, mais você perdeu sangue, por isso que você tá assim. – ele rebateu a encarando minunciosamente.

— Vai ver nem está fazendo tanta falta assim. – ela respondeu tentando ficar calma, não querendo aterrorizar Ben, se é que é possível, todos a esta altura deveriam estarem todos desesperados por seu show partícular. – Você pode desmanchar essa cara de susto vai, se não eu vou acabar é morrendo de culpa, eu não queria que isso, enfim. – Anita quis ajuda-lo de algum jeito, ao notar Ben ainda angustiado.   - Bom, talvez eu preferisse a morte mesmo, eu não iria pra lugar nenhum com o Antônio, e ele, ele... – Anita recordou-se dando novamente lugar a uma expressão de pura tensão, precisava entender  e temeu ainda pensar que o rapaz poderia voltar para terminar o que havia começado, talvez dessa vez ela não aguentaria mesmo, não haveriam forças ainda que existissem para serem suficientes para derrota-lo naquele instante, ela teria que concordar que seu corpo e mente haviam chegado a seu limite.

— Não se preocupa com isso agora. – implorou Ben, segurando a mão dela que estava livre. – Sabia que se não fosse você eu teria umas três ou quatro cicatrizes a menos, a gente já se meteu em boas encrencas. – brinca ele, querendo que ela se acalmasse novamente, ao nota-la triste e aterrorizada depois de tudo.

— E sabia que se não fosse você eu já teria morrido há muito tempo. – Anita retruca com um olhar de pura emoção, talvez tinha muito a agradecer sim, ela estava ali, meio dolorida mas estava, é só de saber que Ben parecia a salvo também, de alguma maneira podia sentir seu coração aliviado.  – Você me salvou e de novo. – ela afirmou querendo muito controlar a lágrima que tentava brotar em seu olho, Ben ficou em silêncio a beijar carinhosamente a mão dela que somente esboçou um meio sorriso fraco.

— Boa noite. – o médico foi entrando no quarto e ficou surpreso com a cena que via. – Você já devia de ter saído, a enfermeira ela... – ressaltou ele a Ben, e Anita se quer entendeu muito olhando para o rosto do estranho.

— Eu sei, é que ela acordou aí... – Ben já nem se lembrava mais da ordem de deixar o local.

— Você acordou. – o jovem médico dirigiu-se surpreso à Anita.

— Bom se você preferir eu digo que não, acho que eu não quero continuar tomando remédio pra dormir não. – Anita disse se vendo tonteada, e nem com muita vontade de ver ou falar com ninguém naquele momento.

— Não claro que não. – ele até riu de leve. – Você é bem resistente mocinha, por tudo que houve, e pelos remédios realmente não era pra você estar tão acordada. – ele exclamou simpático e Anita acabou levantando o olhar um pouco irônica. – Como você se sente. – o homem indagou se aproximando um pouco mais da cama.

— Meio estranha, acho que eu estou meio tonta, cansada sei lá, e com muita cede, alguém pode me dar um copo com água. – justificou Anita ainda abalada com tudo.

— É você assustou a todos mesmo, inclusive a mim. – diz ele a olhando atento. – Bom é, pode ser por conta dos calmantes e analgésicos teu cansaço, nada mais natural, mas você está fraca, perdeu muito sangue, e pelos exames que nós fizemos, você está com uma anemia avançada, esse não foi o único incidente com tua saúde pelo jeito, mais nada que preocupe tanto, eu garanto. – o médico revelou olhando com seriedade para Anita, que talvez nem tivesse como negar, tudo em sua vida estava de pernas para o ar e ter ido parar naquele hospital foi somente a cereja do bolo. - Eu vou pedir pra enfermeira trazer água pra você, você precisa descansar e muito, é importante, então melhor você se retirar, amanhã ela vai poder receber visitas, e vai estar melhor. – dirigiu-se ele a Ben.

— Bom eu vou indo então, melhoras. – desejou Ben se resignando a cumprir a imposição do Doutor.

— Ben é... – Anita balbuciou apreensiva, no momento que tentou compreender quais cacos daquele horror todo, ela e Ben ainda poderiam concertar, ou será que tudo estava de fato quebrado para todo o sempre. – Não é, diz pra mamãe e o Ronaldo, e todo mundo não se preocupar, tá tudo bem. – Anita argumentou em suplica, a última coisa que desejava agora era lidar com a angústia de magoar ainda mais todos com sua possível convalescência.

— Eu digo, fica tranquila. – afirmou ele antes de sair após um último sorriso, deixando a moça pensativa a encarar o médico que anotava algo em um papel.

— Você tem uma família imensa, muitos irmãos. – homem quis puxar assunto simpaticamente ao levantar o olhar para ela.

— O Ben não é meu irmão. – Anita respondeu nada amigável e se quer pensou em ser, quantas vezes teria que repetir aquilo ao mundo, já não bastava onde estava, teria que dar mais explicações.

— Ah me desculpa, é que eles se apresentaram como todos da sua família. – constrangeu-se ele.

— O Ronaldo é pai dele sim, mais não é meu não, e bom meu pai real, nem deve ter tomado conhecimento do que houve comigo talvez. – Anita previu. – Ronaldo é meu padrasto minha mãe  casou com ele. – por um segundo Anita se estressou consigo por estar conversando com um completo estranho.

— Olha eu posso até ter errado o parentesco, mas que vocês dois tem uma ligação muito forte, vocês têm. – ele contemporizou o que havia notado durante a breve noite que conviveu com Ben.

— É complicado só isso. – Anita afirmou, dessa vez meio desconfiada, porque o homem estava tão interessado nela e Ben, ela era só uma estranha, e ele não tinha nada a ver com sua vida, por mais que ele pudesse ter a salvado também aquela noite, talvez fosse ela que depois de tudo passado com Antônio, passaria o resto de sua vida desconfiando até de sua sombra, talvez ele só estivesse acostumado a conviver com pessoas e se interessar um pouco pela vida delas, afinal ele tinha a medicina como profissão, então preferiu não jugar, já nem tinha cabeça para nada mesmo.

— Bom é, boa noite, pela manhã venho te ver, e você pode receber tua família, agora apor hora descanse.  – ele alegou cordial e simpático.

— Quando eu posso ir embora daqui.  – Anita atreveu-se a saber, a última coisa agora que desejava era passar seus dias trancadas naquele lugar.

— Hei calma, hospital não é uma casa de terror não, em breve. – o homem sorriu com toda impaciência dela.

— Pra mim é, odeio hospital, desde criança, odeio médico também, se eu tivesse que morar num lugar desses acho que pirava. – ela acabou confessando falastrona e entediada em imaginar ter que ficar ali muito tempo.

— Claro. – o rapaz deu um meio sorriso.

— Não foi nada pessoal, acredita. – Anita se desculpou pela ofensa dita sem querer.

— Ok, descanse, eu vou pedir pra enfermeira, trazer tua água. – ele disse relembrando do pedido inicial da moça.

— Obrigada. – Anita agradeceu vendo apenas  o silêncio dominar o cômodo, e trazendo consigo todas as lembranças dolorosas que a levaram até ali.

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Dia seguinte...

— Ai filha tão bom te ver assim. – Vera conversava com a menina sentada na ponta de sua cama.

— Imagino. – Anita disse não contendo a ironia que atingiu sua mente, Vera agiu tão enrijecida com ela nos últimos dias que agora se quer sabia o que pensar.

— Você vai ficar boa e tudo vai voltar a ser como antes meu amor. – Vera prometeu notando a filha meio chateada, Anita pensou consigo o que era como antes para a mãe, talvez nada fosse como antes, não do jeito que Anita sonhava.

— Quando é que esse médico aí vai me dar alta mãe, eu não quero ficar aqui. – Anita perguntou, só queria sair daquele lugar, por mais que não soubesse ainda se um dia encontraria no seu mundo um lugar de paz, se via visivelmente impactada com tudo.

— Anita é. – Vera olhou séria e engasgada para a garota que estava mais compenetrada a encarar a parede branca em sua frente. – Eu sei que você têm todos os motivos do mundo pra estar magoada comigo, mas tudo que houve Anita, me fez ter mágoa de mim mesma, eu não devia ter sido tão dura com você, só me resta pedir que me desculpe. – Vera afirmou fazendo Anita focar novamente a atenção em seu rosto.

 - Você tá falando exatamente do que, de me achar uma inconsequente que se quer sabe o que faz, de ter a absoluta certeza que eu queria de fato ficar com o Antônio mãe, esquece afinal... – ela faz uma pausa realmente deixando transparecer sua mágoa. – Você nunca acreditou mesmo que eu gostasse do Ben, e nem  ele de mim né, qualquer coisa era mais fácil pra você confiar, sempre foi. – Anita falou entre um olhar arredio, realmente não queria falar daquele assunto naquele instante, nem tinha instabilidade emocional que fosse suficiente..

— Filha eu só queria que você soubesse que eu sinto muito por tudo. – contrapôs Vera com um olhar agoniado sobre Anita.

— Eu também, eu também sinto mãe, mas infelizmente eu não posso voltar atrás, e nunca mais. – Anita afirmou, pesando consigo que nada mudaria só porque ela queria, o que passou já havia sido escrito, mesmo que dolorosamente. - E eu não quero falar disso agora. - a moça pediu.

— Claro, agora tua recuperação é mais importante. - disse Vera com um sorriso abrandado.

— Oie, chegamos. – Giovana entrou toda feliz pela porta acompanhada de Sofia e Pedro.

— Oi. – Anita sorriu para os irmãos até esquecendo-se das palavras tensas que trocava com a mãe.

— A gente veio te ver. – Giovana comunicou se aproximando da cama.

— Tá tudo bem. – Sofia perguntou vendo a mãe erguer-se estranhamente.

— Acho que sim, mais e vocês não tinham que estarem na aula não. – Anita questionou, talvez quisesse pensar em qualquer coisa, menos em si naquele momento.

— Tínhamos, mais a gente fugiu do Ronaldo e veio assim mesmo, pela primeira vez eu concordei com a Giovana, não dava pra esperar pra te ver. – Sofia informou ocupando a cadeira ao lado da cama antes que a ruiva o fizesse.

— Ai Sofia nem comemora não tá. – as duas se implicaram como era de comum. – E o Vitor só não veio porque tinha prova, aí não deu mesmo, mas a tarde ele está aqui. – a cantora garantiu.

— Trouxe um livro pra você, não deve ter muita coisa pra fazer por aqui. – Pedro alcançou o objeto embrulhado em uma sacola laranja à irmã mais velha.

— Ah e não tem mesmo Pedrinho, já estou vendo a hora que vou decorar cada pontinho preto que eu achar nas paredes. – Anita riu da boa recordação do pequeno.

— Ele que escolheu, achei que era uma boa ideia, só não concordei em ser de romance, podia ter trazido uma coisa mais animada, mais você também gosta de melação né Anita, então. – Sofia comentou vendo o garotinho sentar em seu colo.

— E ela se finge de durona, você também sabe Anita, sabia que ela até tirou sangue pra você. – o menino criticou o jeito centrado da irmã.

— A mamãe  me disse, e muito obrigada Sofia, eu te devo uma, realmente espero nunca precisar retribuir, mais você sabe que sem nem pensar eu faria o mesmo por você.  – Anita agradeceu o gesto da irmã com ternura.

— Eu sei Anita, porque isso que eu também não podia pensar, só tinha que fazer. – Sofia acabou se vendo a tentar conter e esconder a emoção que sentiu pelas palavras da irmã, as duas sempre brigavam tanto, que às vezes uma até podia pensar que a raiva da outra, seria um ódio maior, mas naquele momento ambas apenas só tinham certeza que era tudo besteira, eram mais que irmãs sim e ninguém podia dizer ao contrário.

— Bom pelo menos, agora se eu ficar meio afrescalhada, vocês sabem por que né. – brincou Anita procurando amenizar o clima melancólico que rolava.

— Ah não gente, inventa não, porque duas Sofias não dá, incompatível. – Giovana aderiu a piada cheia de riso.

—  E depois eu é que sou estranha. – a loira revirou os olhos em protesto. – Até porque né Giovana, ou sou que nem grife, só tem uma e ponto. – Sofia alegou exibida e todos riram ainda mais. – Mais é muito bom ter você aqui com a gente Anita. – confidenciou a garota.

— Eu também to feliz, é bom ter vocês. – respondeu Anita em um tom agradecido, apesar de estar se sentindo perdida ainda e até pressentindo dentro de si que havia algo muito errado, ela estava alegre, e tinha muito a agradecer, não poderia negar.


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