Sobrevivendo pela Sorte escrita por Alexyana


Capítulo 22
Capítulo 22 - Vidro


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, como vão? Bom, tem Carth nesse capítulo! UHUL Obrigada Lucy Grimes pela belíssima recomendação, você me deixou muito feliz!



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Fico alguns segundos olhando ao redor tentando me orientar depois de acordar. Uma decepção me atinge quando percebo que estou na típica cela escura da ala dos doentes. Encaro o teto com um sentimento nostálgico, lembrando-me do sonho que tive: estava na escola, mais precisamente na aula da professora que sequer me recordo o nome. Tinha outras crianças ao meu redor, rostos conhecidos. Rostos que vi por anos, alguns até com quem conversava. Agora todos provavelmente mortos, mas de qualquer forma aquele sonho foi tão real.

Suspiro pesadamente virando-me de lado no colchão duro, o cheiro de poeira do travesseiro invadindo meu nariz. Antes que eu perceba caio no sono de novo, mergulhando em outro sonho. Dessa vez é meu aniversário novamente e eu estou indo com meus pais para o zoológico. Encaro os bancos a minha frente, e a diferença é que eu sei o que está por vir. Tento avisa-los, mas antes que me deem atenção tudo fica branco.

Abro os olhos assustada, e percebo que já amanheceu. Bocejo me sentando na cama, minha visão escurecendo logo em seguida. Como eu odeio ficar doente. Vejo Glenn passando por minha cela, quase caindo de tão ruim que está. Outras pessoas já estão acordadas, e logo uma cabeça surge na grade de minha cela, que permanece trancada por segurança.

– Bom dia, Katherine! –Hershel diz animadamente. Vejo o cansaço em seu rosto, mas ele continua alegre como sempre. – Já está autorizada para conversar pelo vidro, quer ver alguém?

Essa fala me desperta, e faz com que eu o encare alegremente. Eu sinto tantas saudades das outras pessoas, Rick, Maggie, Judith... Eu queria tanto vê-los. Sinto saudades do Sol, do ar puro e da grama. Talvez até dos zumbis. Brincadeira.

– Carl! – exclamo o nome, adorando a ideia de possivelmente vê-lo.

– Calma, vou pedir para chama-lo. – Hershel sai mancando.

Depois de alguns longos e ansiosos minutos ele volta, com o objetivo de me guiar para a pequena sala onde se localiza o famoso vidro. Ele destranca a porta que separa o conjunto de celas do corredor, e passamos por ela. Seguimos por um curto período pelo corredor, parando em uma porta que parece ser reforçada.

Aqui dentro está um pouco escuro, e tem um cheiro forte de poeira e o cheiro dominador do mundo: mofo. É uma sala pequena, e há algumas cadeiras e mesas destruídas espalhadas. Vejo uma janela minúscula, típica de cadeia no canto direito, e de lá entra uma escassa luz solar, mas não é o suficiente para matar minha saudade.

– Vou indo, não demore – Hershel se despede, um sorriso cúmplice surgindo em sua face. Retribuo com toda gratidão possível.

Espero ele sair e então dou alguns passos até o vidro, vendo uma sala igual a que estou do outro lado, como um espelho. Bato levemente do vidro, me controlando para não pular em meus próprios pés. Ele está ali. E há apenas o vidro separando-nos.

Seus incríveis olhos azuis voam em minha direção, me fitando. Tenho plena consciência que estou simplesmente horrível, as olheiras, a palidez... Tudo contribuindo para a mediocridade, mas tudo bem. Ele está aqui.

– Você está um lixo. – ele transforma em palavras o que eu acabei de constatar, em seu típico tom zombeteiro. O medo de não ser possível ouvi-lo graças ao vidro vai embora no mesmo segundo.

– Também senti sua falta. – digo sorrindo.

– Está tudo bem? – pergunta. Seus cabelos escuros estão levemente bagunçados – o que me trás uma vontade tremenda de passar a mão para ver se é tão macio quanto aparenta –, e seu fiel chapéu está sendo segurando em seu peito. Totalmente e incrivelmente perfeito.

– Sim e você? Como está sendo ai? Todos estão bem?

– Sim, acho que Daryl já está voltando com os remédios. – ele afirma, mas vejo uma pontada de dúvida em sua voz. – Meu pai e Carol também vão.

– É horrível, quero sair daqui – reclamo alguns segundos depois, como uma garotinha mimada. Mas eu realmente não quero mais ficar aqui – é tudo tão triste e tem cheiro de morte.

– Logo você vai sair, Sra. Mimada – brinca, seu típico sorriso de canto dando as caras.

– Espero que você esteja se comportando, não aguentaria uma traição. – faço drama, colocando a mão em meu peito.

Mas então a maldita tosse vem novamente, arrancando meu ar e massacrando meus órgãos. Me curvo em direção ao chão sujo, com as mãos nos joelhos tentando me recuperar e manter o equilíbrio. Argh. A cada tosse sinto que estou perdendo um pedacinho do meu pulmão, talvez até da minha sanidade.

Ainda com a mão na garganta levanto o olhar em direção a Carl, que me encara em um misto de pavor, preocupação e raiva.

– Estou bem – digo sorrindo levemente, apoiando numa espécie de beirada ao redor do vidro.

–Não, você não está. – murmura baixinho, mas mesmo assim consigo ouvir. Não me importo com o que ele disse, mas sim com ele. Ele parece triste, e mesmo que tenhamos brincado alguns segundos atrás eu sei que ele também não está alegre.

Antes que eu possa dizer algo ouço um barulho alto, logo seguido por outros barulhos, só que estes mais baixos. Tiros. Meu olhar cruza com o de Carl, e sua mão voa diretamente para o coldre em sua coxa, que é onde está sua arma. Tenho o reflexo de buscar minha faca, mas não encontro nada. Merda.

– É melhor eu ir ver o que está acontecendo. – Carl diz, mas vejo que está hesitante em me deixar. – Não saia daí! Tranque a maldita porta.

Corro para a porta da pequena sala e giro a chave na fechadura. Olho para trás e vejo que Carl já está quase na porta da outra sala, mas ele se vira para trás e me lança um breve olhar, tentando demonstrar por meio dele tudo que ele está sentindo. Retribuo da mesma maneira, enquanto o vejo abrindo a porta e se lançando para o mundo lá fora, mais precisamente para o corredor.

Viro-me para as cadeiras e começo a arrasta-las em direção a porta. A velha Katherine não iria fazer isso, ela iria abrir a porta e ir lá ela mesma ver o que está acontecendo. Porém a Katherine doente não quer arriscar, ela quer tentar fazer o racional pelo menos uma vez na vida. Ou a burrice.

Desabo sentada na cadeira, o ar me faltando. Porra, eu sou uma fraca! Idiota, por que não peguei a maldita faca? Enquanto me martirizo os sons de tiros continuam, se misturando com os gemidos.

Carl.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? COMENTE! Estou com saudades de vocês!