Eu vou morrer. É tão simples e claro, principalmente agora que estou aqui deitada olhando para essa parede cinza descascando. Pensamos que sempre teremos mais tempo, que a morte não vai chegar, achamos que isso com certeza não faz parte da nossa cômoda realidade. Claro que no apocalipse você não pensa mais assim, porém ainda tem aquele ser humano dentro de você que prefere acreditar no impossível.

Quer dizer, eu nunca fui pessimista, mas depois de tantos meses você cai realidade. Eu vou morrer. Todos vão morrer. Pra que adiar mais?

– Katherine? – viro com certa dificuldade em direção a voz de Hershel. Ele esta com um lenço ao redor da boca e nariz, como todos saudáveis por aqui. Eu não estou mais com o lenço. – tudo bem, querida?

– Sim – murmuro, tentando dar um pequeno sorriso. Aparentemente ele não acreditou, já que entra na minha cela.

– Carl está preocupado com você. – diz ele apoiando-se na grade. Não respondo nada, apenas desvio o olhar, encarando algum ponto na cela escura que estou há dois dias.

–Sabe Katherine, eu admiro todas essas pessoas. – o encaro novamente, esperando que ele continue. – Elas continuam lutando, mesmo depois de perder tantas pessoas, de perder o conforto, talvez perder a si mesmo. Eu admiro todos aqui, inclusive você.

Apenas dou um pequeno sorriso, então a tosse me suga novamente. Mesmo após 48 horas não me acostumei com a sensação de me afogar no próprio sangue, é meio desesperador. Depois de 5 minutos, volto a me estabilizar, respirando tremulamente. Hershel, que está com as mãos em minhas costas me lança um olhar tranquilizador, que retribuo com um de censura. Por que ele está aqui, se arriscando por mim?

– Não desista Katherine, o mundo ainda tem salvação. As pessoas também, basta acreditar. – com isso ele sai mancando em direção à porta, mas antes de sair completamente vira o pescoço e me encara. – já trago o chá para você.

Eu tento acreditar, eu juro que tento. Mas simplesmente não consigo. As pessoas nunca tiveram salvação, e não vai ser agora que elas irão melhorar. Penso em mamãe, e na maneira que ela dizia o “felizes para sempre” no final das minhas histórias de princesas, como se ela realmente acreditasse no final feliz. Em quando tia Charlie separava roupas que não serviam mais em mim e em Piter para dar aos pobres. Piter defendendo Marcus, o garoto raquítico, de apanhar na 4º série. De Melanie e Tonny me acolhendo como se me conhecessem há anos.

Talvez o mundo tivesse salvação com eles, com pessoas boas de verdade. Mas o problema é que essas pessoas estão mortas. Então finalmente Carl vem em meus pensamentos, depois de dois dias evitando isso. Ele é uma pessoa boa, merece viver. Rick, Hershel, Maggie, Glenn, Willian.... Todos aqui merecem, mas o problema é que elas não vão. Eu não vou, essa doença é apenas um atalho para o final.

O mundo é cruel.

Começo a rir baixinho, mas logo se torna algo mais exagerado. Não tanto, já que rapidamente minha risada de transforma em uma tosse. Me curvo em direção ao chão, com uma mão na boca enquanto a outra me mantém firme na cama. O liquido quente e vermelho está lá novamente, me lembrando de que meu tempo está acabando, mas mesmo assim volto a rir, desta vez mais controlada. Como eu sou ridícula! Desde quando eu virei uma fraca suicida?

Eu sou Katherine Smith, e eu sou uma sobrevivente! Onde já se viu uma garota que viveu mais de um ano no apocalipse zumbi com aquelas cabeças ocas fraquejar por uma maldita gripezinha de merda?

Tusso mais uma vez, e resolvo tirar um cochilo. Talvez eu esteja um pouco fora de forma. A ultima coisa que penso antes de cair em um sono conturbado são os lindos olhos de Carl.