Love Palace escrita por Johnlock Shipper


Capítulo 6
As três palavras




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Eu conhecia bem aquela dor, já havia a sentido antes. Algo invadiu meu corpo, algo que não deveria estar ali. E havia o sangue, que eu podia sentir encharcando minha roupa. E o frio da neve por baixo do meu corpo. Deus, era muita dor! Minha cabeça girava e eu sentia minha visão escurecer.

– John! Fique comigo! Não feche os olhos! Não me deixe, John!

Eu sabia quem estava me chamando. Reconheceria aquela voz em qualquer situação. Senti seus dedos se entrelaçarem aos meus. Eu queria dormir, me entregar à escuridão. Seria tão mais fácil. E ele estava ali, ao meu lado segurando minha mão. Não seria tão ruim se eu dormisse, seria?

– John, você precisa ficar acordado. Está me escutando? Fique acordado! Você vai ficar bem, a ambulância já está a caminho. Olhe para mim! Eu preciso que fique comigo, entendeu?

Eu não queria ficar com os olhos abertos. Queria simplesmente dormir para que tudo isso passasse. Mas ele estava me chamando e eu iria onde quer que fosse quando ele chamava. Com a visão um pouco turva consegui encontrar seu olhar. Aquilo no rosto dele era uma lágrima?

– Sherlock... – comecei a dizer. Mas falar aumentava a dor.

– Shh! – ele colocou um dedo em meus lábios. – Não precisa dizer nada. – Ele acariciou meu rosto. Seus olhos estavam fechados agora e mais lágrimas escorriam pelo seu rosto. – Eu sinto muito, John.

Eu estava lutando para ficar acordado como Sherlock havia pedido, mas estava cada vez mais difícil. À medida que os segundos passavam meus sentidos me escapavam pouco a pouco. Pude perceber vagamente o barulho dos carros de polícia e ambulância chegando e Sherlock explicando o que havia acontecido. Minha visão estava escurecendo mais e mais. Senti pessoas me levantando e me colocando em uma maca. Colocaram uma máscara em meu rosto. Sherlock pegou novamente minha mão.

– John! Vai ficar tudo bem, vão cuidar de você agora. Por favor, John, fique vivo. Por mim. – eu não conseguia mais. Meus olhos estavam se fechando e eu não conseguia mais impedir. – Eu te amo, John. – foi a última coisa que ouvi enquanto sua mão deixava a minha e eu mergulhava na escuridão.

•••

– Ele perdeu bastante sangue, mas a bala não causou tanto dano. Ele ficará bem. – ouvi uma voz que não conhecia dizer.

– Certo. Obrigado, doutor. – essa voz eu conhecia bem.

Ouvi o barulho de passos e depois uma porta se fechando. Mais passos, um arrastar de cadeira e logo senti Sherlock pegando minha mão na sua.

– Sei que você está acordado. – ele disse acariciando minha mão. – Abra os olhos.

Fiz o que ele disse e a claridade do quarto do hospital fez meus olhos doerem. O ferimento em minha barriga não doía tanto, graças aos remédios para dor, mas deixava uma sensação esquisita. Tentei me sentar, mas meu corpo se recusava a obedecer.

– Fiquei quieto, John. Não quer que o ferimento abra novamente, quer? – Sherlock disse.

Dei uma risada. Acho que me deram remédio demais. Eu estava meio grogue. Sherlock olhou espantado para mim.

– Posso saber qual é a graça?

Simplesmente ri e tentei me sentar novamente. Desta vez Sherlock levantou da cadeira para me impedir.

– Não ouviu o que eu disse? Você precisa ficar deitado.

Ele estava muito próximo de mim. Eu podia sentir seu perfume. Dei um sorriso bobo e disse feito um idiota:

– Você tem um cheiro bom!

Vi Sherlock revirar os olhos, mas sorrir. Cheguei mais perto dele e disse:

– Beije-me.

– John, nós estamos em um hospital. E você acabou de passar por uma cirurgia depois de levar um tiro e quase morrer.

– E daí? Só quero que você me beije. Eu quero você, Sherlock.

Ele finalmente cedeu e me beijou. Um beijo terno, suave. Eu estava tentando fazer o beijo ficar mais intenso quando alguém abriu a porta do quarto novamente. Era Lestrade e quando nos viu ficou com o rosto muito vermelho e disse:

– Desculpe interromper. Eu volto mais tarde.

Dei uma risadinha como se fosse um adolescente que acabava de ser surpreendido dando uns amassos.

– Tudo bem, Lestrade. Pode entrar. – Sherlock disse.

– Não, Sherlock! Quero continuar beijando você! – Deus, isso seria muito embaraçoso depois. Fiz beicinho como uma criança emburrada. Droga de remédios pra dor!

– Comporte-se, John.

– Eu só queria ter certeza de que você estava bem. – Lestrade disse finalmente entrando no quarto. Droga!

– Estou ótimo. Agora será que você poderia nos dar um pouco de privacidade?

– Desculpe. – Sherlock disse. – Ele está sob o efeito de remédios. Mal sabe o que está dizendo.

– Ah, ele parece saber muito bem. Enfim, não é da minha conta. Vou deixar vocês sozinhos.

Ele saiu da sala e nós ficamos sozinhos novamente.

– Bom, acho que você vai se arrepender disso depois.

– Não. Eu quero você, Sherlock. Agora.

– Caso não tenha reparado, John, você está ferido. Não acho que conseguiria fazer muita coisa assim.

– Está me desafiando? – eu disse tentando soar sedutor.

– De maneira nenhuma. Você tem que se recuperar primeiro. Por favor, por mim. Prometo que depois deixo você fazer o que quiser comigo.

Deus, aquela voz! Aqui estava eu, ferido, todo grogue e Sherlock ainda conseguia provocar arrepios por todo meu corpo só ao falar.

– Descanse agora. Logo iremos para casa. Eu vou cuidar de você, John.

Sherlock estava pedindo para eu descansar então era isso que eu faria. Depois que dormisse um pouco poderia fazer o que quisesse com ele, não era esse o acordo? Fechei os olhos e senti a mão de Sherlock segurar a minha. Sorri e torci para que sonhasse com ele. Em poucos minutos já estava dormindo.

•••

– John? – ouvi uma voz me chamar. – Está acordado?

– Agora estou. – respondi abrindo os olhos. Por quanto tempo será que eu havia dormido?

– Você dormiu por quase doze horas. – Sherlock respondeu como se lesse minha mente. – O médico já está a caminho para te liberar. Enfim poderemos ir para casa.

– Você ficou aqui esse tempo todo? – perguntei.

– Claro que fiquei. Que pergunta idiota, John.

Não discuti. Minha cabeça ainda estava um pouco confusa e agora o ferimento doía um pouco. Somente agora realmente me dava conta de tudo que havia acontecido. O tiro, Sherlock dizendo que me amava, eu fazendo papel de idiota sob o efeito dos remédios...

– Meu Deus! Como vou olhar novamente para Greg depois daquela cena ridícula?

– Está preocupado com isso?

– Um pouco, sim. Ah, esqueça. É melhor fingir que nada aconteceu.

– Consegue se sentar? Precisa se vestir para podermos ir. Eu te ajudo.

Com movimentos muito lentos consegui me sentar. Sherlock veio até mim com algumas peças de roupa nas mãos e me ajudou a tirar aquela camisola ridícula. Suas mãos passando por mim suavemente causavam arrepios por todo meu corpo. Concentre-se, John. Depois do que pareceu uma eternidade eu já estava vestido, com o corpo dolorido do esforço. Sherlock se afastou um pouco e consegui clarear minha mente e parar de imaginar coisas nada adequadas ao meu atual estado.

Logo o médico chegou ao quarto para me examinar. Depois de longas recomendações desnecessárias, afinal eu era um médico também e sabia o que deveria fazer para me recuperar, finalmente recebi alta.

Fui levado até a porta do hospital em uma cadeira de rodas, contra minha vontade, é claro.

– Você não está em condições de ficar andando. – Sherlock havia dito.

Um táxi já nos esperava e assim que me levantei com dificuldade da cadeira, Sherlock já estava ao meu lado para me ajudar a andar. Ele passou um braço a meu redor e me apoiei nele, andando com dificuldade.

No táxi Sherlock sentou-se bem perto de mim e me aconcheguei nele. Fechei os olhos e concentrei-me no calor de seu corpo e em sua mão que acariciava meu braço.

Acabei cochilando e Sherlock me acordou quando chegamos em casa. Dei-me conta de que havia escadas. Não acho que conseguiria subir mesmo apoiado em Sherlock. Ótimo!

Descemos e logo que ele abriu a porta a Sra. Hudson apareceu falando com ar preocupado.

– Meu Deus, John! Você está bem?

– Já estive melhor, mas sim, estou bem.

– Qualquer coisa que precisarem podem me chamar, não importa a hora. Precisam de alguma coisa agora? Posso preparar um chá ou...

– Estamos bem, Sra. Hudson. Eu mesmo vou cuidar dele, obrigado. – Sherlock respondeu.

– Tudo bem então. Cuide-se, John.

Simplesmente assenti. Sherlock veio até mim e fez menção de me pegar no colo.

– Ei, o que está fazendo? – me surpreendi.

– Que dia você espera chegar lá em cima? Daqui uma semana? Nesse estado você demoraria demais para subir isso tudo.

– Não sou tão leve quanto pareço.

Sherlock revirou os olhos.

– Ah, por favor, John. Deixe de ser idiota. Você sabe muito bem que posso te carregar. Agora pare de frescura e deixe-me levá-lo até seu quarto.

– Ah, que seja.

Ele veio até mim novamente e me levantou do chão facilmente. Talvez eu fosse tão leve quanto parecia. Passei meus braços em volta do seu pescoço e me deixei levar. Sherlock não me deixou descer até que estivéssemos em meu quarto. Ele me colocou na cama com cuidado e me deu um rápido beijo.

– Vou preparar um chá, precisa de alguma coisa? – Sherlock perguntou.

– Não, estou bem. Você volta logo não é? – eu não queria ficar longe dele. Não sei por que isso agora, nunca fui meloso, mas queria Sherlock perto de mim o tempo todo. Ele sorriu para mim e respondeu:

– Sim, logo, logo estarei de volta. – e saiu do quarto.

Como prometeu ele logo estava de volta com duas canecas de chá fumegante nas mãos. Deixei o livro que havia pegado de volta no criado mudo e peguei a caneca que Sherlock me oferecia.

– Obrigado.

Sherlock sentou-se na beirada da cama, bebericou um pouco do chá e disse:

– Jenna foi pega, como eu disse que seria. Ela confessou ter matado Helena Parker.

– Hum! Que bom. Acho que isso foi um recorde até mesmo para você não é? Quanto tempo levou para desvendar o caso e prender o responsável? Umas duas horas?

– É pode ter sido mesmo um recorde.

Ficamos em silêncio. Um silêncio estranho, que nunca acontecia entre nós. Depois de um tempo Sherlock o quebrou.

– John, eu te devo desculpas. Se tivesse te escutado e esperado por Lestrade e os outros isso não...

– Ah, por favor não vamos fazer isso. – eu o interrompi tirando a caneca dos lábios. – Já passou e eu estou bem. Não há necessidade de termos essa conversa de 'ah, foi minha culpa' e 'não foi culpa de ninguém, foi um acidente'. Sério, Sherlock. Estamos bem, ok? Só preciso que fique comigo, tudo bem?

Ele pareceu confuso, mas assentiu.

– Venha aqui. – eu disse batendo a mão na cama no espaço ao meu lado. – Deite comigo.

Ele me olhou desconfiado. Eu revirei os olhos.

– Sherlock, por mais que eu queira sei que não posso fazer nada nesse estado. Só quero que você me abrace, pode ser?

– Tudo bem. – ele levantou-se de onde estava e veio para o meu lado. Deitou-se na cama bem perto de mim e me abraçou como eu havia pedido.

– Assim está bom pra você? – ele perguntou.

– Uhum. – murmurei. Sentir seu corpo próximo ao meu era uma das melhores sensações que já havia experimentado. Eu estava de costas para ele e podia sentir sua respiração em meu pescoço. Ah, eu poderia ficar assim para sempre.

Meus pensamentos vagaram e percebi que não tivemos chance de conversar sobre o que estava acontecendo entre nós. O que estávamos fazendo? Éramos um casal? Ou não deveríamos rotular nossa relação, ou sei lá. Então me lembrei novamente do que Sherlock disse antes de eu apagar completamente.

– Sherlock?

– Sim, John.

– Antes de eu desmaiar eu ouvi você dizer uma coisa. Você disse que me amava. É verdade?

– Por que eu diria se não fosse?

– Eu não sei. – alguns segundos de silêncio. – Então é verdade, você me ama. Diga novamente. – virei-me para ele com um pouco de dificuldade e fazendo uma careta de dor. Eu queria ouvi-lo dizer olhando nos meus olhos.

– Isso é mesmo necessário? – ele perguntou.

– Sim, seu idiota. Eu quero ouvir.

Ele fechou os olhos e respirou fundo. Qual era o problema? Ele já havia dito uma vez. O que custava dizer de novo se era verdade?

– Eu nunca havia dito aquilo antes em minha vida. E mesmo sendo verdade é estranho colocar meus sentimentos em palavras. Eu não sou bom nisso.

– Sherlock, são só três palavras. – ele abriu os olhos e me olhou chocado.

– Se são só três palavras para você por que precisa que eu as diga?

– Não foi isso que eu quis dizer, droga! Quero dizer que se é assim que você se sente deveria ser simples dizer.

– Bom, não é simples para mim.

– Ajudaria se eu as disse primeiro?

– Não sou uma criança, John! Não precisa me ensinar a falar.

– Não é para te ensinar. – ele virou o rosto para encarar o teto. – Sherlock? – ele não se virou. Levei minha mão até seu rosto para virá-lo para mim. – Sherlock, vou dizer não para que você possa dizer de volta. É como eu realmente me sinto. Já faz algum tempo que me sinto assim. Só nunca tive a coragem de dizer. – mesmo com o rosto virado em minha direção ele ainda não olhava para mim. – Sherlock? Olhe para mim, por favor? – ele finalmente olhou. Acariciei seu rosto e olhei fundo nos seus olhos verdes. – Sherlock, eu te amo.

As palavras provocaram o efeito desejado. Pude ver um brilho em seus olhos e sua boca se retorcer em um pequeno sorriso que ele lutava para esconder. Sorri para ele e disse:

– Eu já sei que você sente o mesmo, mas eu gostaria muito de ouvi-lo dizer para mim.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Sherlock parecia estar debatendo consigo mesmo se diria ou não alguma coisa. Por fim ele falou:

– Você é a pessoa mais importante que conheci em toda a minha vida e isso me mudou de tantas maneiras... Você se tornou minha maior fraqueza, mas ao mesmo tempo minha maior força. Você, John Watson, você me mantém no caminho certo. – ele fez uma pausa, respirou fundo e então continuou. – Então sim, é claro que eu te amo, John.

Nunca essas três palavras me fizeram tão feliz. Aproximei-me mais dele e o abracei com força. Ficamos abraçados por um tempo, aproveitando este momento de declarações. Finalmente me afastei um pouco só para poder olhar para ele e disse:

– Então... Podemos dizer que somos namorados?

– Se você precisa mesmo dar um nome a nossa relação...

Eu podia ver que ele estava gostando de tudo isso, mesmo que tentasse esconder. Era tudo novo para ele essa história de relacionamentos, mas eu percebi que ele gostou quando mencionei a palavra namorados.

– Sim, eu preciso. – cheguei mais perto e o beijei. Ele me envolveu com seus braços e assim ficamos por vários minutos, só nos beijando. O mundo lá fora foi esquecido, nem me lembrava que tinha um ferimento de bala. A única coisa que importava agora era que eu estava junto da pessoa que eu amava. Infelizmente não podíamos ficar assim para sempre.

– Eu realmente não queria levantar desta cama nunca. – eu disse entre os beijos. – Mas eu preciso de um banho.

– Quer ajuda com isso? – Sherlock perguntou.

Na verdade eu não precisava. Demoraria um pouco mais do que o normal, porém eu conseguiria tomar um banho decente. Mas se Sherlock estava se oferecendo para ajudar, por que negar? Isso poderia ficar interessante.

– Sim, acho que preciso. Pode me levar?

– Claro.

Ele veio até mim, me pegou no colo novamente e me levou em direção ao banheiro.


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Notas finais do capítulo

Este ficou um pouco maior do que o esperado, eu simplesmente não conseguia parar de escrever, haha!

Mas o que vocês acharam? Espero que tenham gostado!

Mais uma vez obrigada por todos os comentários, fico muito feliz em saber que estão gostando da fic. ♥

E aqui um pedacinho do próximo capítulo:

Capítulo 7
Espera
[...]
— E como você é uma rainha do drama preparou toda uma estratégia para me seduzir.
— O que infelizmente não funcionou.
— Ah, funcionou sim, só que você preferiu atender aquele telefonema. Se não fosse por isso nós...
Parei de falar imediatamente quando percebi o significado de minhas palavras tomavam. Eu não culpava Sherlock por ter levado um tiro, de maneira nenhuma, mas minhas palavras davam a entender o contrário. Felizmente Sherlock pareceu entender o que eu realmente queria dizer, pois ele continuou por mim:
— Teríamos tido uma noite incrível? Sim, tenho certeza disso. Mas ainda teremos nossa chance. – ele encostou os lábios em minha orelha. – E você nem imagina o que farei quando tiver você em minha cama novamente, Dr. Watson. – Deus, eu não aguentaria muito tempo se ele continuasse a usar aquela voz.
[...]

Até semana que vem! ;)