Love Palace escrita por Johnlock Shipper


Capítulo 7
Espera




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Não costumo fazer isso com frequência, mas mudei de ideia no meio do caminho. Não que estivesse com vergonha de ficar nu na frente de Sherlock. Definitivamente não era esse o caso. O problema era que eu estava ferido. Mal conseguia fazer um movimento sem uma careta de dor para acompanhar. Não era essa exatamente a imagem que eu gostaria que Sherlock tivesse de mim.

Quando finalmente chegamos e ele me colocou no chão eu disse:

– Ah... Acho que consigo tomar um banho sozinho mesmo.

– Tem certeza?

– Sim. Mas obrigado pela carona.

– Claro. Se precisar de alguma coisa me grite.

– Ok.

Demorei o que pareceu uma eternidade, mas consegui tirar minhas roupas. Estava me sentindo um pouco tonto, mas sabia que era normal.

Entrei debaixo do chuveiro grato pela água quente que caía em meus ombros. Até que não foi tão difícil tomar um banho decente afinal de contas. Quando terminei me dei conta de que não havia trazido roupas limpas comigo. Droga! Enrolei a toalha na cintura e abri uma frestinha da porta.

– Sherlock! – gritei. – Pode vir aqui, por favor?

– John, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – ele parecia assustado e muito preocupado. Sorri. Estava gostando de ver as reações que provocava nele.

– Está tudo bem, é só que me esqueci de pegar roupas limpas. Poderia pegar para mim meu pijama e uma cueca? Ah, vou precisar também do kit de primeiros socorros para poder fazer um novo curativo.

– Claro. Volto em um minuto.

Ele logo estava de volta com tudo que eu havia pedido.

– Quer ajuda com o curativo?

– E você por acaso sabe fazer um curativo decente?

– Ora, John, mas que insulto! – ele já estava abrindo completamente a porta para poder entrar. – Qualquer pessoa que se preze sabe fazer um bom curativo. – ele me empurrou gentilmente até o vaso sanitário e fez com que me sentasse. – E sua incredulidade quanto às minhas habilidades está começando a me irritar, John.

– Tudo bem, enfermeiro, mostre-me suas habilidades.

Ele abriu o kit de primeiros socorros e tirou de lá gaze, antisséptico e algodão. Como em tudo mais, Sherlock era bom no que fazia. Suas mãos eram leves ao me tocar e ele fazia tudo para me causar o mínimo de desconforto possível. Logo eu estava com meu ferimento limpo e com o curativo feito.

– Bom trabalho, Sherlock.

– Vista-se e depois me chame para buscá-lo. – ele disse pegando o kit e saindo do banheiro.

Vesti-me, mas ao invés de chamar Sherlock fui andando lentamente até a cozinha. Era tão perto e eu precisava voltar à normalidade o quanto antes. Ele estava ao fogão novamente e um cheiro maravilhoso enchia o ar. Ele me ouviu chegar e veio em minha direção, puxando uma cadeira para me sentar.

– Por que não me chamou?

– Não havia necessidade. E eu preciso começar a me recuperar logo. Além disso, eu vim praticamente flutuando atraído por causa desse cheiro. O que está cozinhando?

– Só uma sopa. Achei que você fosse preferir alguma coisa mais leve hoje.

– Sim, você acertou, como sempre.

Já estávamos comendo quando me dei conta de uma coisa.

– Sherlock, você está comendo!

– John, seu poder de declarar o óbvio é tão irritante.

– Eu quero dizer, você só come quando é obrigado. Esses últimos dias você esta se alimentando por livre e espontânea vontade.

– Bom, não há nada mais interessante para fazer. Não tenho nenhum caso para resolver e isso já está me irritando.

– Ligue para Lestrade. Tenho certeza que ele deve ter algo pra você.

– Não vou pedir nada a ele, John.

– Então pare de reclamar e coma.

Terminamos de comer e Sherlock me surpreendeu dizendo:

– Se importa de assistir um pouco de televisão comigo ou já quer se deitar?

– Você odeia assistir televisão.

Ele revirou os olhos.

– Quer fingir que assistimos televisão para termos uma desculpa para ficarmos abraçados no sofá?

Tentei disfarçar uma risada. Sherlock estava tentando e era lindo ver isso. Ele estava se esforçando para fazer as coisas do jeito certo. Peguei sua mão na minha.

– Sherlock, nós não precisamos de uma desculpa ou motivo para ficarmos abraçados. Você pode me abraçar, me beijar, me tocar quando você quiser. Eu sou seu.

– Bom, eu não sei quais são as regras, não é? Nunca tive um namorado antes.

– Não se preocupe com isso, eu te ensino.

Apertei sua mão de leve e dei um sorriso.

– Agora vamos – fiz sinal de aspas no ar – “assistir televisão” um pouco?

Ele sorriu também.

– Vamos. Quer que eu te carregue?

– Não, tudo bem. Eu levei um tiro na barriga, Sherlock, não na perna.

– Certo, te espero no sofá. Vamos ver quanto tempo você leva para chegar lá. – ele disse levantando-se da cadeira.

– Como você é dramático! A sala é logo ali. Posso ver o sofá daqui, sabia?

– Tchau, John. – ele já estava de costas para mim. Revirei os olhos. Sherlock conseguia ser um maluco às vezes.

– Onze segundos. – ele disse assim que me sentei no sofá a seu lado.

– E quanto tempo você levou?

– Quatro.

– Parabéns, você é o vencedor desta maratona de seis metros.

A televisão já estava ligada e um reality show qualquer estava no ar. Acomodei-me bem ao lado dele enquanto sentia um de seus braços me envolver. Apoiei a cabeça em seu ombro e peguei sua mão livre, brincando com seus dedos. Eu olhava para a televisão, mas não via ou ouvia realmente o que estava passando. Só o que conseguia pensar era que eu estava abraçado a Sherlock. Como havíamos chegado aqui? Um dia somos só dois colegas de quarto e no outro somos namorados. Agora que eu parava para pensar, foi uma mudança tão brusca e eu não tinha certeza do que a tinha causado. Na verdade meus sentimentos por Sherlock não brotaram de um dia para outro. Havia meses eu estava apaixonado por ele, apesar de só agora realmente admitir meus sentimentos. Ele me fez admiti-los. Se não fosse por iniciativa dele eu teria continuado a suprimir todo meu desejo e amor por ele. E quanto a Sherlock? Ele não poderia ter passado a me amar de repente. Há quanto tempo ele vinha escondendo seus sentimentos como eu?

– Sherlock, durante todo esse tempo que vivemos juntos você sempre soube como me sentia em relação a você?

– Obviamente.

– E se você já sentia o mesmo, o que eu acredito que sim, já que não se passa a amar uma pessoa do dia para a noite, por que diabos não disse nada mais cedo?

– Como eu já disse, eu não falo sobre meus sentimentos, John.

– Tudo bem, mesmo que não falasse nada. Podia ter me dado um beijo em uma das inúmeras vezes em que nos encaramos por segundos a fio enquanto eu pensava que você estava simplesmente me deduzindo. Eu teria entendido o recado.

– Eu não queria arriscar perdê-lo. Sim, eu sabia que você estava atraído por mim, mas atração não era nada comparada ao que eu sentia. E se, como você sugeriu e como eu pensei várias vezes, eu te beijasse? Eu sabia que você corresponderia na hora. Você desejava aquilo tanto quanto eu, mas e se fosse só aquilo? E se depois de um tempo você simplesmente se cansasse de mim? Eu não suportaria ser abandonado por você, John.

– E o que o fez mudar de ideia? Por que decidiu revelar seus sentimentos?

– Na noite em que bebemos e você me beijou eu não consegui mais me conter. Depois de beijar você eu percebi que não conseguiria continuar a viver com você sem poder tocá-lo, então eu precisava tentar.

– E como você é uma rainha do drama preparou toda uma estratégia para me seduzir.

– O que infelizmente não funcionou.

– Ah, funcionou sim, só que você preferiu atender aquele telefonema. Se não fosse por isso nós...

Parei de falar imediatamente quando percebi o significado de minhas palavras tomavam. Eu não culpava Sherlock por ter levado um tiro, de maneira nenhuma, mas minhas palavras davam a entender o contrário. Felizmente Sherlock pareceu entender o que eu realmente queria dizer, pois ele continuou por mim:

– Teríamos tido uma noite incrível? Sim, tenho certeza disso. Mas ainda teremos nossa chance. – ele encostou os lábios em minha orelha. – E você nem imagina o que farei quando tiver você em minha cama novamente, Dr. Watson. – Deus, eu não aguentaria muito tempo se ele continuasse a usar aquela voz.

– Ah, eu garanto que consigo imaginar algumas coisas sim. – virei meu rosto para encontrar o seu e o beijei. – Então... – eu disse. – Estas coisas que você diz que vai fazer comigo você já fez com outras pessoas?

– Ora, pode perguntar diretamente, John. Você quer saber se eu já tive relações sexuais com outras pessoas. Sim, eu tive. Algum problema com isso?

– Não, nenhum problema. Eu só estava me perguntando...

– Bom, eu também fui um adolescente e por mais que gostasse de negar, meu corpo era um traidor. Nunca estive em um relacionamento, antes que pergunte. Todas as relações que tive foram simplesmente para suprir uma necessidade biológica. Obviamente com o passar dos anos essa necessidade diminuiu, até que você apareceu.

Sei que eu não devia me surpreender com o fato de Sherlock já ter estado com outras pessoas, mas mesmo assim saber disso foi um pouco estranho. Durante todo este tempo que nos conhecemos ele não mostrou interesse em sexo, fosse com homens ou mulheres, então acho que simplesmente assumi que ele nunca foi interessado. Felizmente eu estava errado.

– Que bom que eu me recupero rápido por que eu mal posso esperar para estar em sua cama novamente. – eu disse beijando-o de novo.

Ficamos “assistindo televisão” por mais um tempo até que finalmente o cansaço e a dor me venceram. Subi de volta até meu quarto apoiado em Sherlock (não me deixei ser carregado desta vez). Ele me trouxe meu remédio e preparou minha cama. Isso era até um pouco estranho de se ver. Geralmente era eu quem cuidava dele, nunca o contrário. Mas as coisas estão mesmo mudando, não é mesmo?

•••

E os dias foram passando. Sherlock cuidava de mim com a maior boa vontade. Quando recebia alguma ligação de Lestrade ele saia, pegava todas as informações de que precisava na cena do crime e logo estava de volta com todos os arquivos e resolvia praticamente tudo do nosso sofá. Ele queria ter certeza de que eu estava me recuperando bem e rápido. Eu adorava beijar Sherlock, mas não via a hora de poder percorrer todo o restante do seu corpo com meus lábios e não poderia fazer isso apropriadamente enquanto ainda estivesse ferido.

Então fiz de tudo para me recuperar o mais rápido possível. Nunca tive uma alimentação tão saudável em minha vida. Sherlock se recusava a me deixar ajudar em seus casos e vivia insistindo para que eu descansasse. E foi o que fiz. Dormia sempre pelo menos oito horas por dia.

Infelizmente os dias eram incrivelmente longos sem nada para fazer. Passava grande parte do dia atualizando meu blog com alguns casos que ainda não havia publicado. A pilha de livros que li aumentou rapidamente. Organizei gavetas e armários (os lugares de acesso mais fácil, que não exigiam tanto esforço), mas me assustei quando comecei a organizar minha estante de livros por ordem alfabética, de autor e ano de publicação. O tédio estava me deixando com TOC e eu finalmente comecei a compreender como Sherlock se sentia quando estava entediado. Mas ainda assim eu não sairia atirando na parede da sala. Ainda.

Mesmo se arrastando, os dias passaram e eu me sentia melhor a cada manhã. Quando finalmente pude sair de casa um pouco, Sherlock não quis me acompanhar, disse que passaria a tarde ocupado. Passei o dia todo fora, quando cheguei ao 221B já era noite. O dia fora me fez muito bem e eu me sentia completamente recuperado.

Entrei e subi rapidamente as escadas. Estava louco para tomar um banho, comer alguma coisa e finalmente arrastar Sherlock para a cama. Assim que abri a porta do flat um cheiro maravilhoso me atingiu. Sherlock estava cozinhando novamente, fazia dias que ele não cozinhava. E o mais estranho de tudo: o lugar estava repleto de velas. Muitas velas mesmo, de vários formatos, tamanhos, cores e aromas. Fechei a porta atrás de mim ainda um pouco surpreso. Fiquei parado analisando a sala quando Sherlock veio da cozinha, um pano de prato nas mãos.

– Aparentemente velas criam um clima romântico.– ele disse simplesmente.

Sim, esta seria uma noite e tanto.


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Notas finais do capítulo

Eita tortura, hein! Calma, John, a espera está quase acabando. ;)

E aí, pessoal, gostaram? Espero que sim! Muito obrigada a todos pelos elogios e comentários. ♥

E aquela espiadinha no próximo capítulo:

Capítulo 8
No ritmo da noite
[...]
— Você está nervoso. – Sherlock disse, com um sorriso. Ótimo!
— Não, não estou. – tentei negar. Eu sabia que era inútil, mas não podia simplesmente admitir.
— Sim, está. – com a sua mão livre pegou a minha e começou a acariciá-la. – Por que está nervoso, John?
— Não estou nervoso! O que o faz pensar que estou nervoso? Não, espera. Esqueça que perguntei isso.
Sherlock ainda sorria quando disse:
— Gosto do fato de que eu te deixo nervoso. Você sempre foi tão confiante de sim mesmo, mas comigo você fica ansioso. Gosto de ser a exceção.
— Claro que gosta. Você não está nem um pouco nervoso?
— Não. Por que deveria? Isto, nós dois juntos, está certo. É o que eu quero e pela primeira vez estou feliz. Não tenho porque ficar nervoso.
[...]

Até semana que vem! ;)