O pulso ainda pulsa escrita por Gui Montfort


Capítulo 3
Capitulo 3 - Gravações


Notas iniciais do capítulo

Conrad tem acesso às gravações do circuito interno do São Rafael e descobre novas pistas. Porém, precisará de ajuda, ajuda especial. Terá que chamar uma pessoa muito especial para ele, Anne Palacios.



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Conrad acompanhou a Madre Catarina que caminhava lentamente. Enquanto seguia em direção ao RH do São Rafael, o investigador fazia perguntas sobre o hospital e seu funcionamento, ficou surpreso ao saber que estava trabalhando justamente no hospital que era referência em transplantes de órgãos. A Madre se orgulhava das boas referências mantidas pelo São Rafael. Sorria como uma criança, mas não mostrava os dentes. Tema as pessoas que sorriem e escondem seus dentes. Se meu pai estivesse aqui, me diria isso. – Conrad evocava em seus pensamentos os conselhos de seu falecido pai. Vinte minutos, apenas vinte, foi o tempo preciso para Conrad ter acesso à documentação solicitada. O sistema de freqüência dos funcionários era todo informatizado e seguido à risca, sem desvios, conforme frisou a Madre Catarina, que elegantemente se despediu do investigador repassando para ele uma pasta classificadora branca.

Agora só faltava uma coisa, as gravações. Foi até a Central de Segurança Interna, o segurança já o aguardava.

– Detetive, está tudo aqui. – O segurança, Clodoaldo, aparentava ter trinta anos. O boné preto encobria seu curto cabelo, o colete a prova de balas deixava sua barriga mais...acentuada...arredonda.

Entregou um pen drive a Conrad e avisou que infelizmente teve que fazer o download das gravações de todo o ano. Ou seja, constavam ali as idas e vindas de inúmeras pessoas que passaram pelo corredor 03 de janeiro a julho. Conrad agradeceu e aconselhou Clodoaldo a beber menos refrigerante. Duas latas estavam vazias em sua mesa e a terceira estava em sua mão.

– Tem problema não, já estou no hospital mesmo. – Brincou.

– Verdade, mas se for atendido aqui, terá que passar o resto da vida trabalhando de graça. – Ambos sorriram, e ambos sabiam que o investigador estava certo. O São Rafael não era uma referência à toa. Alexis Conrad foi para o hotel, havia muito trabalho a fazer. Dr. Botelho e a Madre Catarina escolheram o melhor quarto do Palace Central para hospedar Conrad. Mesmo assim, com o frio da noite resistiu à tentação e tomou um longo banho frio. Um funcionário do hotel trouxe sua refeição, recebeu uma gorjeta magra e um obrigado largo. Ainda de toalha, achou melhor jantar e não perder tempo. Perder, verbo odiado por Conrad. Sentou-se na escrivaninha e abriu seu Dell Latitude 15. Com o olhar voltado para a tela de seu notebook, executou as gravações. Como não havia um consenso sobre a data exata em que se viu o fantasma pela primeira vez, Conrad decidiu assistir as gravações a partir do dia 04 de junho, dois dias depois das mortes dos funcionários. Olho estava atento ao vai e vem. Com a mão esquerda levava o garfo à boca, com a direita pausava, adiantava ou retrocedia as gravações. Esperava encontrar algum tipo de sinal. Tinha quase certeza que as câmeras não capturariam a imagem do espírito violento, mas não custava tentar. Percebeu que o movimento no corredor três foi diminuindo gradativamente. No dia 20 de junho, já não havia mais operações cirúrgicas ali. O corredor estava vazio. Completamente vazio.

– Mas o que é isso? – Retrocedeu o vídeo em alguns segundos e diminuiu a velocidade de execução em seu player. – Hum... macas caminham sozinhas? Não...nem mesmo no São Rafael. – Uma maca caminhava sozinha, como se alguém a empurrasse. O horário marcado pela gravação era exibido no canto inferior do monitor. – 20 horas e 30 minutos. – Conrad anotou. Adiantou a gravação. Nada de estranho ocorrera. Não antes das 20:30 do dia 05 de junho. Outra vez a maca cruzava o corredor sozinha. – Espere, noite do dia 05...dia 05...deixe-me ver...hum... – Conrad mexia em sua caderneta à procura de algum rabisco. Pausou a execução do vídeo – Aqui! Interessante...vamos ver esse encontro. – Deu play e viu...viu o enfermeiro Wendel cruzar o corredor 03. A reação de Wendel era clara. Ele notou a maca se mexendo... – Mas...o que é isso? - A maca se mexia e Wendel era estrangulado, seus pés não tocavam o chão. – Aparece...vamos...aparece... – Nada. A cena de tortura acabava com Wendel sendo jogado contra as duas paredes laterais do corredor. Seu crânio bateu brutalmente na segunda parede, ele desmaiou. Conrad não conseguiu ver o rosto ou algo que pudesse indicar quem era o espírito, ou de quem era. Mas agora havia uma certeza: ele tinha um trabalho a fazer. Mas sem uma face e um nome, nada poderia ser feito.

– Preciso de ajuda. – Pegou o celular e discou um número. – Alô...é o Conrad... desculpa a ligação a esta hora...n-não aconteceu nada comigo...- a pessoa com quem ele falava não estava acostumada com suas ligações - ...apenas preciso de você. – Desligou o telefone. As palavras soaram com mais força que ele desejara.

Continuou a assistir. Anotava tudo o que achava relevante. O espanto de uma técnica em enfermagem ao ver mais uma vez a maca se mexendo sozinha. A mesma maca. O mesmo corredor. Conrad reconheceu a técnica, havia a interrogado dias atrás, ela dissera que estava indo ao banheiro. Outro funcionário do hospital, Geraldo, também se espantou ao ver a maca em sua peregrinação pelo corredor 03, largou o carrinho de material de limpeza, benzeu-se e correu como um velocista olímpico. Ao todo, cinco pessoas viram a maca que parecia possuir vida própria. Viu a cena descrita por Ayala.

– Ela não mentiu em nada. – Disse para si mesmo.

As horas passavam, sem o consentimento de Alexis Conrad. Dormiu segurando os papeis que o RH do São Rafael cedeu a ele. A agenda dos enfermeiros vitimados. O sol chegou mais cedo que imaginava e trouxe com ele um raio a mais... Anne Palacios. Seu pedido de ajuda foi prontamente atendido. Ali estava ela, nos primeiros raios da manhã. A recepção do hotel ligara para o apartamento de Conrad e anunciara a chegada de Palacios. O investigador autorizou que sua visita subisse ao seu apartamento, situado no quinto andar. Vestiu-se tão rápido quanto um ladrão em fuga. Calça, camisa pólo e... Anne Palacios batia à porta. Não deu tempo de pentear o cabelo. Ao abrir a porta lisa de seu apartamento foi invadido pela marca peculiar de Palacios. O seu perfume, um aroma que era apenas seu... cheiro de morte após a morte.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Desculpem os erros, digitando em Tablet.