Apertei meu pé no acelerador sem piedade. Eu sabia e havia me relembrado que estava errada, mas minha imaginação e preocupação se resume ao o que pode acontecer se eu parar esse carro, e deixar de ir pra um lugar “seguro”.
Existiam vários fotógrafos aqui atrás, me perseguindo. As fotos estampariam jornais de todos os lados do mundo, com a confusão, e Mike machucado. Eu não queria isso. Ele estava machucado, não queria noticias idiotas agora !

– Annie, pra onde vamos !? – Ele disse rápido, mostrando a aflição que tinha inteiramente na sua voz. Eu estremeci.

– Você está machucado Michael ! E esses idiotas não vão conseguir o que querem ! – Trinquei os dentes, sentindo que meus pés fariam um buraco no acelerador. Estava com raiva, ódio, temor.

Ele não respondeu. Virei a cabeça em sua direção algumas vezes, vendo o medo nos seus olhos. Pensei por instantes que, na verdade, Michael era desprotegido. O que seria dele sem outras pessoas, como seus seguranças ? Aquilo me partiu o coração mais uma vez, e minha respiração continuava a sumir, assim como meu coração parecia querer parar, de quão cansado estava.

Apertei a mão no volante, olhando pra todos os lados. Olhei no retrovisor, com um pouco de dificuldade por meus cabelos estarem todo no rosto. A pequena franja deixava tudo pior. Foi ai que senti uma mão, colocando minha franja atrás da orelha. Petrifiquei.

Michael se aproximou rápido e fez isso. Ele viu que estava com dificuldades. Arregalei os olhos assim que consegui raciocinar. O carro acelerou bruscamente, um pouco descontrolado. Gemi baixo e voltei a “andar” direito. Estava suando frio.

– Cuidado Annie !

– Juro que estou tentando ! – Minha voz estava baixa, como se tivesse gemendo, em vez de falar.

– Oh não ! Acho que sua asma está voltando, deixa eu dirigir ! – Ele se aproximou, segurando onde podia. Ele percebeu que eu estava quase sem respirar, por um motivo, pelo menos. Asma. Ele, era outra coisa...

– Não, você está machucado !

– Annie, você não está bem... – Ele abaixou o tom da voz, eu sentia seus olhos no meu rosto.

Senti uma fraqueza. E não resisti em olhar-lo. Estava tão lindo... Ele era lindo em qualquer situação... Ah... CALMA SUA BURRA ! ELE ESTÁ SANGRANDO, TRATA DE DIRIGIR ANTES QUE MATE A MIM E A VOCÊ ! argh!

– E nem você ! – Disse nervosa, ainda gemendo – Espera Michael, eu vou dar um jeito, eu... – Na verdade,  não sabia o que iria fazer. Oh não.

Eu ainda sentia seu rosto no meu, o que me fazia sentir um turbilhões de sentimentos que não deveriam ser sentidos agora. Mas logo, ele voltou a se sentar direito, colocando o sinto. Percebi que eu estava sem sinto, e corei.  

Olhei novamente no retrovisor. Os carros com os paparazzi continuavam a transmitir flashs. Mas, estavam distantes. Eu calculei, e apertei o acelerador novamente. Daria sim pra despistar. Eu tinha essa chance, e eu tinha que fazer isso.
Na minha frente, havia rua para o norte, leste e oeste. Se eu entrasse na rua oeste, teria uma rua e logo outra pra mim entrar, bem perto. Isso despistariam eles.

Olhei novamente no retrovisor e joguei o carro para o oeste com tudo. Meu coração se acelerou com a adrenalina e a minha respiração continuava a sumir. Me sentia fraca...
Michael estava ao meu lado. Desprotegido ! Comecei a tirar minhas forças dali.

Entrei na segunda rua ao oeste e fui me distanciando de carros e casas do subúrbio. Árvores começavam a aparecer. Uma única rua surgiu, do lado esquerdo, morro. Do lado direito, floresta. A floresta era um pouco ampla, um carro poderia entrar ali e ser um pouco danificado apenas. Sorri fraca, e joguei o carro pra direita.

Em questão de segundos, pingos fortes de chuva começaram a cair. Tomei um susto em só perceber isso agora.
Comecei a desviar das árvores maiores pra não bater, e ia me infiltrando ainda mais dentro da pequena floresta. Michael riu, percebendo minha dedicação. Andei mais até onde consegui ir.

– Como você dirige. – Ele sorriu, ainda fraco e assustado.

– Obrigada. – Eu corei, me sentindo tonta.

Fui diminuindo a velocidade, e minha respiração.

O carro parou, a chuva já estava forte, muito forte. Eu podia senti-la através da janela quebrada.

– Annie você está pálida. – Ele desprendeu o sinto, indo pra mais perto de mim assim que o carro parou. O sangue não jorrava tanto de sua testa.

– Não eu estou... bem... – Suspirava, não sentindo o ar nos pulmões. Estava tremula. Minhas mãos soltaram do volante sem a minha vontade. O ar conseguia ser tão pouco, que, pensei estar debaixo d’água.

– Annie você está me assustando ! – Ele colocou a mão na minha testa, seus olhos estavam apertados em mim.

Oh não. Não é possível que, eu iria desmaiar de novo. Não seria possível ! Calma sua besta, não desmaie !

– Annie... – Ele disse se aproximando mais de mim. Seu rosto estava tão perto que, eu podia sentir sua respiração ofegante.

– Por que você não correu, Michael ? Por que ? – Por mais que minha voz tivesse fraca, e eu quase não respirasse, eu tinha que perguntar.

Ele sorriu, me envolvendo nos seus braços. Me senti mais mole ainda enquanto ele me pousava sobre o banco de trás do carro.

– Nunca fugiria dos meus fãs. Foi um incidente... – Ele disse retirando seu sobretudo.  Seu corpo estava colado ao meu, o espaço do carro não era tão grande, e os quatro vidros das janelas estavam quebrados. A chuva forte chegava a nos molhar.

– Isso é surpreendente ! Michael, eles te machucaram... – Eu fechei os olhos assim que senti o sobretudo em cima de mim. Mike me cobriu, tentando fazer parar minha tremedeira que me tomava por inteira.

– Eles queriam me tirar pra fora do carro. Não queriam me machucar. – Suas mãos ajeitaram o casaco em cima de mim. Logo senti sua voz longe. Abri os olhos, procurando-o.

Ele estava no banco da frente, e pegou minha bolsa voltando pro meu lado – aliás, pra quase em cima de mim, estávamos muito próximos – .  

– Você é surreal. Eles te machucaram ! Que fãs são esses ?! – Por mais que quisesse gritar, eu não conseguia. Minha voz era um sussurro.

– Fique calma Annie... Você está fraca, com asma. Me diga sim com a cabeça se sua bombinha de asma está na bolsa e me dê a permissão de pegar-la pra você... – Sua voz era tão doce, que eu poderia derreter a qualquer momento por mais que tivesse quase desmaiando. Aliás, se ele não me ajudasse, eu desmaiaria daqui a pouco.

– Michael... – Eu comecei a falar, mas logo seu rosto gentil me repreendeu.

Balancei a cabeça, dando permissão á ele de pegar a bombinha. Ele abaixou os olhos e procurou com rapidez. Observei-o assim, na minha frente, quase grudando meu rosto ao dele, observei seu peito se mexer pela respiração, o sangue na sua blusa branca, seus cabelos molhados um pouco pela água da chuva que pegou... Estava tão lindo, tão perfeito que eu não consigo dizer o que sentia.

Eu estava quase desmaiando, estava sem ar e mesmo assim estava fora de mim. Parecia um sonho, parecia uma história de terror, e ao mesmo tempo de romance. Por mais que eu não tivesse em seus braços, eu amava olhar-lo com essa bravura. Amava ver o homem que estava na minha frente. Cada feição, cada definição... O jeito que a roupa caia sobre seu corpo, com tanta delicadeza, é angelical. Era simplesmente a coisa mais linda que já vi na vida. Um simples respiro seu era demais. Só de ver seu tórax se mexer com a respiração ofegante, me deixava absolutamente fora de mim.

Ele voltou a olhar pra mim fixamente. Tirou minha franja do rosto e colocou a bombinha pra mim respirar. Ele segurou a bombinha no meu rosto com delicadeza, e se sentou ao meu lado. A chuva o molhara novamente, mas ele não pareceu ligar. Segurei minha mão em cima da dele, e respirava ofegante. Era um alivio... Eu comecei a respirar novamente. Já não estava tão tremula.

– Respira, Annie... – Ele suspirou baixinho, ajeitando novamente o sobretudo em cima de mim. Encolhi meus pés, percebendo que tinha parado de respirar assim que fixei meu olhar nele.

– Oh. Sim. – Voltei respirar com bravura.

Dessa vez, tentei me lembrar de respirar enquanto olhava pra ele. Seu rosto observava a chuva fora da janela. Logo, encontrou o meu olhar.

Ele me olhou fixamente nos olhos enquanto eu fazia a mesma coisa. Minha respiração ficou rápida e ainda mais ofegante assim que percebi que ele não tirou os olhos de mim. 10 segundos e continuávamos a nos encarar. Me perguntei mentalmente se ele não tiraria o olhar de mim.

Estava ficando nervosa, com aqueles olhos penetrantes. Ele eram firmes, e ao mesmo tempo tão doces... Era impossível não se render a tamanha perfeição. Comecei a tremer de novo, assim que percebi que já tinha se passado mais ou menos 1 minuto e não tínhamos nos desgrudado os olhos.

Apertei minha mão em cima dele, e fechei os olhos quebrando nossas conexões. Os abri de novo, e voltei a olhar-lo fixamente. Ele sorriu, me fazendo sorrir também.  E de novo, eu vi o sorriso mais lindo do mundo. Aquele sorriso que, me dava vontade de sentir pertinho, de lábios com lábios, boca com boca. Seria difícil me controlar com esses olhares. Aqui, só eu e ele era diferente. Eu podia ver-lo de uma forma que eu sempre quis. De uma forma que sempre desejei. Tudo bem que, eu não imaginei que estaríamos molhados e machucados. Mas, o sorriso aqui a minha frente compensava completamente tudo que um dia eu sonhei.

– Obrigada... – Eu disse ainda sorrindo.

– Você é... Diferente ! – Ele riu levemente, ainda segurando  bombinha.

– Sou ? É, isso é bom ou ruim ?

– Bom... Seu sorriso me conforta. Você tem um sorriso bonito Annie.

Petrifiquei.

 – Preciso falar do seu ? Verdadeiramente... – Fechei os olhos, sorrindo.

– Hm, você tem que descansar. Fique quieta até se recuperar... – Sua voz diminuiu o tom.

Abri os olhos e vi seu rosto corado. Me lembrei rapidamente que Michael ficaria super sem graça se falasse isso agora. Ele era o tímido mais cavalheiro e verdadeiro. Ah que vontade de agarrar-lo !