Eu me sentia super novo. A dor de cabeça ainda estava lá, mas eu tinha forças para aguentar.

— Eu sei o quê ocê tá pensando — disse a garota — Pode tirá seu dragãozinho da chuva, cê não pode ir pra luta.

Eu fitei a caipira por alguns instantes. Eu já tinha visto ela na mesa lá no Vale da Neve, é claro que ela era da família Apple, com sua Bela Marca de maçã e ervas. Parecia uma espécie de curandeira.

— Vou falar com Star Swirl — avisei a ela.

A Apple assentiu, e então eu me levantei do chão da tenda e fui direto para a saída. A noite estava linda, e quase acabando. Star Swirl estava na minha esquerda ainda conversando com Caspie, quando de repente uma explosão de luz e som tão grande acontece acima de nós. Lá do céu, as forças negras de Rei Sombra haviam abatido a Rainha, e ela despencava do Castelo até o chão sem nenhuma reação ou aparo. Eu olhei aterrorizado para Star Swirl. Ele entendeu o que eu queria dizer e juntos, usamos nossa magia de levitação para aparar a queda. Ela caiu um pouco longe de nós, num quadrante a esquerda entre as tropas aliadas e inimigas lutavam e se mutilavam.

O exercito de sombras e esqueletos apenas cresciam, e nossos aliados estavam começando a perder o foco. Então eu senti o ódio brotando de mim novamente. Ele preencheu meu coração com forças, e minha dor de cabeça aumentou. Caspie olhou para mim assustada, e Star Swirl continuava nulo a meu respeito. Então eu avancei pelos nossos aliados.

Eu berrei de dor, um grito de guerra que se estendeu por todo o Império. O barulho de explosões e ferros cintilantes pararam de ecoar. Eu era o centro da atenção. Meu chifre doeu e brilhou, e quando eu tinha percebido por mim eu estava dentro de um campo de fogo. Uma bolha quente alaranjada me cercava e me protegia. Não sabia como estava fazendo aquilo. Parecia tão natural. Parecia que era o meu talento dominar o fogo.

Esqueletos com e sem armaduras mantiveram seu foco e começaram a me atacar. Enquanto eu corria, o fogo me protegia dos feixes de sombras e pesadelos. Vários unicórnios caídos eu conseguia avistar ao meu redor, e os outros atrás de mim berraram e me seguiram. Do meu lado tentando me acompanhar, um unicórnio maior de armadura de bronze me olhou com confiança. Ele era negro como a noite e seus olhos eram cor de mel. Sua medalha em seu peito claramente dizia que ele era o líder das tropas.

— Juntos — ele me dissera.

Então juntos, atacamos.

Ele usava luz e desintegrava o exército inimigo enquanto eu apenas os cortava como pães com lâminas de fogo e ondas de calor. Eu não sentia nada. Fui atingido várias vezes, mas nada me fazia parar. Nada me fazia temer. O comandante se alinhou comigo, e percebemos que estávamos cercados.

— Bolha de Plasma? — perguntou ele.

— Bolha de Plasma — assenti.

Então usamos nossos chifres para criar um campo de plasma e de luz que liquidasse as tropas mortíferas inimigas. Usamos essa magia, e então quatro fileiras circulares de esqueletos sombrios viraram pó. Continuamos trotando até chegar ao ponto onde a Rainha estava caída. Havia um campo de força rosa a protegendo-a, e vários esqueletos como zumbis tentando bloquear esta barreira. O escudo de fogo em volta de mim se apagou, e me coração se encheu de esperança. Eu sentei. Fiquei parado observando a cena. Lá do alto do Castelo de Cristal, um unicórnio negro de olhos totalmente verdes e chifre vermelho nos observara. Os esqueletos se afastavam de mim e do comandante, eles já tinha visto do que éramos capazes. O comandante das tropas aliadas usou alguns feixes de luz alegres e dissipou os esqueletos.

O campo de força da Rainha abaixou, e ela estava num mal estado.

Era horrível olhar para ela, ela tinha sofrido tanto. Não podia descrever esta cena, eu apenas me contentava em olhar nos olhos daquela égua.

Ela disse algo em alguma língua que não entendia, e então seu chifre tocou o de seu comandante, o fazendo brilhar um pouco rosa. Alguns esqueletos se aproximaram, mas o meu novo amigo nos protegeu.

Eu olhava para a Rainha, triste. Ela não dizia nada. Ela não poderia.

— Obrigado por se sacrificar, para nós termos uma chance — disse eu tentando manter estável a voz.

Eu não tinha muitos sentimentos por ela, mas a Rainha era uma pessoa de respeito, e ela tinha conquistado muito disso no pouco tempo que tivemos juntos. Ela era uma guerreira, e estava lá, lutando pelo seu povo.

Ela apenas tocou seu chifre no meu, e então me senti com mais amor no coração, e não com ódio. Sua magia curou o meu estado psicológico, e então ela brilhou em uma luz pálida e simplesmente desapareceu. Um perfume de lavanda estava pelo ar, e então uma lágrima escorreu. Estava tudo tão confuso. Eu não sabia o que fazer, não tinha planos para que tudo terminasse desse jeito.

Eu desabei no chão um pouco cansado, e pensei nos sonhos que tive me conectando à Princesa Luna. Eu fiz uma prece. Eu desejei que elas estivessem ali, conosco.

— Hora de recuar — mandou o Comandante.

Sua cauda negra estava um pouco queimada. Eu me perguntava se tinha sido eu a fazer aquilo.

— Tropas, recuar! — ele gritou no campo de batalha.

Vários unicórnios e pôneis de cristal estavam voltando para o Sul do Império de Cristal. Os esqueletos haviam sido derrotados, e não tinham mais inimigos para lutar.

— Foi uma batalha curta desta vez, mas ainda está longe de acabar — contou o corajoso líder.

— Como posso chama-lo?

— Black Tail. E seu nome qual é? — ele me deu um sorriso.

— É difícil dizer pois não sei. Me chame de Pesadelo Ruivo.

Ele me fitou indeciso. Então olhou para meu flanco.

— Eu já tinha te visto antes, e achei que você não tivesse uma marca especial.

Eu fiquei atordoado. Era na guerra que eu tinha ganho minha Bela Marca? Eu parei de caminhar com ele pelo chão de cristal, e olhei para meu flanco. Do canto do olho, eu vi uma espécie de pássaro de fogo com três estrelas formando um triângulo isóceles na parte de cima.

— Parabéns — me parabenizou sem muito ânimo na voz.

A lua estava se pondo e o dia começava a raiar. Então do Leste, uma forma branca apareceu do Sol que se levantava. De seu lado, uma forma mais azulada. E aconteceu tão rápido. As Irmãs Princesas vieram voando do leste até a borda do Império.

Da varanda leste do Castelo, o Rei Sombra andou no céu em cima de uma nuvem negra e terrível, que transmitia angustia e medo. Então ele as encarou.

Celestia trazia consigo os mesmos rubis que tinha visto em minha visão com a Luna. Eles eram coloridos e de formas diferentes, e então ela e Luna combinaram seus chifres e criaram uma bolha de energia ao seu redor. O Rei Sombra investiu, mas sua magia negra não conseguia avançar no meio de tanta graciosidade. Um arco-íris surgiu do centro da bolha. Um feixe pequeno foi disparado para o céu, e com um ângulo mais aberto, atingiu o Rei Sombra, o fazendo ficar dentro de uma espécie de tubo arco-íris.

Uma luz cegante foi disparada de onde as Princesas estavam, e então um tremor na parte Oeste do Império sacudiu o chão. Não sabia o que estava acontecendo, pois as casas e construções tampavam minha visão. O arco-íris se dispersou e uma sombra maligna fora o que restou. Ela se encaminhou direto para o local do tremor, e então outra batida aconteceu ao chão. Gritos de dor e ódio emanavam do fundo da terra, como se algo a mais estivesse por vir.

Minha visão estava turva? [Foi um efeito bem bizarro que aconselho vocês a nunca tentarem]. O Castelo começou a tremeluzir como se fosse um reflexo de cristal na água límpida. No céu, eu não avistava mais as Irmãs Princesas e ao redor tudo estava ondulando — como se fosse um reflexo.

Os pôneis de cristal que tinham saído de casa começaram a tremeluzir também. Todos os pôneis da nossa base que tinham vindo do Vale da Neve estavam no mesmo efeito. Tudo foi se apagando, como se fosse um sonho. Todas aquelas vidas, todas aquelas construções, como alguém estivesse apagando com uma borracha de tecido da realidade. E foram sumindo até não restar mais nada. E é claro, sem a magia do Império de Cristal, a nevasca caiu sobre nós nos castigando com o frio.