The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 4
Capítulo Quatro - Mensagem de Rádio


Notas iniciais do capítulo

Antes de ler, reserve um minuto de silêncio pela Sophia.

#RIPSophia



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Os ônibus escolares que sobreviveram o ataque da escola circularam as desertas ruas da cidade por toda a madrugada. Silas não havia reconhecido um ser vivo no meio do caos em que o Rio de Janeiro se encontrava. Isso o preocupava muito, pois ele não aguentaria passar o resto dos seus dias com pirralhos ignorantes. Pularia fora assim que pudesse. Este pensamento foi o que lhe deu vontade de continuar dirigindo pelas ruas e avenidas da metrópole.

...

O Sol não havia nascido, mas uma linha laranja já havia começado a se formar no horizonte. Pelos os meus cálculos faltava meia hora para amanhecer, pois havíamos ficado horas rodando pela cidade totalmente deserta. Silas continuava dirigindo sem dizer um pio, isso me preocupava. Poderia ser apenas o choque do horror que eles presenciaram. Meus pensamentos e eu continuamos em silêncio até Gabriel sentar do meu lado.

– Trouxe isto para você – disse ele estendendo um cobertor peludo.

Reparei que eu tremia de frio.

– Obrigado – minha garganta estava seca – Como está o Bernardo?

Ele olhou para os bancos de trás.

– Consegui fazê-lo dormir – respondeu – Estava apavorado demais.

Ele parecia escolher as palavras com cuidado. Talvez estivesse com medo de aumentar a ferida da perda de Sophia.

– Olha, cara – começou ele – Você vez tudo para ajuda-la...

Palavras erradas. A dor se transformou em raiva.

– Olha aqui – explodi – Não preciso dos seus sermões ok?! Ela estava viva e não pude fazer nada para salvá-la. Fiquei paralisado! Ela morreu por minha culpa!

Gabriel se encolheu no banco.

– Eu só queria...

– Poupe-me! – estava descarregando – Perdi minha família e meus amigos para estes mortos de mer...

Gabriel se sobressaltou.

– Epa, epa – disse – Tem crianças pequenas aqui!

– Dane-se! – retruquei

O ônibus diminuiu a velocidade rapidamente. Gabriel se assustou e levantou com um pulo. Eu e mais três alunos repetimos seu gesto. Silas se levantou do banco e olhou para nós:

– A gasolina está no vermelho – disse – Precisamos de um posto.

Como havíamos sido tão idiotas! Quando a sociedade ruiu, a gasolina se transformou em ouro líquido. Não podíamos ter gastado esta proeza com um alegre passeio pela cidade!

– Alguém conhece este bairro? – perguntou ele.

Olhei pela janela. Do outro lado da calçada via-se um palácio em ruínas com o telhado chamuscado. Perto dele havia um clube de futebol com dezenas de mortos ao redor. Era Laranjeiras. Aqueles eram o Palácio Guanabara e o clube do Fluminense.

– Minha avó mora aqui – disse – Conheço este lugar. Há um posto mais adiante, antes do viaduto.

Silas olhou para a janela.

– Tem uns vinte mortos até lá – comentou – Não vou conseguir sozinho.

Um dos alunos levantou a mão, mas eu fui mais rápido.

– Eu vou – respondi.

Silas me fitou por um longo tempo.

– Ok, vamos – disse, por fim – Sr. Chavez, você e os outros alunos tomam conta do veiculo. Se os outros acordarem, diga aonde fomos.

Gabriel acenou com a cabeça e pegou uma barra de ferro para si.

– Vou vigiar pelo teto – disse Gabriel – Qualquer coisa, gritem!

Eu e Silas saímos do ônibus para o gelado começo da manhã. Os dois estavam estacionados perto do meio-fio, o que causaria problemas. Tivemos que dar a volta para conseguir avançar pela rua. Os mordedores não haviam sentido nosso cheiro, pois estavam preocupados com um delicioso policial que deitara na calçada. Silas observou a cena com nojo nos olhos e virou-se para mim:

– Vamos ser discretos e sem barulho – disse – O caminho até lá está livre, mas não consigo avistar o posto. Se algum morto-vivo avançar em você, não hesite.

Revirei os olhos.

Nós passamos em silêncio pelos mordedores e desatamos a correr em direção ao posto. Um deles largou o braço do policial e veio atrás de nós com a boca ensanguentada. Eu me virei para ele e finquei o ferro no meio dos seus olhos. Ele tombou para o lado com certo barulho, o que atraiu mais deles para perto de nós. Silas soltou um palavrão bem audível.

– Ok, novo plano! – disse ele – Você corre até o outro lado da calçada e tenta chegar ao posto. Eu vou atrai-los para mim. Não hesite e não faça barulho.

Concordei com um aceno e corri pelo asfalto em direção ao labirinto de carros esmagados que lotavam as pistas. Silas gritou um “Ei, vocês!” e disparou pela calçada com meia dúzia de mordedores em seu encalço. Desviei dos carros e alcancei o posto com certa facilidade. Ele estava deserto e fedia a podre, algo que não era um bom sinal. Felizmente, a bomba de gasolina estava inteira e os números na tela indicavam que estava cheia. Puxei o tubo do apoio e apertei o gatilho. O líquido malcheiroso jorrou pelo cano caindo dentro das garrafas plásticas que eu havia encontrado no caminho.

Perto do posto havia uma loja de conveniências totalmente às escuras e com suas vitrines estilhaçadas. Decidi invadir a loja e roubar alguma coisa, pois meu estômago ardia de fome.

O estado da loja era deprimente. As geladeiras estavam viradas e o conteúdo das garrafas de vinho estava espalhado pelo chão. As prateleiras caíram da parede e agora jaziam mortas junto com dezenas de maços de cigarro. As estantes e o balcão estavam manchados de algo que eu rezava para ser vinho, mesmo duvidando muito disso. Havia também uma série de latas em conserva, garrafas de água mineral e sacos de biscoitos. Era um paraíso no inferno.

Abri minha mochila e coloquei quase tudo o que havia naquela loja. Puxei um saco de Doritos da prateleira e comecei a comê-lo enquanto voltava para perto da gasolina. Silas já havia voltado quando cheguei. Seu rosto e suas roupas estavam manchados de sangue, mas abriu um largo sorriso quando me viu:

– Graças a Deus, Garoto – disse – Achei que estivesse morto.

– Achei suprimentos naquela loja – apontei – Tem o suficiente para uma semana.

Ele sorriu mais uma vez.

– Escute, tem um carro adiante com o rádio ligado. Se conseguirmos sintonizar uma estação, talvez dê para descobrir algum centro de refugiados.

Corri para o carro. Isso era incrível, ouvir a voz de outra pessoa. Não importava quem fosse. Alguém mais está vivo.

O carro que Silas apontara estava todo ferrado. As janelas haviam quebrado e a porta traseira havia caído. Mas o rádio estava ligado e chiava como louco. Sentei-me no banco do motorista e comecei a girar os botões. Silas sentou do outro lado.

A mensagem que ouvimos no rádio era incrível. Era a prova que a sociedade não havia caído. Era a prova que conseguiríamos suportar tudo:

“ – Chamando todos os ouvintes. O governo montou uma base no fim da Ponte Rio-Niterói para ajudar os sobreviventes da infestação. Não tente outros caminhos! A cidade está em quarentena decisiva. Vão para a Ponte Rio-Niterói.”


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Notas finais do capítulo

Silas abandonará o grupo? A mensagem é verdadeira? O grupo ficará vivo?