The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 3
Capítulo Três - Jogo de Xadrez




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O grito era pavoroso e penetrou pelo calmo salão como um balde de água fria. Pessoas acordaram assustadas e correram para as escadas de acesso aos andares superiores. Crianças choravam de susto, pois o sinal estridente soou segundos depois. Levantei-me em um pulo e ajudei Gabriel que parecia desnorteado com tamanha confusão. Ele indicou as escadas com a cabeças e eu concordei. Corremos para lá segurando a barra de ferro com firmeza.

– Uma noite?!? – gritou ele com esforço – Tudo isso durou só uma noite?

– Impossível! – afirmei – Pode ser só alguém assustado!

Nem eu acreditava nisso.

O corredor onde fora montado o posta de vigilância tinha uma excelente vista de toda a cidade. Altos e luxuosos prédios ziguezagueavam a paisagem disputando sua beleza com viadutos e ruas. Casas majestosas mantinham as janelas abertas para a brisa do verão. Árvores altas e vivas coloriam as calçadas com um tom de verde deslumbrante.

Isso era antes da praga se espalhar. A cidade agora parecia mais um cenário de algum filme de Hitler. Focos de incêndio ardiam em vários pontos da metrópole adormecida, carros amassados lotavam as ruas e as fachadas outrora bonitas descansavam em pilhas de escombros pelo chão. E ainda havia os mordedores, corpos putrificados que andavam sem rumo espalhando um horrível cheiro de decomposição e mofo.

– Isso é incrível – disse Gabriel, os olhos brilhando na claridade da Lua – E ao mesmo tempo deprimente!

– Ah, cala a boca! – gritei. Estava cansado de frases filosóficas.

Encontramos a pessoa que gritara. Sarah estava mais ao longe no corredor e discutia com alguns professores. Ela parecia estar apontando fixamente para a grade que protegia o terreno. Enxerguei o problema rapidamente. Os mordedores estavam forçando muito a grade. Ela balançava precariamente e colocaria a vida de qualquer um de nós em risco. Havia muitos mordedores ao redor da cerca. Gabriel apanhou o binóculos de Sarah e observou a rua.

– Isso não é bom! – disse ele.

Um dos professores se apoiou na janela para ver melhor.

– Eles vão derrubar a cerca – Sarah estava histérica – Eles vão derrubar a cerca! Eles vão derrubar a cerca!

Pus minha mão em seu ombro.

– Vai ficar tudo bem! – disse – Vamos dar um jeito!

No instante seguinte soube que havia falado bobagem. A cerca se arrebentou juntamente com os portões. Os mordedores subiram pelos destroços de ferro e começaram a avançar lentamente para o interior dos prédios. Pessoas começaram a gritar e o teto balançou dado a correria que se iniciara em todo o edifício. Gabriel recuou da janela e sentou-se na escada respirando com dificuldade. Ele pensava o mesmo que eu. A bosta havia ido para o ventilador e respingado em todos.

– Bernardo – disse Gabriel – Eu preciso achá-lo.

Ele se levantou.

– Temos que dar um fora daqui – tentei parecer confiante – Vou buscar Sophia e nós nos encontramos na garagem.

Ele concordou com um aceno e desceu as escadas correndo.

– Vamos todos morrer! – surtou Sarah.

Uma sombra se materializou no corredor escuro. O Sr. Bellshoff vinha correndo carregando sua Beretta 96 Brigadier, cortesia de seus anos prestados no exército.

– Vamos evacuar os prédios – disse ele com sua voz de touro – Levem o máximo de pessoas que puderem para os ônibus!

– Como assim? – perguntei – E a escola?

Ele me fitou com tristeza

– Perdemos a escola. O prédio A está sendo invadido e só temos esta arma. Vamos fugir.

Aquilo foi um choque para mim. Aquela sociedade de refugiados que formamos neste lugar havia desmoronado. Aquela reunião parecia ter acontecido há muitas horas atrás. Decidi começar a correr, e procurar por Sophia.

Os corredores estavam infestados de mordedores que avançavam sem dó em busca de carne. Alguns alunos haviam perdido a guerra e estavam sendo devorados, outros lutavam firmemente armados com pedaços de pau e barras de ferro. Alguns professores também jaziam mortos pela escadaria. A professora Helena, ciências, havia retornado como mordedora e desfrutava de um delicioso aluno esparramado no chão. Tive um acesso de fúria e enfiei a barra de ferro no crânio da defunta. Eu amava fazer aquilo.

O pátio que servia de dormitório havia sido invadido pelos mordedores. Crianças desesperadas corriam para a arquibancada para tentar fugir dos dentes amarelos dos mortos. Muitos já haviam perdido e agora estavam despedaçados e espalhados pelo piso. Reconheci três dos meus amigos entre os mortos. Não tinha tempo para pensar nas perdas, pensaria depois que estivesse seguro. Alguns professores também eram reconhecíveis no meio da luta. Sophia não estava em lugar algum.

– Sophia – berrei no meio do caos – Sophia!

– Estou aqui – berrou ela em resposta.

Sophia acenou no meio dos sobreviventes. Corri até ela e sufoquei-a com um forte abraço. Ela estava coberta de sangue e sorria com uma fúria selvagem nos olhos. Puxei-a pela mão até um canto do pátio.

– Vamos sair daqui – disse em um sussurro – Não importa o que aconteça, corra direto para a garagem!

Ela concordou com um aceno e disparou pelo pátio segurando forte na minha mão. Eu era mais rápido e ultrapassei-a, desviando com cuidados dos mortos assassínios. Ela aumentava a velocidade a cada segundo da corrida. Este era um momento perfeito, se não fosse pelos mordedores.

Então aconteceu. Senti um forte puxão de Sophia e me virei para vê-la. Um mordedor havia agarrado a cintura de Sophia e sacudia com força, aproximando sua boca do pescoço dela. Ela gritou em pânico e soltou minha mão. O mordedor conseguiu vencer Sophia e cravou os dentes no pescoço, iniciando uma cascata de sangue que inundou suas vestes. Paralisei meu corpo, outro mordedor avançou sobre ela e enfiou a boca no outro lado. Mais sangue jorrou e Sophia tombou de costas, sendo devorada por meia dúzia de mortos.

Berrei de dor e me ajoelhei junto ao monte de mordedores, sentia minha morte próxima. Dois fortes braços me agarraram por trás e me puxaram para trás, me afastando de Sophia.

– Não, não! – gritei para o desconhecido – Me deixa salvá-la!

– Você não pode mais fazer nada por ela – sussurrou a voz de Gabriel – Vamos!

Sentia meu corpo mole e dolorido. Mas a dor externa não importava. Meu coração estava quebrado demais para me preocupar com meu corpo. Sophia havia morrido e tantos outros alunos estavam sendo abandonados, excluídos do plano de Deus.

Senti Gabriel me depositar em um dos bancos do ônibus. O motor rugia sobre meus pés, mas nada importava. Eu apenas pensava neste interminável jogo de xadrez, torcendo para ser a próxima peça.


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Notas finais do capítulo

R.I.P Sophia