The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 20
Capítulo Vinte - Líder do Grupo


Notas iniciais do capítulo

No Capítulo Anterior: Hugo e os outros prisoneiros escapam das garras do Olimpo. Infelizmente, nem todos sobrevivem!



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A caravana dos fugitivos seguia em silêncio, quase fantasmagórica. Três carros avançavam pelas ruas destruídas da cidade sem causar nenhuma mudança nos mortos que perambulavam por elas. Os primeiros raios de Sol que encostavam nas fachadas provocavam lágrimas silenciosas em cada homem que seguia em silêncio. Seis homens haviam morrido na fuga. Dez estavam vivos. Os que sobreviveram ao ataque olhavam pelas janelas sem ter algum motivo. Simplesmente tentavam retirar de suas mentes a tragédia da noite recente.

Tentei não pensar em Oliver. Mesmo assim, cada destroços espalhado pela rua me fazia lembrar do homem que salvara minha vida. Oliver havia se jogado na frente de Juliana e David para impedir os tiros. Cinco pessoas deviam suas vidas ao legado do marinheiro. Fechei minhas mãos ao redor do ombro de Juliana. A recém viúva chorava desolada com grandes soluços. Menos um combatente para lutar, menos um herói para derrotar o inimigo, menos uma família para unir.

Os três carros pararam silenciosamente. Estávamos em um cruzamento abandonado em algum lugar perto da Mangueira. Carros se amontoavam uns sobre os outros impedindo a passagem da caravana. O Sol já havia nascido e a cidade respirava o cheiro matinal do apocalipse. Ao longe, via-se os contornos das linhas de trem e o formato oval do antigo Estádio Maracanã. Lembrei dos momentos felizes que passei ali comemorando os campeonatos estaduais com meu pai. Pobre pai. Havia sido derrotado no jogo de xadrez da vida, assim com Oliver.

– Não podemos passar pelo congestionamento – observei – Temos que dar a volta.

David encarava o trânsito com olhos sonhadores, como se sua mente estivesse a quilômetros de distância. A morte recente de seu melhor amigo o afetou profundamente.

– Podemos encarar as ruas da favela, ou – comentou Gabriel – encaramos a Presidente Castelo Branco.

Os outros dois motoristas saíram de seus respectivos carros e bateram com o nó dos dedos no vidro. David recuperou a consciência e abriu a porta do motorista. Os três iniciaram uma conversa do lado de fora inaudível para que estivesse dentro dos carros. Tentei ler os lábios que se moviam, mas o cansaço me abateu. Descansei a cabeça no banco de couro e fechei os olhos. Estávamos exaustos, fisicamente e psicologicamente. David retornou para o carro minutos depois e iniciou uma corrida de ré com os outros dois.

– Onde estamos indo? – perguntou Clara, olhando pelo vidro traseiro.

– Vamos pela Castelo Branco – contou ele – Vamos ser os primeiros a chegar no hotel.

Juliana parou de soluçar e encarou o amigo.

– Aonde eles vão? – perguntou com a voz chorosa.

Os outros dois carros seguiram por uma rua lateral e desapareceram numa curva.

– Buscar armamentos – respondeu David – Mostrei a eles alguns lugares na cidade com armas e munição.

Juliana encarou-o sem entender.

– Para quê precisamos de armas e munição?!

David a encarou como se estivesse louca. Em seguida, desceu o viaduto da Mangueira em direção a avenida.

– Vamos lutar contra aquele maluco! – respondeu.

Juliana se virou indignada.

– Não! – gritou ela. O som parecia uma explosão depois de tanto silêncio – Aquele idiota já causou dor demais! Vamos esquecer tudo isso e seguirmos em frente!

Foi à vez de Clara alterar a voz.

– Matamos dezenas de homens dele! Zeus quer justiça! – berrou ela – Não vai acabar com a guerra tão cedo!

David encarou os passageiros do banco de trás. Clara e Gabriel se encolheram ao olhar severo. Desviei o olhar da janela para devolver o olhar.

– Não estão metidos nisso – contou ele – Vamos deixá-los no hotel e seguiremos para a guerra!

Troquei olhares com meus amigos.

– Vamos lutar também! – contestou Gabriel – Perdemos pessoas nossas para eles!

David revirou os olhos.

– Vocês são crianças! Não posso ter a vida de crianças em minhas mãos! – disse – Se eu sobreviver, terei minha consciência pesada!

Gabriel forçou uma risada com o nariz.

– Somos as únicas crianças no mundo que sobreviveram ao caos! Passamos pelas mesmas tragédias que vocês e sobrevivemos! Somos tão fortes quanto qualquer um!

David trocou olhares com Juliana. Não queriam ter que se preocupar conosco.

– Olha, David – disse Clara em tom meigo – Sei que se preocupa com nossa segurança. Mas nós vamos lutar. Faremos isso por conta própria!

David pensou por alguns instantes, mas concordou com a cabeça minutos depois. O resto da viagem permaneceu em silêncio. Os outros voltaram a pensar nas perdas recentes e nas futuras perdas que enfrentarão. Descansei a cabeça no vidro tentando esvaziar minha mente e adormecer por pouco tempo. Infelizmente, David soltou um palavrão muito alto que me tirou do momento de descanso. Havíamos chegado ao hotel. Mas Zeus chegara primeiro.

As barreiras haviam sido quebradas e uma multidão de mortos andava pelos destroços. Carros queimados ardiam em silêncio e um ônibus escolar jazia no interior do prédio. Quase todas as janelas estavam quebradas e o terraço estava espalhado na calçada. Torres de fumaça saiam de diversos lugares e escureciam o céu da orla. A fachada do edifício estava queimada e havia marcas de bala por toda a sua superfície. Felizmente, não era possível ver nenhum homem vivo em um raio de quilômetros. Só que minha mente captava era morte, fogo e destroços.

– Não, não, não, não! – chorou Clara.

Minha mente parecia ter sido dissolvida. Nenhum rosto familiar era visto do prédio. Apenas morte, fogo e destroços. Entrei no estado catatônico igual ao da morte de Sophia. Mal percebi que saia do carro e absorvia a maresia matinal.

– Ah Bernardo – disse a voz de Gabriel, entrando em pânico – Onde está você?!

Juliana apoiou as mãos no ombro de Gabriel e tentou tranquiliza-lo:

– Eles podem ter saído às pressas – sugeriu ela.

– Ou, podem ter se trancado lá dentro – disse David apontando para o prédio.

Voltei ao normal aos poucos. Senti a ficha cair novamente e um aperto de dor atingiu meu coração. Precisava saber.

– Vou entrar no prédio – disse – Vocês usem o carro para atraí-los para fora!

Clara me olhou com pena.

– Não vai conseguir sozinho! – afirmou Gabriel – Eu vou contigo!

Acenei com a cabeça em concordância. David entendeu nosso dever a retirou um canivete do porta-luvas, entregando a mim.

– Para dar sorte – sorriu ele.

Entramos em ação logo em seguida. David acelerou com o sedã e passou por nós gritando em voz alta e xingando. O carro passou pela multidão buzinando e atraiu quase todos os mortos que se amontoaram ao seu redor. Aproveitamos a distração e entramos escondidos na área das barreiras. Gabriel seguia em silêncio, mas seu rosto expressava sua batalha interna. Queria gritar em plenos pulmões em busca de Bernardo e se manter quieto para passar pelos mordedores. Gotas de suor escorriam pelos cabelos castanhos que já atingiam as orelhas. Sentimentos de dor e raiva explodiam em meu amigo. Infelizmente, ainda existia a puberdade no reino dos mortos.

Conseguimos chegar até a fachada do hotel sem chamar atenção. Em seguida, pulamos uma janela estilhaçada e caímos juntos no hall de entrada. O lustre de cristal havia caído e as portas estavam despedaçadas pelo ônibus em chamas. A poeira e a fumaça dificultavam a visão completa do cômodo. Senti minha alergia atingir um ponto crítico e iniciar o que futuramente eu chamaria de bronquite.

Uma mulher de quarenta anos avançou para nós dois. Sua pele estava podre e um líquido preto escorria pela boca. Metade de seu cérebro estava exposto e uma mordida feia havia inchado sua perna. Abri a faca do canivete e enterrei a lâmina na testa da infeliz. Seu corpo estremeceu por alguns instantes e em seguida, despencou com um ruído molhado de sangue.

– Oh Meu Deus! – gritou uma voz – Vocês estão vivos!

Júlia se precipitou saltando sob o corpo e me puxou para um abraço sufocante. Pedro, Felipe, Junior e Bernardo entraram em foco logo em seguida. Gabriel soltou uma exclamação e abraçou Bernardo com a mesma força que Júlia. Todos pareciam arranhados e sujos, mas ilesos. Senti o olhar desesperado de Junior procurando a irmã pelos cantos. Livrei-me de Júlia e apertei a mão dos rapazes do grupo. Agradeci a Pedro por mantê-los vivos e senti que a pergunta esta próxima. Mesmo assim, não conseguiria revelar onde estava Bruno.

– Cara, nós temos muito que conversar – observou Pedro.

Pus a mão em seu ombro e concordei com um leve aceno.

– Depois – sorri – Teremos muito tempo para isto.

Clara, Juliana e David se juntaram a nós logo depois de expulsarem os mortos. Houve uma cena onde Clara sufocou Junior com um abraço de urso onde ela mesma começou a chorar. Depois, apresentei os adultos ao restante do grupo e os dois foram muito bem recebidos. Subimos as escadas para o salão de almoço e desabamos nas cadeiras confortáveis. Metade do teto havia cedido e alguns móveis dos quartos acima jaziam espalhados. Gabriel foi o primeiro a contar nossa história. Parecia muito mais suave simplesmente ouvi-la do que vivê-la. Os outros se mantiveram calados durante todo o tempo. Assim que ele chegou à parte da morte de Bruno, sua voz entalou na garganta. Júlia entendeu o recado e tampou a boca com as mãos, horrorizada.

– Ele morreu? – perguntou Bernardo sem entender.

Clara balançou a cabeça em concordância e assumiu o lugar de Gabriel.

– Depois disso – contou ela – Fomos mantidos como reféns. Ele nos torturou para revelarmos o local do nosso acampamento e acabamos contando.

Troquei olhares significativos com Gabriel.

– Não tínhamos entendido o motivo disso tudo – contou Pedro, apontando para os destroços – O cara simplesmente chegou aqui no meio da noite e começou a mirar sua bazuca em nós.

Todos os outros que estavam no hotel concordaram com um aceno.

– Quantos eram? – perguntou Gabriel, curioso.

Pedro pensou por um instante.

– Algumas dezenas – disse ele – Não deu para ver muita coisa. Mas reduzimos bastante o exército dele. Todos os mordedores ali fora faziam parte do batalhão.

Duas buzinas soaram do lado de fora. Levantei-me da cadeira com um pulo e olhei pela janela. Os outros fugitivos haviam chegado e estavam acompanhados de uma caminhonete vermelha. Com a caçamba lotada de armas. Acenei para David e ele desceu as escadas para recebê-los. Pedro me olhou com dúvida e perguntou mentalmente.

– São aliados – respondeu Gabriel – Estão trazendo armas e munição.

Junior deu um sorriso.

– Então vamos lutar?! – perguntou Júlia.

Gabriel se levantou.

– Sim, nós vamos – sorriu ele.

Todos e encararam por alguns instantes. Confiavam suas vidas em mim. Colocaram-me como líder do grupo naquele segundo. Infelizmente se perdêssemos, minha cabeça seria a primeira a rolar.

– Vamos lá, pessoal – gritei para todos – Temos muito que planejar!


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Notas finais do capítulo

No Próximo Capítulo: [SEASON FINALE]

Depois de sofrerem suas perdas, Hugo enfrenta o exército de Zeus com força total! Mesmo sabendo que as chances são poucas e nem todos viverão até o final!



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