The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 19
Capítulo Dezenove - Plano de Fuga


Notas iniciais do capítulo

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Gabriel se recusou a encarar Clara nas horas seguintes. Havia desenvolvido um sentimento de ódio pela companheira de grande escala. Dizia em voz alta que todos os alunos do hotel já estavam mortos e sorria de prazer ao vê-la mergulhar em lágrimas. Até os outros prisioneiros evitavam encará-la. Pareciam ter percebido o horror e a tragédia que causara. Oliver trocava olhares significativos com David, mas ninguém falava nada. Todos se limitavam a sentar nas poltronas e observar Gabriel roer as unhas de ansiedade e agonia.

Desviei meus olhos do teto escuro e tentei prestar atenção no choro quase inaudível de Clara. A massa de cabelos cor de chocolate balançava junto aos soluços secos. Ela estava encolhida em um canto da sala com a cabeça entre os joelhos. Ninguém parecia notá-la ali, naquele pequeno momento de desespero. Cruzei a fileira de bancos e me recostei ao seu lado. Seu perfume de lavanda estava quase encoberto pelo habitual odor daquele mundo. Suor, sangue e sujeira.

– Você está exausta! – exclamei baixinho – Precisa descansar!

Os soluços fracos pararam ao ouvir minha voz.

– Não estou com sono. – disse a voz de Clara, chorosa – Me deixe em paz!

Revirei os olhos para o teto.

– Pare de torturar a si mesma! – declarei – Você não...

Clara levantou a cabeça e me encarou furiosa. Seus olhos azuis estavam marejados e as bochechas empoeiradas tinham a trilha feita pelas lágrimas.

– Você não entende! – gritou ela, fazendo eco – Estou cansada de ser apontada como idiota! Tento parecer forte, mas não consigo sempre!

Levantei as mãos em sinal de rendição.

– Nunca me passou pela cabeça que...

Clara se levantou:

– Cale a boca! Cala a boca! – lágrimas peroladas escorriam pelo rosto – Você não sabe o que eu passei! Zeus me obrigou! Disse que degolaria vocês dois se eu não contasse a ele!

Gabriel se levantou e observou a cena distante. Parecia ter entendido o motivo da traição.

– Estou cansada! – continuou ela – Não tive como escapar! Além disso, os outros sabem se defender sozinhos! São mais inteligentes que a maioria destes abutres! Vão vencer a guerra contra os Olimpianos!

Gabriel se postou ao meu lado:

– Inteligência não ganha de quantidade, Clara! Zeus Tem armamento pesado e um exército particular! Não há como vencer!

Clara nos fuzilou com o olhar e voltou a se sentar contra a parede. Fez-se silêncio absoluto, quebrado apenas pelo som das respirações cortantes.

– Venha, cara! – disse Gabriel me puxando para longe de Clara – Temos muito que resolver!

Assenti com a cabeça e me sentei perto dos outros. Juliana lançava olhares nervosos para a porta e remexia nos cabelos castanhos. Os outros dois gesticulavam em voz baixa apontando para uma figura no chão feita de canudos mastigados e sacos de pipocas vazios.

– O que é isto?! – perguntei, apontando para o lixo no carpete.

David parou de conversar para nos encarar.

– Um mapa improvisado – respondeu - Não consigo me lembrar de todo o shopping, mas dá para o gasto!

Juliana olhou nervosa para o relógio dourado no pulso.

– Temos dez minutos – informou ela.

Gabriel acenou para Oliver.

– Dez minutos para quê?! – perguntei surpreso.

– Vamos executar o plano de fuga hoje! – sorriu David – Talvez, se agirmos rápido, poderemos ajudar seus amigos com a invasão!

Gabriel olhou para mim esperançoso. Por um momento, me lembrou aquele aluno que era influenciado por tudo e acreditava em tudo. Sua personalidade havia mudado bastante.

– Vamos fazer o seguinte: esperaremos o capanga trazer a água. Assim que ele destrancar a porta, vamos neutralizá-lo e jogá-lo aqui dentro! Depois, sairemos pelo estacionamento em silêncio! Muito simples!

Oliver sorria feliz consigo mesmo. Era um plano genial.

– E as patrulhas de segurança?! – perguntou Gabriel.

– Não podemos prever nada! – explicou David – Mas, pelo tempo que estou aqui, reparei em alguns poucos postos de vigilância durante a noite. Existem ao todo cinco pontos. Dois deles cobrem as entradas principais. Os outros se preocupam mais com o saguão principal e os dormitórios. Iremos pela praça de alimentação, é mais seguro e prático.

Juliana olhou outra vez para o relógio.

– Dois minutos, David – informou.

Oliver se levantou com um pulo e ajudou os outros a repetirem o movimento. Ele e David se postaram de cada lado da porta e agacharam no escuro. Juliana conduziu eu e Gabriel para a última fileira de poltronas e lá permanecemos. Cada segundo era acompanhado pelas batidas aceleradas de cada coração. A sala permaneceu em silêncio por um curto espaço de tempo. Já era possível ouvir as botas de couro do Olimpiano se aproximando. Ele assobiava baixinho sem prever o que aconteceria a seguir. Ele abriu os cadeados tranquilamente e as portas se abriram.

David e Oliver saltaram sobre o Olimpiano no segundo seguinte. O balde com água saiu voando das mãos dele e caiu estrondosamente no chão. Oliver aplicou um mata-leão enquanto David bicava silenciosamente cada parte do corpo ao seu alcance. A luta silenciosa dos três homens durou apenas dois minutos. O capanga de Zeus perdeu os sentidos rapidamente e bateu forte com o crânio do piso. Juliana ajudou seu marido a colocar o corpo dentro da sala enquanto Clara – que aparecera de repente – e Oliver catavam o balde.

– Eles vão perceber a água no chão! – apontou Gabriel, nervoso.

David assentiu.

– Temos menos tempo que o planejado – disse – Vamos fugir, agora!

Uma voz gritou desesperada no fim do cinema. Parecia vir de outra sala que também estava trancada por cadeados pesados.

– Ei! Alguém! Por favor! – gritou a voz de um homem – Socorro! Podem me ouvir!

Troquei olhares com David e ele balançou a cabeça. Não podíamos nos dar o luxo de salvar todos os prisioneiros. Mas mesmo assim, caminhei até as portas trancadas para ouvir melhor o homem.

– Por favor! – gritou o homem – Alguém pode me ouvir!

– Vamos ajudá-lo senhor! – disse em resposta – Só precisa ficar quieto! Eles vão te ouvir!

A voz se manteve em silêncio. Gabriel se aproximou carregando as chaves que estavam no bolso do capanga desmaiado. Juntos, abrimos os cadeados e liberamos os prisioneiros. Era um total de dez homens com feições duras e rosto imundo. Vestiam uniformes militares esfarrapados e ternos rasgados. David e Oliver se aproximaram dos prisioneiros e encaravam cada um com sorriso abobalhado.

– David, Oliver! – gritou um dos homens – Puxa cara, achamos quês estavam mortos!

O grito ecoou pelas paredes do shopping adormecido. Ao longe, capangas saltavam de suas camas para conferir o motivo da gritaria. Congelei de medo e me atrevi a lançar um olhar para os outros. Pareciam estar tão nervosos quanto eu.

– Corram! – berrou Clara.

Todos entenderam o recado e desembestaram a correr silenciosamente. Atravessamos o saguão do cinema e iniciamos um ziguezague por entre as mesas e cadeiras da praça de alimentação. Oliver indicou um Mcdonalds com a mão e eles entenderam o recado. O restaurante tinha duas entradas, uma para a praça de alimentação e outra para as portas do estacionamento. Cruzamos pela lanchonete abandonada pisoteando um hambúrguer mofado.

– Só mais um pouco! – gritou David bufando – É só atravessar o saguão e...

A espingarda do Olimpiano disparou contra o grupo e estilhaçou as portas do estacionamento. Outros tiros foram disparados contra nós e o grupo se separou em busca de abrigo. Saltei sobre os cacos de vidro e caí atrás de uma máquina de fliperama. Pessoas na escuridão gritavam xingamentos diversos para nós. Um dos tiros passou raspando pelos meus cabelos e arrebentou o placar do pinball.

– Vai embora! – gritou Oliver para mim – Pegue seus amigos e vai!

Neguei com a cabeça.

– Não vamos embora sem vocês! – gritei.

– Nós cuidamos disso! – gritou em resposta – Vão agora!

Agarrei Clara e Gabriel pelos ombros e os arrastei para fora do tiroteio. Juntos, atravessamos o estacionamento vazio e disparamos pelas rampas de acesso. O som do tiroteio foi diminuindo até ser substituído pelo habitual gemido dos mortos. Nunca mais ia pensar naquilo de novo, mas estava contente por ouvir novamente aquele som.

– Precisamos ir embora! – disse Clara – Nosso cheiro vai atrair eles para cá!

Antes que pudesse terminar a frase, um mordedor avançou para o pescoço de Gabriel. Reagi rapidamente e me coloquei entre os dois, empurrando Gabriel para o chão. Clara seguiu meu raciocínio e chutou o estômago do morto, separando-o de mim. Em seguida, aplicou alguns golpes na coluna apodrecida tomando cuidado com os dentes. O mordedor caiu no chão e Clara aplicou-lhe um golpe final, rachando o crânio amolecido com a sola do sapato. Sangue e cérebro se espalharam pelo chão.

– Essa foi demais! – sorri para Clara, agradecido.

Ela me olhou sorrindo, bufando pelo esforço que fizera. Gabriel parecia ainda surpreso por Clara ter salvado sua vida.

– Eu... Queria dizer... – disse sem jeito – Obrigado!

Clara assentiu, ainda sorrindo.

O grupo de prisioneiros se reuniu a nós poucos minutos depois. Alguns haviam morrido e combate e apenas cinco conseguira sair de lá. Assim que avistei David percebi que a coisa estava séria. Ele estava chorando profusamente e Juliana tentava consolá-lo. Oliver não estava à vista. Possivelmente, morrera defendendo seus amigos e companheiros. Aproximei-me dele e bati carinhosamente em suas costas.

– Ele foi um herói! – disse Gabriel, ao meu lado.

Assenti com a cabeça.

– Vamos honrá-lo – falei – Destruiremos os Olimpianos! Um por Um!

David lançou um olhar de raiva para o dia que amanhecia.

– Eles mexeram com as pessoas erradas! – gritou.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Hugo se reencontra com seu antigo grupo e juntos tomam decisões importantes para o desfecho da guerra contra os Olimpianos!



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