The Walking Dead - Rio de Janeiro escrita por HershelGreene


Capítulo 18
Capítulo Dezoito - Estratégia Derrotada


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior: Ainda presos no shopping, Hugo e os outros descobrem os planos terríveis de Zeus. Infelizmente, Clara coloca todos em perigo revelando a localização do acampamento.



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O fogo da fogueira crepitava com um barulho suave retirando os pensamentos ruins do grupo. Os outros alunos que ficaram no hotel permaneceram em silêncio ao redor da fogueira durante todo o jantar. Fazia quatro dias desde o desaparecimento dos outros. Os que sobraram se culpavam por não ter ido e criavam em suas mentes possíveis explicações para o sumiço. Junior e Bernardo, os mais próximos aos sumidos, criaram uma rotina de silêncio quase absoluto. Infelizmente, a vida no hotel estava tomando um rumo totalmente depressivo.

Semanas antes do desaparecimento, Pedro e Hugo organizaram uma barricada de carros queimados ao redor de todo o prédio. Junior e Clara, melhores atiradores, criaram um posto de vigilância no terraço para a segurança de todos. Os outros integrantes ocupavam suas vidas tentando transformar o hotel em algo sociável e prazeroso. Passavam horas arrumando os móveis e lavando roupas. Para eles, construir ali uma sociedade era algo bom e saudável, no meio da tragédia cotidiana.

Agora, os salões e quartos do edifício brilhavam com a luz faiscante da fogueira e das velas. Taças de cristal e pratos folheados de ouro reluziam sob a luz da Lua que penetrava através das altas janelas vitorianas. Se alguém visse a beleza do lugar, não acreditaria que do lado de fora o mundo é reinado por mortos vivos esfomeados. Tudo ali parecia se encaixar perfeitamente em ordem. Os quadros, o piano, as flores, as janelas, as mesas e as cadeiras. Nada naquele salão poderia prever a desgraça eminente e nem a destruição que se aproximava.

Cansada de fixar seu olhar no rosto inexpressivo dos outros, Júlia quebrou o silêncio do jantar andando em direção ao piano. Os outros acompanharam seus movimentos com o olhar, mas desviaram rapidamente.

Júlia encarou cada um sob a luz das velas.

– Pessoal – disse ela tentando chamar atenção – O quê há com vocês?

Todos a olharam com incredulidade. Até Bernardo fuzilou-a com os olhos.

– Se você ainda não percebeu – respondeu Pedro com frieza – Faz exatamente quatro dias que nossos amigos estão desaparecidos!

Júlia levantou as mãos em sinal de desculpa.

– Não podemos nos abalar – disse ela – Eles podem estar por aí ainda em busca de comida!

Durante o desaparecimento do grupo, a comida no hotel havia acabado e os moradores entraram em desespero. Felizmente, Felipe se aventurou no lado de fora e retornou carregado de cocos frescos.

– Não, eles não estão! – respondeu Pedro quase gritando – Eles provavelmente morreram ou estão por aí andando como mordedores!

Bernardo saiu correndo do salão em direção as escadas.

– Meus parabéns, Pedro! – ironizou Junior – Agora sim você conseguiu, traumatizou o menino!

Felipe se levantou e disparou atrás de Bernardo.

– Não tenho culpa se ele é um moleque medroso! – respondeu Pedro em tom gelado – Ele precisa crescer!

Júlia se levantou.

– A única família que ele tem está lá fora, seu idiota! – gritou.

Pedro olhou para a ponta dos pés e murmurou:

– Eu peço desculpas depois... – disse – Sei que não devia ter falado assim... Estou só preocupado...

Junior deu um soco amigável no ombro de Pedro.

– Sabemos que Hugo te deixou no comando caso algo acontecesse – disse ele – Só não desconte no menino. Ele tem muita coisa na cabeça...

Júlia se virou para o piano e começou a tocar uma melodia. O som, alto e triste, percorreu as paredes brancas como o lamento de uma fênix ao partir. Não era algo bom, nem mal. Apenas existia. Aumentava o pesar dos desesperados e abreviava a dor e a saudade. Junior e Pedro logo se calaram para prestar atenção. Cada nota simbolizava um pesar e cada verso lembrava algo que eles haviam perdido. Quando a música enfim silenciou, os dois rapazes aplaudiram de pé a autora da esplêndida sinfonia.

– Nossa! Não sabia que tocava tanto – elogiou Junior – Era só isso que fazia na escola?

– Tirando o piano, apenas balé e jazz – respondeu Júlia feliz – Mas acho que isso não ajuda hoje em dia.

– E eu me achando esperto por saber xadrez – comentou Pedro, com um sorriso no canto dos lábios.

Uma explosão ensurdecedora atingiu a lateral do prédio lançando uma bola de fogo para a luz da Lua. Todo o edifício sacolejou e algumas janelas estouraram. Outra explosão destruiu o andar acima do salão fazendo chover poeira sobre os alunos. Bernardo gritou em algum lugar enquanto mais duas explosões sacudiam o hotel. No instante seguinte, o lustre se desprendeu do teto e espalhou seus cristais pelo chão encerado.

– O quê está acontecendo?! – gritou Júlia enquanto duas janelas explodiam ao longe.

Pedro olhou pelas janelas laterais e avistou alguns mordedores avançando em direção á barreira. O barulho das explosões estava atraindo uma multidão considerável de mortos-vivos para as redondezas. Logo, teriam um problema sério para resolver.

Outra explosão atingiu o prédio e o teto não resistiu. Milhares de destroços choveram no salão soterrando os três parcialmente. Pedro sentiu uma pedra atingir seu rosto e o sangue espirrar pelo nariz.

– Mas que mer... – gritou Junior – Que diabos está acontecendo?!

Julia deu um grito fraco de dor.

– Estamos sendo atacado! – gritou Pedro para os outros dois.

Junior se desprendeu dos destroços que o cobriam e correu para ajudar os outros. Júlia estava com as pernas presas embaixo de uma cômoda e Pedro se debatia tentando inutilmente sair de uma cama chamuscada. Todo o teto havia cedido e a maior parte dos quartos acima jazia por entre as mesas.

– Eles querem guerra! – gritou Pedro assim que conseguiu se levantar – Então é guerra que eles vão ter!

Os dois rapazes ajudaram Júlia a sair debaixo da cômoda e correram para as janelas frontais, algumas já estilhaçadas pelas explosões. A cena que viram traumatizou cada um de uma forma diferente.

Uma caravana de carros havia destruído a barreira e invadido as pistas em frente ao hotel. Era um total de dez carros, entre eles: Um ônibus escolar, dois trailers e alguns caminhões militares. Havia também uma camionete velha com um homem na caçamba que segurava uma bazuca fortemente nas mãos. Ele parecia ser o responsável pelas explosões do prédio. Não haveria chance de vitória para o hotel. Seriam arrasados e destruídos.

– Temos um problema! – observou Junior.

Júlia lançou-lhe um olhar de desconfiança.

– Um problema?! – gritou – Nós vamos morrer!

Pedro deu as costas para o exército e encarou seus amigos. Pareciam assustados e ainda sim, confiantes.

– Talvez não morreremos esta noite! – revelou ele – Isso se seguimos o plano.

Pedro contou aos dois o plano que bolara e eles aceitaram facilmente.

...

Zeus saltou do ônibus escolar seguido pela maior parte do exército. Não havia como não vencer. Em apenas dois minutos de guerra os Olimpianos já haviam feito um estrago considerável na fachada do hotel. As janelas do quinto e sexto andar estavam em chamas e partes do terraço jaziam pela calçada. A missão Ficha Limpa ia ser mais uma vez cumprida. A Nova Ordem venceria novamente.

– Atena, Cronos! – gritou Zeus para a multidão – Aqui, por favor!

Seus dois melhores tenentes surgiram no meio do caos segurando, cada um, artilharias pesadas para o massacre. Os dois eram irmãos e aprenderam com o pai tudo sobre esquemas e táticas de batalha. Ele havia sido um professor de história fascinado na Segunda Guerra Mundial e sua casa era totalmente decorada com aviões de brinquedo e soldadinhos de chumbo.

– Qual é o plano?! – perguntou Zeus. Essa era sempre a pergunta. Ele confiava todo o seu exército nos dois.

Atena observou atentamente as ruínas em chamas do hotel.

– Vamos manter uma linha de fogo atrás dos carros para derrubar as defesas inicias – Atena fechou os olhos. Concentrado em não decepcionar o chefe.

– Depois, entraremos com o ônibus no prédio – completou Cronos – Vamos usá-lo de escudo. Metade do exército segue o ônibus e a outra se mantém atrás dos carros caso eles decidam reagir. Fique tranquilo chefe, até o final da noite este hotel vai estar em cinzas!

Zeus sorriu para seu soldado:

– Assim espero, meu caro.

Os Olimpianos se organizaram rapidamente. Ouviram as ordens de Cronos e se posicionaram perfeitamente atrás da caravana. Alguns atiradores de elite deitaram no teto dos trailers para uma melhor visão do inimigo. Durante um tempo, apenas a respiração asmática dos soldados era ouvida. A frente fria havia atingido a cidade e inserido a bronquite crônica nas fileiras de guerra.

– O quê está acontecendo?! – cochichou Zeus para Atena – Não há movimentos no prédio!

Múltiplos a tiros atingiram o exército fazendo as cápsulas quicarem pelo asfalto. Zeus caiu para trás segurado com firmeza o ombro atingido. Ao seu lado, Cronos jazia com os olhos abertos fixados no céu estrelado. Seu pescoço jorrava sangue como uma mangueira.

– Estão esperando o quê?! – gritou a voz de Atena – Ataquem seus idiotas!

O exército se recuperou do choque inicial e reconstruiu as fileiras. Tiros eram disparados de todos os lados e cápsulas vazias caiam em conjunto. Um dos olimpianos saiu de dentro do ônibus carregando uma caixa militar de aparência pesada. Dentro dela, granadas se remexiam a espera da detonação.

– Traga logo isso, seu imbecil! – gritou Atena.

O olimpiano deu um pontapé na tampa para abri-la e passou a mão em duas granadas já prontas. Uma delas atingiu o segundo andar e a outra o terceiro, provocando uma onda de destroços na calçada. Zeus e Atena seguiram seu exemplo e mais uma parte do prédio rolou pela fachada. O inimigo havia se instalado em um ponto cego no terraço e agora levava a vantagem. Homens caiam mortos a cada segundo atingidos na cabeça e no pescoço. Para piorar, uma multidão de mortos havia passado pelo rombo na barreira e se dirigia para os homens de Zeus. Um deles percebeu a presença dos mortos tarde demais e acabou sendo devorado por umas vinte bocas ao mesmo tempo. Os outros pararam de acertar o hotel e se concentraram na população crescente de mortos que invadia as pistas.

– Temos que entrar logo e... – disse Atena.

Cronos havia sido reanimado e cravou os dentes pontiagudos na panturrilha do irmão. Este deu um grito de horror medonho e caiu de joelhos no asfalto. Cronos deu uma ultima mastigada nas veias e caiu morto no chão, atingido no cérebro por Zeus. O chefe dos Olimpianos olhou nos olhos de seu melhor tenente e esperou pelas últimas palavras:

– Me salve... Senhor... Por favor... – disse Atena com a voz dolorida.

Zeus olhou para sua perna sem a menor piedade e disparou um único tiro certeiro no crânio de Atena.

– Filho da Mãe desgraçado! – disse Zeus para o corpo – Fraco inútil!

Desviou o olhar para seu exército e se deparou com uma cena de total massacre. Muitos de seus homens haviam perdido a guerra contra os mortos e estavam com suas tripas espalhadas pela rua. Os que continuavam em pé estavam perdidos entre lutar contra os mortos ou continuar disparando contra o inimigo no hotel.

– Vamos homens! – gritou Zeus – Para dentro do ônibus, agora!

Alguns deles recuaram aliviados para dentro do transporte escolar e ocuparam os bancos manchados. Zeus deu três batidas na carroceria e o ônibus avançou para a entrada do hotel. Em seguida, entrou com tudo arrebentando as portas de vidro e adentrando pela metade no hall. Poucos homens saltaram do ônibus e adentraram na escuridão do hotel. Os outros se mantiveram sentados nos bancos, encharcando-os de suor.

Antes que pudesse gritar para eles se mexerem, uma granada vinda do terraço acertou a tampa de ventilação do ônibus e caiu no interior do transporte. Uma bola de fogo estilhaçou as janelas e os homens – ou partes deles – foram jogados para longe. Zeus foi içado por conta da explosão e se chocou com uma mesa de vidro. Caiu estatelado sentindo os cacos perfurarem suas costelas. Não havia chance de vitória para ele. Ia morrer ali, naquele hall em chamas.

Mãos calosas o ergueram daquele lugar e o colocaram em um caminhão parcialmente queimado no fim da rua. Os dez homens que haviam restado subiram logo em seguida e partiram em retirada. Seguidos pelo Sol nascente que surgia na linha do horizonte.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo: Hugo inicia uma revolta dentro das paredes do "Olimpo".



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