Without you to hold I’ll be freezing
Can’t rely on my heart to beat in
‘Cos you take parts of it every evening
Take words out of my mouth just from breathing

– Ed Sheeran

Acordei com o som do salto de alguma das minhas amigas contra o chão de madeira. Virei-me na cama e abri os olhos. O quarto ainda estava escuro, apenas um feixe de luz adentrava por um espaço entre as densas cortinas.

Não quis levantar. Podia ficar naquela cama o resto do dia. Senti alguém me cutucando e grunhi irritada. Eu apenas queria dormir, era pedir demais? Mordi o lábio inferior e levantei, olhando para Gabi, que me encarava com a expressão preocupada.

— Amiga, já são onze e meia da manhã - falou me encarando e cruzando os braços. Suspirei e disse, passando a mão pelos cabelos:

— Não estou com vontade de levantar - disse apenas. Ela me encarou e disse, sibilando:

— Amiga, você não come desde ontem à tarde, precisa se cuidar - disse me avaliando. Suspirei e assenti, mecanicamente, como sempre fazia. Já estava farta de ouvir todos aqueles sermões, cansei deles.

Levantei-me e bufei. Senti meu estômago roncar e encarei meu reflexo no espelho. Respirei fundo e disse, olhando para minha amiga:

— Eu vou almoçar, prometo - garanti tentando forçar um sorriso. Porém, nem isso eu era capaz de fazer, não havia uma razão para isso. Ela olhou-me e falou:

— Vou acreditar em você, Val - disse suspirando. Apenas assenti e abri o guarda-roupas, pegando a primeira coisa que via pela frente e vestindo. Olhei para a ruiva novamente e só então dei-me conta do que ela estava usando. Um sobretudo cinza com botões pretos, uma bota de cano curto e uma calça legging preta.

— Onde vai? - Perguntei, apesar de já ter quase certeza da resposta. Ela olhou-me e disse, sorridente:

— Eu vou sair com o Harold - os olhos de minha amiga brilharam e eu mordisquei o lábio. Às vezes eu ainda achava que Gabi sairia machucada de toda aquela situação, e isso me doía. Não queria vê-la sofrendo, afinal, ela era praticamente como uma irmã para mim.

Senti a necessidade de conversar com Harold. Precisava saber das reais intenções dele com relação a Gabriela. Já bastava uma de nós com o coração despedaçado, mais uma não seria algo bom...

Mordi o lábio e pedi, olhando para o chão:

— Quando ele chegar, peça para vir falar comigo, por favor - pedi educadamente. Gabi franziu o cenho e encarou-me, cruzando os braços. — Apenas preciso falar com ele - disse sorrindo. Ela suspirou e disse:

— Okay - disse, dando-se por vencida. O celular dela tocou, e a ruiva atendeu-o desesperada, quase o deixando cair. Ela atendeu e conversou com Harold por alguns instantes, depois desligou e disse, com um brilho diferente no olhar:

— Ele disse que irá subir para falar com você - falou sentando-se na cama. Assenti e sentei ao lado dela, observando o quarto a minha volta. Respirei fundo e fechei os olhos, focando-me em meu mundo particular. Um mundo onde e Zach ainda estivéssemos juntos e felizes...

Abri os olhos e tentei conter as lágrimas que ameaçavam cair de meus olhos. Assustei-me ao ouvir o som do telefone do quarto tocando e atendi. O recepcionista havia pedido minha permissão para deixar Harold subi e foi aí que quase voltei atrás. Será que eu realmente deveria ir falar com ele? Será que havia tal necessidade? No fim das contas, acabei deixando-o subir.

Instantes depois, a porta abriu e um rapaz com cabelos encaracolados e covinha surgiu diante de meus olhos. Ele trazia, consigo, um buquê de lírios.

— Oi, princesa - ele disse dando-a um selinho rápido. Gabi parecia tão feliz ao vê-lo! Como eu queria poder abraçar Zach daquela maneira novamente... Mordi o lábio e pigarreei, chamando a atenção dos dois:

— Preciso conversar com você - disse olhando para Harold, que me encarou com... Indiferença. Era estranho ser tratada assim depois de virar amiga dele, e aquilo me machucava também. Gabi olhou-me, suspirou, e saiu do quarto, deixando-nos sozinhos.

— Diga - ele falou, sem sequer olhar em meus olhos.

— Queria conversar com você sobre Gabi - disse brincando com meus próprios dedos. Ele suspirou e esperou que eu prosseguisse: — Você realmente a ama? Quero dizer, você não está com ela só para ter mais uma na sua lista?

Pude perceber que os músculos do corpo dele retesaram, e ele disse:

— É isso o que você acha? - Ele perguntou, quase gritando: — Pois fique sabendo que eu amo a Gabi, nunca senti por ninguém o que sinto por ela e eu jamais a trairia ou a magoaria - ele disse com escárnio, e eu pude sentir que a última parte daquela frase fora direcionada para mim. Estremeci e disse:

— Eu não traí Zach.

— Se liga Valerie, mesmo que você não tenha o traído, você não teve a decência de ligar para ele e dizer o que havia acontecido! Você esperou que ele descobrisse por conta própria e acabasse se magoando.

— Eu não tive a intenção de magoá-lo! Eu jamais faria isso com Zach, eu o amo!

— Que tipo de amor egoísta é esse, Valerie?! Você nunca deu a miníma para ele, o tratou com arrogância, esqueceu de colocar a aliança de compromisso zilhões de vezes e preferiu uma faculdade a ele! Preferiu correr atrás da faculdade a correr atrás do homem que você diz amar.

Senti a garganta fechar, e as lágrimas caírem por meu rosto. Uma série ininterrupta de memórias assolou minha mente, deixando-me sem ar. Olhei-o e senti que não havia como contrariar o que ele estava dizendo.

— Você acabou com ele, Valerie. Zach não é mais o mesmo desde o término do namoro... Ele está bebendo, nunca acerta a letra das músicas e fuma mais de uma maço de cigarro por dia! - Disse, e eu senti o meu peito comprimir. Solucei e tentei encontrar o meu oxigênio. — Você nunca o mereceu - ele disse, me encarando. Dei um passo incerto para trás, sentindo como se tivesse levado um tapa na cara, e observei Harold abrir a porta e sair do quarto, deixando-me completamente sozinha.

Eu sentei na cama, sentindo o torpor invadir meu corpo, correndo por minha corrente sanguínea, indo para o meu coração, e depois, para meu cérebro. Tudo o que ele havia dito era a mais pura verdade, eu realmente havia destruído a única pessoa que amei de verdade. Havia sido egoísta, e aquilo me custara o amor de Zach.

O que eu não faria para tê-lo de volta, para sentir o abraço dele, para vê-lo sorrir? Eu o amava com todas as minhas forças, amava muito mais do que eu imaginei que poderia amar. E às vezes, aquele amor me doía, me dilacerava, como uma faca entrando lentamente contra a pele, cortando-me aos poucos. Mas era uma dor que me fazia mais forte, ainda mais do que eu jamais pensei que seria. E por isso eu sabia que iria suportar aquilo, e iria tê-lo de volta.

Eu apenas precisava tê-lo de volta, afinal, vim até Londres para isso.