Radioactive

Os olhos de todos que ali estavam presentes, começaram a lacrimejar em meio a imagem da frágil Quinn que ia-se embora depois de tanto sofrimento. A loira lança um último olhar para os quatro sobreviventes, que a observam com o coração apertado, e por fim, se rende a única salvação naquele momento ... a morte.

– Não, não vá por favor! – Aclamou Ryan molhando a barriga da jovem de lágrimas de imensa dor.

O silêncio se prevalece diante dos demais que olham atentos para a imagem agonizante de Ryan que desaba ao chão bastante abalado. O rapaz começa a soluçar em meio as lágrimas que persistiam em emergir .

Alguns barulhos vem a tona despertando a atenção de todos que arregalam os olhos lembrando-se de algo que haviam deixado de lado.

– Essa não, eles estão no exterior da casa .. – Relembrou Lucy preocupada.

– É verdade, estamos completamente cercados! – Completou Anne enquanto encarava Dean.

– E então Dean, o que vamos fazer?? – Questionou nervosa a morena que recebe uma resposta atordoante do jovem que estava visivelmente apavorado.

– Não sei o que fazer! Tudo está acontecendo muito rápido, não tenho tempo para pensar em algo útil! – Bradou colocando suas mãos na cabeça, completamente confuso.

– Calma Dean! Vamos dar um tempo, quem sabe algo venha a tona mais tarde, só fica calmo ok? Precisamos de você totalmente normal! – Proferiu Lucy acariciando o ombro de Dean que se tranquiliza um pouco, Anne olha com desdenho para os dois, sabia que Lucy o confortava e que era vista como uma louca pelos demais.

A morena então se levanta andejando em direção a sala enquanto para de frente a janela abrindo a cortina branca aos poucos. Do lado de fora, apenas o que se via era inúmeros caminhantes perambulando pelo espaço minúsculo, a grama verde já não era visível diante de tantos seres pútridos.

Anne realiza um suspiro de preocupação enquanto engolia a própria saliva. Afastou-se um pouco dali pois sabia que não se pode confiar nesses vermes a prova disso, é a própria Quinn.

– Estamos sem balas, não sei se conseguiremos cuidar de todos eles só com facas. Podemos ser surpreendidas por algum a qualquer hora. – Indagou em sussurro Lucy enquanto se aproximava de Anne .

– Ah que ótimo, vamos ter que ficar trancados aqui é isso? – Rebateu Anne apreensiva.

– Pelo jeito sim, não sei se o Dean irá se reerguer muito rápido... estou fazendo de tudo para tranquiliza-lo, ele é o mais inteligente daqui além de saber criar estratégias eficientes mas infelizmente, não estou conseguindo.

– Então você não está fazendo de tudo! – Retrucou ríspida Anne enquanto afastava-se do cômodo.

Ryan continua agachado ao lado do corpo mole de Quinn, seus olhos já estavam secos afinal, inúmeras lágrimas já foram despejadas. Dean já recuperado, conversa com Lucy no quarto enquanto Anne os observa tristonha.

– Me desculpe se eu fraquejei mas é que foi tudo muito rápido. – Lamentou o rapaz.

– Tudo bem, só acho você meio ... – Indagou Lucy procurando as palavras certas para prosseguir : - Radioativo, é isso! – Terminou dando um simplório sorriso.

– Radioativo? – Estranhou Dean.

– É sabe, você é o mais inteligente daqui além de ter uma opinião formada sobre tudo! Se você fraquejar, todos nós seremos afetados e fraquejaremos também. É você que nos guia para o caminho certo. – Explicou Lucy olhando-o determinada.

– Bobagem, mas ter que deixar o acampamento nas pressas enquanto tive que planejar um local seguro para ficarmos ... sugeri essa casa e agora a Quinn se foi. É muito para digerir, não tive nenhum descanso. – Desabafou Dean sentado na cama, Lucy faz o mesmo enquanto envolve suas mãos nas dele.

– Eu entendo mas Dean, quando você e a Anne voltaram no dia que o acampamento foi atacado, você fugiu certo? Nos deixou sem ao menos dar uma explicação, fiquei bastante magoada com isso. – Respondeu Lucy cabisbaixa.

– Já disse isso umas mil vezes, não estou acostumado a conviver com tantas pessoas, minha mente estava uma confusão naquele dia. – Respondeu irritado.

– E por quê voltou? – Questionou a loira fazendo Dean arregalar os olhos, o rapaz então ganha coragem para responder a pergunta da jovem.

– Acho que foi por você. – Ele diz orgulhoso com sempre, não queria admitir que foi realmente por causa dela. Lucy esboça um imenso sorriso em face enquanto tentava segurar as lágrimas.

A loira se aproxima um pouco mais do rapaz enquanto o olha meiga como sempre, ambos começam a sorrir enquanto Dean a surpreende beijando-a delicadamente. Anne perto da porta, fecha os olhos diante de uma cena torturante para si mesma, ela sabia que não havia outra opção, sabia que Dean estava completamente apaixonado por Lucy.

Anne rapidamente se afasta dali, enquanto andejava agonizada por toda a casa. Com os braços cruzados, a jovem então vai em direção a Ryan, estranhando o fato do rapaz estar bastante calado.

Seus passos silenciosos, deixam o barulho de um tímido grunhido se alastrar pela casa, ela procura de onde vem o barulho assustador e é ai que se dá conta. Rapidamente a morena corre em direção da cozinha quando se depara com uma imagem completamente chocante.

– Quinn ... – Sussurra quando vê a jovem voltar a vida só que dessa vez, como um ser nojento e sedento por carne. Aquilo que outrora foi Quinn, se ergue realizando gemidos agonizantes enquanto a saliva escorre pela boca, completamente faminta.

Anne fica paralisada diante daquilo, ver Quinn transformada a afeitou completamente afinal, nunca viu alguém próximo se transformar nesses seres repugnantes, o apocalipse mal começou e todos já presenciaram coisas terríveis. A morena se desliga de tudo em sua volta, apenas a imagem de Quinn se prevalece, o único som que ela podia ouvir, era a própria respiração arfante e as batidas do coração bastante acelerado.

Quinn já faminta, avança em cima de Ryan que permanecia agachado em frente daquela coisa que um dia foi uma amiga próxima. A errante se joga sobre o rapaz que profere um único gemido o bastante para despertar Anne que arregala os olhos ao ver Quinn tentando abocanha-lo.

– Essa não, Ryan!! – Gritou ela apunhalando rapidamente uma lâmina enquanto corre na direção dos dois.

A jovem com a mão esquerda, consegue afasta-la um pouco em relação a Ryan que fica perplexo diante daquela cena angustiante. As mandíbulas afiadas de Quinn agora se direcionam para Anne que rapidamente finca sua lâmina no crânio da transformada que vai ao chão já sem vida, novamente.

– O que você fez? Não devia ter feito isso! Ela tinha ... tinha que me morder, tinha que acabar com o meu sofrimento! Só a Quinn, só ela poderia acabar com essa raiva que está se eclodindo dentro de mim! – Gritou raivoso Ryan levantando-se, Anne o encara sem entender nada.

– Eu te salvei! Essa coisa não é Quinn e justamente isso, poderia te matar! – Rebateu ainda mais irritada Anne enquanto apontava para o corpo do que um dia já foi Quinn .

– Eu não pedi sua ajuda! Sua vadia inútil . – Disse por fim Ryah enquanto saia da cozinha, Anne tenta se encolher diante daquilo, foi muito chocante para si mesma ter que fazer tudo isso.

– O que aconteceu aqui? Escutamos bastante agitação. – Esbravejou Dean chegando ao local junto a Lucy que olha abismada apara o corpo transformado de Quinn .

– Meu Deus...

– Pois é, ela voltou e estava prestes a morder o Ryan. Esse miserável queria que ela o mordesse! Já estou farta de tudo isso, temos que seguir em frente, não quero mais ficar aqui! – Berrou Anne estressada .

– Calma, eu sei que é difícil para voc- Indagou sereno Dean sendo interrompido pela morena que explode de raiva.

– Não! Você não sabe de nada, ninguém sabe! Vocês pensam que isso é uma colônia de férias? Sinto muito em estragar mas não é! Será que é tão difícil encarar a realidade? Esse é o fim do mundo! Vocês conseguem escuta-lo? Está chamando por nós, nos querem mortos! Então parem de andar por ai como se o mundo agora fosse um conto de fadas enquanto se beijam na mais perfeita harmonia.

Dean e Lucy se calam, apenas olhando para Anne que suspira aliviada. O silencio atreve-se a se prevalecer mas Dean impede enquanto indaga tranquilo :

– Vocês está certa e nós .. – Olhou para Lucy que estranha tudo aquilo . – Estamos errados ...

– Olha, se eu falei demais não liguem ok? Os últimos dias foram difíceis para mim também! – Completou Anne enquanto acariciava o próprio rosto e realizava um suspiro de alivio.

– Não se preocupa, todos nós estamos esgotados emocionalmente, temos que dar um tempo para descasarmos. – Concretizou Dean.

– Gente, o Ryan ele .. meio que queria se matar? É isso? – Questionou Lucy enquanto um forte estrondo se ecoa pela casa, os três ficam em posição de alerta quando Dean nota que Ryan abriu a porta com ferocidade, devia estar escutando toda a conversa.

– Podem vim seus vermes! Tem bastante carne fresca aqui! – Gritou completamente fora de si.

– Ele foi lá pra fora, vamos! Temos que ajuda-lo!!! – Exclamou Dean enquanto pegava um faca na cozinha dando para Lucy e corria junto as outras para perto do rapaz que começa a efetuar inúmeros golpes nos crânios dos errantes que tentam de tudo para abocanha-lo.

– Ryan! O que você fez ?? Tá ficando maluco? – Berrou Lucy aproximando-se da porta.

– Venham! Podem vir ! – Continuou a gritar Ryan, os errantes que receberam as facadas no crânio caíram formando um obstáculo para os demais que tropeçam no corpo mole dos mesmos enquanto ia ao chão segurando nas pernas de Ryan derrubando-o.

Dean rapidamente aparece para salva-lo estourando os miolos do errante com um pé de cabra. Anne e Lucy logo deram cobertura derrubando os restantes.

– Meninas! Vamos, não podemos cuidar de todos eles! Temos que aproveitar a chance, andem! Pulem a cerca logo! – Ordenou Dean enquanto pulava a cerca pequena de madeira puxando consigo Ryan.

Anne e Lucy fazem o mesmo, saltando da cerca lateral. Os walkers ficam se debatendo diante das cercas bloqueando a passagem dos mesmos que se aglomeram no local com grande ferocidade.

– Eles não podem sair dai, pelo menos eu espero. – Indagou Anne arfante.

– Me desculpem, eu não sei o que deu em mim! – Aclamou Ryan indo aos prantos, Dean vira-se para o mesmo enquanto realiza um soco no rosto de Ryan que vai ao chão.

– Dean! – Gritou Lucy correndo junto a Anne para perto dos dois.

Dean continua a realizar um sequencia de socos na face do rapaz enquanto falava irritado:

– Seu idiota! Viu o que você fez? Poderia ter matado todos nós!

– Dean para!! – Gritou Lucy tentando para-lo mas o rapaz apenas ignora enquanto Anne fica paralisando olhando para algo mais ao horizonte.

– Anne, me ajuda! – Exclamou Lucy nervosa enquanto seguia o olhar de Anne e se surpreende com o que via mais a frente. Dean cessa os socos e desaba ao chão bastante cansado, enquanto fazia o mesmo que as meninas, olhava atento para o destino que teriam ...

Can nobody hear me?

I've got a lot that's on my mind

I cannot breathe
Can you hear it, too?

Ninguém pode me ouvir?

Eu tenho um monte que está em minha mente

Eu não posso respirar

Você pode ouvi-lo também?