A Lua escrita por Pedro_Almada


Capítulo 42
Resoluções




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Resoluções     _ Você é um cretino, Matthew! – Abi me deu um soco no ombro, e dou pra valer, atirando, em seguida, o bocal do trompete contra o meu rosto. Por um momento achei que tivesse quebrado. Para nossa sorte, não – como você esconde uma coisa dessas da gente? Por dois anos, cara! DOIS ANOS!     Acho que a nossa noite nas fontes termais foi apagada por completo da mente de Abi depois de saber o quão... Bem, cretino, eu tinha sido quando ocultei um fato bastante importante dos meus amigos: eu tinha um ChAngel.     _ É um mané mesmo – retorquiu Brian.     _ Hei, alto lá! – eu falei em minha defesa – eu não me importei em contar. Mas Cary não queria.     _ Cary? – Abi parou abruptamente – que merda é essa de Cary? Parece nome de jujuba!     _ Quer sentir um ponta pé da jujuba? – desafiou Cary, enfezada – você tem um nome de velha e fica encarnando no meu nome!     _ Qual é, pessoal! – Camille interveio, sentando sobre a mesa, ao lado de Dominique, indiferente à discussão – Deixa o cara. Se eu tivesse um ChAngel, também não contaria.     _ E qual o sentido em não contar? – retorquiu Abi.     _ Elemento surpresa – falou Cary veemente – além do mais, ChAngels são raros, quantas pessoas que viram um conseguem guardar segredo?     _ Se eu soubesse, já teria contado pra todo mundo – Camille deu de ombros, rindo – que bom que não me disse, Cary.     Cary sorriu para Camille, embora eu soubesse que ela não poderia ver o gesto.     _ Matthew, tem certeza que você gosta da Abi? – perguntou Cary, apontando pra Abigail com indiferença – Camille é muito mais irada.     Minha vida estava em risco ali, mais do que em qualquer outro lugar. Meu rosto ficou vermelho vivo, e, pela expressão de Abi, ela estava dividida entre o constrangimento e a vontade de achatar o espectro de luz.     _ Penso nisso todo santo dia – Camille zombou – acho que ele sabe que sou muito pra ele.     _ Sério, pessoal! Vocês são incríveis! Excepcionais! – Charlie entrou na conversa, cruzando os braços e falando com aspereza – o mundo se acabando e vocês discutindo romance.     _ Hi, acho que temos uma recalcada – zombou Archy – vem cá Charlie, deixa eu te consolar com um beij...     _ Por que você não engasga com esse beijo e morre agonizando, Archibald? – queixou-se ela.     _ Eu devia ter ficado na catedral – refleti.     _ Precisa é se confessar – riu Cary – eu sei que você andou pecando.     _ Como? Do que você está faland...     Bastarda! Será que nada do que eu fazia não passava despercebido por ela? Todos os meus movimentos eram previstos por ela, minha adorável chateação ChAngel. Ela me encarou, rindo com a mão cobrindo a boca pomposamente. Ela lançou um olhar furtivo a Abi, que compreendeu no mesmo instante. Ela ficou lívida, de pálida para verde-oliva. Nosso momento em particular, afinal, não era tão particular.     _ Ai, ai – Cary espreguiçou-se – Acho que vou dar um rolê por aí. Se precisarem de mim... Ah... Bem, até mais.     Cary caminhou até a porta e, tomando a forma de um cão, desapareceu de vista. O silêncio permaneceu por alguns segundos, até, finalmente, Camille falar.     _ Gente, essa Cary é muito louca. Adoro. – ela saltou da mesa.     _ Ela é o fim da picada, isso sim – murmurou Abi, me encarando com uma expressão desconcertada.     _ Dêem um tempo a ela – eu pedi – ela me ajudou muito. É uma ChAngel incrível.     _  Ok, Matthew – Charlie assentiu, de pé ao meu lado – mas, por favor, não nos esconda mais nada, ok?     _ Hã, Charlie. Você, mais do que ninguém, sabe o que é esconder segredos até dos amigos. – retrucou Brian – ou você se esqueceu?     _ Ah, claro – Archi concordou – nunca nos contou sobre aquela coisa de mexer na cabeça das pessoas.     _ Ah, mas isso... É diferente – ela contrapôs.     _ Não. É a mesma coisa, Charlie – eu falei – então, por favor, quando eu precisar manter um segredo, sejam mais compreensivos. Não significa que eu não confie em vocês.         O clima na Célula estava tenso, todos estavam com os nervos pululando, exaltados. Qualquer coisa era motivo para discussões. Naquele mesmo dia Brian e Dominique quase saíram no braço, competindo por uma cadeira, quando ainda havia mais quinze em volta da mesa.     A tensão apenas piorou quando Abi, a sós, veio tirar satisfações. Estava decepcionada, dizendo que eu havia contado sobre nós para Cary, enquanto eu a havia escondido dos meus amigos.     _ Eu não contei – expliquei – ela e eu temos uma ligação. Não sei como, mas tudo o que eu faço, ela sabe – eu me referia a Cary como “ela” porque, pra mim, ela continuava sendo mais uma garota incrível rondando à minha volta.     Ela não estava convencida disso, mas, depois da minha alegação, ela ficou menos furiosa, e passou a sorrir com mais freqüência. O que aconteceu com todos nós? Estávamos tão diferentes. Abi, em algum lugar deixou de ser aquela doce menina, estava diferente. Mas é claro, eu também estava diferente. Em outra época, eu teria ignorado o olhar de qualquer garota e me escondido no meu casulo, onde apenas amigos eram permitidos de fazerem visitas.      Assim que amanheceu, Sammael apareceu no nosso dormitório, preocupado. Pediu pelas partituras de Barnaby, e eu o levei até a Biblioteca. Orestes pareciam bem absorto mexendo nas coisas que Cary havia levado.     _ Ah, oi Sammy – ele sorriu – oi, garoto.     _ Alô, Ory – Sammael cumprimentou – hã, se não se importa, precisamos das partituras.     _ Ah, claro. – ele saiu do caminho, mostrando uma enorme quantidade de papéis e objetos peculiares espalhados no chão – desculpem a bagunça. É uma bela melodia... Sinto falta da harmonia das notas.     _ Você sabe alguma coisa sobre música? – perguntei, enquanto recolhia os papéis jogados no chão.     _ Ora, mas é claro – ele respondeu cordialmente – Eu sempre tive mais ágeis no piano... Mas estou velho, e não toco há muito tempo.     _ Nunca é tempo para recomeçar, hein, Ory – sorriu Sammael.     _ De fato.     Reuni todas as partituras, separei-as em uma pilha no canto da Biblioteca, juntei todas as parafernálias, como relógios antigos, fotografias envelhecidas e outros objetos enferrujados, colocando-os em um outro canto.     Sammael sentou-se no chão, ao meu lado. Depois de dois anos convivendo com ele, eu já conseguia ver alguns traços de meu avô, características e personalidades semelhantes. Mas eu ainda o chamava de Sammael, não me sentia a vontade para me referir a ele como alguém da família. Mas era bom tê-lo ao nosso lado. Era um guerreiro excepcional.     Peguei a primeira partitura. Todas as notas estavam desenhadas a mão, escritas a bico de pena. Não entendia nada de música, mas parecia ser uma partitura simples, sem nada de muito especial. Eram sete partituras, cada uma com composições completamente diferentes.     _ Uma bela harmonia – murmurou Orestes.     Eu me virei para ele.     _ Ah, não queria atrapalhar – ele sorriu.     _ Não, espera. O senhor compreende essas notas? – perguntei.     _ Mas é claro. É preciso ser um bom músico para conseguir tocar essa música. Não é qualquer um que consegue tocar uma canção de ninar da Era Gloriana.     _ Canção de ninar? Era Gloriana? O que quer dizer com isso? – eu o fitei, deixando de lado as partituras.     _ Ora, você não aprendeu sobre a era Gloriana e os costumes? – ele me olhou, cético.     _ Ele nunca freqüentou as sessões de estudo do Submundo, Ory – explicou Sammael – Ele foi confundido como um Desertado por muito tempo. Uma longa e interessante história.     _ Ora, e por que ninguém se deu ao trabalho de contar essas coisas a ele? – Ory falou, levemente desapontado – é como ser um Homúnculo sem saber quem foram os fundadores da FourFace.     _ Ah, mas isso eu não sei. – interrompi.     Orestes me olhou, dessa vez meio ofendido.     _ Eu fui o fundador – ele enfatizou o EU – eu, Electra e Crisotêmis, minhas irmãs. Céus, a cada dia, esse lugar está mais decrépito.     _ Não temos tempo para sermões, Tio Ory – queixou-se Sammael – o senhor disse que isso se trata de uma canção de ninar da Era Gloriana.     _ O que é era Gloriana? – perguntei, impaciente. Estava por fora da conversa.     _ Foi o período em que os Homúnculos prevaleciam sobre os Alucates e as feras do Submundo. Em especial, os Vance eram predominantes no Conselho. Nessa época, eles tinham um costume bastante comum. Quando suas crianças nasciam, tocavam canções de ninar para elas, uma espécie de rito para introduzi-las ao Submundo. Mas, depois de perceberem que determinados filhos de Homúnculos nasciam sem os poderes, eles começaram a temer pela discrição do nosso mundo. Então resolveram revelar aos filhos apenas quando manifestassem seus poderes. Aos poucos, a canção foi caindo no esquecimento. Poucas pessoas são capazes de reconhecer essa canção de ninar. No meu caso, toquei essa música por muitos anos para meus filhos... Eu pertenço à era Gloriana... E a muitas outras anterioras.      Quanto mais ele falava, mais velho ele ficava.     _ Isso tudo em apenas dois mil e quinhentos anos? – perguntei.     Orestes virou-se, com os braços cruzados.     _ Na verdade, sou um pouco mais velho que isso. Tenho dois mil e quinhentos anos, sim. Mas essa é em que passo nesse lugar.     Orestes se virou pra mim, abruptamente, com um sorriso forçado.     _ Se quiserem posso ajudá-los.     _ Ia ser ótimo – Sammael falou, finalizando a conversa.     Vasculhamos tudo o que podíamos, vez ou outra Orestes cantarolava as notas. Sua voz era afinada e parecia até um canto de ópera tocado ao longe. Mas algo o incomodava. Ele sempre fazia pausas, como se tivesse esquecido alguma coisa.     _ Essas partes – ele falou – Não estão em harmonia com a canção.     _ Como sabe?     _ Ouçam... – ele cantarolou, afinado, soando macio e sibilante, mas, em determinados momentos, ele murmurava um som desafinado, uma nota que não deveria estar ali.     _ Agora, vejam se tirarmos essas notas – ele falou.     Cantarolou novamente, pulando certas notas. A canção de ninar soou impecável, perfeita e harmoniosa.     _ Vêem? – ele perguntou.     _ É... Parece que Barnay não era tão bom assim – murmurei.     _ Não, não – interrompeu Ory – isso não é algo que um músico erre com tanta freqüência, por pior que fosse. Parece... Intencional.     Era isso. Uma espécie de código, talvez.     _ Coloquem as partituras no chão, na ordem certa. – pediu Orestes.     Eu o fiz. Coloquei na ordem segundo os números: “1: Soneto dos Inocentes”, “2: Mistérios Inegáveis”, “3:Quatro Faces Para Cada Segredo”, “4: Dança ao Luar”, “5: Malícia”, “6: Olhos Felinos” e “7: A Lua”. Orestes abriu as mãos e, no ar, várias minúsculas pedrinhas escuras foram conjuradas. Ele pediu que eu colocasse cada uma delas sobre as notas que apareciam por “acidente”.     _ Escreva-as separadamente – pediu Orestes.     E assim eu o fiz, escrevendo em um papel velho no meio das coisas de Barnaby Adams. Eram muitas notas.     _ Aqui está – eu peguei o papel, entregando-o a Orestes.     Ele cantarolou nota por nota. Orestes estava certo. Era uma melodia harmoniosa, mas melancólica, cálida, uma música que me lembrava solidão. Mas era, sim, uma composição oculta em meio às outras sete.     _ Incrível – falou Sammael – Como você sabia, Ory?     _ Ficou óbvio depois dessas notas aparecerem, sem sentido – ele falou – só podia ser isso.     _ Até onde essa pista nos leva? – Sammael perguntou, olhando pra mim.     Há algum tempo eu já tinha uma idéia bastante clara do que fazer. Mas, a pedido do meu avô, não estava disposto a contar. A ninguém.     _ Não sei, ainda – menti um pouco – Orestes, se importa se eu ficar com esse papel? Eu quero ver se consigo alguma coisa.     _ Claro – ele disse, sorrindo – isso não me pertence, de qualquer jeito.     _ Vamos ficar com as partituras, ok – pediu Sammael – ver se encontramos alguma coisa.     _ OK... Ah, tio Sammael. Valeu pela ajuda. Você também, Tio Ory.     Ele me fitou, surpreso, respondendo com um sorriso sem graça.     Voltei para o dormitório, completamente vazio. Eles deviam estar treinando com Estevan e Sophie, que se ofereceram para ajudar nos treinos. No momento, a única coisa em que eu conseguia me concentrar era na luta naquela catedral, e no paradeiro da máscara funerária de Agammêmnon.     Tinha perdido um coração naquela noite, encontrado uma pista, e me sentia completamente fora do meu lugar. Não sabia explicar, mas não chegava a ser uma sensação ruim. Era diferente, inusitado. Eu tinha a chave em minhas mãos, uma composição musical completamente diferente, informações que a maioria das pessoas não conseguiram obter. Era como estar a frente de tudo, olhar para trás e não ver ninguém, estar vencendo alguma corrida. Mas um estranho pensamento me incomodava. Por que estávamos correndo? Essa era uma corrida que eu queria vencer? O que estava me esperando no final? Um troféu de ouro no formato de um rosto milenar? Ou o resultado menos esperado?     Lembrei-me do sonho que tive, sobre Madeleine, a história de Abi, as palavras do meu avô. Minha mente era uma bússola, mas, estranhamente, minha intuição andara falhando com freqüência, sempre nos momentos mais inoportunos.     A porta se abriu. Era Emi.     _ Você não me contou como foi – ela cruzou os braços. Estava meio impaciente, com aquele rostinho angelical já amadurecido.     _ Foi uma droga – respondi – nada que valha a pena...     _ Não seja cara-de-pau, Matthew – ela revirou os olhos – Abi me contou sobra a ChAngel.     _ Ah, contou... É claro que iria contar. – eu falei, enfezado.     _ Eu quero ver.     _ Ver?     _ É. A ChAngel.     _ A ChAngel?     _ Nossa, aqui tem eco? – ela falou com sarcasmo.     _ Não seja mal educada, Emi.     _ Você andou me deixando de fora de todo o esquema dessa coisa de procurar a máscara durante muito tempo, quando, na verdade, o vovô tinha falado pra você confiar em MIM – ela enfatizou essa última palavra – você acha que tem espaço pra alguma educação aqui?     _ ... Você tem andado muito com a Camille – eu falei – ela vai te estragar.     _ Ela é incrível – Emi respondeu, sentando-se na mesa – Só você ainda não percebeu.     _ Ah, não, Emi! Não me venha com ess...     _ Tudo bem, tudo bem. Eu não me importo, de qualquer jeito. – ela resmungou – o que eu quero mesmo é ver a ChAngel, e participar mais dessa batalha.     _ Crianças não lutam em guerras – falei.     _ Homúnculos não se desenvolvem antes dos doze anos, e cá estou.     _ Sua língua anda bastante afiada, hein, garota.     _ O que posso dizer. Sou uma Vance.     As palavras dela me assustaram, me fizeram estremecer. Há muito eu já havia percebido que não havia tanto orgulho nesse nome, e ela se sentir completamente bem com isso me incomodava bastante.     _ Isso não te torna uma pessoa melhor – retorqui – agora dá licença, tenho muito que fazer.     _ Ora, eu também durmo aqu...     A porta abriu numa pancada. Sammael passou por ela, uma mescla de euforia e satisfação em sua voz, mas sempre mantendo sua pose superior.     _ Encontramos outra coisa, Matthew – ele disse.         Emilliene veio correndo aos meus calcanhares, curiosa, mesmo diante das minhas queixas. Mas não podia impedi-la. Graças a ela tínhamos conseguido tantas provas. Entramos na Biblioteca, o círculo de fogo ao chão, vários livros espalhados no chão. Orestes estava vasculhando-os, como se procurasse o mapa de algum tesouro.     _ Que bagunça é essa, Tio Ory? – Emi perguntou, olhando para os imensos volumes de livros espalhados.     _ Oh, querida Emilliene – ele abandonou o livro no mesmo instante – como é bom te ver.     Ela sorriu, travessa.     _ Descobrimos uma coisa interessante – Sammael passou por mim, indo até o canto da sala – venha ver.     Eu o acompanhei. Chegamos ao fim da antiga Sala Octogonal, onde as partituras estavam dispostas no chão, uma ao lado da outra, cada nota “irregular” circulada de preto. Formando um aglomerado de círculos em meio às notas das partituras.     _ O que significa isso? – perguntei.     _ Veja – apontou Sammael – Orestes disse que, antigamente, esse tipo de técnica era comumente usada para guardar tesouros antigos das famílias, as jóias da nobreza. Eles criavam sistemas compostos, usando mais de um pergaminho, como um quebra-cabeça. Unindo determinados pontos peculiares, era possível traçar um mapa para a localização.     _ E isso formou o quê? Um mapa até... A máscara?     _ Não. – ele disse – veja bem. Colocamos dispostos as seis primeiras partituras, formando duas linhas de três partituras, mas a sétima ficou sobrando. Mas, se você perceber, os pontos das notas na sétima composição coincide exatamente com os pontos da quinta e sexta composições. Dessa forma, a sétima partitura ficava sobreposta ás outras.

REPRESENTAÇÃO DA POSIÇÃO DAS PARTITURAS E A FORMA COMO A SÉTIMA PART. FOI COLOCADA:     _ Que significa...     _ Antigamente, seria usado para determinar altos relevos, como montanhas, vales, entre outras. Mas, nesse caso, não forma nada em específico.     _ Ok... – ainda fiquei sem entender – mas se isso não é um mapa. O que é, então?     Sammael exibiu um sorriso, satisfeito. Ele foi até Orestes e pegou um livro de capa amarela, velho, surrado. Abriu-o em uma página rabiscada a mão, com colagens antigas de vários símbolos e escrituras de linguagem desconhecida pra mim. Imaginei o que tinha de tão interessante naquilo.     _ Orestes ligou os pontos mais próximos, formando esse símbolo bem aqui.     Sammael apontou com o dedo um símbolo que eu nunca tinha visto.

Tratava-se de uma Marca, o Sinal do Mensageiro.

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          Eram vários círculos, retas e curvas. Um símbolo bastante peculiar.     _ Você vai ter que explicar tudo passo-a-passo, tio Sam – falou Emi – ele não ta entendendo nada.     _ Odeio dizer isso, mas eu concordo com ela – falei.     _ Esse símbolo, Matthew, é o antigo símbolo usado pelos povos de Atlanta. Essa é uma história que eu vou contar depois, mas agora você precisa saber que esse símbolo era usado, antigamente, para enviar mensagens através do tempo.     _ Como um e-mail?     _ Mais ou menos. Isso é muito mais interessante. Funciona da seguinte forma: esse desenho precisa ser feito pelo sangue da pessoa que deseja enviar a mensagem.  Visualiza-se imagens e recita as palavras que quer transmitir. Quando termina sua mensagem, o símbolo original passa a selar tudo o que se passou pela sua cabeça ou tudo o que você falou enquanto esteve desenhando. O símbolo, então,  deve ser queimado por um fogo especial...     _ Seria o Fogo de Faerûn? – arrisquei.     _ Sim... Como sabe?     _ Palpite. Estevan me falou sobre isso.     _ Isso facilita as coisas. Esse fogo possui propriedades místicas. Ele carboniza objetos sem destruir sua essência. Veja bem, o ar, os ventos, todos os elementos da natureza, eles guardam fragmentos do passado. São nesses lugares que as cinzas do símbolo são depositados, até o dia em que outra pessoa o “abra”.     Estava ficando tudo muito mais claro. Então alguém no passado, de alguma forma, tinha deixado uma importante mensagem, algo que pudesse nos contar sobre o paradeiro da máscara. Não era necessariamente um mapa, mas era tão importante quanto.     _ Como fazemos para recuperar a mensagem? – perguntei.     _ Precisamos traçar o símbolo na palma da mão com um metal em brasa do Fogo de Faerûn. A informação virá até você depois disso.     _ Só isso?     Sammael fez uma pausa por um instante. Orestes trocou um rápido olhar com ele, mas não disse uma única palavra, embora seus olhos fossem mais expressivos do que qualquer diálogo.     _ Não é tão simples... Veja bem, Matthew... Esse símbolo é uma antiga forma de proteger segredos de famílias, tesouros de famílias... A mensagem, ao ser consumida pelo Fogo de Faerûn, toma uma espécie de semi-consciência, com senso de julgamento muito complexo.       “Enquanto a mão é marcada, uma dor cruciante toma o corpo da pessoa, porque ela mexe com a sua essência, seus pensamentos, seus desejos íntimos, e te julga segundo as coisas que você fez no passado. Se a semi-consciência não o julgar digno de ler a mensagem... Ela te consome... Por completo.”     _ Isso é loucura! – Emi falou.     _ É por isso é um símbolo pouco conhecido. Poucas pessoas se atrevem a isso.     Eu fiz uma pausa, pensando em tudo o que eu tinha passado até chegar ali. Eu sentia que precisava prosseguir. Se essa mensagem estava tão bem escondida, tão oculta por trás de mistérios e mais mistérios, era porque guardava uma informação muito valiosa.     _ Eu me arrisco.     _ Matthew? – Sammael me olhou, surpreso.     _ O que? Vamos desistir? Olha, eu quase morri naquela catedral só pra pegar isso aí. Se eu não morri naquele dia, tenho certeza que não vou morrer agora.     _ Tem certeza?     _ Absoluta.     _ Não, Matty! – Emi segurou a minha mão – larga de ser bobo, ta bom. Olha, foi mal se eu te provoquei hoje mais cedo.     Eu sorri para minha irmã. Apertei levemente seus dedos entre os meus.     _ Você confia em mim, Emi?     _ Como?     _ Você acha que eu sou uma pessoa boa o suficiente para superar um julgamento como esse?     Ela pareceu pensar um pouco, não por ter dúvida, mas temendo não ser a resposta que eu queria ouvir.     _ Com certeza – ela respondeu.     _ Então eu vou conseguir – sorri – vamos acabar logo com isso para continuarmos com as nossas vidas, certo?     Estávamos sentados em uma mesa na Biblioteca, conjurada por Orestes. Ele tinha uma afinidade anormal com aquele lugar. Todos aqueles tubos que o conectavam ao chão, preso à Célula, era como se ele fosse parte do lugar. Não me surpreendeu quando o chão escuro estremeceu, dando espaço a uma mesa de pedra, formada a partir do piso. Ory era um homem surpreendente.     Minha mão estava aberta, suando frio. Meu pescoço estava ensopado, mas consegui conter o nervosismo. Sammael estava aquecendo no círculo de Fogo de Faerûn um diapasão de metal, encontrado no entre as coisas de Barnaby. Seria o instrumento usado para marcar o símbolo na palma da minha mão.     Finalmente, após terminar, ele veio até mim. Estava apreensivo, mas tão decidido quanto eu. O diapasão em sua mão estava queimando as pontas dos seus dedos. Era um fogo realmente impressionante.     _ Isso dói, sabe – Sammael disse, fazendo uma careta – é muito quente.     _ Tudo bem, desde que seja rápido.     Ele fez uma expressão de “não é não”. eu assenti, enrvoso.     _ Enquanto eu faço o símbolo – ele disse, segurando minha mão com sua outra mão livre – tente se concentrar em tudo que possa te levar a essa mensagem, em específico. Pense em Barnaby, nas canções de ninar, no símbolo oculto, na máscara de Agammêmnon. Lembre-se, você precisa se concentrar e ser o mais bem sucedido possível, ou pode ficar preso, vagando em sua própria mente.     Ah, ótimo! Só agora ele me falava isso. Mas não tinha volta.     _ Comece – eu pedi.     Ele assentiu. Abri minha mão, exibindo uma palma com uma poça de suor. Ele enxugou minha mão e aproximou o diapasão. Assim que tocou-a, senti uma queimação incômoda, mas não chegava a ser doloroso. Ele estava começando o primeiro círculo.     _ Pense, Matthew – ele falou – pense nas coisas que eu te disse.     “Certo”. Foquei minha mente em tudo o que Sammael havia falado. Imaginei primeiro a igreja, toda sua estrutura antiga, a câmara subterrânea. Pensei nas notas cantaroladas por Orestes, na nova harmonia oculta, no símbolo. Pensei na máscara, em tudo o que eu sabia sobre Agammêmnon. Minha mão começou a arder, mas ainda era suportável.     Pensei na lenda de Madeleine, na chave que eu tinha em mãos, nas histórias que eu tinha ouvido falar. Eu tudo. Por último, pensei em meu avô. Minha mão, subitamente, começou a arder terrivelmente. Eu tentei gritar, mas meu corpo parecia congelado. Cada tendão parecia ter sido cortado por uma navalha afiada. Minhas juntas, minha língua e minhas têmporas ardiam como se todo o meu corpo fosse arremessado em uma fogueira. Era a pior dor. Eu queria desistir, pedir para que Sammael parasse, mas nem mesmo abrir os olhos era possível. Eu sentia como se estivesse morrendo.     Talvez estivesse mesmo. 


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Notas finais do capítulo

Amigos leitores, nesses últimos capítulos precisei usar de imagens para explicar coisas que seriam mto dificieis usando apenas palavras xD
E peço desculpas pelo capítulo muito enxtenso e sem ação (até meio chato), mas foi preciso! Do próximo capítulo em diante... Bem, mtas coisas surpreendentes vão acontecer!
Vlw... Ah, comentem xD