A Lua escrita por Pedro_Almada


Capítulo 37
Tijolos da História




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Tijolos da História

    12.000 a.C.Vance, Renwick, Blair e Grant. Nomes que, durante muito tempo, reinaram soberanamente nos quatro cantos do mundo, reis de leis rígidas, impiedosas e cruelmente aplicadas. O passado era tão incerto quanto a esperança, o mundo estava declinando para muitos, e se elevando como um vulcão em erupção para poucos.
    Um tempo em que os continentes eram divididos em quatro impérios, quatro forças místicas, milenares, capazes de fazer prostrar o rei mais soberbo e orgulhoso. Os quatro reis da Antiga Terra compartilhavam de forças inimagináveis. O tempo em que a magia e os eventos místicos inexplicáveis ocorriam como o desabrochar de uma flor em primavera. Tão comuns e extraordinários que nunca se tornavam monótonos.
 
    Norte de Antiga Terra. A neve era predominante em grande parte do ano, mas o sol sempre aparecia, escaldante, periodicamente, derretendo os resquícios de neve e cobrindo o império com sua luz radiante. O reino de Theodor Vance, conhecido apenas como Imperador Vance, era o mais magnífico, o mais poderoso. Seus campos eram vastos, verdes, as árvores cresciam imponentes, com seus troncos rígidos e eretos, atingindo proporções absurdas. Mas, junto das raízes fortes e a relva saudável, crescia também a escravidão de uma nação sem forças para lutar. Imperador Vance era impiedoso.
    Leste de Antiga Terra. O chão era arenoso, vermelho, as montanhas brotavam em determinada época do ano e, durante o outono, elas eram corroídas pela chuva ácida. Nessas épocas de chuva, sua superfície era inabitável, as tocas e as habitações subterrâneas eram as únicas formas de sobrevivência daquela nação. O calor era insuportável e dar a luz a uma criança era tido como uma “maldição comum”, em um lugar deplorável naquelas condições. Quartus Grant, o Imperador Grant, lutava, amargurado, contra a invalidez da sua terra. Seu povo era inútil em todos os aspectos. A frustração crescia, assim como as doenças, as mortes e os cemitérios a céu aberto. Levava questão de meses para o sol carbonizar os cadáveres. Passou a odiar a gente fraca que habitava em suas terras. Vê-las morrer, tostada viva pelo sol violento, se tornou um passatempo para o seu coração cruel. Os fortes eram escravizados, mas morriam por trabalhos pesados.
    Oeste de Antiga Terra. Gelado como a própria morte, a chuva de granizo e a vegetação congelada esfriavam também o coração de uma nação inteira. O chão formado por calotas polares e terras congeladas e improdutivas, compunha o cenário deplorável. Conflitos internos, tão freqüentes, eram travados em busca de lugares melhores para se viver. Era sempre noite, as estrelas sempre iluminavam fracamente a escuridão que engolia todo o oeste. Rawn Renwick, Imperador Renwick, cruel e sádico, gostava de assistir os duelos, e sacrificar os perdedores. Seu mundo, sem regras, era regido apenas por uma única lei: submissão total ao Imperador.
    Sul de Antiga Terra. A nação mais isolada. A única onde a expectativa de vida era menos pessimista. O clima era o mesmo durante todo o ano, ameno, com raios de sol sutis e uma brisa calma. As árvores cresciam pouco, os vales e os campos verdes eram repletos de animais de abate. Uma aparência rural, que escondia muito bem a realidade cruel daquele povo. Harlock Blair, Imperador Blair, astuto, ganancioso e egoísta, usava de sua força para obrigar todos a trabalharem. Um trabalho mal feito era sentença de morte, mas presenteava bons trabalhadores com alimentos e moedas de ouro. Sua fome por animais carnívoros era insaciável, e, vez ou outra, exigia que cozinhassem uma jovem virgem para o jantar.
   
    Quatro imperadores agraciados com força, agilidade, intelectualidade, mas movidos por sentimentos carnais e decadentes. Eram orgulhosos e egocêntricos o suficiente para acreditarem que, em nenhum momento, seus reinos pudessem ser abalados. Estavam amargamente errados.
    Em tempos onde a força bruta era considerada a chave para a liderança, os reinos começaram a sofrer súbitos fenômenos naturais capazes de dizimar milhares de vidas. As chuvas se tornaram constantes, o sol não aparecia em alguns lugares, e era freqüente em outros, um desequilíbrio que não poderia ser suprido, mesmo com as habilidades sobre-humanas nos quatro imperadores ambiciosos.
    Começou a queda dos reis, e, quando se deram conta, eram subordinados do resto do mundo. Uma irônica reviravolta.

    Naquela noite, a lua iluminava o Norte. Vance assistia, alarmado, sua terra morrer, seus escravos caírem famintos e desidratados, a morte assolando como uma praga de gafanhotos. Era o fim do mundo, o término de qualquer vida sobre a Antiga Terra.
    Foi, exatamente, naquele dia, em que os quatro reis receberam a visita de uma dama. Primeiro, ao Norte, quando a lua era predominante no céu azul.
    Ela era linda, com seus cabelos brancos até os calcanhares, um vestido branco banhado de luz prateada, a feição doce e serena, os olhos penetrantes em um tom dourado magnífico. Era uma imagem única, uma mulher fascinante.
    Theodor Vance assistiu a dama reluzente se aproximar, sorrindo pacificamente. “Que mulher é essa?” ele se perguntou “Não pode ser da minha terra, ou eu já a teria tomado em meus braços”. Mas ela não estava à procura de um romance. Ela estava ali para oferecer uma segunda chance.
    Nas etapas de Lua Cheia nos quatro cantos da Antiga Terra, os Imperadores receberam a visita da bela mulher, de nome Moryenane, tão esplendorosa em suas feições iluminadas pela brancura da paz e inocência. Ela surgira com uma promessa. A de uma segunda chance, uma forma dos quatro reis se redimirem do grave erro, da displicência para com o resto do mundo.
    Vance, Renwick, Blair e Grant foram conduzidos até uma montanha gigantesca na terra isolada de Moryenane: Atlantis, um pequeno continente que emergira no centro do Oceano Atlântico. Na belíssima ilha, tudo era perfeito e intocado. O orvalho era doce, todas as flores desabrochavam, exibindo diferentes tons de cores em suas sete pétalas, os animais eram todos de pelagens, plumagens e escamas alvos, o céu era sempre azul e, onde quer que olhasse, havia riqueza. Os povos eram belos, as mulheres sempre formosas e gentis, os homens corajosos e elegantes. Um pequeno paraíso em meio a tanto caos.
    Os reis, fascinados, acompanharam Moryenane pela terra pura, onde tudo crescia, florescia e frutificava ilimitadamente, sem nenhuma ganância, nenhum desejo impiedoso. Era permanentemente pacífico. Ela os conduziu até um templo no topo da montanha.
Uma longa escadaria seguia até o pico, onde o sol atingia obliquamente, projetando a sombra em alto-mar. Finalmente, após três dias de caminhada, chegaram ao templo. Era belo, no formato de uma pirâmide, com colunas brancas em cada extremidade. Uma porta de bronze guardava o interior da pirâmide.
    Ela permitiu que entrassem e, juntos, atravessaram o portão de bronze, chegando a uma câmara com os doze pilares banhados de luz, onde, rodeado por eles, uma fonte que emanava prata líquida refletia seu brilho nas quatro paredes inclinadas da pirâmide.
    “É aqui que vocês encontram a solução para as nações”, contou Maryenane. “A natureza derramou tragédias em suas nações como resultado de sua displicência, corrompidas pela insensibilidade e imprudência. A única forma de reatar o laço entre homem e natureza é abrir mão da soberania”.
    Grant foi o primeiro a se indignar. O poder que tinha era o suficiente para manter seu reino aos seus pés. Acostumara-se com isso, não queria perder sua soberania. Preferiu voltar para o Leste e habitar em sua terra morta.
    Vance, Renwick e Blair, no entanto, compreenderam que viver em um mundo em decadência seria lamentável. Todo aquele poder não faria sentido em uma terra morta, inabitada. Comprometeram-se a seguir o que Moryenane dissesse.
    “Esse templo tem guardado a energia vital desse planeta desde os primórdios” Ela explicou “Dentro dessa pirâmide. Esses pilares podem restaurar a ordem no seu mundo. Mas não posso oferecer esse poder se não houver quem o proteja. É arriscado libertá-lo, e me dar ao luxo de permitir que caia em mãos perversas. Se coloquem como os guardiões dos doze pilares, e eu banharei a terra com a aura do meu povo, do meu mundo”.
    Eles concordaram, movidos pelas palavras de esperança. Moryenane, então, removeu as colunas externas da pirâmide, e as quatro paredes inclinadas cederam, abrindo o templo como uma caixa há muito lacrada. Os doze pilares banharam toda a extensão da Terra como um manto dourado, que a envolveu como um embrulho, um escudo de luz. A ordem se restaurou, o clima foi igualmente dividido, as estações se tornaram fixas em quatro etapas, e a lua passou a se manifestar nas quatro formas diferentes em tempos específicos, iguais para cada fase.
    Era o fim da Antiga Terra, e o início de um Império Novo.
    Moryenane disse que os pilares guardavam uma energia extensa, capaz de manter a órbita e o estado natural da terra. Mas eles deveriam proteger os doze pilares. Mas Moryenane cometeu um erro, o de revelar como era suprema essa força.
    Movidos, novamente, pela ganância, desejaram aquele poder para si. Vance acreditou que, se doze pilares eram tão poderosos, um a menos não faria diferença. Os três pensaram o mesmo, em particular, e cada um tomou um pilar para si. Sem imaginar que isso levaria, novamente, ao caos.
    Foi uma imprudência. A terra perdeu o seu equilíbrio, os mares se revoltaram e ondas gigantescas engoliram o reino de Atlantis, seus filhos foram levados pelas águas, desaparecendo em meio às ondas. Foi o fim de um povo puro e pacífico.
    Os doze pilares eram, na verdade, selos, que mantinham presos a aura dentro da fonte que emanava prata líquida. Com a remoção dos selos, o poder se dispersou como lava de vulcão, desequilibrando a energia em diferentes pontos na terra, como uma reação em cadeia.
No entanto, um evento completamente inusitado, misterioso, aconteceu. A lua foi embebida com essa energia. Nem uma mente brilhante é capaz de explicar, apenas compreender que a lua tomou toda a aura para si, como se tentasse proteger o que o homem havia desperdiçado. Era noite de lua cheia quando a última gota da fonte de prata foi absorvida. Inexplicavelmente, essa energia começou a ser transferida, banhando o corpo dos humanos, escravizados e submetidos a condições deploráveis.
    Atônitos, os três Imperadores não sabiam o que fazer. Moryenane voltou, decepcionada, encontrando os pilares aos escombros, e a fonte seca. Antes de Moryenane partir, selou nos três imperadores um fardo, uma espécie de maldição, para ser carregado pelo resto de suas vidas. Deveriam proteger a aura contida em todos os humanos, proteger os pilares vivos, que desconheciam a importância que traziam. Imperador Grant, por ter ignorado o dever de proteger os pilares, foi selado com o fardo de domar e manter às escondidas as feras que nasceriam a partir daquele momento. 
    E assim aconteceu. Criaturas desconhecidas, antes apenas contos e mitos, começaram a surgir misteriosamente, libertadas quando os pilares foram rompidos. Das águas, baleias gigantes emergiam e tentavam dominar espaço na terra, lobos de pedra disputavam o mesmo espaço, feras místicas e desconhecidas começaram a nascer e tomar espaço em terra firme, no ar, ou na água. Era um trabalho de Grant domar todas elas.
    Moryenane, por outro lado, deixou para cada um eles, cinco mulheres virgens, nascidas de seus respectivos pais. Eles tomaram as irmãs como mulheres e, geraram filhos.
    As crianças nasceram com habilidades fora do comum e, naquele momento, os imperadores perceberam. Suas gerações estariam fadadas a carregar aquele peso.

    O tempo passou desigual em diferentes partes do mundo. Os humanos cresciam em número, se instalavam em diferentes localidades em todo o mundo. Por trás da Terra, um Submundo, um lugar sombrio e em segredo, floria e tomara dimensões consideráveis. Jovens com talentos sobre-humanos cresciam, se apaixonavam, viviam como humanos, mas estavam presos a um compromisso mais fortes do que eles mesmos: o de proteger o resto da humanidade.
    Talentos singulares eram concedidos a cada um, e os dois mundos tentavam se equilibrar nessa frágil balança. Mas isso durou tão pouco quanto duraria uma chuva de verão.

    7000 a.C. Os Grants se sentiam humilhados. Assistiam os seres humanos, tão mesquinhos, brigarem por trivialidades, sem nenhuma ambição, queriam apenas sobreviver. O ego foi brutalmente ferido, e os descendentes de Quartus Grant se rebelaram. Domaram as feras do Submundo para interesses particulares. Durante um longo período, embarcações navais, vilas e pequenas cidades foram destruídas por criaturas místicas, destruindo seres humanos em muitas partes do mundo.
    Os descendentes de Vance, Renwick e Blair precisaram se mobilizar e proteger esse mundo frágil. Após uma batalha curta, venceram. Os Grant foram “domesticados” e, como castigo natural, começaram a nascer sem as habilidades típicas. Ao invés disso, desenvolveram conhecimentos de alquimia e anatomia humana e animal. Esses vastos conhecimentos científicos os mantiveram distraídos, vivendo indiferentemente à existência dos humanos. Mas concedeu a eles a capacidade de criar criaturas indomáveis, monstros ainda piores que as feras do Submundo. Quimeras, assim chamadas, por envolverem hibridação de espécies.
    Os Grant foram além, usando humanos e Homúnculos como cobaias. Descobriram os genes, as características pessoais, e uniram tudo em um único ser, criando monstruosidades inimagináveis.
    Mais uma vez, Vance, Renwick e Blair precisaram combater a criação dos Grant. Mas foi difícil. Uma guerra sangrenta, onde muitos perderam a vida. Durante a guerra para restaurar a ordem, uma batalha difícil foi travada entre Quartus Grant e Theodor Vance. Uma luta brutal, mas Grant tinha, ao seu lado, quimeras capazes de lacerar o corpo de um homúnculo. A derrota recaiu sobre o Imperador Vance.
    Grant cremou os corpos dos Vance derrotados, mas apenas um tecido continuou vivo, palpitante: o coração de Theodor. Uma nova guerra foi travada entre Vance, lutando ao lado da família Blair, contra os Grant e reaver o coração do líder. Vitoriosos, os Vance petrificaram o coração recuperado e mantiveram o órgão sob proteção, no império dos Vance.
    Havia um costume entre esses povos. Petrificar o coração de seus líderes. Diziam que isso trazia boa-sorte. Até o momento em que descobriram a real função do órgão petrificado: selar a aura no corpo do usuário. Assim os Vance condenaram Homúnculos e Alucates transgressores da lei. Começou um reinado onde, quem prevalecia, eram os Vance.
    Agora os quatro reinos eram pacíficos, onde regiam leis justas e os imperadores se esforçavam para manter a ordem. Além do mais, já não eram superiores ao resto do mundo. Muitos homúnculos passaram a viver entre os humanos e tomar partido deles, o que levou os reis a serem mais cautelosos. Iniciou-se um mundo de paz.

2000 a.C. A Nova Terra estava tomando proporções gigantescas. Os povos cresciam, os humanos criavam sua própria cultura, passaram a viver suas vidas limitadas e, com o tempo, foram se esquecendo e ignorando a magia escondida por trás de tantos segredos. O Submundo caiu no esquecimento, como Maryenane havia previsto.
    Enquanto humanos iniciavam suas eras baseadas em descobertas, Homúnculos e Alucates travavam suas lutas incansáveis, sempre buscando soberania sobre os outros povos. Já estavam cientes do quão importante era manter a humanidade longe de tais conflitos. Era a forma de se manterem vivos.
    Armaduras forjadas, espadas afiadas, cavaleiros de feudos e povoados. Os humanos estavam aprendendo a matar a si mesmos, colocando em risco a vida de Homúnculos. O conflito gerou uma era de irracionalidade entre Homúnculos, que se voltaram contra familiares e amigos, nações brigando entre si, divididas entre interesses distintos, razões mesquinhas e sem sentido. Nessa época os Alucates se mantiveram às escondidas, temendo um ataque brutal contra seu povo reduzido. Nesse meio tempo, criaram inúmeras quimeras.
    Com o tempo, Homúnculos e Alucates passaram a conviver de forma menos agressiva, e aceitando as guerras suicidas dos humanos, intervindo vez ou outra. Nesse tempo, Homúnculos protegiam seres humanos de coisas muito piores do que guerras.

    *Existe uma parte da história perdida, uma pergunta que não possui resposta. O que representava perigo para os humanos? O que poderia comprometer o equilíbrio do mundo, a ponto de ser necessários guerreiros para proteger a energia vital de um planeta inteiro? Sem questionar, Homúnculos se viram obrigados a cumprir esse fardo imortal, enquanto o mistério continuava rondando os quatro cantos de um Novo Império. 

    Cerca de 1500 a.C. Atreu, rei de Mecenas, e Aerope, concebem a um filho, saudável e de futuro promissor. A ele é concedido o nome imponente de Agammêmnon. O rei teve, também, um filho chamado Menelau. Durante muito tempo, os dois irmãos lutaram lado a lado em combates incessantes, Agammêmnon se tornou um líder respeitado.
    Mas, como nenhum bem dura para sempre, a paz em Argos, o reino de Atreu, durou pouco. Ele tinha um irmão, Tiestes. Eles disputavam o trono de Micenas, ao passo em que Tiestes era amante de Aerope. Quando Tiestes perdeu a luta pelo trono, foi expulso de Micenas. Nesse tempo Atreu descobriu a infidelidade da esposa e, movido de ódio e um desejo sanguinário de vingança, convidou Tiestes para um banquete a pretexto de uma suposta reconciliação. Atreu se mostrou um sádico, revelando, após a refeição, que a carne servida no banquete era dos filhos de Tiestes. O irmão, sentindo repulsa, abandonou Micenas, jurando vingança pelo que fizera.
    Naquela época, Tiestes tinha, como seu conselheiro, um Homúnculo, com dons de oráculo. Ela, o Oráculo, revelou que um filho dele com a própria filha Pelópia seria capaz de matar Atreu e, assim, obter o trono. O homem, cego pela vingança, tomou a filha como mulher e ela, então, concebeu a uma criança. Tiestes armou uma cilada contra o irmão. Sem que Atreu soubesse da conexão entre ele e Pelópia, se apaixonou pela sobrinha e a tomou como sua esposa e, movido de compaixão, adotou a criança, dando-lhe o nome de Egisto.
    Egisto cresceu ao lado do pai, nos arredores do reino de Argos, em Micenas, e se tornou um guerreiro forte. Até o lamentável dia em que Egisto se revelou como sendo o verdadeiro pai, e ordenou o filho que matasse Atreu. Egisto obedeceu, cumprindo, assim, a previsão do Oráculo.
    Argos caiu nas mãos de Tiestes. Ele expulsou os filhos de Atreu: Agammêmnon e Menelau, que buscaram refúgio em Esparta. Lá eles se casaram com espartanas, Menelau herdou o trono de Esparta e, Agammêmnon, após se casar com Clitemnestra, rainha espartana, conseguiu recuperar o trono de Argos, expulsando Egisto e Tiestes do império. Agammêmnon teve três filhas, Ifigênia, Electra, Crisotêmis e um filho, Orestes. Contudo, a história da família de Agamêmnon tinha sido manchada por violação, assassínio, incesto, e traição. Os gregos acreditavam que este passado violento lançou infortúnios sobre a inteira Casa de Atreu. Mais tarde, para comprovar esse temor, os espartanos associaram o passado sombrio com o rapto de Helena, esposa de Menelau, dizendo ser uma espécie de castigo. Mas Agammêmnon, ignorando completamente a fúria natural que caíra sobre sua casa, decidiu invadir Tróia e salvar a esposa do irmão. Ele reuniu as forças de toda a Grécia para a invasão.
    Eles organizaram embarcações e tropas poderosíssimas e, se lançando ao mar, navegaram em direção à Tróia, com o espírito de resgate a frente. Mas algo inesperado aconteceu. Uma terrível tempestade caiu sobre eles. As ondas, a terrível chuva torrencial, toda a natureza tentava naufragar as embarcações. Agammêmnon não sabia o que fazer.
    Havia um homem, Calcas, conhecido como adivinho. Ele revelara a Agammêmnon que A deusa Ártemis se enfurecera contra o povo de Atreu e, apenas com um sacrifício da filha Ifigênia. Mas era tudo parte de um mirabolante plano de Calcas.
    Seu nome real era Calcas Vance, um Homúnculo que, por muitos anos, se passou por espartano para estudar os costumes, o que os movia para uma luta. Assim Calcas usou sua habilidade incomum. Nesse período, surgiu o primeiro Haunter, um Homúnculo rastreador, com instintos assassinos, capaz de manipular a aura de forma ilimitada. Com isso, ele estimulou a energia áurea dos mares e das nuvens, induzindo uma tempestade, alegando ser obra da deusa. Agammêmnon não vê outra opção a não ser sacrificar a própria filha.
    Mas, novamente, era parte do ambicioso plano de Calcas. Ifigênia fora lançada no mar, envolvida pelas ondas agressoras. Mas não morreu. Ela era a chave para a criação de uma importante ferramenta: uma máscara. Uma máscara de ouro que, para ser forjada, precisava ser produzida por uma virgem, descendente de Atreu, o primeiro Homúnculo Alvo, ou do irmão Tiestes, o primeiro Rubro. Ifigênia, por ser a mais velha, era a mais indicada.
    Ifigênia permaneceu cativa por um longo tempo, nas ilhas desconhecidas do alto-mar, escravizada por outros Vance, que a obrigaram a forjar a máscara. No final do processo, ela precisava banhar a máscara em seu próprio sangue durante duas luas cheias. No último dia, ela não conseguiu sobreviver à hemorragia, mas seu trabalho estava completo. A máscara funerária estava pronta.
    Assim que Ifigênia foi entregue como sacrifício, eles puderam partir para Tróia. Durante essa Guerra, Agammêmnon liderou os gregos de forma soberano, derrubando os inimigos e derramando sangue ao lado de suas pegadas, rumo à Helena.
    Agamémnon era um representante digno da autoridade real. Como comandante supremo, convocou os príncipes para uma assembléia e conduziu o exército grego na batalha. Ele próprio lutou, e realizou muitos feitos heróicos, até ser ferido e ser forçado a voltar para a sua tenda. A sua falha principal era a sua arrogância vaidosa.
    Os gregos venceram. Agammêmnon, no entanto, não estava fora de perigo. Havia criado um forte sentimento de ódio entre ele e o primo Egisto. Quando Agammêmnon voltou para casa, foi recebido pela esposa Clitemnestra, rainha de Esparta, trazendo consigo uma escrava de nome Cassandra. Ela era o Oráculo de uma nova geração, com dom da profecia, mas era inútil em batalhas. O sangue Homúnculo de Agammêmnon era forte o suficiente para conter a escrava e mantê-la prisioneira.
    Mas Egisto usou dessa situação para seu beneficio. Seduzindo Clitemnestra, alegando conhecer o caso entre Agammêmnon e Cassandra o que, de fato, era real. Eles haviam se apaixonado e, depois de algum tempo, Cassandra já não era mais uma escrava, mas uma esposa secreta, uma paixão vivida às sombras de um casamento com a rainha espartana.
    Clitemnestra, movida pelo ciúme, uniu-se com Egisto. Realizam um banquete de reconciliação para o irmão, dizendo ser um tratado de paz. Agammêmnon, sempre orgulhoso e egocêntrico, acreditou que ninguém seria louco o suficiente para traí-lo. Então ele foi ao palácio. Cassandra, por outro lado, sabia sobre a tocaia e, mesmo sabendo que seria morta também, foi até o palácio para salvar o seu único amor. O fim foi trágico. Clitemnestra matou o marido friamente e, em seguida, Cassandra, com a ajuda de uma espada feita por ossos de baleias voadoras, Algueoras, capazes de ferir mortalmente um Homúnculo.
    Os anciãos, então, temendo entrar em confronto com as tropas de Egisto, entregam o trono para o usurpador de Agammêmnon, seu filho Orestes.
    Orestes lutou como um líder, assim como o pai, venceu as tropas de Egisto e, com honra, vingou a morte do pai, tomando para si o trono que era de direito. Ele, com a ajuda da irmã Electra, uniram forças, tropas, seres com forças superiores a humanos normais. A partir desse período, pequenas colônias começam a ser formadas. Homúnculos passaram a se descobrir, tomar conhecimento de suas categorias distintas. Realizaram o funeral de Agammêmnon, colocando sobre o rosto do cadáver a máscara que Calcas havia forjado. Alguns dizem ter visto o espírito de Agammêmnon emergir do corpo. Mas, na verdade, era a energia áurea de Agammêmnon e dos guerreiros que morreram a sua volta, que, antes armazenada em seu corpo, foram armazenadas no artefato de ouro, enterrado com o corpo do líder espartano.
    Tudo parecia perfeito, mas os planos de Calcas foram impedidos quando Electra descobriu como, realmente, morrera sua irmã Ifigênia. Antes de ser executado, Calcas Vance criou um sistema, selando o sepulcro de Agammêmnon com armadilhas poderosas, deixando as instruções para que, algum dia, um Vance pudesse liberar esse poder e, com o artefato poderoso, eliminar os humanos e criar uma nova nação, onde apenas seres fortes e inquebráveis viveriam sobre a superfície da terra e as profundezas dos mares.
   
    800 a.C. Orestes, grande líder, membro honorário do Conselho da colônia em Atenas, formou um grupo de leais partidários, formando um Conselho Supremo, composto de quarenta homúnculos poderosos e de ética moralista. Eles descobriram a existência da máscara e, após perceberem como era perigoso tal poder ser ignorado, decidiram manter a máscara no sepulcro de Agammêmnon. Passado algum tempo, transportaram a máscara para outro lugar, cumprindo um calendário especifico de esconder a máscara em Salas Octogonais diferentes a cada duzentos anos.
    Surgi, então, a primeira Célula da FourFance, no deserto de um continente ocidental, nomeado Célula de Sonora. Nesse lugar, Orestes constituiu o seu lar, sua família, onde habitou com sua esposa e irmãs, Electra e Crisotêmis.
    500 a.C. A Célula de Sonora sofre um ataque de seres há muito desaparecidos: Alucates. Os inimigos da lua invadiram o território de Orestes e, durante um confronto, ele teve seu coração arrancado. Os alucates sabiam que Orestes descendia de uma linhagem rígida de grandes líderes. Aquele coração seria usado para fortalecer o grupo de Alucates. Mas Orestes, usando seu último fôlego de vida, lançou-se sobre o Alucate inimigo, cravando os dentes no próprio coração, ainda pulsante.
    Orestes devorou o próprio coração, e, então, expirou a sua vida. Os Alucates bateram em retirada e Electra, desolada, tomou o irmão nos braços. Ela levou os lábios à boca do irmão, em um beijo de despedida, mas percebeu que o corpo ainda respirava, mesmo sem vida. Então ela fez o que lhe era mais cabível. Orestes passou a integrar de forma perpétua a Célula de Sonora.
    Electra o havia devolvido a vida, mas lhe custara a liberdade. Orestes estava fadado a habitar nas ruínas da Célula de Sonora.
   
    100 a.C. Um conflito interno iniciou de forma sangrenta. Haunters se tornaram insubordinados, ignorando as regras do líder Orestes, tão decadente. Para conter o instinto assassino dos guerreiros sanguinários, Orestes forjou uma Assembléia com todos os Haunters, alegando a reposição de um líder de sua categoria.
    Tudo passou de uma cilada para conter os Haunters em uma sala subterrânea na Célula, onde o efeito da lua, fonte de toda a energia áurea, não tinha efeito. Os Haunters morreram desidratados e famintos, pois Orestes sabia que um confronto corpo a corpo seria um desperdício de guerreiros.
    Instaurou-se a paz e, a partir daquele momento, várias Células foram formadas, em várias partes do mundo, compostos por uma nação forte e promissora. Iniciou-se um mundo dividido. O real e o inimaginável. Os homúnculos decidiram viver ocultos aos olhos do resto da humanidade.


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Notas finais do capítulo




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